




4. HERDEIRO DO IMPÉRIO ARQUEIRO.
"Esta é a Amelia."
"Ela vai supervisionar a entrevista com o Chicago Tribune, sobre Hank Archer." Foi a primeira vez que Liv viu os lábios de Damien se curvarem em algo que não fosse uma carranca. Era um sorriso de canto que quase poderia passar por um sorriso, mas não para ela.
Nunca poderia.
Mas sim para a morena de um metro e sessenta à sua frente. As mãos veias de Damien agarraram sua cintura enquanto Amelia ria, deixando claro que eles já se conheciam de alguma forma. Liv sentiu-se tensa até os pés quando seus olhares se encontraram. "Amelia, esta é minha assistente." Ele fez uma pausa, apontando para Liv. E levou um minuto para ela perceber que ele realmente havia esquecido seu nome.
"Olivia," ela soltou, enquanto os olhos de Amelia a olhavam de cima a baixo, de forma depreciativa. "Ela vai te fazer companhia enquanto eu atendo a diretoria. E quando eu terminar," ele cruzou os braços, inclinando-se para dar um beijo em sua bochecha. Ela sorriu, derretendo-se em suas mãos antes que ele se afastasse. "Eu certamente voltarei para você," ele acrescentou.
Amelia mordeu o lábio inferior, e Liv teve que se segurar para não arrancar os olhos dela com os dedos. Era óbvio o quanto ela estava apaixonada por Damien, que passou por seus ombros enquanto saía—
—deixando as duas mulheres se encarando de forma constrangedora. Amelia mascava chiclete, seus lábios vermelhos e brilhantes se juntando a cada mordida. Seus saltos combinavam com a sombra dos olhos e a bolsa Louis Vuitton. Ela não era apenas uma repórter comum, Liv podia perceber. Ela era sofisticada, apaixonada ou seja lá o que sentia por Damien. Ela também era elegante, requintada e seu perfume tinha um cheiro caro.
Ela era quem Olivia queria ser.
"Então você é a pessoa em quem Damien está de olho agora?" Ela finalmente disse, sua voz doce como a de um beija-flor. "Você fala?" Liv respondeu sarcasticamente. "Claro que falo." Elas estavam em uma sala de reuniões e Amelia olhou para a cadeira principal. Cruzando as pernas, ela olhou de volta para Liv. "E Deus, não." Ela acrescentou.
"Maldita seja a mulher por quem Damien tem interesse." Ela riu, sentando-se em frente a Amelia. "Por que você diz isso?" Ela provocou, com um sorriso atraente. "Porque ele é a pessoa mais arrogante deste mundo?" Liv disse em tom de pergunta e Amelia lambeu os lábios. "Eu, por outro lado, realmente acho que ele é legal," ela continuou.
"Bem, claramente, ele não te mostrou o outro lado dele."
"Eu estudei com Damien em Houston e uma coisa que posso te dizer, se ele te mostrar o lado arrogante, é porque ele realmente te quer—" O sorriso desapareceu dos lábios de Liv. E levou um segundo antes que ela começasse a rir. "Isso é mentira," ela respondeu.
"Ele tem um gosto estranho, então realmente não me surpreenderia," ela disse e Liv bufou. "Bem, isso é algo," ela respondeu. "Não é isso que eu quis dizer," disse Amelia. "Estou dizendo que você é exatamente o tipo de garota por quem ele se interessaria. Ingênua, óculos de nerd," ela inconscientemente alcançou sua armação. "Saia. Camisa de escritório. Inocente, mas isso é tudo antes de ele te mudar. Dizer que te ama e te fazer sentir como a única pessoa que importa no mundo," Amelia sussurrou.
"E então ele te deixa."
Liv riu antes de perceber que ela estava falando sério. "Você está dizendo isso porque ainda o ama. Eu vi como você olhou para ele," Liv respondeu. "Quem não amaria?" Ela bufou. "Estou apenas dizendo que se você esperar demais, vai se machucar. Você só tem que viver isso. No momento," ela apertou as coxas, engolindo em seco. Liv olhou para a porta e de volta.
