




Respostas
Yolie:
Depois de me entregar minhas roupas e se virar para que eu pudesse me vestir com um pouco de privacidade, ele me leva de volta para a Villa. Durante os breves minutos da jornada, penso no que acabou de acontecer.
Maldita Eleni! Vou estrangulá-la quando a vir. Embora, agora que penso nisso, tê-la longe foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. No humor em que Alex estava, é muito provável que tivéssemos feito exatamente a mesma coisa com a garota ali, nos assistindo.
Eu empalideço.
O que diabos está acontecendo? O que está acontecendo comigo? Vivi vinte e seis anos durante os quais nenhum homem jamais despertou meu interesse, cheguei a acreditar que poderia ser frígida... e agora não consigo tirar as mãos desse? Pfff.
Estou desconfortável e grudenta. Sou uma massa de suor, areia e cabelo. Preciso de um banho e lavar meu cabelo. Tenho areia presa entre as coxas e estou com medo de me queimar.
Entramos na Villa e apresso o passo em busca das escadas.
— Precisamos conversar. - A voz de Alex me paralisa. - Vá, se refresque e descanse um pouco. Esta noite quero que jantemos juntos. Vou responder suas perguntas da melhor maneira possível.
Eu o olho e aceno com a cabeça em concordância, indo novamente em direção às escadas.
— Yolie. - ele me chama. Eu me viro exasperada. - O jantar é às nove. Não me faça ir te procurar.
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São oito e meia e estou morrendo de medo. Depois de ficar debaixo do chuveiro quente por vinte minutos, lavei meu cabelo e me esfreguei com uma esponja. Tinha areia até na minha bunda!
Me arrumo um pouco, prendendo o cabelo em um coque alto, aplicando um pouco de gloss nos lábios e vestindo um vestido que chega aos tornozelos, usando meus sapatos sempre confiáveis.
Às oito e quarenta desço para a sala de jantar. Kostas e Cosima param de murmurar entre si e me olham com uma cara nada amigável. Sento-me à mesa e observo que está servida com comida para cerca de quinze pessoas.
Alex entra com um ar autoritário, sorri satisfeito ao me ver já sentada no meu lugar e cai despreocupadamente no seu, bem na minha frente.
— Estou lisonjeado por você ter sido pontual. - Ele murmura, mas eu faço uma careta de volta para ele.
Cosima se aproxima e fala algumas palavras com ele, ele balança a cabeça e responde no que deve ser grego. Então ela e Kostas saem da sala de jantar.
— Algo errado? Por que seus empregados estão de mau humor? - Eu pergunto.
Alex comprime os lábios e me olha, uma expressão dura no rosto.
— Eles estão chateados porque decidi enviá-los para cuidar de outra das minhas propriedades. O comportamento de Eleni com você nos últimos dias foi, no mínimo, desrespeitoso. Sei que foi sua ideia ir à praia algumas horas atrás, mas ela deliberadamente te deixou lá. Eu a demiti e seus avós não estão felizes com minha decisão.
Minha mandíbula cai. O quê?
— Você não acha que foi severo demais? Afinal, estávamos bem ali, a poucos metros da Villa.
— Não. - Ele responde secamente. - Você está segura aqui dentro. Lá fora, naquele trecho de praia, você teria sido uma presa fácil.
— Eu não entendo. O que...?
Ele levanta a mão imperiosamente, me silenciando.
— Não vamos falar sobre isso agora, não quero estragar seu apetite. Vou responder suas perguntas depois. Agora coma. - Ele ordena, sinalizando para o impressionante banquete à minha frente.
Não tenho ideia de por onde começar. Tudo parece delicioso. Dedico-me a encher meu prato com um pouco de tudo. Salada de repolho, tomate e pepino; milho doce, peito de frango e batatas fritas são algumas das coisas que experimento. Não tinha percebido o quanto estava com fome. Chupo meus dedos e meu olhar colide com o de Alex.
Ele me olha divertido. Seu prato está vazio, ele só bebe vinho de uma taça de cristal.
Meu apetite desaparece imediatamente. Devo ter parecido um porco engolindo tanto na frente dele enquanto ele me observava.
— Você não está com fome? - Pergunto com uma voz fina, largando o garfo no meu prato meio vazio.
— Não de comida. - Ele responde me olhando com aquela expressão que me tira o fôlego.
— Por favor, não me olhe assim. - Eu imploro, engolindo em seco e desviando o olhar dele.
— Por que você sempre faz isso? Por que seu humor muda tão facilmente? Um segundo atrás você estava tão feliz. O que eu fiz que te ofende tanto?
Você não entenderia.
— Não me olhe como se quisesse me devorar! - Eu grito, levantando-me da cadeira, em uma raiva súbita e inexplicável.
Alex me encara impassível, girando o vinho na mão algumas vezes até esvaziar a taça de um gole só.
— Eu te olho como se quisesse te devorar. - Ele repete divertido. - Você está absolutamente certa, pequena bruxa. Eu quero te devorar e não apenas de uma maneira sexual.
Eu recuo com medo, balançando a cabeça.
— Você é algum tipo de canibal ou algo assim?
