




Capítulo 1: Curando os feridos
Suas escamas brilhavam ao sol da tarde, enviando faíscas de luz cintilando das nuvens. Ele voava em círculos, suas garras roçando as copas das árvores enquanto procurava sua presa. A grande cabeça do dragão varria de um lado para o outro.
Lá! A figura encapuzada corria entre as árvores abaixo, sua capa preta esvoaçando atrás dela enquanto corria pela floresta densa. Com um rugido, o dragão mergulhou, suas garras estendidas em direção à figura. Galhos batiam contra sua pele grossa enquanto ele rompia o dossel, mas o dragão mal notou. Logo teria sua presa.
A figura encapuzada de repente desapareceu, aparentemente no ar. O dragão diminuiu sua descida e pousou em um grande galho, que cedeu sob seu peso. Ele ergueu a cabeça e cheirou profundamente o ar, alguns fios de fumaça saindo de suas narinas. O cheiro havia desaparecido junto com a figura. A grande besta soltou um rosnado frustrado. Estava caçando essa... coisa há mais de uma semana e essa era a vez que tinha chegado mais perto.
Algo bateu no dragão, derrubando-o de seu poleiro. Com um rosnado, o dragão caiu no chão da floresta, espalhando folhas e outros detritos. O chão tremeu com o impacto. A criatura tentou se levantar, mas uma dor aguda e ardente atravessou seu lado. Ele desabou novamente de barriga para baixo.
Com um poderoso bater de asas, tentou se erguer, mas não conseguiu. Confuso, olhou para suas gloriosas asas e viu um grande corte em uma delas. Rugiu de dor e raiva. O som de galhos quebrando sob os pés chamou sua atenção para longe do rasgo. A figura encapuzada estava a poucos metros de distância. A única coisa visível sob o capuz escuro eram um par de olhos vermelhos brilhantes.
Saffron esfregou as ervas entre os dedos; um cheiro forte e terroso surgiu. Ela cortou alguns talos e os colocou na bolsa em sua cintura. De pé, ela esticou as costas. Estava colhendo desde o amanhecer. Estava quase anoitecendo e ela deveria voltar logo. Já havia demorado demais na Floresta.
Se os Destinos permitissem, sua casa estaria vazia quando ela retornasse. Abbington Holt tinha o hábito de aparecer sem avisar desde que o noivado foi finalizado. Saffron o achava incrivelmente cansativo e odiava a maneira como ele a olhava. Ela estava grata por ainda estar protegida por seu guardião, pelo menos pelas próximas semanas. Ela se recusava a pensar em como seria sua vida após o casamento.
Seus pés traçavam um pequeno caminho pela grama alta e sua saia amarela pálida fluía atrás dela, roçando o topo das vibrantes flores silvestres que cresciam no prado. Ela podia ver as luzes da vila começando a piscar. Seus passos diminuíram, saboreando os últimos minutos de sossego quando um gemido baixo soou à sua direita.
Ela congelou e sua mão caiu sobre a adaga afiada que usava para colher. O cabo áspero era um conforto sob sua mão. Ela considerou correr, mas o que quer que fosse parecia estar em grande dor. Seu juramento de curandeira a obrigava a encontrar a criatura. Com um último olhar para a cidade, ela voltou para a Floresta.
A luz do dia estava desaparecendo rapidamente, mas Saffron conhecia essa Floresta tão bem quanto seu próprio rosto. Ela vinha perambulando por essas colinas e através dessas árvores desde criança. No entanto, o gemido que ouviu era algo que nunca tinha ouvido antes. A única familiaridade no uivo era a dor.
A criatura parecia estar fora do caminho. Um ponto brilhante de vermelho chamou sua atenção e ela se agachou. Sangue. Ela tocou com a ponta do dedo. Tinha menos de uma hora. O choro parecia estar diminuindo agora. Ela precisava se apressar. Seguindo o rastro de sangue, ela chegou a uma pequena caverna.
O sangue levava para dentro. Um alarme soou dentro dela, mas ela ainda deu um passo à frente. O gemido havia se transformado em um lamento triste. Ela olhou ao redor, a grama fora da caverna estava pisoteada e galhos quebrados espalhavam-se pelo chão da floresta. O que quer que estivesse lá dentro, era grande.
"Olá?" ela chamou, sua voz trêmula. O lamento parou. Ela ouviu uma respiração pesada e laboriosa. Deu mais alguns passos para dentro. Agora havia poças de sangue brilhando na luz do sol que se desvanecia. Aproximando-se, viu que o sangue parecia ter partículas de ouro. Então não era humano, pensou consigo mesma.
