




Capítulo 03: “Kailel mostra sua verdadeira face”.
No silêncio sufocante de seu quarto escuro, Selene estava acorrentada e confinada, sem comida ou bebida. Seu corpo estava enfraquecido por dias de privação, mas sua determinação permanecia inabalável. Ela até considerou se libertar das correntes que a prendiam, mas isso poderia expor o segredo que ela queria esconder tão desesperadamente.
Um dia, enquanto lutava mais uma vez contra as correntes usando sua força de mulher-lobo, Selene ouviu a porta se abrir e um sussurro vindo da fresta. Sua curiosidade foi aguçada quando percebeu que havia alguém ali. O sussurro parecia vir de Kailel, filho de Kassia, que secretamente veio em seu auxílio.
"Selene, sou eu, Kailel. Estou tentando te ajudar, mas precisamos ser cuidadosos. Nem Ian nem Kassia podem saber disso," ele disse em voz baixa.
"Kailel, por que você está me ajudando? Você é filho dela, não deveria estar do lado dela?" perguntou Selene, sua voz tingida de suspeita e esperança.
"Estou te ajudando porque não concordo com as ações da minha mãe e também me sinto culpado por tê-la trazido aqui," Kailel explicou enquanto oferecia água e pão a Selene.
Selene ponderou por um momento, processando as palavras de Kailel. Ela sabia que, se ficasse naquela casa, provavelmente morreria de exaustão. Tentou argumentar com aquele que parecia se importar pelo menos um pouco com ela:
"Kailel, se você realmente quer me ajudar, precisa encontrar uma maneira de me tirar daqui. Por favor, eu realmente preciso da sua ajuda."
"Então, se você realmente se sente culpado e arrependido, me ajude a escapar. Por favor, Kailel. Você é minha última esperança," Selene implorou, cheia de expectativa e com um brilho de esperança nos olhos, buscando uma resposta positiva. No entanto, isso não foi exatamente o que aconteceu.
"Vou te contar um segredo... Eu não me arrependo de ter te trazido para a alcateia das Garras de Prata. Quando te vi quase sem vida na floresta, sabe o que pensei? Ela é bonita e parece forte apesar de tudo. Posso levá-la para casa e aproveitá-la como quiser. Mas esqueci que minha mãe é uma mulher cruel, manipuladora e totalmente egoísta. Era óbvio que ela não deixaria seu filho, o Alfa, ficar com qualquer uma. Então, tive que assistir você aceitar ser a companheira de Ian, coitada, pensei. Mas no final, foi sua escolha e você aprendeu da maneira mais difícil que era melhor ter ficado sozinha," Kailel usou um tom frio, diferente de tudo que havia feito antes, revelando seu verdadeiro eu.
"Oh, meu Deus! Como sou inocente. Por um tempo, pensei que você fosse apenas um covarde com medo de enfrentar sua mãe e seu amigo valentão. Mas eu estava completamente errada; você é cúmplice de tudo isso e, pelo que entendi, até gosta disso. Você não precisa sujar suas mãos ou sua reputação; você fica na sombra deles porque é conveniente. Tudo faz sentido agora," Selene olhou para o Alfa da alcateia das Garras de Prata, mostrando seu completo desprezo.
"Você é muito expressiva, Selene. Isso me deu arrepios," Kailel foi sarcástico e, percebendo alguém se aproximando, pulou pela janela.
Selene, por sua vez, ficou inquieta ao sentir o cheiro de mãe e filha se aproximando cada vez mais de longe, até que...
"Chega de descanso. Volte para suas tarefas." Kyma entra no quarto e vai até Selene para soltá-la.
"Posso pelo menos tomar um banho e comer algo?"
"Vá para a cozinha. Eu disse a Ayda para separar algumas sobras para você comer, e quanto ao banho, lave-se na cachoeira como sempre fez." Kassia dá a ordem com sua habitual arrogância.
E assim, a vida infernal de Selene voltou com força total, sem esperança de melhora, ou pelo menos era o que ela pensava. Porque do outro lado da cidade, Lyall não conseguia parar de pensar na mulher com quem passou a noite alguns dias atrás. Nesse exato momento, ele estava se reunindo com a alcateia dos Lobos do Vento para discutir uma possível aliança matrimonial entre o Rei Lycan e a filha do Alfa.
"Lyall?!" Theron, o Alfa dos Lobos do Vento, chama pela terceira vez.
"Desculpe, Sr. Theron. Sei que estamos discutindo assuntos importantes para nossas alcateias, mas poderíamos remarcar nossa reunião? Não estou no estado de espírito certo para discutir qualquer coisa," o rei Lycan tenta dispensar o assunto desagradável que não queria tratar, sentindo o olhar desaprovador de Leila, sua conselheira, mas não se importando e saindo prontamente da sala de reuniões. No entanto...
