




CAPÍTULO 5
CHLOE DUARTE
Tenho que admitir, o filho da mãe sabe se virar.
"Isso é muito interessante!"
"Se você conhece e entende de vinhos, por que desperdiçou meu tempo explicando minha sugestão?", ouço um suspiro e viro a cabeça, vendo Jack tossir enquanto termina de beber um copo d'água que estava na mesa.
"Não é desperdício de tempo ouvir novas ideias, senhorita...", ele se recosta na cadeira, e continuamos nos encarando como em um duelo.
Entendo a enorme tensão que emana do corpo de Jack, James é muito intimidador.
"Gostaria que eu mudasse algo?", Jack finalmente pronuncia nervoso.
"Sim, considere as sugestões da Srta. Duarte..."
Sentindo um imenso orgulho de mim mesma, vejo ele se levantar quando seu celular toca.
"Verifique as reservas do evento, feche o orçamento e certifique-se de que tudo esteja como deve ser, também preciso que você entre em contato com o Richard da Forbes e confirme nossa reunião para esta tarde.", Ele pede a Jack, que acena obedientemente.
Observo-o caminhar até a saída com passos firmes e elegantes, levanto-me atrás dele para também sair da sala, mas fico intrigada quando o cheiro do seu perfume chega às minhas narinas.
Aquele cheiro... parece estranhamente familiar.
"Obrigada pelas sugestões, Srta. Duarte...", aceno com a cabeça vendo-o desaparecer no imenso corredor.
Antes de sair da sala, soltando um longo suspiro de alívio pela saída intimidadora de James Colucci, Jack desliga o projetor do painel e faz algumas anotações.
"Sr. Michel, desculpe-me por interromper e arruinar sua apresentação na presença do Sr. Colucci", aproveito a oportunidade para me desculpar pelo meu comportamento.
Ele ajeita os óculos e levanta a cabeça para me encarar com uma expressão suave no rosto.
"Você não arruinou nada, apenas me salvou de uma grande catástrofe."
"O que quer dizer?", pergunto curiosa.
"Organizar menus de eventos não é meu trabalho, se você não percebeu, então você me salvou ao corrigir a escolha do vinho, ou o Sr. Colucci me mataria se houvesse algo errado na noite do baile beneficente." Ele sorri envergonhado.
"Não há ninguém para cuidar desse tipo de preparação?"
"Havia, era a assistente pessoal do Sr. Colucci que cuidava dessa parte, mas infelizmente ela se demitiu na semana passada, então sobrou para mim..."
Estou tentada a perguntar por que a mulher se demitiu, mas não pergunto por medo de me intrometer ainda mais, mas deve ser por motivos pessoais, já que qualquer um mataria para trabalhar em uma posição como essa.
Ou talvez ela não aguentasse trabalhar para o Sr. Colucci.
"Se precisar, posso refazer o menu de acordo, se for para ajudá-lo...", proponho querendo ajudar, já que causei parte desse problema.
"É tentador, mas esse não é seu trabalho na empresa, Srta. Duarte."
"Sem problema, sou apaixonada por culinária, faria isso sorrindo."
Ele sorri para mim abaixando os óculos em agradecimento.
"Bem, isso seria adorável da sua parte, me ajudaria muito. Mas o problema é que o prazo para organizar tudo isso é amanhã."
"Eu consigo! Se puder, envio tudo hoje mesmo.", proponho sorrindo.
"Muito obrigado, senhorita!", ele agradece sorrindo, faço o mesmo e saio da sala, indo para o meu andar para fazer meu trabalho.
Quando me sento na minha mesa, vejo Matt esticar o pescoço para me olhar com um sorriso bobo no rosto.
"O que foi agora?", pergunto deixando a pasta perto da minha bolsa, para não acabar esquecendo no final do dia.
"Chapeuzinho vermelho se perdeu na floresta e encontrou um lobo mau, princesa?"
De novo com o lobo mau?
Os olhos escuros e curiosos de Matt fixam-se na pasta que eu deveria entregar, mas antes que ele possa abrir a boca para perguntar, Sam aparece sorrindo.
"Acabei de sair de uma reunião com o Adam, vamos almoçar hoje?"
"Claro, Sam!", respondo.
"Você está bem?", Ela me pergunta, mas Matt responde.
"Claro que sim, Chloe foi dar uma volta na toca do Colucci...", pego um lápis e miro na cabeça dela.
"O quê?", Sam arregala os olhos e empurra Matt para poder sentar na cadeira dele e ficar bem na minha frente.
"Sim, ela ainda está em choque por ter conhecido o velho Colucci pessoalmente", Matt diz sorrindo, mas eu nego com a cabeça.
"Nada disso, ele não é velho, acho que tem poucos anos a mais que nós.", digo a verdade lembrando de como fiquei surpresa ao descobrir que o poderoso James Colucci é jovem.