"Estou aqui para ajudar. Não vou te machucar. Sou uma Curandeira," ela chamou. A respiração ofegante e úmida continuou, mas ela não ouviu mais nada. Tirando seu isqueiro do avental, acendeu uma pequena tocha e entrou cautelosamente na caverna.
Um grande monte ofegante estava logo na entrada da caverna. Seu corpo reptiliano gigante estava enrolado em uma bola apertada. Uma grande poça de sangue estava sob a criatura, mais sangue escorrendo a cada respiração torturante. Ela ergueu a tocha mais alto. O corpo estava coberto de escamas douradas brilhantes, cada uma do tamanho de sua mão. Um dragão.
Ela deveria ir embora. Correr. Dragões não eram amigáveis nas melhores circunstâncias, muito menos quando feridos. Mas ela se sentia compelida a seguir em frente. Caminhou em um amplo arco ao redor do corpo, pronta para fugir se necessário. Sua cabeça estava bem encostada ao corpo, um olho esmeralda observando sua aproximação.
"Sou Saffron. Estou aqui para te ajudar. Pode me mostrar onde está machucado?" ela perguntou suavemente. O olho a observou com desconfiança e não se moveu. "Por favor," ela implorou. Ela cravou a tocha no chão e apelou para a besta. Não tinha certeza se ele poderia entendê-la, mas sabia que dragões eram criaturas inteligentes.
Saffron estendeu a mão, dedos longos e pálidos se esticando em direção ao dragão. Ele bufou uma vez e ela sentiu um cheiro quente e metálico. Um rosnado baixo ressoou do fundo do corpo da criatura, mas parou abruptamente com um grito de dor. Ele mexeu a asa e ela viu uma grande ferida em seu lado e um rasgo na membrana fina da asa.
"Você me deixa te ajudar, por favor?" ela perguntou novamente e tirou seu kit de curandeira. Ele bufou novamente, mas manteve a asa erguida. Com o coração acelerado, ela deu um passo à frente. Nunca tinha visto um dragão de perto antes, mas tinha estudado sua anatomia nos livros de sua avó. O calor que emanava da criatura era incrível. O suor começou a brotar em sua testa e estar tão perto dele afastou qualquer frio remanescente de antes.
A ferida era crua e irregular; parecia ter sido atingida por um canhão. As bordas estavam chamuscadas. Saffron delicadamente limpou um pouco da sujeira. Cheirava a enxofre. Então, tinha sido baleado.
"Vou limpar isso primeiro, já que é o pior," ela disse em voz alta enquanto derramava água fria sobre a ferida. O dragão sibilou, mas a deixou continuar. "Agora, vou colocar um cataplasma aqui. Vai ajudar a anestesiar a área e aliviar a dor," ela afirmou e tirou um pequeno sachê de sua bolsa. Pressionou-o gentilmente no buraco. Também ajudaria a evitar infecções.
"Esta será a pior parte," ela avisou e tirou uma grande agulha de seu kit. Os olhos do dragão se arregalaram, mas ele ficou imóvel. Seus olhos estavam fechados com força enquanto ela empurrava a agulha através de sua pele resistente. O grande corpo tremeu e depois ficou incrivelmente imóvel. Saffron rapidamente costurou o corte. A respiração do dragão ainda estava frenética.
"Quase terminando," ela o consolou e costurou o rasgo na asa. "Tudo pronto," ela disse e lavou as mãos com a água de seu cantil. Os olhos do dragão estavam fechados e sua respiração havia se estabilizado. Devia ter desmaiado de dor. Saffron deu alguns passos para trás, caso ele acordasse de mau humor.
Era lindo. A luz do fogo dançava nas escamas douradas. Pequenos fios de fumaça saíam de suas narinas. Era maior do que até mesmo seus livros descreviam. Dominava a caverna em que estavam, mas não era tão grande a ponto de bloquear o céu enquanto voava. Ela encontrou um pequeno enclave onde podia se sentar e descansar as costas. Esperaria ali até ter certeza de que ele sobreviveria à noite.
Enquanto olhava para a bela criatura, percebeu que sua pele estava se movendo. Espantada, ela meio que se levantou e observou enquanto as escamas pareciam derreter, revelando uma pele bronzeada e musculosa. Ela se aproximou; sua respiração presa na garganta. O dragão desapareceu e, em seu lugar, estava o homem mais bonito que Saffron já tinha visto.