




Capítulo 7: Lavinia reconsidera
Enquanto Lavinia estava deitada com o lençol sobre a cabeça, os sussurros ao seu redor ficaram mais altos, até que ela não conseguiu mais ignorá-los. Ela podia ouvir os comentários sarcásticos de Annette se infiltrando nas outras garotas. O que começou como uma leve sugestão floresceu em uma suposição, uma que nem mesmo Helen parecia contestar. Apenas Rosie ficou fora disso. Ela subiu para o beliche acima de Lavinia e pendurou os pés na borda.
Lavinia ficou deitada na cama o resto do dia, mantendo-se fora da vista das outras garotas. Ela não queria se envolver com suas acusações, nem queria dar-lhes mais combustível. O lençol escondia as marcas em seu pescoço e peito, marcas que, sob uma inspeção mais detalhada, não continham todas perfurações. Algumas eram apenas hematomas e vasos sanguíneos rompidos, como Lavinia tinha visto em garotas de fábrica que tinham um marido em casa ou um caso. Marcas de amantes.
Ela não percebeu quanto tempo tinha ficado na cama quando a porta foi aberta mais uma vez. As garotas entraram em alvoroço.
“Ele acabou de se alimentar! Por que ele mandou vocês?” perguntou uma garota com sardas e olhos escuros.
“O Sr. Astor ainda está com fome,” disse o guarda segurando a chave.
“Claramente ele pegou leve com seu brinquedinho precioso,” zombou Annette, lançando um olhar rancoroso para Lavinia.
Os guardas avançaram e agarraram Annette pelos dois braços.
“Ah, agora ele está fazendo o trabalho sujo dela? Não pode criticar seus gostos pervertidos sem ser drenada por isso?” Ela lutou enquanto a puxavam em direção à porta, mas sem muita motivação. Lavinia levantou a cabeça pouco antes da porta se fechar e olhou Annette nos olhos. Havia medo neles. Medo petrificado. Mas à medida que a sombra da porta se fechava sobre ela, o medo derreteu para uma resolução vazia. Um olhar vazio. O corpo que Lavinia ouviu caminhar pelo corredor flanqueado por guardas não era a Annette que ela tinha estancado o sangramento. Esta era uma garota assustada que tentou se livrar e foi arrastada pelas mesmas forças das quais tentou escapar.
Lavinia sabia que Annette nunca voltaria. Todas as garotas sabiam. Ninguém se deu ao trabalho de ficar acordada esperando. Todas continuaram com seus afazeres em silêncio. No banheiro, elas saíam do caminho de Lavinia, cuidadosas para não bloquear a pia quando ela se aproximava.
Quando Annette desapareceu, uma nova ordem começou no quarto das garotas. Era quieta e tensa. E diminuindo. Com o passar dos dias, mais garotas eram descartadas rapidamente. Tornou-se a expectativa que Isaac as terminasse em vez de devolvê-las para mais tarde. Algumas garotas discutiram uma maneira de sair. Elas falaram sobre apelar para Isaac, oferecendo-se a ele. Mas a taxa de descarte só aumentou. Após duas semanas, restavam apenas Lavinia, Helen, Rosie e a garota sardenta.
“Por que ele está fazendo isso?” Helen eventualmente perguntou. “Por que ele está jogando fora seu estoque?”
“Ele deve estar planejando algo,” disse a garota com sardas. “Algo ruim.”
“Ele disse algo para você?”
“Para mim?” disse Lavinia, surpresa.
“Você não acha estranho ele quebrar anos de hábito, só por você, e depois começar uma matança logo em seguida? Nada disso parece suspeito para você?”
“Eu não fiz nada! Nada mais do que vocês fizeram.”
Depois daquela semana, restaram apenas Rosie e Lavinia no quarto.
"Quando você acha que ele vai trazer mais garotas?" Rosie perguntou, sentada com Lavinia nas duas camas que elas tinham juntado.
"Deve ser a qualquer dia. Da última vez que ele veio nos buscar, restavam três."
"Certo. Me conta de novo como é?"
Até agora, Rosie tinha evitado ser alimentada e Lavinia não tinha sido chamada de volta ao quarto de Isaac.
"A mordida é dolorosa, mas depois disso, você só se sente leve, tonta. Não é tão ruim quanto Helen disse."
"Não foi tão doloroso para você."
"Rosie!"
"Desculpa. Eu só... Eu sei que sou a próxima."
"Talvez não. Talvez você seja a última."
Rosie balançou a cabeça. "Você sabe que isso não é verdade. Tem algo acontecendo. Eu não vou voltar."
Lavinia puxou Rosie para mais perto, sem saber o que dizer, mas incapaz de argumentar com ela. Ela sabia que Rosie estava certa. Havia algo diferente na maneira como Isaac tratava Lavinia. Talvez, pensou, ela pudesse usar isso a seu favor. Talvez ela pudesse proteger Rosie. Ela envolveu os braços ao redor da garota menor. Elas ficaram assim por um longo tempo, sem falar, apenas sentadas próximas e ouvindo a respiração lenta uma da outra. Lavinia e Rosie ficaram assim até os sons característicos de passos no corredor alertarem sobre a aproximação dos guardas. Lavinia tomou sua decisão.
"Não vou deixar nada acontecer com você," disse Lavinia, levantando-se.
"O que você está fazendo?"
"Apenas confie em mim."
A porta se abriu e dois guardas entraram. Eles avançaram, alcançando Rosie.
"Não," Lavinia se colocou entre eles. "Deixem ela em paz."
"Ordens do Astor. Saia do caminho."
"Não. Diga a Astor que eu quero conversar."
"Saia do caminho."
"Diga a ele que Lavinia quer discutir a oferta dele."
Os dois guardas pararam. O da direita quase sorriu. "Vamos passar a mensagem. Mas ela vem conosco."
"Não-" Lavinia se jogou para proteger Rosie, mas foi facilmente afastada.
"Lavinia!" Rosie gritou enquanto era arrastada para fora do quarto.
Lavinia foi lenta para se levantar e a porta bateu na sua cara. Ela começou a andar de um lado para o outro no quarto, olhando para a porta a cada poucos passos. Esperava não ter cometido um erro, não ter feito uma aposta grande demais. Ela não podia negar que Isaac a tratava de maneira diferente das outras garotas, mas ainda não acreditava que ele realmente tivesse qualquer afeição por ela. Talvez um mero interesse. Mas ela ainda podia usar isso a seu favor.
Lavinia pensou na conversa que tiveram no quarto dele. Foi uma jogada. Uma tentativa de manipulá-la para que ela o quisesse. Algo que ela não permitiria.
Depois de um tempo, a porta se abriu novamente. Os guardas entraram com Rosie entre eles. Ela parecia assustada, mas ilesa.
"Astor gostaria de vê-la," disse o guarda mais alto. "Ele gostaria de falar com você sobre negócios."
Rosie apertou a mão de Lavinia com força e a soltou. Os guardas alcançaram os braços de Lavinia, mas ela se afastou, caminhando à frente deles pelo corredor. As mãos de Lavinia tremiam, mas ela as manteve juntas, decidida a não vacilar. Ela só parou no topo das escadas, esperando os guardas abrirem a porta trancada.
Eles a levaram até a porta de Isaac. Diferente da última vez, ele estava esperando do outro lado, abrindo a porta no segundo em que Lavinia se aproximou.
"Vamos?" Ele ofereceu a mão. Lavinia a pegou, fixando nele um olhar penetrante, e deixou que ele a puxasse para dentro do quarto.