"Não importa," disse Liv secamente. "Nunca vai acontecer nada entre nós. Eu seria uma tola se me apaixonasse de novo," ela acrescentou, e Amelia a olhou nos olhos, encarando sua alma ingênua. "Certo," ela disse.
O café era uma mistura de chocolate e leite, e as mãos de Alli tremiam sob a máquina de cappuccino. A loja estava tão quieta que ele ouvia os ecos de seu próprio assobio. Uma vez que sua xícara estava cheia, ele a levou ao nariz—
—inalando o vapor. Coisas pequenas como essas realmente o deixavam eufórico por qualquer motivo. Mas foi ao se virar que o sorriso desapareceu de seu rosto. Ele esbarrou em alguém, derramando o líquido escuro no ar antes de recuar.
"Desculpa," seus olhos subiram do chão para o homem à sua frente. Havia uma grande mancha na camisa do homem, e Alli imediatamente colocou sua caneca de lado, pegando um guardanapo da mesa. "Eu realmente sinto muito," ele se aproximou, colocando o guardanapo contra o que era um peito musculoso. Alli parou, antes de balançar a cabeça. Ele se afastou, evitando contato visual em uma situação já muito constrangedora.
"Está tudo bem," um sussurro estoico caiu em seus ouvidos e ele jogou o pano fora. Olhando para cima, era alguém que ele nunca tinha visto antes. Ele tinha uma constituição robusta com cabelo que caía sobre o rosto. Olhos verdes que poderiam ser lentes de contato, mas pareciam tão naturais. E ele estava de terno como todos os outros por aqui.
Exceto ele.
Alli piscou, abandonando seu café enquanto se afastava. "Eu deveria—" ele apontou para a porta. "Sim," ele gaguejou, saindo apressadamente pela porta. E no momento em que a fechou, encostou-se nela, soltando um suspiro profundo. "Droga," ele xingou, porque por que ele tinha que ser tão desajeitado. Omar, o outro homem, tinha visto suas sombras ainda se esgueirando por baixo.
E ele deu uma risadinha, olhando para a mancha em sua camisa. Ele não estava exatamente furioso, talvez só um pouco. Mas Alli era alguém que ele não tinha visto muito por ali, e ele poderia estar intrigado—de certa forma, de um jeito bom. Alli, por outro lado, procurava Olivia nos cubículos.
Mal sabia ele.
"De novo?" A voz estridente de Amelia ecoou pela sala. "Isso significa que você já se apaixonou pelo Sr. CEO antes?" Ela provocou, e Liv imediatamente ficou corada.
"O quê? Não." Ela soltou. "Eu só quis dizer—" ela gaguejou. "Eu só quis dizer que ouvi histórias e conheço o tipo dele," ela acrescentou. "Eu sei exatamente quem ele é."
"Isso é o que o torna uma pessoa tão ruim?" Amelia perguntou. "Porque você percebe que este trabalho vem com muitas responsabilidades, responsabilidades que você só alcança quando é esse tipo de pessoa, o tipo dele," Amelia respondeu, e Liv abaixou a cabeça. "Eu sei," ela sussurrou.
"Mas acho que ele sempre foi assim. Duro, fechado para o mundo inteiro. Arrogante," ela disse. "Talvez tenha sido algo que o mudou?" Liv bufou. "Não acho," ela acrescentou.
"Mas talvez essa seja apenas a minha opinião."
Amelia acariciou o queixo. "Qual é a sua opinião?" Ela perguntou. "Você quer a brutalmente honesta?" Elas riram juntas e Amelia assentiu em resposta. "Eu acho que ele é um filho da mãe egoísta que nem consegue lamentar a morte do próprio pai da maneira certa. Quero dizer, eu conhecia Hank," sua voz falhou. "E ele era uma alma tão gentil, o exato oposto do que ele descreveu no palco. Eles são indivíduos tão diferentes," ela disse.