"Espera! Você está dizendo que o bilionário James Colucci, o grande chefe, não é um velho enrugado que gosta de olhar para as bundas dos funcionários?", Matt pergunta com uma expressão chocada, eu aceno em concordância.
"Mentira! Como tudo isso aconteceu e como ele é?", Sam pergunta de olhos arregalados.
"Quando cheguei aqui, o Adam me pediu um favor, pediu para eu entregar esta pasta para o Jack, mas quando entrei na sala de reuniões no último andar, havia outro homem bonito com ele, mas o pior de tudo foi que cometi muitas besteiras na frente do chefe e estou surpresa que minha demissão ainda não tenha chegado.", Suspiro de alívio.
"O que você quer dizer com 'cometi muitas besteiras'?", ela pergunta inquisitivamente, mas se levanta rapidamente ao ver Adam vindo em direção ao nosso departamento.
"Te encontro em meia hora no restaurante da esquina, você precisa nos contar o resto dessa história, mocinha...", diz em tom baixo apontando um dedo acusador na minha direção, o que me arranca um sorriso antes de ela nos deixar.
"Estou muito triste, princesa...", levanto as sobrancelhas sem entender o significado da frase do meu amigo.
O quê?
"Estou triste que você encontrou um cara que te deixou mais encantada do que eu...", explica piscando os longos cílios que fazem um belo contraste com os fios rebeldes de seu cabelo castanho.
"Não estou encantada por ninguém!", rebato fingindo prestar atenção na tela do meu computador.
"Lamento informar que sim, você está se comportando de forma estranha, e seus olhos estão quase me cegando com tanto brilho!"
"É que ele é muito intimidador...", digo em tom baixo.
"É só isso que ele é?", cutuca no ombro antes de voltar a trabalhar no projeto na alegre companhia do meu amigo irritante.
Meia hora depois, nos encontramos no nosso restaurante favorito para almoçar, claro, não consigo comer ou mastigar direito, pois logo sou bombardeada pelas perguntas de Sam.
"Vamos lá, conta! O Sr. Colucci é tão bonito assim?"
"Você é quem deveria saber, já que trabalha na recepção, um lugar onde todos passam, talvez você tenha visto e esquecido.", digo bebendo meu suco de laranja.
"Impossível! Eu lembraria de um bilionário gostoso que é dono da empresa onde trabalho, mas dizem que ele chega antes de todo mundo e é sempre o último a sair da empresa no final do dia."
"Chloe, vamos lá! Descreva o homem para mim!", reviro os olhos sorrindo antes de começar a contar:
"Muito alto, cabelo preto cortado e bem alinhado, olhos azuis que parecem te hipnotizar, nunca vi olhos azuis como os dele antes, sua presença emana pura autoridade e intimidação, sem contar que ele é arrogante e gosta de brincar com suas emoções...", digo irritada lembrando de James se divertindo com meu nervosismo na presença dele.
"Caramba, moreno de olhos azuis, o cara deve ser bem gostoso, né?", concordo sorrindo enquanto ela pula na cadeira.
"Ele gosta de brincar com emoções? O cara fez ou disse algo que te chateou, princesa?", Matt pergunta sério e com uma postura rígida e protetora.
"Não! Ele foi educado, mas gosta de um desafio, eu disse coisas que não deveria ter dito, e ele só revidou na mesma medida."
"Xingou ele?", Sam pergunta segurando o riso, mas nego novamente.
"Me meti em uma situação que não tem nada a ver comigo e praticamente joguei na cara dele que a vida das crianças com câncer não tinha importância para ele...", me sinto mal só de lembrar das minhas palavras naquela sala de reuniões.
"Uau! Estou surpreso que o cara não te demitiu, princesa...", Matt comenta mastigando sua refeição.
"É, ele disse que eu estava errada porque ele passou pela mesma dor e sofrimento que aquelas crianças que estão no hospital..."
Conto a história desde o começo e com muitos detalhes para a total felicidade de Samantha, ao final da nossa hora de almoço, voltamos aos nossos postos e focamos em terminar o projeto.
Respiro aliviada quando finalmente chego em casa após um dia longo e exaustivo, coloco a pasta pesada no balcão da cozinha muito pensativa.
Antes de mergulhar de cabeça no projeto do menu, vou até minha mini adega e me sirvo de uma taça de vinho branco, dou um gole na bebida antes de me sentar no sofá com a pasta no colo.
Estico a cabeça vendo Mia dormindo serenamente em sua caminha no canto do sofá, percebo que esta noite, infelizmente, não terei tempo para escrever e postar um novo capítulo da minha história.
Dou outro longo gole no vinho antes de deixar a taça na mesa de centro, refaço meu coque prendendo o cabelo alto, tiro os saltos e começo a folhear as páginas percebendo que terei que refazer quase tudo neste menu.
