




Capítulo cinco
Marcus Hines recostou-se no banco. O parque sempre fora um dos seus lugares favoritos. Ele adorava a sensação da brisa fresca acariciando seu rosto. O cheiro de comida rápida. O som das crianças brincando e rindo.
Se ao menos soubessem da escuridão que espreitava tão perto. Como ele sentira falta disso. Foram vinte longos anos. Vinte anos trancado e tratado como um animal. Por vinte anos ele foi privado de sua liberdade.
Mas agora ele estava finalmente livre e tinha algumas contas a acertar. Ele garantiu que todos que participaram de sua detenção receberam o que mereciam. Eles e aqueles que amavam.
A última pessoa na sua lista de vingança era o maldito advogado que o mandou para a prisão.
Lucas Lockwood.
Ele passou todas as noites dos últimos vinte anos imaginando como a morte dele o faria se sentir bem. Como ele se maravilharia com sua queda. Ele olhou para o relógio e sorriu. O assassino que ele contratou já devia ter feito o serviço e estava a caminho para lhe dizer que o cara estava a caminho do além. Finalmente.
Ele sabia bem que a preciosa filha dele estava para voltar no mesmo dia. Foi por isso que ele escolheu esse dia. Para que ela fosse recebida com a notícia da morte do pai.
Antes de encontrar seu próprio fim.
Todos eles mereciam isso. Eles fizeram sua própria família abandoná-lo. Seus próprios filhos não queriam nada com ele. Não havia como ele deixar que escapassem do que fizeram com ele. Absolutamente não!
De repente, alguém veio e sentou-se ao seu lado. Ótimo, já era hora de ele aparecer.
"Está feito?" ele perguntou ao assassino que contratou. Ele era um dos melhores que o dinheiro podia comprar. E até agora, ele fez seu trabalho de forma rápida e perfeita.
"Receio que encontrei um pequeno contratempo,"
O que isso deveria significar? Mas ele não perguntou. Era melhor deixar o cara se explicar antes de fazer algo drástico.
"Alguém me viu e empurrou o alvo para fora do caminho. Saí de lá o mais rápido que pude."
Marcus cerrou o punho.
"Quem é essa pessoa?"
"Não faço ideia. Acho que é apenas um civil normal,"
Marcus soltou um suspiro. Ele tinha que ser prático.
"Fique na moita por enquanto e tente novamente quando as coisas esfriarem. Sabe de uma coisa? Não tente... Na verdade, FAÇA da próxima vez!" Ele ordenou entre dentes cerrados. Então ele se levantou para sair.
"E a filha dele? Ela ainda é um alvo?"
"Matem os dois!" foi tudo o que Marcus disse antes de sair.
Lucas Lockwood pode ter tido sorte desta vez, mas nunca mais. O relógio estava correndo. E ele junto com sua filha estavam vivendo com o tempo emprestado. Não ia demorar muito para a sorte deles acabar.
Tik Tok.
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Nick empurrou a multidão de pessoas com Matt ao seu lado. Como todas as outras noites, o Lotus Club estava completamente lotado. Mas hoje ainda mais porque era sexta-feira.
Ele se tornou popularmente o lugar para estar, principalmente porque o dono, Miguel, costumava estar na capa de várias revistas. Nick não vinha aqui com frequência, mas quando Matt o fazia acompanhar, ele achava que poderia muito bem usar a distração.
Já fazia dois dias e depois de três brigas de bar, muitos encontros casuais e ainda mais garrafas de álcool, ele estava de volta a ser ele mesmo.
Eles subiram o pequeno lance de escadas e, ao vê-los, o segurança do lado de fora os deixou entrar no lounge VIP. Às vezes valia a pena ser associado ao dono, significava entrada gratuita e bebidas grátis. Embora Nick preferisse pagar pelas suas. Qual era a utilidade de ter muito dinheiro roubado se você não ia usá-lo? Uma vez lá dentro, Nick foi recebido pela visão de Miguel, Dahlia e... Detetive Saunders? Que porra! Ele não estava com humor para discutir, então foi até lá e sentou-se em frente a eles.
"E aí, pessoal, que surpresa inesperada," Matt disse e Nick percebeu que ele estava fingindo. Ele claramente sabia que eles estariam lá.
"Você deveria ter vindo me ver há dois dias. Por que não veio?" Miguel perguntou e Nick deu de ombros.
"Estive ocupado,"
"Fazendo o quê? Você nem tem um emprego." Desta vez foi Saunders quem falou e Nick se virou para ele. Um olhar intenso no rosto.
"Ah, pode acreditar, você não quer saber!" ele manteve o tom baixo e rouco, como costumava fazer. O policial se levantou, tomou um gole de sua bebida e levantou as mãos em um gesto de paz.