"Você pode descrever Hank em uma palavra?"
"Talvez direto. Empático," Liv respondeu, virando-se para o lado para recordar o exato dia em que conseguiu esse emprego. Hank segurando suas mãos com um sorriso no rosto.
"É seu," ele tinha dito. "Sempre foi, eu soube desde o primeiro momento em que você entrou." E até ela arqueou as sobrancelhas. "Vejo muito de mim em você, Liv. E faríamos uma ótima equipe." Ela sorriu, percebendo que um trabalho das nove às cinco sob o comando de Hank não era tão terrível. Mas isso durou apenas alguns meses.
Antes de Damien aparecer, e ela se lembrava de suas primeiras palavras também— "Você era a secretária do meu pai." Sua voz ficou baixa em um sussurro rouco enquanto ele segurava seu queixo para que ela o encarasse. "Agora você é minha," ele acrescentou.
Ela revirou os olhos.
"E quanto a Damien?" Aquela mesma voz perfurou seus pensamentos, trazendo-a de volta à realidade. "O quê?"
"Como você o descreveria?" Naquele momento, Liv se lembrou de anos atrás, ainda não tinha superado seu eu de dez anos, encharcada de água e mancando nos braços de sua melhor amiga.
"Você acha que alguém se interessaria por você?" Ele gritou enquanto as lágrimas caíam de seus olhos. Quase caíram no momento em que ela olhou de volta para Amelia, que semicerrava os olhos.
"Terrível. Doloroso—"
"Eu disse egoísta..." A porta de repente se abriu e Olivia se sentou, limpando os olhos. Ela se virou, esperando ver o próprio diabo, mas, para sua surpresa, era Alli.
"É aqui que você estava?" Ele exalou, olhando para Amelia de um lado para o outro enquanto ela rabiscava algo em um papel. Liv se levantou, agarrando os braços dele enquanto se dirigiam para a porta. "Vamos," ela disse.
"Você não vai acreditar no que aconteceu," ela murmurou assim que saiu da sala de reuniões. E Alli se virou para ela enquanto caminhavam pelos corredores. "Eu também," ele tinha um olhar sarcástico nos olhos.
"Acho que me apaixonei," ele soltou. "À primeira vista." Suas pupilas estavam dilatadas, tanto que Liv parou. "O quê?" Ela duvidou que tivesse ouvido direito. "Ele— Ela, quero dizer, ela esbarrou em mim na sala de café e foi uma espécie de sensação elétrica estranha que simplesmente surgiu entre nós," Alli riu. "É estranho?" Ele perguntou.
"Eu sei que é, mas. Vale a pena tentar."
Os olhos de Olivia olharam à distância enquanto avistava Damien caminhando pelos corredores. Instintivamente, ela bagunçou o cabelo enquanto se virava. "Você está me ouvindo?" Alli segurou seus braços enquanto ela desviava os olhos de volta para ele. "Desculpa, eu deveria estar vigiando a Amelia, mas quando eu voltar, vamos falar sobre sua paixão insana e meu desastre devastador." Ela mandou um beijo no ar para ele antes de voltar para a sala de reuniões, atrás de seu chefe.
E Alli apenas ficou lá, revirando os olhos. "Claro," ele murmurou, virando-se. Liv, por outro lado, tinha os dedos envoltos na maçaneta da porta pela qual Damien havia passado e, ao abri-la ligeiramente, sua mandíbula caiu com o que viu.
Lá estava Damien com um sorriso no rosto, e Amelia que caminhava em sua direção. Suas mãos deslizaram pela cintura de Amelia, puxando-a para perto. E desta vez, não foi um beijo na bochecha. Ele a ergueu em seus braços enquanto seus lábios se tocavam. As mãos dela puxaram seu cabelo enquanto ele a pressionava contra a mesa, seus olhos devorando-a insaciavelmente. E no momento em que Amelia o puxou para cima dela, Liv imediatamente fechou a porta, com medo de testemunhar o proibido com seus olhos. Seu coração foi instantaneamente poluído com uma mistura de raiva e ciúme.
