




Capítulo 1
Três semanas antes.
A noite estava iluminada pela festa organizada por Divina, que recentemente havia feito amizade com um novo círculo de companheiros. Embora a maioria fosse apenas conhecidos, uma pessoa se destacava na multidão - Melissa. Uma vizinha, e ainda assim algo mais próximo, embora Divina não conseguisse entender exatamente o porquê. A amizade delas havia começado no berço e perdurado graças às maravilhas das redes sociais.
Enquanto isso, seu pai havia saído de cena por um breve período, em alguma excursão de clube de caça que deixava Divina torcendo para que ele não voltasse com mais troféus horríveis para pendurar nas paredes. Aqueles olhos mortos e sem vida a observavam, seguindo cada movimento seu, e ela se sentia repulsada por essa estranha obsessão dele. No seu primeiro dia hospedada na casa emprestada, ele lhe presenteou com um esquilo empalhado - era justo que ela imediatamente o relegasse a um esconderijo secreto, cuidadosamente guardado no espaço embaixo da mesa de cabeceira.
Ela estava vestida com calças jeans justas que pouco escondiam sua silhueta curvilínea e uma blusa rosada. Sua figura não era esbelta, mas também não era excessivamente cheia.
A sala de estar brilhava com luzes semelhantes às de um refúgio noturno, e o sistema de som reverberava com música rock pulsante e áspera. Divina ficou surpresa ao descobrir que seu pai havia instalado um equipamento tão moderno, dado que ele era o tipo de pessoa presa a uma era passada. No entanto, ela ficou radiante ao descobrir os alto-falantes de última geração.
A comunicação verbal era necessária para conversar com os outros, já que os fumantes ocupavam os sofás, cada um com um cigarro ou um baseado aceso. Divina revirou os olhos ao ver a cena e rezou para que pudesse de alguma forma apagar o cheiro e os sinais de fumo. Na mesa de jantar, uma competição de bebida estava em andamento, e a mesma pessoa havia vencido três vezes seguidas. Divina estava na pista de dança com um rapaz que mal conhecia, que afirmava poder superá-la com os movimentos de dança mais inusitados.
"Meu pai dança melhor que você!" ela gritou por cima da música. Kyle, o sujeito que se apresentou a ela, inclinou-se para responder. A declaração de Divina soou mais como um desafio, e ele estava mais do que disposto a causar uma boa impressão.
"Eu acho difícil de acreditar," Kyle se gabou enquanto executava um giro elegante e rítmico para a esquerda. Mas ao tentar um salto mortal para trás, ele caiu desajeitadamente no chão, fazendo Divina e os outros explodirem em risadas. Os fumantes, especialmente, acharam difícil conter a diversão. Divina, tentando parecer composta, estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar.
Kyle exibia uma expressão de mortificação que só tornava mais difícil para Divina conter o riso. Com uma voz estridente, ela perguntou se ele estava machucado. Ele respondeu que estava bem com um aceno educado.
"De verdade, meu pai tem mais movimentos que você," Divina provocou, secretamente satisfeita com a irritação nos olhos dele. Os homens fariam qualquer coisa pela atenção de uma mulher, mas odiavam ser ridicularizados. Ela havia visto muitos homens acharem que tinham direito a tudo o que desejavam. Divina havia assumido a responsabilidade de colocá-los em seu devido lugar. Não era que ela fosse cruel; isso havia se tornado um hábito. Ela se recusava a ser uma donzela em apuros que caía aos pés de um homem. Ela nunca caía nas lisonjas ou exibições de habilidade deles.
"Vou pegar uma bebida," Kyle murmurou antes de sair, satisfeito por ter provocado o riso dela. Ele tinha causado uma impressão que duraria.
"Divina! Divina!" A voz de Melissa se sobressaía sobre o sofá dominado pelos fumantes barulhentos.
"Melissa! Melissa!" Divina gritou de volta antes de se virar para a esquerda, onde o grupo estava reunido para assistir a uma competição de bebida.
"O que te traz a esse antro de devassidão?" Divina perguntou, piscando para Melissa. Ela não precisava realmente de uma resposta - as intenções de Melissa sempre eram transparentes.
"Bem, o que você acha?" Melissa respondeu com um sorriso travesso.
O olhar de Divina seguiu o de Melissa até um estranho de cabelos escuros que tomava um gole de algo forte. Ele se apoiava no balcão, destacando-se entre a multidão bêbada. Seu cabelo estava despenteado e sua linguagem corporal gritava perigo - algo com o qual Divina estava muito familiarizada, tendo crescido na cidade.
"Desde quando você desenvolveu gosto por álcool?" Divina perguntou.
"Não estou aqui pelas bebidas," Melissa respondeu, ainda com os olhos fixos no estranho misterioso.
Divina levantou uma sobrancelha. "Você gosta dele?"
"Gosto dele? Não. Eu o amo. O nome dele é Kane Steel, e combina perfeitamente com ele, não acha?"
Divina estudou o homem à sua frente - ombros largos, bíceps fortes e lábios que imploravam para ser beijados. Mas, apesar de seu apelo aparente, ela não pôde deixar de sentir um leve desprezo pelo álcool que espreitava em seu copo.
"Ele é bonito," Divina admitiu, "mas nada de extraordinário. Você já viu homens mais bonitos."
Melissa lançou-lhe um olhar fulminante que dizia "você simplesmente não entende". "Tanto faz. Vou lá falar com ele."
"Melissa, homens não são posses," Divina lembrou gentilmente.
"Ele não é qualquer homem. Ele é meu." O tom de Melissa era possessivo e determinado.
Divina suspirou. "Se você continuar se jogando em cima deles, eles não vão te valorizar. Deixe que eles te persigam por uma vez. Faça-se de difícil."
Divina conhecia muito bem a dor de dar tudo para uma paixão, apenas para acabar com o coração partido. Ela havia prometido nunca mais ser aquela garota carente. Era hora de Melissa aprender a mesma lição.
"Diga isso para a garota que se encontra sem pretendente nesta cidade inútil," Melissa retrucou. Suas palavras feriram profundamente Divina.
"Não tenho interesse em nenhum dos garotos medíocres desta cidade," Divina rebateu, seu tom defensivo. Além disso, ela estava ali apenas para o verão e preferia muito mais passá-lo na cidade com Melissa.
"Eu moro aqui, ao contrário de você. Não posso simplesmente fazer as malas e ir embora quando as coisas ficam difíceis," Melissa respondeu.
"Faça como quiser, mas não venha chorando para mim quando as coisas derem errado," Divina suspirou, sabendo que sua personalidade direta às vezes podia ser um obstáculo.
Sentindo-se sufocada, Divina foi para a cozinha, apenas para encontrar um casal em meio a uma paixão ardente. Patético, ela pensou. Nesse momento, o telefone tocou. Apesar do caos, ela conseguiu atender.
"Alô?" ela atendeu, e uma voz distante de um homem respondeu.
"O quê? Onde? Ok, estarei aí."
Ela precisava ir ao hospital imediatamente e tinha que garantir que a sala de estar fosse arrumada sem deixar vestígios da festa.
Divina correu para fora para pegar as chaves do carro do pai, mas o cara de Melissa tentou ser prestativo oferecendo uma carona. Divina percebeu pela expressão de Melissa que a oferta não seria bem recebida e recusou com um firme "Não, obrigada!"
Com isso, ela correu para o hospital, chegando apenas quinze minutos depois. Ela conversou com o médico sobre a emergência.