Read with BonusRead with Bonus

7. ANTIGAS TRADIÇÕES, NOVOS COMEÇOS.

Houve uma vez em que Olivia Sanders se sentiu verdadeiramente sozinha.

E por isso, quero dizer que não havia Alli, nem Sarah, nem seu pai. Eles tinham viajado para a Suécia no fim de semana a trabalho e ela afastou todos os outros. Era o verão de 2007, e depois disso—depois de ser humilhada no Camp Kiwi.

Os últimos dias foram horríveis, e Olivia evitou qualquer forma de contato humano, incluindo sua melhor amiga. Ela não comia, nem ia remar ou dançar. Ou para clubes. Sua cama se tornou sua alma gêmea, e seu travesseiro afundado, um companheiro.

Liv passava o dia inteiro chorando, afundando cada vez mais nas trincheiras da depressão que logo a dominaria. E quando voltou para casa, piorou. Ela parou totalmente de comer, e vomitava toda vez que lembrava das palavras dele.

"Você acha que alguém em sã consciência se interessaria por você?"

O que mais a assombrava não eram as palavras dele, mas o fato de que ela acreditava naquelas palavras. Liv, até o momento em que Alex se aproximou dela, estava convencida de que o amor era um mito—exceto por seus pais, que eram exceções. Mas agora, sentada na beira da cama com o cabelo bagunçado e o rímel borrado, olhos voltados para o teto branco e braços ao redor dos travesseiros molhados, Liv estava mais do que convencida de que realmente não havia ninguém lá fora para ela. E Alex estava certo—ninguém ousaria olhar para ela duas vezes.

Foi a partir desse momento que Olivia se tornou invisível. Entediante—a pessoa sem graça que ela era hoje. E menos excêntrica do que a que foi ao acampamento. Ela encontrou um lar nas páginas dos romances vintage ou nos mistérios tradicionais de Sherlock Holmes. Tornou-se sua coisa favorita a fazer, ler e ler. Ela se apaixonou pelos personagens fictícios porque eram de certa forma mais seguros de amar, e assim ela não quebraria o que restava de seu coração.

Sua única outra pessoa era Alli.

Ao longo dos anos, ela perdeu todos os outros, menos ele. Durante o ensino fundamental, ensino médio, faculdade ruim e início da vida adulta—mesmo quando ela não tinha a si mesma, Olivia tinha—

"Alli"

Ele se virou para encará-la, apertando os olhos por um segundo como se tivesse problemas de visão. Mas assim que a reconheceu, um sorriso surgiu no canto dos lábios. "Como você está?" Ela lutou com seu crachá enquanto caminhavam em direção à porta. "Estou bem" Alli respondeu, segurando a ponta de sua gravata xadrez vermelha.

"Como foi seu fim de semana?"

Olivia, por outro lado, teve que pensar e vasculhar sua mente pelos eventos que aconteceram após o funeral. A verdade é que estava meio confuso. "Foi bom, eu acho" Ela passou por ele, empurrando as portas de entrada com o cabelo balançando sobre os ombros. Ele notou a cor, que estava mais fresca e mais viva, mas Alli escolheu não dizer nada. Ele mostrou seu crachá antes de caminhar até a recepção, onde eles se separariam.

Veja, Alli estava na equipe de engenharia de front-end, algum termo técnico coloquial que Liv não fazia ideia do que era, enquanto ela era a secretária do CEO, que era Hank, mas agora é seu filho. Eles pararam, olhos se encontrando, e então atingiu Liv como uma onda—as palavras de sua tia no funeral.

"Seu pai foi assassinado"

Ela se sentiu desestabilizada, um arrepio percorrendo todo o seu corpo enquanto ela se desligava por um momento. "Olivia" Alguém imediatamente segurou seus braços, trazendo-a de volta à consciência. "Você tem certeza de que está bem?" Havia uma preocupação genuína nos olhos dele—os olhos nos quais ela olhou e os mesmos aos quais foi forçada a mentir.

"Sim." Ela engoliu em seco, enquanto assentia. No fundo, esperava que ele pudesse ver que ela realmente não estava bem. E por algum motivo, isso parecia a primeira vez que ela mentia para Alli. Ela se afastou dele, subindo as escadas do escritório. E ele a observou desaparecer. Ele podia perceber que algo estava errado, ele a conhecia tão bem.

