Read with BonusRead with Bonus

2. UM PASSADO SOMBRIO.

Alexander Damien foi o primeiro garoto que ela amou. Liv—

—o único garoto. Mas, novamente, ela tinha dez anos e só uma vaga ideia do que essa palavra realmente significava. Amor podia significar brincar nos escorregadores com o pai, ou jantares casuais e noites de jogos após dias longos. Amor era o que ela sentia por Gerald, seu pai.

Porque ele morreu naquele acidente de carro.

Mas isso está muito à frente de nós.

ONZE ANOS ATRÁS

A porta se fechou atrás dela e Liv desceu com sua mala de acampamento de verão rodando em suas mãos. Todo ano, ela aguardava ansiosamente para passar duas semanas no Acampamento Kiwi, não essencialmente porque era divertido ou porque ela tinha sua melhor amiga, esses também eram motivos, mas principalmente porque ela podia ver Alex.

E ela tinha a sensação de que aquele verão seria o momento em que ela reuniria coragem suficiente para realmente se aproximar dele. Ela sorriu, o sol brilhando contra seus óculos antes de descer os degraus e se dirigir ao check-in.

"Tchau, Liv" sua mãe gritou, mas ela já estava a uma certa distância. Foi Alli que se virou para dar adeus. E um suspiro escapou dos lábios de Sara enquanto ela voltava para o carro. Liv, por outro lado, já tinha avistado quem ela achava ser sua alma gêmea de longe—Alex, com seu cabelo castanho fofo e sardas mágicas que o faziam parecer uma encarnação de um deus.

Ele estava na frente, com uma mala vintage, e entre os garotos do rugby de sempre, zombando e rindo do que quer que achassem engraçado. Alli esbarrou nela, também avistando o que havia chamado sua atenção e suspirou. "Já faz três anos, Liv" Ele revirou os olhos como se fosse um estranho para crushes longos e atrasados, especialmente se fosse por algum garoto hétero. Mas a diferença entre os dois era que Alli não esperava muito. Ele havia aceitado que talvez nunca tivesse uma história de amor no ensino fundamental ou algo assim, ao contrário de Liv que tinha acabado de ler Pecado Selvagem e estava convencida de que poderia ficar com Alexander.

Ele jogou a cabeça para trás e eles fizeram contato visual. Ela nunca conseguia superar seus olhos escuros e vazios, com tanto mistério ainda por desvendar, e ela abriu um sorriso, seus dentes agora sem aparelho aparecendo enquanto acenava para ele.

Alex acenou com a cabeça, para essa garota estranha e entusiasmada, e ela sentiu as borboletas explodirem em seu estômago, deixando-a com uma estranha mistura de ansiedade e arrepios. "Eu tenho um pressentimento, Alli" Ela sussurrou.

"Eu tenho um pressentimento de que este verão será diferente." Eles se olharam e Alli sentiu seus braços caírem. "Eu simplesmente sei" Ela parecia tão convencida que ele nem disse uma palavra. Exceto—

"Sim."

AGORA

"Como muitos de vocês já sabem, meu pai, Hank Archer, CEO da Hank Corporations, faleceu na semana passada devido a algumas complicações de saúde" Damien subiu ao palco em um salão cheio de funcionários e coberturas da mídia. Ele se inclinou em direção ao microfone, sua voz rouca e profunda ecoando pelos corredores.

"Ele sempre dizia que seu único desejo era que sua empresa, seu legado, nunca morresse. Ele não se importava muito, exceto com isso. É por isso que ele deixou a maior parte dela, junto com suas fortunas, para mim, seu filho Damien Archer. Estou aqui para garantir que os legados de meu pai vivam para honrar seu último desejo. A partir de hoje, estarei supervisionando os executivos desta empresa, assumindo a posição de CEO. E eu quero nada mais do que trabalhar lado a lado com todos que já estão aqui—" Sua voz se desvanecia nos ouvidos dela enquanto Liv sentia a brisa contra seus lábios. "Você só pode estar brincando" Ela murmurou enquanto Alli se inclinava para ela. "É só isso que ele tem a dizer sobre Hank?"

"Hank era a pessoa mais doce" Ela sussurrou. "Eu sei, Liv, vamos guardar os elogios para o funeral dele" Alli respondeu. "Boa tarde e tenham um bom dia" As câmeras imediatamente se desligaram, piscando em seus olhos enquanto ele descia do pódio. E com cada flash, uma memória voltava para ela.

Uma memória de vários anos atrás, com suas pernas balançando no ar e mal tocando o chão. Os pássaros cantavam alto nas árvores acima dela enquanto ela se sentava na extremidade oposta da mesa de madeira. A brisa era fresca, como a natureza, e o cheiro de madeira e papéis se misturava perfeitamente em seu nariz. Havia um silêncio entre ela e Alli enquanto ele desenhava algo em seu bloco A4.