Seus olhos me varrem da cabeça aos pés, ele coloca o copo na mesa e se levanta. Com movimentos lentos e medidos, ele contorna a mesa, se aproximando de mim.
— Oh não, querida. O que eu sou é pior, muito pior do que isso.
Ele se aproxima, me cercando, e eu dou vários passos cautelosos para trás, em choque.
— O que você é? — sussurro, minha garganta ameaçando fechar de pânico.
Ele para a poucos centímetros de mim, seu olhar maligno fazendo minhas pernas tremerem. Vendo o quanto estou assustada, ele decide recuar, sem tirar os olhos de mim, dando-me espaço suficiente para que eu possa respirar mais facilmente. Eu me apoio na mesa e o observo desconfiada.
— Eu disse que responderia suas perguntas, mas não acho que você esteja pronta para saber a resposta dessa.
Eu resmungo. E ele sorri, um enorme sorriso de orelha a orelha. A atmosfera entre nós, que me sufocava com uma intensa sensação de perigo há alguns minutos, agora está mais relaxada, até mesmo brincalhona.
— Bem, se você não vai responder essa, tenho algumas outras para te fazer. Você estava lá, certo? Você e Patrick. Na noite em que tive o acidente, há três anos.
— Sim. Estávamos lá.
— Alguns dias atrás você disse que eu te devia minha vida. Isso significa que vocês me levaram ao hospital e não o casal canadense que supostamente relatou o acidente?
— Não. Patrick e eu não te levamos ao hospital, mas eu impedi que você morresse. Outro dia perdi a paciência, não deveria ter gritado com você. Sinto muito pelo meu comportamento.
Sua expressão é de arrependimento. Eu realmente acho que ele está arrependido. Aproveitando essa onda de sinceridade da parte dele, pergunto o que tenho querido saber há dias.
— Por que estou aqui? Por que não posso ir para casa?
Ele me olha nos olhos e seus ombros caem.
— Você está aqui porque está em perigo. Consegui manter escondido o fato de que você ainda estava viva pelo maior tempo possível, mas a pessoa que tentou te matar da primeira vez descobriu e eu temia que tentasse novamente.
Assassinato... o quê?!
Minha cabeça está girando, o que comi ameaça paralisar no meu estômago.
Não foi um acidente? Alguém quer me ver morta? Quem?! E mais importante... Por quê?
Olho para Alex com uma expressão petrificada no rosto, ele, com aquela estranha habilidade que possui, adivinha o que estou tentando expressar e me responde.
— Talvez depois disso você venha a me odiar, mas estou convencido de que tentaram te matar por minha causa.
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Tentaram te matar por minha causa.
Suas palavras ecoam na minha cabeça. Passei dois dias pensando em nada além disso. Não faz sentido. Alex e eu não nos conhecíamos antes... bem, antes daquela noite. É impossível que alguém quisesse me matar por causa dele.
E também... Como diabos vou estar segura apenas dentro da Villa? Este lugar tem algum tipo de campo de força que repele assassinos? Alguém não poderia facilmente entrar pela janela? Como já disse, Alex deve ser louco como uma cabra velha, ou algo mais está acontecendo aqui. Algo que não consigo entender.
Me tranquei no meu quarto. As refeições são deixadas para mim em uma bandeja na porta, mas a cada dia sinto menos e menos apetite. Alex deve ter contratado novos empregados, porque vi um homem na casa dos sessenta cortando a grama e ontem uma mulher na casa dos quarenta bateu na minha porta e, em um inglês mal compreensível, perguntou se eu queria chá ou algo mais.
Duas noites atrás ouvi um avião decolar perto daqui, imagino que os antigos empregados da Villa partiram nele.
A verdade é que me sinto culpada. Espero que onde quer que Kostas e sua família estejam, não estejam me amaldiçoando. Suspiro. Nunca pensei que meu capricho de querer ir à praia custaria a eles o emprego.
De qualquer forma, sei que meu auto-confinamento não pode durar muito. Ainda há muitas perguntas que Alex não respondeu.
Alex:
— Kyrios Philipides, estou preocupada com sua hóspede. Ela está trancada no quarto e mal come há dois dias.
A Sra. Kiriakis torce o avental nas mãos, nervosa. Rumores sobre a demissão de Kostas e sua equipe se espalharam entre os poucos habitantes da ilha. Esses rumores pintam Yolie como uma garota impertinente e mimada, que insatisfeita com o trabalho dos empregados anteriores, exigiu que fossem demitidos. Que monte de bobagens. Mas nos últimos dias, os empregados que contratei, sendo ilhéus, obviamente ficaram inquietos.
Eles nem tiveram tempo de conhecê-la e já a rotularam como caprichosa e problemática. Minha pequena bruxa é tudo menos isso. Posso ouvi-la... ela está deprimida e triste, por isso não come muito. Ela se culpa pelo que aconteceu com Eleni e anseia cada vez mais por seu país.
Ela tem muitas dúvidas. Com relação a mim, com relação ao que sou, com relação ao que revelei a ela da última vez que estivemos cara a cara e, para minha imensa surpresa, ela não me odeia. Ela acha que sou louco e está curiosa para saber mais sobre como consegui salvar sua vida.
Bem... Talvez esta noite minha pequena bruxa coma algo, se eu levar o jantar para ela na cama.