




Capítulo 02: Você me dá nojo!
Enquanto assistia ao nascer do sol, Selene se acomodou no banco de trás do táxi e respirou fundo. Enquanto o veículo percorria as ruas, ela pensava no que havia acabado de acontecer, sentindo-se envergonhada e atormentada por dúvidas e medos. Não podia evitar a sensação de que aquela noite foi, de certa forma, um alívio, um breve momento de esquecimento de todo o sofrimento que havia suportado. Um sorriso irônico cruzou seu rosto ao pensar em Ian e como, por um momento, acreditou que se tornar sua companheira mudaria seu destino. Uma cruel ilusão, pois Ian era um monstro pervertido e egoísta, sem sentimentos.
As palavras ecoavam em sua cabeça e Selene sentiu uma mistura de raiva e nojo crescer dentro de si. Ela não podia mais permitir ser subjugada e abusada. A dor de seu passado e o desprezo pelas ações de Ian alimentavam seu desejo de encontrar uma nova vida, uma vida onde pudesse ser livre e encontrar a felicidade que tanto almejava.
Durante a longa viagem de táxi para um destino desconhecido, Selene se pegou olhando seu reflexo no retrovisor. Seus olhos refletiam a coragem e a força que havia encontrado dentro de si, acreditando que, a partir de agora, poderia finalmente viver sem se preocupar com seu passado amargo e doloroso. Ela não tinha ideia do que estava por vir, pois, de volta à casa de onde havia fugido, Kyma, a filha mimada, caminhava pelo corredor quando se deparou com uma cena alarmante: Ian estava deitado inconsciente no chão, perto do quarto de Selene. Preocupada, ela rapidamente foi até ele, ajoelhou-se ao seu lado e chamou seu nome com urgência.
"Ian! Ian, o que aconteceu? Por que você está assim?" perguntou Kyma ansiosamente enquanto tentava ajudá-lo a recobrar a consciência.
Ian, ainda atordoado e desorientado, lentamente recobrou a consciência. Sua cabeça latejava e suas memórias estavam confusas. Ele ficou aliviado ao ver Kyma ali, pronta para ajudá-lo.
"Onde... onde estou? O que aconteceu?" murmurou Ian, tentando juntar os fragmentos em sua mente nebulosa.
Kyma respirou fundo e permaneceu em silêncio enquanto tentava responder às perguntas de Ian.
"Eu te encontrei inconsciente aqui no corredor. Você se lembra de alguma coisa?" perguntou Kyma, preocupada com o estado de Ian, que lutava para recordar suas memórias, ainda confuso pelos eventos que o levaram a desmaiar.
"Eu... eu me lembro de uma discussão com Selene... depois disso, tudo é um borrão. Senti uma sensação estranha, como se um choque elétrico percorresse meu corpo... e então... desmaiei," respondeu o alfa Uktena, ainda tentando entender o que havia acontecido com ele.
Kyma ouviu atentamente, percebendo que algo significativo havia acontecido.
"Então foi a Selene?!"
"Sim. Foi aquela vadia da Selene. Onde ela está? Ela vai ter que me explicar exatamente o que fez comigo." Ian se levantou do chão, furioso.
"Engraçado você perguntar, não a vejo desde a noite passada. Ayda foi quem preparou o café da manhã hoje."
"O que você está tentando me dizer, Kyma? Que aquela mulher teve a audácia de fugir? Mas ninguém escapa de mim."
"O que você vai fazer agora?"
"Vou caçá-la até o inferno, puni-la para que ela se lembre do seu lugar e não possa mais fugir de mim." Ian saiu furioso para reunir alguns lobos de sua alcateia e até pediu ajuda a Kailel. Kyma apenas sorriu, imaginando o castigo que aguardava Selene.
Enquanto isso, no motel, o homem misterioso finalmente acorda e percebe a ausência da mulher que esteve com ele a noite toda. Ele tenta lembrar de cada detalhe que possa levá-lo até ela, notando o cheiro único e extremamente tentador que seu corpo deixou nos travesseiros e lençóis. Ele também se lembra dos olhos cor de âmbar que se destacavam em seu belo rosto. Outro detalhe que chamou sua atenção foi a tatuagem tribal em forma de lua que ele descobriu no quadril esquerdo dela. Ele tenta lembrar onde viu esse símbolo antes, mas onde? Finalmente, decide tomar um banho antes de sair, enquanto seu telefone vibra pela quinta vez e ele atende a chamada.
"Sr. Lyall, onde você está? Esqueceu da reunião com a alcateia dos lobos do vento? Quer que eu vá buscá-lo?" pergunta uma voz feminina preocupada do outro lado da linha.
"Leila, não fique tão preocupada. Fique aí, estarei aí em alguns minutos."
"Se o Rei Wyatt ainda estivesse vivo, ele teria mais respeito por seus aliados. Como sentimos falta dele," resmunga a mulher, provocando uma resposta do alfa lycan.
"E se você fosse mais esperta, pensaria duas vezes antes de falar assim com seu alfa, ou talvez ache que sua lealdade aos meus pais pode salvá-la a longo prazo. De agora em diante, lembre-se de que meus pais estão mortos e eu sou o novo Rei Lycan. Quer você goste ou não, terá que aceitar isso ou simplesmente entregar sua posição a alguém que queira fazê-lo. De qualquer forma, estarei em Sirion em breve." Lyall desliga o telefone, se veste e vai até a recepção para devolver a chave, aproveitando para perguntar sobre a garota que estava com ele.