Desde o momento em que Damien apareceu neste mesmo corredor.

O que ele não entendia era por que ela estava escondendo coisas dele—isso ia além do que aconteceu anos atrás no Camp Kiwi, agora também era sobre a verdade sobre seu pai. Ela empurrou as portas de Damien, segurando seus documentos nos braços com lágrimas nos olhos e uma oração nos lábios, esperando que não estivesse realmente atrasada hoje. Mas, infelizmente—

Sua voz ecoou de volta para ela quando seus olhos caíram na cadeira giratória. As cortinas escuras estavam fechadas, e a cadeira dele estava vazia. A sala inteira estava. "Droga" Liv xingou no momento em que a porta se fechou atrás dela. E ela olhou para o alto teto iluminado por velas—buscando consolo no escritório de seu chefe.

Suas bolsas caíram na mesa, e uma lágrima também, apenas uma. Ela puxou uma cópia de It Ends Here de William Harper enquanto caía na cadeira quente e profunda dele, que ainda tinha seu forte cheiro característico, até que lentamente seus olhos começaram a se fechar. Onde estava Damien Archer?

"O que você está fazendo aqui, mãe?"

Sua voz era áspera, profunda como sempre foi. Mas seus olhos diziam mais palavras enquanto ele se virava para sua mãe, inabalável em cada emoção conhecida pelo homem. Ele havia deixado sua pasta ao lado da cadeira, cruzando as mãos em um punho frouxo.

"O que você quer dizer?" A voz de Amanda era sutil ao lado da dele. "Ah, me poupe dessa besteira, mãe" Damien levantou a voz e ela imediatamente correspondeu ao olhar dele. "Você achou que poderia simplesmente se livrar de mim depois do funeral do seu pai? Que eu não tenho lugar aqui—Com meu filho." Havia um estalo em sua voz que fez Damien ferver por dentro. Marisol encontrou os olhos dele e deu um passo à frente.

"Senhora, se não se importa. Ele estava a caminho do tra—"

"Fique fora disso" Amanda a repreendeu. "Você não é a mãe do meu filho e não se atreva a falar por ele." Ela se aproximou de Damien, segurando seu casaco de pele creme. Suas unhas estavam pintadas de nude, mas criavam uma espécie de ilusão na luz. Suas mãos encontraram o caminho até os ombros largos dele, cobertos pelo terno.

"Não fale com Marisol desse jeito" Ele disse em voz baixa. E ela bufou. "E o que ela é agora? Sua mãe?" Ele tirou as mãos dela de si, passando por ela. "Eu me considero órfão."

Ela suspirou, virando-se lentamente para ele. Seus dedos passaram pelo cabelo na testa enquanto ela piscava os cílios. "Ai" Ela exclamou suavemente. "Eu não preciso me explicar" Ele pegou suas bolsas e as chaves do carro. Mas ela ficou no caminho dele.

"Eu vou com você."

Ele olhou para baixo, para o olhar inabalável dela, antes de dizer calmamente. "Não." E então ele contornou ela. Seus dedos deslizaram pelos lados de seu vestido de uma peça só antes de ela gritar. "Esta é a empresa da família" Ela disse. "Hank não deixou nada para você" Damien respondeu. "E por que você acha que é isso?"

Ele se virou para sua mãe.

"Por causa de—" Damien pausou, como se estivesse segurando suas próximas palavras. As palavras que Amanda sabia. Ela segurou o queixo com um suspiro, uma espécie de culpa se infiltrando nas veias de seu filho.

"Estou limpa agora."

"Cinco anos. Eu sei que você nunca se importou em perguntar. Você nunca se importou comigo" Ela acrescentou e ele revirou os olhos. "Bom para você" Ele respondeu e Amanda se aproximou dele. "Como você pôde?"

"Seu pai deve ter lavado seu cérebro o quanto quis desde que eu fui embora. Mentindo para você que eu sou uma pessoa terrível" Ela continuou. "Vocês dois eram pessoas terríveis." Damien respondeu. "Mas uma pessoa tinha uma vantagem. Não é surpresa que fosse o homem" Ela bufou.

"Você foi embora, mãe, o que você esperava?"