Liv preferia sonhar acordada com seus fones de ouvido sobre as orelhas e um romance nas mãos. Ela estava presente, mas sua mente não. Isso até uma figura familiar se aproximar por trás. E ela poderia reconhecer aquele cheiro mesmo se estivesse dormindo. Ela se sobressaltou, mas ele já estava bem perto.

Alex.

Alli ficou boquiaberto enquanto ele se aproximava dela, suas mãos nervosamente enrolando a ponta de seu rabo de cavalo castanho enquanto ele se aproximava na ponta dos pés. "Oi" Ele disse e Liv jogou o livro de lado.

"Oi"

"Você deve ser Olivia"

"Você uhm—você sabe meu nome" Ela gaguejou enquanto secretamente se beliscava, uma tentativa de verificar sua consciência, de que não estava dormindo. Que isso estava realmente acontecendo agora.

No centro do parque, com olhos espiando dos arbustos em meio aos suspiros. Era exatamente como ela imaginava. Como acontecia nos romances. E enquanto um milhão de coisas passavam por sua cabeça, ela esqueceu que ainda estava ali de pé e precisava responder.

"Então, o que você acha?" Seus ouvidos voltaram às palavras dele. "Hã" Ela soltou. "Um piquenique mais tarde à noite na Baía, o que você acha?" Ele perguntou novamente e Liv acenou freneticamente desta vez. "Claro" Ela ofegou, virando-se para Alli, que tinha a expressão mais séria imaginável.

No momento em que Alex virou as costas, ela se jogou sobre a mesa de madeira em seu vestido amarelo florido. "Você ouviu isso, Alli?" Ela o sacudiu, no processo amassando seus desenhos. Ele olhou para ela, exibindo um sorriso falso. "Ah, eu ouvi"

"Vamos, Alli. Eu te disse, é neste verão. Vai acontecer neste verão. Tudo o que eu precisava era tirar esses aparelhos e dar um up no visual, cara, eu consegui o cara" Ela gritou antes de se lembrar de que ainda estava em público. "Eu consegui o garoto como Marilyn e Ruby conseguiram em Lily de Oscar Petterson" Ela falava a linguagem dos livros e, sempre que isso acontecia, Alli tendia a se desligar.

E ela notou sua falta de entusiasmo.

"Por que você não está feliz por mim?" Ela perguntou. "Não é minha culpa que você não goste de nenhuma garota daqui" Essas palavras feriram seu coração como uma picada de abelha e ele engoliu em seco. Ele tinha dez anos na época, então não tinha ideia do que era orientação sexual. E uma parte dele ainda não havia aceitado quem ele realmente era, mesmo depois de tantos anos.

E ele não achava que Liv soubesse até agora.

Ele amassou sua obra de arte, jogando-a na grama longe dele antes de se levantar. "Só tome cuidado, Liv" Ele respondeu. "É tudo o que estou dizendo." Ele a deixou ali parada, o vento soprando em seu vestido amarelo enquanto ela mordia um dedo. E havia aquele arrepio que geralmente subia pela sua espinha ao pensar em Alex.

Lá estava.

"Isso significa que eu trabalho para ele agora?"

"Agora que Hank está—morto" Ainda parecia estranho para ela dizer. Ela e Alli caminhavam pelos corredores, indo para seus cubículos. Na mesma sala, mas ainda assim distantes.

Alli bagunçou sua camisa. "Não sei, mas isso seria estranho, não seria?" Ele perguntou. "Ser secretário de alguém que você já não gosta?" Ele acrescentou e ela revirou os olhos. "Tudo o que estou dizendo é que ele deveria pelo menos ter se virado. Talvez até se desculpado por virar meus livros em vez de agir como se ninguém além dele existisse" Ela disse entre os dentes enquanto Alli abafava uma risada aguda.

"O que é tão engraçado?" Ela se virou para ele e ele levantou as palmas para ela. "Eu não disse nada" Ele respondeu de forma pouco convincente antes de se afastar dela. Revirando os olhos, seus dedos encontraram o caminho até seu queixo. "Além disso, há algo tão familiar nele—" A última parte ela disse em um sussurro. "Damien Archer."

ONZE ANOS ATRÁS

Liv havia passado a noite inteira procurando por Alli, mas ele não estava em lugar nenhum. Agora, ela estava com um top de alças, acompanhado de um chapéu de caçador—típico traje de acampamento. Liv mentiria se dissesse que não passou um bom tempo na frente do espelho e usando enxaguante bucal como se estivesse prestes a ter seu primeiro beijo. Ela estava.

Ela achava que estava.

A noite havia caído e a lua estava parcialmente visível, escondida atrás de nuvens escuras e sombrias como se estivesse prestes a chover, e Liv fez seu caminho pela ponte suspensa até as fontes de Kiwi e finalmente chegou à beira da Baía, com algumas orquídeas brancas—

—ela leu que eram as flores mais adequadas para meninos. Havia uma torre surgindo acima dela, mas a grama estava sem graça. Simples, e sem qualquer comida ou tapete de piquenique. Ou mesmo Alex.