"A garota que estava comigo deixou alguma mensagem, ou talvez você a tenha visto por aqui?"
"Desculpe, senhor! Ela não deixou nenhuma mensagem, apenas pediu que eu a ajudasse a chamar um táxi, e quanto a vê-la por aqui, não, eu não vi, porque tenho certeza de que lembraria. Uma mulher tão bonita é difícil de esquecer," respondeu o recepcionista com um sorriso malicioso nos lábios, que rapidamente desapareceu ao notar o olhar intimidador do Alfa lycan, fazendo-o baixar a cabeça em sinal de submissão.
Lyall logo estava em seu carro a caminho da cidade principal habitada por lobisomens, Sirion, que ele governava após a morte de seu pai, o poderoso Rei Wyatt.
Por outro lado, Selene chega à rodoviária da cidade de Fangville, esperando começar sua vida de novo. Enquanto ela está na fila para comprar sua passagem, sente alguém se aproximando, e um estranho arrepio percorre seu corpo.
"Você realmente achou que poderia escapar de mim, sua vadia?"
"Como você...?"
"Tenho aliados em todos os lugares e de todas as formas, inclusive taxistas," Ian olha na direção do taxista, que acena com um sorriso satisfeito no rosto, contente por ter cumprido a ordem de seu líder.
"Seu desgraçado!" Selene murmura enquanto lança um olhar de ódio para o homem que a traiu.
"Estou adorando esse olhar de ódio no seu rosto, querida. Mas temos que voltar para casa. Afinal, você ainda tem que me explicar o que fez comigo, e eu tenho que te punir." Ian olha para Selene com uma expressão seca e cruel. Ela tenta pensar em uma maneira de escapar, mas percebe que seria inútil, pois está cercada. Então, ela se rende e volta para seu inferno.
Assim que chega de volta a Nifhil, Selene recebe um tapa bem no rosto de Kassia, a matriarca tirânica das Garras de Prata.
"Como você ousa fugir do seu destino? Você realmente achou que poderia se livrar de nós? Eu te dei comida, um teto sobre sua cabeça, e até arranjei um companheiro para você, e é assim que você me retribui? Sua ingrata." Kassia parece furiosa e ofendida, batendo novamente nas bochechas naturalmente coradas de Selene, fazendo-a colocar a mão no rosto e encarar a mulher.
"Casa, comida, companheiro? Não me faça rir, você só me mantém aqui por conveniência. Você nunca gostou de mim, sempre me tratou como um incômodo, então por que me quer por perto? Você já tem servos suficientes. Por que me despreza tanto? Só porque não sabe de onde eu venho? Não, é porque a maldade, o egoísmo e a arrogância em você já tomaram conta do seu coração." Ian, faça essa vadia calar a boca.
"Ian, faça essa vadia calar a boca. Como ela ousa falar assim com minha mãe?" Kyma se aproxima do alfa Uktena e mais uma vez Selene é atingida, mas desta vez foi um pouco mais forte, tanto que a fez sangrar e cair no chão. No entanto, Kailel intervém:
"Chega! Querem matá-la?"
Kailel se abaixa para ajudar Selene a se levantar, deixando sua mãe, irmã e amigo perplexos com sua atitude.
"O que estão olhando? Se querem matá-la, levem-na para a floresta onde a encontrei, se querem puni-la, levem-na para outro lugar, não façam isso aqui." Kailel olha para todos que o observam com surpresa e finalmente, quando Selene já estava de pé, ele sussurra:
"Desculpe!"
O alfa da alcateia das Garras de Prata se afasta, deixando Selene sozinha com seus algozes. Kassia se aproxima um pouco mais, sentindo algo diferente em sua escrava.
"Que cheiro é esse? Onde você esteve esta noite, ou melhor, com quem você esteve esta noite, vadia?" pergunta Kassia.
"Não sei do que você está falando," diz Selene, secamente.
"O que quer dizer com isso? Eu tenho o melhor olfato aqui, e seu cheiro se misturou com o de outra pessoa, para ser precisa, um homem. Quem é ele, Selene?"
"Eu já disse que não sei do que você está falando." A jovem evita o contato visual.
"Você teve a audácia de me trair, vadia?" Ian se aproxima de Selene, circulando-a, tentando sentir seu cheiro persistente. Antes que ela possa responder, ele puxa seu cabelo com força, deixando-a indefesa enquanto é arrastada para o quarto e forçada a sentar em uma cadeira, acorrentada para impedir sua fuga. Ian então chama por Kyma.
"Oi, meu amor! Você me chamou?"
"Não me importa se você me traiu ou não, Selene. Você é apenas um brinquedo para mim, mas eu tenho uma reputação a manter, sabe. Então, como um dos seus castigos, você terá que me assistir me satisfazer. Mantenha os olhos bem abertos."
Logo Ian toma os lábios de Kyma, beijando-a com intensidade, tirando o vestido que ela estava usando e possuindo-a da maneira mais selvagem que podia. Em troca, Selene olhava tudo com nojo, suas lágrimas escorrendo involuntariamente pelo rosto. E quando tudo termina com Kyma, o companheiro de Selene se aproxima dela ainda sem roupas e com um sorriso sarcástico diz:
"Entendeu agora?"
"Você me dá nojo!"