"E você acha que eu tive escolha?" Ela levantou a voz pela primeira vez. "Você já pensou que, se dependesse de mim, eu teria ficado. Ficado tanto por Luke—quanto por você."

"Você tinha Luke," Damien sussurrou, e ela bufou. "Nunca foi minha escolha, Damien. Eu queria ver meus dois filhos crescerem. Eu queria fazer parte das suas vidas. Dos grandes momentos e dos pequen—"

"Mãe, você escolheu as drogas em vez desta família. Eu sei que o papai não era a melhor pessoa, mas ele precisava de você. Ele precisava de nós, e então ele não tinha uma corporação multibilionária em seu nome. "E eu?" Havia lágrimas solenes nos olhos dela enquanto ela batia no peito. "E o que eu precisava?" Ela perguntou.

"Eu precisava de uma segunda chance," sua voz quebrou.

"O vício é difícil o suficiente, é brutal e, francamente, a sensação mais aterrorizante do mundo. Saber que você está arruinando tudo, mas não ser capaz de fazer muito a respeito," ela acrescentou. "Mas sabe o que é mais difícil—sair da reabilitação e voltar para nada. Para ninguém. Vocês eram crianças pequenas na época, e não tinham ideia, e só no tribunal que consegui seu irmãozinho, Luke."

"Se não fosse por isso, Hank pretendia me deixar sem nada. Nada além de uma carta, e foi a última vez que vi vocês," ela continuou. "Até agora. Agora que ele está morto e você está procurando a oportunidade perfeita para voltar à minha vida e à dele," Damien respondeu em um tom rancoroso. Tanto que ela deu de ombros.

"Você pode escolher continuar vivendo nas mentiras dele, ou você poderia—" Ela caminhou até ele. "Você poderia, por uma vez, escolher confiar na sua própria mãe." Ela sussurrou, e Damien levou um minuto, contemplando em sua própria mente. "Você é o novo CEO." Suas mãos encontraram a gola do terno dele, e ela a acariciou suavemente.

"Você não pode fazer isso sozinho."

"Eu sei mais sobre o império Archer do que você jamais saberá. Eu era o Império Archer na época, antes de Hank—Antes de Hank deixar de me amar. Deixe-me ajudar você," ela sussurrou. "Não cometa os mesmos erros que seu pai cometeu."

Damien lutou com um nó na garganta enquanto seus olhos se voltavam para Marisol. "Deixe-me pensar sobre isso," seus olhos voltaram para ela. "E hoje, você está entrando apenas como uma convidada. Minha convidada. Nada mais—" Ela foi quem engoliu em seco enquanto pegava suas bolsas. Mas antes de ele passar pelas portas, ele se virou para encará-la, empatia nos olhos.

"Luke."

Ela correspondeu ao olhar dele. "Como ele está?" Damien perguntou suavemente. "Garoto da faculdade," Amanda sorriu. "Ele está bem. Ele pergunta de você às vezes." Damien assentiu, sem mostrar a menor emoção, mas caminhando direto para fora das portas. "Bom," ele disse.

O cheiro dele encheu seu nariz, acolhendo-a, envolvendo-a. E a verdade era que Olivia não odiava isso. Das cadeiras, ela caminhou até a vitrine onde ele havia pendurado algumas de suas medalhas. Ele velejava, Damien—além de ser atleta, ele velejava.

Então, muitos de seus prêmios haviam ocupado espaço no escritório de seu pai desde que ele o renovou. A placa de ouro descansava contra a mesa antes de ela pegá-la nas mãos. Seus dedos esfregaram as letras gravadas do nome dele no metal.

Damien Alexander Archer.

Ela estava quieta, confortável em seu próprio consolo e no cheiro dele. E naquele momento, pela primeira vez, não parecia que ela o odiava nem que tinham algum histórico. Ele parecia esse estranho fascinante sobre o qual ela não sabia nada. Suas medalhas lhe davam uma vida, uma história para sua cabeça. Uma que não seguia a narrativa usual—mas de repente ela sacudiu isso.

Ela não podia se dar ao luxo de ser nada além de hostil com ele.

E de repente aquela narrativa voltou à sua mente enquanto ela soltava a placa dele. Ao lado, porém, havia um toca-fitas, que já tinha algo dentro. Seu livro estava na beirada da mesa dele enquanto a sala escurecia. O escritório dele.