"Peço desculpas pela minha insistência, Rei Lycan. Mas não sairei daqui até ter a confirmação do seu casamento com minha filha, Elena. Você precisa de aliados na guerra que se aproxima da cidade de Sirion, e essa é minha condição," diz o alfa dos Lobos do Vento.
Lyall, que caminhava a passos rápidos para sair o mais rápido possível, para em seu caminho, virando-se para o homem de meia-idade com barba por fazer e algumas cicatrizes nos braços fortes, sinal das batalhas em que participou, inclusive com Wyatt, o antigo rei Lycan que morreu em uma batalha contra as alcateias que tentavam tomar seu reino.
"Entendo, senhor! Mas se você não quer se aliar a mim por vontade própria e acha que me chantagear é a melhor opção, com todo o respeito, pense novamente. Eu já tenho uma companheira destinada, e novamente, com todo o respeito, sua filha Elena não me atrai," Lyall faz uma leve reverência ao Alfa dos Lobos do Vento e finalmente sai da sala de reuniões como havia planejado. No entanto, Leila o segue até seu quarto e, furiosa, tenta repreender o jovem rei.
"Lyall, você ficou louco? Esqueceu que a alcateia Umeris foi completamente devastada e, portanto, sua futura companheira está morta? Então por que não aceitar Elena como sua companheira e ganhar uma alcateia importante como aliada? Muitos inimigos, não precisamos de mais um. Pense bem; vou tentar acalmar Theron e pedir mais tempo."
"Mesmo que você faça isso, eu não vou me casar com a filha dele."
"Mas por quê?"
"Lembra daquela noite em que saí para clarear a mente?"
"Sim, a noite em que você desligou o telefone e decidiu desaparecer, me deixando à beira de um ataque de nervos. O que tem ela?"
"Conheci uma mulher; sua beleza e seu cheiro eram perfeitos para mim. Não consigo tirá-la da cabeça. Acho que me apaixonei."
"Você deve estar brincando, né? Qual é o nome dela? De onde ela é? De que linhagem ela vem?" Leila dispara as perguntas.
"Ainda não sei. Mas preciso encontrá-la e torná-la minha companheira. Quando o suor de nossos corpos se misturou com o desejo e o prazer daquele único momento, senti uma conexão como nunca antes. Sinto que encontrá-la é a coisa certa a fazer," Lyall respondeu pensativo, olhando pela janela de seu quarto enquanto o sol se punha.
"Ah, meu Deus! Poupe-me dos detalhes, por favor? Mesmo que você queira ir atrás dessa mulher misteriosa, onde acha que vai encontrá-la?"
"Chame Ethan e pegue um mapa. Vamos precisar."
Relutantemente, Leila atendeu ao pedido do rei e foi procurar Ethan, o melhor amigo e braço direito de Lyall. No entanto, ela o encontrou discutindo com seu pai, que por acaso era o Alfa da alcateia dos Lobos do Vento.
"Calma, pai. A culpa é sua por pressionar o rei Lycan. Você conhece muito bem a personalidade difícil dele."
"Ethan, você está do lado dele?"
"Não é nada disso. É só que..."
"Com licença! Ethan, Lyall está solicitando sua presença em seus aposentos. Ele pediu que você trouxesse um mapa," Leila interrompeu a discussão acalorada entre pai e filho.
"Tenho que ir, pai. Conversamos depois."
Enquanto Leila e Ethan caminhavam pelos corredores da magnífica mansão, o jovem suspirou aliviado por a conselheira tê-lo poupado da difícil e tensa conversa que foi forçado a ter com seu pai.
"Obrigado por me salvar!"
"De nada! Mas agora você me deve uma e pode ter certeza de que vou cobrar." Leila sorriu de canto, observando o rosto de Ethan se fechar, pois ele conhecia muito bem a habilidade de Leila em pedir favores.
Quando chegaram aos aposentos do rei Lycan, ele já estava esperando em frente à enorme mesa de madeira que ficava do lado direito do imenso quarto.
"Você me chamou, senhor?"
"Trouxe o mapa que pedi?"
"Está aqui. Mas por que você precisa de um mapa, vamos atacar algumas cidades vizinhas? Além de Howlington, Timberclaw e Lupinia, que, aliás, são subordinadas ao estado de Nifhil, nenhuma outra cidade é hostil ao reino lycan."
"Na verdade, não vamos atacar, mas procurar uma certa pessoa." Lyall respondeu, olhando para o mapa espalhado à sua frente.
"E quem seria essa pessoa?" perguntou Ethan.
"A mulher que quero como minha companheira."
"O quê?"