"Filho da mãe," ela xingou.
"Foi um dia estressante," disse Liv, colocando o telefone entre a orelha e o ombro enquanto passava pelas pilhas de caixas não desempacotadas que se encostavam na parede. Agatha suspirou. "Você poderia ter vindo para casa para eu cuidar de você," ela sugeriu, como sempre fazia, e Olivia apenas revirou os olhos. Pegando a panela das prateleiras, ela a enxaguou sob a torneira.
"Vou para casa em breve, mãe. Agora, estou entre trabalhar como assistente pessoal e também o funeral do meu chefe que eu te contei que morreu. E tenho minha moda ao lado por enquanto," ela olhou para as caixas que continham todos os seus antigos designs e bufou.
"Vai ficar tudo bem, Liv. Logo."
Ela pegou seu prato enquanto caminhava até o sofá cinza. Sentando-se, seus olhos foram para a foto de seu pai que estava na parede. "Te ligo amanhã, mãe," sua voz ficou baixa, assim como seu coração ao lembrar do que aconteceu mais cedo. Foi apenas um beijo, do único homem que ela detestava no mundo inteiro—
—mas de alguma forma, o pensamento disso e a conversa com Amelia tocaram um acorde dentro dela. Isso e o pensamento de seu pai, tudo isso, sem que ela soubesse, estavam conectados. Depois de um tempo, ela adormeceu. Apenas para ser acordada algumas horas depois pelo alarme.
Ela se levantou de um pulo, olhos fixos nas janelas antes de um suspiro exausto escapar de seus lábios. Ela olhou para o relógio. 6:30 da manhã. "De novo, não," ela revirou os olhos. Era sempre o mesmo, os dias eram uma rotina.
Acordar.
Escovar os dentes. Lavar o rosto. Desodorante. Cabelo. Gloss. Saia—Camisa. E saindo pela porta da frente com o estômago roncando. Ela estava descendo as ruas, murmurando para os vizinhos que estavam em cada banca. Não que ela os conhecesse, mas apenas um gesto. Seus olhos fixos no ônibus enquanto acelerava o passo. Mas foi então que ela notou uma multidão se aproximando das ruas.
E seu telefone vibrou pela milionésima vez no bolso. Ela parou, finalmente tirando-o para ver uma mensagem de um número desconhecido.
DESCONHECIDO: Venha para o meu escritório agora.
Ela só podia supor quem teria um tom assim por mensagem e revirou os olhos. Um pedaço de jornal voou sob seus pés e seus olhos captaram a manchete—na primeira página do Chicago Tribune e seus lábios se abriram. Sua cabeça foi tomada por uma enxaqueca enquanto ela se inclinava para pegá-lo.
O VERDADEIRO DAMIEN ALEXANDER ARCHER: HERDEIRO DO IMPÉRIO ARCHER.
Seus olhos desceram até o nome ao lado, próximo aos sussurros e murmúrios que vinham de trás dela. "Por Amelia Javonson," sua voz era estridente enquanto seu telefone vibrava novamente, bem a tempo de seu ônibus finalmente sair do ponto. Foi nesse momento que ela soube que estava ferrada.
Porque ao lado da manchete estava seu nome em citação, ao lado das palavras descrevendo seu chefe. "Terrível." Seu coração afundou ao perceber que Amelia havia revelado toda a conversa delas. E se todos ao seu redor tinham visto, se ela não tivesse julgado a mensagem, era óbvio que Damien também teria. Ela suspirou, percebendo que a última coisa que queria era a atenção dele.
"Precisamos ter uma longa conversa."
Ela poderia muito bem escrever sua carta de demissão, pensou enquanto o jornal escorregava de seus dedos. Porque não havia como sobreviver a isso.
Continua...