"Calma. Na verdade, só vim junto porque queria me desculpar," ele disse e Nick franziu a testa. Do que diabos ele estava falando?
"Por quê?"
"Você sabe, eu basicamente estava te assediando. Eu não fazia ideia de que você tinha servido no exército."
Ele estava louco ou o quê? Talvez alguém tivesse drogado a bebida dele.
"Quem te disse isso?"
"O Miguel. De qualquer forma, eu preciso ir. Deveria estar em patrulha agora," o policial disse e saiu.
Nick se virou para Miguel.
"E de onde exatamente você tirou essa informação?" ele perguntou, e Miguel apontou para Matt. Desde quando aqueles dois eram amigos? Mas ele não estava surpreso, Matt era exatamente o tipo de pessoa que inventava coisas. Não era culpa dele que as pessoas escolhessem acreditar nele. Ele simplesmente tinha esse efeito sobre as pessoas. Ele queria desmentir os pensamentos falsos, mas deixou pra lá. Eles podiam pensar o que quisessem. Ele não dava a mínima.
"Aqui. Trouxe os papéis para você assinar," Miguel disse enquanto os entregava.
Nick pegou os papéis junto com a caneta que Miguel ofereceu e assinou rapidamente.
"Você não vai verificar o que eles dizem?" Miguel perguntou. Havia algo no tom dele que não estava certo. Como se todos soubessem algo que ele não sabia.
"Por quê, o que eles dizem?" ele perguntou enquanto Miguel guardava a caneta.
"Nada demais, só que você está legalmente livre para fazer o que quiser e que o tribunal não vai te incomodar desde que você tenha um emprego bem remunerado e legal."
Ele só podia estar brincando.
"Acho que é hora de reconsiderar minha oferta," Dahlia disse enquanto se inclinava para dar um tapinha no ombro dele.
"Quem diabos eles pensam que são para me dizer como viver minha vida!"
"Você tem que tentar entender. Vai ser muito suspeito se você continuar gastando dinheiro que não pode justificar," Miguel explicou.
Nada disso fazia sentido. Um garçom entrou e trouxe bebidas para todos, e ele bebeu tudo de uma vez, depois pediu ao cara para trazer uma garrafa. Miguel começou a tentar argumentar com ele, mas ele não queria ouvir nada disso.
Então ele se levantou para sair. Ele não estava com humor para companhia.
"Ei, para onde você vai?" Matt perguntou, e Nick disse que estava indo para casa. Ninguém tentou convencê-lo a ficar. Eles sabiam que não adiantava. No caminho para a porta, ele encontrou o garçom e pegou a garrafa dele.
"Nick, espera aí!" Matt gritou enquanto ele descia. Ele parou e se virou para ele.
"O quê!"
"Só queria que você soubesse que eu só estava tentando ajudar. Eu sabia sobre a regra do tribunal, então hackeei o sistema do lugar onde trabalho e falsifiquei seu perfil. Daí toda essa história de você ser veterano," Matt disse e contou que era legal. Ilegal, mas ainda assim bem legal. Aparentemente, Matt achou que isso o ajudaria. Não que ele realmente se importasse com a regra do tribunal, ninguém controlava como ele escolhia viver. Por isso ele ia voltar ao seu antigo trabalho assim que pudesse. Sua arma estava ficando enferrujada.
"Onde você deixou a Brianna?" Nick então perguntou.
Brianna era a filha de seis anos de Matt. Sim... pobre garota. Mas Matt a amava demais. Ela foi o resultado de uma transa casual. A mãe dela queria abortar ou dar para adoção, mas Matt foi completamente contra. Ele assumiu total responsabilidade e agora... por mais estranho que pareça, era um pai solteiro. No começo, Nick não achava que ele conseguiria, mas ele provou que estava errado. Ele era um ótimo pai e fazia qualquer coisa para cuidar dela. Qualquer coisa. Ambos cresceram em um orfanato, então ele entendia o motivo das ações de Matt.
"Com a babá, papai precisava de uma noite de folga. Faz três dias que não transo," Matt respondeu, e Nick balançou a cabeça.
"Você está fora de si."
"Pensei que você disse que eu não tinha uma. Decida-se," Matt disse enquanto voltava para o lounge VIP.
Nick continuou descendo. Ele queria sair. A música estava muito alta e o lugar cheirava a suor de todos os corpos se movendo ao redor dele. Mas por baixo de tudo isso havia algo mais. Algo que não se encaixava em todo aquele caos. E entre todos os cheiros fortes havia um que não pertencia a esse lugar. Um que ele reconhecia muito bem, já que o fez perder o sono nas últimas duas noites. Ele olhou ao redor, sem ter certeza do que estava procurando sob as luzes fracas.
Ótimo, agora ele estava imaginando coisas. Concluiu que quanto mais rápido saísse daquele lugar, melhor seria.