Seus dedos apertaram o botão e uma música lenta começou a tocar, os ecos das letras preenchendo as paredes. Ela pegou a fita, olhando para a banda, Cigarettes after Sex. Lentamente, ela deslizou os quadris para o lado, passando os dedos pelo cabelo.

Liv tinha um sorriso no rosto enquanto dançava ao som da música. Suas pernas foram para o topo da cadeira dele, enquanto ela fingia estar em um show próprio, como se fosse uma manhã no chuveiro. E ela riu, reconhecendo a música. Por quinze minutos inteiros, ela dançou ao som de músicas que soavam todas iguais.

Até que a porta se abriu com Liv em cima da mesa dele, e os pés nos documentos. Ela congelou, os olhos se encontrando com os de Damien. Ele também ficou parado, Amanda atrás dele. E então um suspiro escapou dos lábios dele. "O quê?" Ele perguntou, estranhamente estressado. E Liv desceu da mesa, calçando seus sapatos. Ela bagunçou o cabelo e tentou se recompor.

Tentou.

Amanda se colocou na frente dele enquanto murmurava um pedido de desculpas. "Sinto muito, Sr. Archer. Eu—" Liv gaguejou, percebendo que a música ainda tocava dramaticamente atrás dela. Suas mãos lutaram para encontrar o botão de desligar enquanto Damien não dizia uma palavra. Ele apenas deixou seu olhar intimidá-la e deixá-la o mais desconfortável possível naquele momento.

"Eu me empolguei" Ela limpou a garganta. Foi Amanda quem deu um passo à frente desta vez. "Está tudo bem, querida. Eu vou, uhm—" Ela se virou para Damien, que olhou para baixo para ela. "Fique fora disso" Ele murmurou, imediatamente agarrando Liv pelos braços. Ele a jogou para fora do escritório, apontando um dedo em seu rosto.

"Por que você é assim?"

"Me diga, Ofélia. Um motivo pelo qual eu não deveria te demitir neste instante" Ele fingiu estar irritado porque era tudo o que ela sempre fazia—irritá-lo. Mas no fundo, ela podia perceber que ele não estava totalmente bravo com ela.

Como se ele tivesse problemas maiores do que ela dançando em sua mesa. E olhando para trás, ela podia perceber pela semelhança marcante que Amanda era sua mãe, mas ela não ousou dizer uma palavra. "Eu disse que sinto muito" Ela murmurou, seus olhos caindo para as mãos dele que ainda seguravam firmemente seus braços. Ele também percebeu antes de se afastar. E ela ajeitou a camisa, recuando.

"Eu deveria te demitir" Ela olhou para o pomo de Adão dele pulsando e se aproximou dele, aproveitando-se. "Você não vai. Eu sou a única pessoa aqui que sabe tanto quanto Hank" Liv disse. E Damien inclinou a cabeça, impressionado com a coragem dela. A audácia dela.

Ele ficou quieto.

"E é Olivia. Pela enésima vez, meu nome é Olivia" Ela acrescentou antes de virar as costas para ele e suas mãos escorregaram para os bolsos por um segundo. "Olivia" Ele chamou, pela primeira vez acertando o nome dela. E ela se virou para encará-lo.

"Você está demitida."

Sua garganta secou enquanto ele se virava para Amanda, que estava tão chocada quanto ela. E então de volta para ela. "Entregue seus arquivos e documentos no final do dia" Ele disse.

"Mas Sr. Arc—"

"E minhas chaves" Ele interrompeu.

"Você não pode fazer isso, Damien" Ela respondeu astutamente enquanto ele segurava a porta entre eles. Seus olhos foram dos lábios dela para seus olhos cor de avelã e ele bufou. "Eu acabei de fazer. Anuncie sua vaga na saída—"

"Uma chance era tudo o que você tinha. Eu falei sério."

"Eu falo sério em tudo o que digo" Ele fechou a porta na cara dela, e seus lábios se abriram. "Droga—" Ela xingou. "O que aconteceu?" Uma voz chamou de longe e ela se virou para encarar Alli.

"Acabei de ser demitida" Ela disse, com uma súbita realização.

Continua...

Previous ChapterNext Chapter