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Uma misericórdia de Deus

A manhã ainda estava cedo e Nina podia perceber. Enquanto a força cegante dos raios de sol atravessava as janelas gradeadas de sua cela, que davam acesso a uma vista surpreendente do castelo do Rei Alfa. Ela se esforçou para se levantar da aura de prata que a cercava e lentamente arrastou seu corpo em direção à rachadura na parede.

O peso do sol pressionava mais forte enquanto seus olhos espiavam pela fenda limitada e ela caiu para trás, tropeçando. Sua cabeça quase bateu na pia quebrada que estava, sentada e deitada no canto. Ela gemeu, xingando baixinho enquanto tentava se levantar novamente. Arrastando as pernas agora, pois o chão também parecia estar revestido de prata.

Ela podia sentir sua energia se esvaindo. Cada segundo que passava ali era como se sua vida estivesse morrendo lentamente. Seus braços tinham se tornado pesos em si mesmos e suas pernas tremiam só de fazer o esforço para se levantar. Ela odiava ter sido convencida a fazer isso. A correr esse risco estúpido. Esse salto no escuro. Ela queria ser cuidadosa e esperar, exatamente como havia planejado. Mas seus generais teriam feito algo ainda mais imprudente se ela não tivesse tomado essa decisão.

Agora ela estava ali... Uma rainha reduzida a prisioneira de guerra. Uma criminosa jogada como um tronco em uma masmorra. Sua dignidade perdida horrivelmente. E tudo por causa da impaciência de seu tio...

Quando conseguiu se levantar, suas roupas dolorosamente pareciam ímãs. Pois a prata que fundamentalmente construía este quarto havia começado a vibrar através delas. Ela podia sentir a energia negativa viajar por seu corpo, em uma propagação semelhante a uma espinha. E seu coração batia lentamente, de forma assustadora.

Ela sabia que, se ficasse ali por mais tempo, morreria pela força. Abandonou seu esforço de ver o que estava além da janela na tentativa de salvar a pouca energia que lhe restava. Logo, seu corpo tremeu e seus olhos reviraram.

E o chão veio voando para encontrar a parte de trás de sua cabeça.

……

Nina acordou desiludida. Com uma dor aguda batendo em seu crânio como um tambor cherokee. Mas algo estava diferente. E era estranho, mas reconfortante...

Ela não sentia nenhuma pressão dentro de si? Ou peso? Ou fardo sobrenatural? Ela não sentia sua fraqueza dentro ou ao redor de si? Ela estava surpresa por não sentir nenhuma prata?

Seus olhos ainda estavam fechados e ela estava deitada de costas. Mas seus ouvidos podiam de alguma forma captar o som de vozes distantes e o bater de um objeto que soava como sinos tilintando. Seus dedos se contraíram e seus dedos dos pés se curvaram. Enquanto seu subconsciente lutava para trazê-la de volta à realidade.

Mas os resquícios da dor que sentia anteriormente ainda deixavam algumas marcas. E ela ainda estava tão machucada que não queria acordar... ainda não, e não agora.

"Abra os olhos, falsa Rainha..." uma voz chamou de repente. Era baixa, bem definida, mas ainda poderosa. Como se comandasse uma autoridade sutil.

A cabeça de Nina se inclinou ligeiramente ao ouvir a voz. Estava mais próxima do que as outras. Mais baixa e mais audível do que a cacofonia que ia e vinha ao fundo. E soava familiar, mas não era.

"Se você planeja dormir o dia todo, então posso muito bem ordenar sua execução para que você possa dormir permanentemente..." a voz acrescentou, agora severa. "É um verdadeiro milagre que você não tenha morrido em sua cela. E pura sorte que os guardas que enviei a encontraram enquanto você ainda estava inconsciente..." ele cuspiu. "Mas eu diria que a deusa sabia e favoreceu meu empreendimento..." Um sorriso surgiu em seu rosto. "Como sua jornada para minha servidão estava para começar..." a voz riu.

"E seria uma vergonha se você fosse um corpo sem vida..."

Os olhos de Nina agora tremiam ligeiramente. Ainda fechados, mas por vontade própria tentando mudar isso. Seus dedos se retraíram lentamente e formaram punhos desafiadores. E seu rosto se franziu em uma carranca, agora parecendo um manequim animado.

Seus olhos se abriram de repente, mas seu corpo permaneceu imóvel. Apenas se movendo uma fração com o suspiro que seguiu seu despertar. Mas ela imediatamente tentou pular de sua própria pele quando descobriu que suas mãos estavam amarradas à estrutura de madeira em que estava deitada. Ela lutou, mas foi inútil. Tudo isso sem notar o homem a apenas um passo de distância dela.

"Você vai se machucar tentando..." a voz veio novamente.

E foi então que Nina parou e virou o pescoço lentamente para frente. Seus olhos se arregalaram ao entrar em contato com a pessoa bem à sua frente.

"Tenho certeza de que você está surpresa..." o homem riu. E sua risada era profunda e gutural. "Você não é a primeira do seu tipo, e sinceramente não será a última..." ele disse, com um brilho nos olhos.

"Quem é você?" Nina perguntou. Confusa mais do que assustada com o homem. E o homem, estranhamente, a irritava por não conseguir tirá-lo intencionalmente de sua vista.

Ele estava altivo e a arrogância que ele exalava era suficiente para que ela pudesse senti-la. Ele era bonito, mas seu caráter desagradável o tornava feio para ela. Mesmo com seus olhos azuis como um lago e cabelo da mesma cor que a fraqueza de todos os lobos. Ele parecia um burro com um complexo de superioridade...

Sua pele tinha rugas que ainda lutavam para dar uma fachada de firmeza juvenil. Ele era um homem velho bem além da proverbial crise de meia-idade. No entanto, ele ainda se agarrava à sua auto-ordenada efervescência.

Ele se via como um cavaleiro de armadura brilhante. Um homem com um propósito que o fazia se destacar dos demais. Um poderoso guerreiro de valor e cavalheirismo. Mas seu orgulho não era medíocre... Enquanto ele expressava seu título supremo, movendo-se um pouco para frente e olhando para o rosto de Nina.

"Você está agora à mercê de um deus."

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