Quando meus olhos pousam no nome do vinho que Jack escolheu, lembro-me dos enigmáticos olhos azuis do Sr. Colucci, meu Deus! O que esse homem tem?
O pior é que o desgraçado tem tudo o que uma mulher sonha em encontrar em um homem...
Talvez o motivo de ele ser tão reservado tenha a ver com seu passado, lembro-me bem de ouvi-lo mencionar que teve a mesma doença que aquelas crianças na infância.
Tento manter meus pensamentos sobre o chefe fora da minha mente, focando apenas no projeto que tenho algumas horas para terminar.
Esses ajustes no menu são finalizados às quatro e meia da manhã, me forcei a engolir litros de café puro para tentar ao máximo não adormecer em um projeto pelo qual mostrei tanto interesse, ou poderia arranjar outro motivo para o Sr. Colucci me matar se houvesse um erro no evento beneficente da empresa.
Suspiro de alívio e cansaço quando envio o menu devidamente revisado para o Sr. Michel, que agradece momentos depois de enviá-lo, meu Deus, esse homem não dorme, ele dedica sua vida ao trabalho?
Deixo essa dúvida de lado e corro para tomar um banho e me deitar antes que o despertador do celular toque às seis da manhã, tenho pouquíssimas horas de sono, e tenho certeza de que amanhã estarei mal e com olheiras profundas, o que será motivo para o Matt me irritar o dia todo.
Mas quando deito a cabeça no travesseiro, um sorriso orgulhoso surge nos meus lábios, valeu a pena o esforço que tive para enfrentar meu superior, valeu a pena porque tive a maravilhosa chance de demonstrar e usar meu conhecimento gastronômico em algo.
Quando ouço o despertador tocando na hora certa, xingando em várias línguas diferentes, juro até porque sou fluente em algumas línguas, além do meu português materno, domino perfeitamente o inglês, francês e italiano. Minha família nunca teve uma condição financeira muito boa, mas sempre fui estudiosa e usei os poucos recursos que tinha a meu favor.
E consegui realizar meus sonhos, sacrifiquei deixar toda minha família no Brasil para me mudar para os Estados Unidos, onde entrei e frequentei uma universidade renomada onde ganhei uma bolsa de estudos.
Apesar do trabalho, tento manter o máximo de contato com meus pais no Brasil, claro que às vezes a saudade é tanta que me dá vontade de pegar um avião e voltar para meu país materno, mas não posso, estou construindo parte da minha vida aqui também.
Quando tranco a porta do meu apartamento, certifico-me de ter pego minha bolsa e celular antes de sair para o trabalho, e como sempre, por volta das oito da manhã, as ruas e calçadas de Nova York estão completamente lotadas por motoristas e pedestres apressados.
Infelizmente, durante meu primeiro mês trabalhando na Colucci, fui surpreendida por um assalto quando saía da empresa, mas nada aconteceu, pois Matt apareceu e deu uma lição no desgraçado.
Além de ser um parceiro de trabalho muito irritante, Matt pratica Krav Maga desde a adolescência e hoje é professor da mesma arte marcial nos fins de semana em uma academia, acho muito legal saber se defender, ele até propôs dar algumas aulas, mas não tenho vocação para isso.
Meia hora depois, passo pelo hall da empresa onde vejo minha melhor amiga sentada trabalhando na recepção.
"Bom dia", ela faz uma careta ao ver o cansaço e as poucas horas de sono estampados no meu rosto e as olheiras que tentei disfarçar com um corretivo, mas pela cara da minha amiga vejo que não funcionou muito bem.
"Eu sei, estou acabada! Mas consegui enviar todo o menu para o Jack dentro do prazo...", arrasto-me até a cafeteira que está na recepção e encho uma xícara de café.
"Uma boa noite de sono resolve seu problema, amiga, pelo menos o seu tem uma solução fácil...", ela resmunga ajeitando os fios loiros de um coque alto.
"O que aconteceu agora?", pergunto bebendo um gole de café e me aproximando do balcão.
"Marquei um encontro com um cara ontem à noite, o filho da mãe era bonito e muito sexy, mas quando as coisas esquentaram, tudo desandou...", ela bufa.
"Ele desistiu?", pergunto tentando adivinhar o problema.
"Não! O cara estava pegando fogo, mas eu o mandei embora depois que ele disse que gostava de umas coisas..."
"Que coisas?"
"Eu achava que tapas na bunda eram normais no sexo, mas percebi que havia algo errado quando ele perguntou se podia me amarrar na cama, quase aceitei, já que alguns homens têm esse tipo de fetiche, mas pulei fora quando vi que ele tirou um chicote e outros apetrechos assustadores de dentro da bolsa...", o café desce pelo lugar errado e uma onda de tosse me invade acompanhada de uma risada alta.
