




Capítulo 2
“Com licença!” Erin disse altivamente. Ela não sabia o que a irritava mais – o fato de esse homem estranho ter a audácia de chamá-la de sua parceira ou a sensação de que ele poderia estar dizendo a verdade.
“Erin, aí está você!” Farida disse, entrando na sala dos fundos com seu kimono de chiffon esvoaçante com belos estampados astecas. Sua pele de chocolate brilhava com saúde e seu cabelo afro volumoso parecia um halo escuro ao redor de sua cabeça.
“Vejo que você finalmente conheceu nosso chefe, o Sr. Devon Grey,” Farida continuou alegremente, completamente alheia à tensão na sala. “Devon, deixe-me apresentá-lo oficialmente à nossa nova estagiária, Erin Brown.”
Erin não podia acreditar no que ouvia – esse esquisito era o dono da galeria? Ótimo!
“Este é o Devon Grey?” Ela perguntou incrédula.
“O único!” Respondeu Farida orgulhosamente.
Embora Devon não fosse um rosto conhecido devido ao seu estilo de vida recluso, seu talento e trabalho o tornaram famoso no Alasca e em toda a região noroeste do país. Suas pinturas foram exibidas em várias exposições de arte pelo país e ele também ganhou muitos prêmios por suas peças excepcionais. Curiosamente, poucas pessoas sabem como Devon é fisicamente e Erin agora entendia o porquê – o cara pode ser um gênio com o pincel, mas não parecia muito certo da cabeça.
“Oh, que... prazer finalmente conhecê-lo pessoalmente,” disse Erin, sem muita convicção.
“Claro,” ele disse, ainda olhando para ela de maneira estranha. Finalmente, ele se virou para Farida e disse, “Estarei no meu escritório se precisar de mim.”
“Claro,” ela disse e se afastou para deixar Devon passar a caminho de sair da sala dos fundos. Quando ficaram sozinhas, Farida voltou sua atenção total para Erin.
“Então, está pronta para começar? Está animada?”
“Sim, e sim,” disse Erin com uma risada. Ela adorava a personalidade vibrante de Farida e tinha certeza de que trabalhar com ela nas próximas semanas seria divertido.
“Ótimo. Agora vamos começar com o inventário. Alguns clientes virão hoje para pegar algumas peças e nós vamos…”
Enquanto Farida continuava falando, Erin não pôde deixar de ser atraída novamente pela enorme pintura de lobo que apresentava um lobisomem com uma semelhança impressionante com ela. Agora que ela tinha visto Devon pessoalmente, sabia sem sombra de dúvida que ele era o lobisomem masculino na pintura. Mas como ele poderia conhecê-la? Ele pode não ter um rosto notável, mas Erin tinha certeza de que, se o tivesse encontrado antes, seja em forma humana ou de lobo, ela o teria reconhecido hoje graças à sua memória afiada.
“Impressionante, não é?” Farida perguntou ao seu lado, trazendo-a de volta à realidade.
“Hã? Oh, desculpe, me perdi em meus pensamentos,” Erin se desculpou, um pouco envergonhada. “O que você estava dizendo?”
“A pintura,” Farida acenou com a cabeça para a obra-prima que prendeu a atenção de Erin desde o momento em que ela a viu. “É de tirar o fôlego, não é?”
“Sim. Esta é uma das obras de Devon?”
“Sim. Ele passou meses trabalhando nela em seu escritório e assim que a terminou na semana passada, trouxe-a para cá.”
“Por que aqui? Por que não lá fora na galeria principal?”
Farida deu de ombros. “Não sei. Ele se recusou veementemente a exibi-la e não disse o motivo. Você não imagina o quão frustrante é para mim deixar essa obra de arte linda escondida aqui assim. Confie em mim, se essa belezinha fosse para a frente, seria vendida em segundos.”
“Eu sei,” concordou Erin. “Ela tem um título?”
“Uma Fantasia de Lobisomem,” respondeu Farida calmamente. “Eu adoro.”
“Muito apropriado.”
“E tem uma história também. Segundo Devon, aquela pedra na pintura levitando acima dos lobos é chamada de pedra dos sonhos, passada de geração em geração pelos ancestrais lobisomens. A lenda diz que a pedra tem o poder de levar o guardião ao passado ou ao futuro para buscar a verdade que deseja saber.”
Erin respondeu com uma sobrancelha levantada e Farida levantou as mãos em rendição.
“Não olhe para mim, eu não inventei a história, foi o Devon. E a melhor parte? Existe uma pedra real para provar que essa lenda dos lobisomens é verdadeira.”
“Você está falando sério?”
“Espere, vou te mostrar,” disse Farida, e ela caminhou até uma pequena mesa no final da sala e pegou uma pequena bolsa de couro da gaveta. Ela trouxe a bolsa para Erin e esvaziou o conteúdo na palma aberta dela. A pedra translúcida era fria ao toque e tinha o tamanho de um limão grande. Parecia um diamante, mas não tinha o brilho para ser qualificada como um.
“É – é linda,” Erin sussurrou, fascinada. “Onde ele conseguiu isso?”
Farida deu de ombros. “Ele não disse. Além disso, meio que acredito que ele inventou essa história para dar um ar de mistério à pintura, não que precise disso para vender, aliás.”
“Você pode estar certa,” disse Erin, ainda com os olhos fixos na pedra.
“E com isso, digo que devemos continuar com nosso trabalho de hoje,” disse Farida.
“Claro,” respondeu Erin, devolvendo a pedra e a bolsa para Farida guardar. Ela não conseguia se livrar da sensação de que poderia haver um elemento de verdade na história de Devon sobre a pedra. Pode parecer um pouco fantasioso para Farida, especialmente a parte sobre os ancestrais lobisomens, já que ela era humana, mas para Erin, era crível. Sua ascendência de lobisomem prosperava em lendas e muitas delas eram verdadeiras, então essa história sobre a pedra dos sonhos poderia ser legítima afinal. Ela fez uma anotação mental para perguntar à sua cunhada, Aubrey, sobre isso mais tarde naquela noite no Banquete da Lua Cheia.
Seis horas depois, era hora de Erin arrumar suas coisas e ir para casa após um dia de trabalho agitado. Quem diria que havia tanto trabalho a fazer em uma galeria de arte? Farida tinha sido uma supervisora excelente; pacientemente a guiando pelo inventário da galeria, mostrando-lhe o básico de como curar peças de arte notáveis, orientando-a nas complexidades de exibir as peças certas no salão principal e quais os melhores lugares para diferentes pinturas, dependendo de seus tamanhos e visuais. Tinha sido uma experiência tão enriquecedora para Erin que ela mal podia esperar para voltar ao trabalho no dia seguinte.