




Você sabe, não é?
Os olhos vermelhos de sangue eram o que mais a assustava. Por mais horríveis e ensanguentados que estivessem, não escondiam suas outras características grotescas. Parecia que ele não fazia a barba há anos. Seus pelos faciais estavam espalhados pelo rosto como se fosse um campo de batalha.
Suas unhas também não recebiam atenção. Eram longas e afiadas, parecendo mais garras. A cor escura incomum dos lábios era assustadora. Celine se perguntava se aqueles eram os mesmos lábios que ela uma vez beijou. Estavam tão anormalmente escuros.
John parecia doente. Dolorosamente magro, mas ela sabia que não devia julgar pela aparência. Pelas notícias recentes que Celine havia reunido, ele era mais do que se podia lidar. Como John mudou tanto e em tão pouco tempo, ela se perguntava?
"Que surpresa agradável." O sorriso que ele deu a ela era perturbador e revelava mais uma característica desconcertante dele. Seus dentes eram de um tom escuro de amarelo, com um dos dentes da frente quebrado na ponta e alguns dentes faltando.
Ela podia sentir os arrepios surgindo em sua pele. Não era apenas a aparência. Era a mudança repentina que a deixava nervosa. Nada mostrava que este era o jovem bonito por quem ela se apaixonou anos atrás. O John que ela conhecia era deslumbrante com um conjunto de dentes brilhantes. Seus lábios tinham um tom perfeito de pêssego. Como se tornaram tão horrivelmente negros era simplesmente incompreensível. Ele era bem cuidado naquela época. Levava a higiene a sério, mas será que tudo aquilo era uma fachada?
"John." O nome dele saiu em um sussurro, como se ela estivesse tentando formar as sílabas.
Ela estava tão desmoralizada pela aparência dele e sem falar do lugar onde teve que encontrá-lo. Ela olhou ao redor para observar o ambiente.
Era um túnel escuro e abandonado. A única fonte de luz era uma pequena vela colocada em uma mesa improvisada. Parecia mais como madeiras juntadas para formar algo parecido com uma mesa. Ela podia ver outros móveis improvisados espalhados por todo o lugar. Cada um parecia que iria desabar a qualquer momento, e todos tinham uma fita vermelha amarrada neles. Ela se perguntava se ele estava tentando fazer daquele lugar um lar. Imaginava que ele não morava ali porque só alguém mentalmente instável gostaria de viver ali.
A pilha de drogas e cigarros espalhados em um pequeno, mas considerável buraco chamou sua atenção. Isso explica essa aparência. O que John fez consigo mesmo? O sentimento de nojo que estava começando a se desenvolver mudou para pena. Ela olhou para ele.
"Terminou de observar? E agora, o que vem a seguir?" John perguntou, com o olhar firme nela. "Ah, eu sei o que vem a seguir," ele continuou, "ela vai me julgar. Julgar como sempre fez, porque isso é a única coisa que você sabe fazer bem." Ele cerrou o maxilar e a encarou, desafiando-a a provar que ele estava certo.
"Eu..." ela tentou falar, mas ele a interrompeu. "Só para você saber, eu não me importo, Celine. Não me importo. Já se foram os dias em que o que você pensava importava."
"John." Depois dessas palavras duras, tudo o que ela conseguiu fazer foi chamar o nome dele. Ela ficou sem palavras.
"Por que você está aqui, Celine?" a voz dele subiu um tom, e ele a olhou como se a simples visão dela o irritasse.
"Eu preciso de você." Isso foi a única coisa que ela conseguiu dizer. Sua voz era um sussurro com a cabeça abaixada.
John riu alto. Uma risada sádica que era arrepiante e a fez tremer. "O que você acabou de dizer?" Ele perguntou, com um tom incomumente calmo de uma maneira que a fez se sentir desconfortável.
"Eu disse que eu... preciso..." ela começou a gaguejar, mas não conseguiu terminar sua frase porque John a interrompeu novamente.
"Você está falando sério em repetir isso?" Ele a encarou. "Você não tem mais vergonha?! Ou pelo menos, você não tem medo de mim agora!" ele gritou.
Celine engasgou, surpresa pelo grito repentino dele.
"Você tem a coragem, Celine, de vir aqui e dizer isso?" ele continuou. "A mesma velha você, a mesma velha você. Não tem sido sempre a mesma Celine valente que todo mundo conhece?" Ele fez uma pausa, depois riu. "Você foi corajosa o suficiente para vir aqui em primeiro lugar."
Na verdade, ela havia reunido toda a coragem para vir aqui e encontrar John depois de tudo que tinha ouvido. Ela estava colocando sua vida em risco ao vir vê-lo.
John era um criminoso procurado. A polícia não havia rastreado a série de assassinatos que estavam acontecendo na cidade. Mas ela sabia. Ela sabia que era ele. No instante em que a polícia registrou o primeiro padrão nos assassinatos. O assassino havia matado uma mulher grávida, retirado o bebê prematuro e amarrado uma fita vermelha em seu pescoço. Foi assim que ela soube que era ele.
A fita vermelha. John sempre teve uma obsessão desumana por essa cor de fita. Vários assassinatos do mesmo tipo ocorreram depois disso.
John caminhou até ela. Ele chegou tão perto, perto o suficiente para que ela pudesse ouvir sua respiração. Ela tentou não entrar em pânico, não querendo dar a John qualquer pista de que estava morrendo de medo. Dobrando o dedo indicador direito, ele o colocou sob o queixo dela e lentamente levantou sua cabeça para que ela olhasse para ele. Ele a encarou. Ele a encarou por dois minutos inteiros. Ela fez de tudo para não desviar o olhar, para se livrar da visão terrível daqueles olhos ensanguentados. Mas isso só seria uma pista de que ela estava com medo dele.
Gradualmente, um sorriso psicótico apareceu em seu rosto, se estendendo de orelha a orelha. Celine estremeceu. Isso era uma coisa que ela não conseguia controlar.
"Você sabe, não sabe?"