"Ele era adepto do sadomasoquismo?", pergunto tentando parar de rir.
"Aquele era um sádico! Como é que as pessoas gostam disso? Nossa, você tinha que ver a aparência do chicote, sem contar que ele tirou um negócio desse tamanho de dentro da bolsa, eu disse: De jeito nenhum você vai enfiar isso em mim, seu pervertido", ela mede quase vinte centímetros com as mãos, aumentando ainda mais minha risada.
"Talvez ele fosse meio Christian Grey, você estaria passeando dentro de um Aston Martin agora se tivesse aceitado os chicotes e o pênis de borracha gigante!", zombo rindo.
"Acredite, Chloe, ele era bonito, mas não chegava aos pés de um Christian Grey, se fosse ele, eu aceitaria o chicote e as outras coisas...", ela levanta as sobrancelhas com uma expressão maliciosa.
Estou prestes a rir novamente, mas mordo o lábio quando vejo Sam bufar disfarçadamente enquanto olha atrás de mim, não preciso me virar para saber que a vaca da Camily está por perto, seu cheiro enjoativo soa como um aviso.
"Senhorita Duarte, seu turno começou há alguns minutos, você deveria estar trabalhando e não atrapalhando o trabalho dos outros funcionários...", reviro os olhos e me viro encontrando a vaca em pessoa.
"Obrigada pelo aviso, Senhorita Sparke, mas estou ciente disso e já estava a caminho do meu andar.", murmuro friamente ouvindo a risada de Sam atrás de mim.
A vadia me olha com uma expressão de nojo, exibe os melões que carrega colados ao busto e faz questão de mostrá-los com uma camisa apertada e aberta.
"É melhor ter muito cuidado com as palavras que diz aos seus superiores, Senhorita Duarte, nem todos têm a paciência do Sr. Colucci...", ela completa com um sorriso maldoso no rosto cheio de Botox.
Como ela sabe disso?
Respiro fundo tentando manter o controle porque tenho certeza de que ela não hesitaria em pedir ao Adam para me demitir só por retrucar, já que ela me odeia desde que entrei nesta empresa.
Estou prestes a fingir submissão, mas uma voz autoritária me impede:
"Há algum problema aqui?", Adam aparece ao nosso lado e nos encara.
"Não querido, eu estava apenas avisando a Senhorita Duarte para evitar ao máximo chegar atrasada ao trabalho...", ela diz com uma voz melosa passando o braço em volta de Adam, que começa a me olhar.
Estou apenas alguns minutos atrasada! Cinco minutos para ser exata, droga!
"Desculpe, Sr. Smith, não vai acontecer novamente!", peço tratando-o formalmente antes que essa vaca pense que somos próximos, ele pensa o mesmo, já que também me trata da mesma forma.
"Sem problema, Senhorita Duarte, eu te devia um favor por ontem, então não vou te repreender desta vez.", aceno agradecendo enquanto os vejo se afastar.
"Ouvi dizer que você impressionou o Colucci com sua performance ontem, parabéns!", ele diz sorrindo antes de entrar no elevador.
Performance? Ah, droga!
Até ele sabe que desafiei e acabei insultando o próprio chefe?
Dois minutos depois estou na minha mesa no décimo quinto andar, e fico irritada ao perceber que até o Matt não chegou, e a vadia está me repreendendo por alguns minutos de atraso, enquanto ele está meia hora atrasado e ela não diz nada.
Ligo o computador e entro no e-mail vendo que temos mais um projeto para começar e com o prazo mais curto que o outro, decido começar sem o Matt que, para minha infelicidade, ainda não chegou.
"Quer fazer a minha parte também?", resmungo irritada ao ouvir Matt sussurrar no meu ouvido.
"Por que você chegou atrasado? Temos mais um projeto para trabalhar e o prazo é muito curto!", exagero com um sorriso.
"Por que você está assim? Ah, espera! Está naqueles dias, não é? Deveria haver um sinal onde as mulheres colocariam: Perigo! Não se aproxime, estou de TPM...", jogo uma borracha na cabeça dele enquanto ele se senta na mesa rindo.
"Tá bom, por que você está assim, princesa?", ele pergunta sério usando seu tom cauteloso comigo.
"Por que aquela mulher me odeia tanto? Eu nunca fiz nada para ela!", resmungo irritada.
"Quem? Camily?", aceno positivamente vendo meu amigo puxar a cadeira para perto da minha e dizer em um tom carinhoso:
"Porque ela tem inveja de você, princesa!", ele diz como se fosse óbvio, mas eu rio ironicamente.
"Inveja? Aquela vadia tem um ódio mortal de mim sem motivo..."
"Sim, porque ela tem inveja de você, e não me diga que não há motivo para isso porque eu te conheço muito bem, nunca se olhou no espelho, princesa?"