"Alex" Ela chamou, puxando uma mecha de cabelo para trás das orelhas. Sua fita arco-íris se destacava orgulhosamente enquanto ela parava. E por um momento, ela olhou para as janelas da torre, admirando como estava bonita depois de tanto esforço—como as garotas que ela lia nos romances e nas telenovelas que assistia. Mas de repente, uma gota de água caiu em seus óculos e lentamente, ela a limpou. "Droga" Ela xingou antes de inclinar a cabeça para o céu—assumindo que era chuva, mas não era.

No momento em que Liv olhou para a altura da torre, havia um balde pendurado que pairava acima dela. E em um segundo, ele se inclinou para o lado, despejando todo o seu conteúdo sobre ela. Uma onda de água lavou seu cabelo e seu corpo e, em um piscar de olhos, Liv estava encharcada, para a diversão das pessoas acima dela. Ela podia ouvir as zombarias e as risadas enquanto tremia ao olhar para sua blusa manchada. A água estava lamacenta e em sua camisa havia uma mancha marrom.

As orquídeas caíram no chão enquanto Liv recuava, e de repente ela escorregou e caiu também, encontrando dificuldade para se levantar. Foi então que ela percebeu, não havia piquenique. Não havia Alex, Deus me livre alguém como ele lhe dar tanta atenção. Deus me livre ela ter algo.

Era um desafio.

Não era real. Nada disso era real. Lágrimas encheram seus olhos, mas nem conseguiam cair, era doloroso. De repente, ela ouviu passos em sua direção antes de uma mão alcançar a dela. Era Alli. Ela não conseguia olhar para ele, sabendo o quanto ele estava certo.

E o quanto ela estava errada.

Mas ele não se importava com certo ou errado, ele só queria tirá-la dali, mesmo que estivessem rindo dele também. "Cala a boca" Ele gritou para eles enquanto segurava Liv.

"Cala a boca, viadinho" Veio uma resposta que machucou seu coração. Mas antes que pudessem sair da beira da água, havia aquele cheiro que enchia o ar e Olivia foi rápida em se virar. Para encará-lo—

—Alex, com as calças arregaçadas até os joelhos, encharcado e com um sorriso de escárnio no rosto. "Por quê?" Foi a única pergunta que ela fez, e ele deu uma risadinha leve. "Você acha que eu estava interessado em você?" Ele devolveu a pergunta. "Você acha que alguém em sã consciência estaria interessado em você?" Ele zombou e Liv engoliu em seco. Isso a atingiu tão profundamente que ela poderia cair de joelhos.

O amor era terrível. Os garotos eram.

E ela estava farta.

Alex foi o primeiro garoto que ela amou. E ele foi o último.

AGORA

Ela fechou a porta atrás de si, entrando no armário de armazenamento. Liv podia sentir seu coração afundar no peito enquanto suas mãos seguravam as laterais das prateleiras.

Ela reviveu aquelas memórias excruciantes em um piscar de olhos e não sabia por quê. A questão era que ela havia enterrado memórias dolorosas como aquelas no fundo de sua mente. Sem luto, sem lamentação. Apenas esquecendo completamente que isso aconteceu.

Mas isso, isso voltou para ela.

A porta se abriu atrás dela e Liv se virou. Seus dedos agarraram a borda da mesa enquanto seus olhos caíam no chão—nos brilhantes sapatos pretos dele, para ser precisa. Lentamente, seus olhos subiram pelo terno impecável até se encontrarem.

Ela não se moveu, apenas engoliu em seco enquanto ele se aproximava. Mais e mais perto, ele se aproximava. E quando ele estava perto o suficiente, seus lábios se abriram para falar. "Você era a secretária do meu pai" Sua voz ficou baixa em um sussurro rouco enquanto ele segurava seu queixo para que ela o encarasse. "Agora você é minha" Ele acrescentou.

E Liv foi subitamente tomada pela ansiedade no momento em que suas peles se tocaram, e uma lágrima caiu de seus olhos. Finalmente, era tudo o que ela precisava para se lembrar dele—o último fragmento da memória.

"Por quê?" Foi a única pergunta que ela fez, e ele deu uma risadinha leve. "Você acha que eu estava interessado em você?" Ele devolveu a pergunta. "Você acha que alguém em sã consciência estaria interessado em você?" Ele zombou e Liv engoliu em seco.

Isso a atingiu tão profundamente que ela poderia cair de joelhos.

E então, de repente, um dos garotos do rugby se agarrou a ele. "Vamos, Damien. Não queremos acordar a Sra. Wheeler" Eles se afastaram enquanto uma lágrima caía de suas bochechas.

Lá estava ela, de pé diante dele novamente. Mas agora, sem fôlego. "Sr. Archer" Seus lábios tremiam e ele olhou para ela, alheio a quem ela realmente era. "Você pode me chamar de Alex."

Continua...

Previous ChapterNext Chapter