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Capítulo 6: A manhã seguinte

Quando Lavinia acordou, percebeu que não havia se mexido durante a noite. Normalmente uma dorminhoca agitada, ficou surpresa ao ver que seus braços ainda estavam sobre Isaac. Ele parecia ter permanecido deitado de costas, olhos fechados.

Experimentalmente, Lavinia respirou fundo. Já podia sentir que estava mais forte agora. As marcas em seu corpo doíam menos e a névoa em seus pensamentos havia se dissipado, deixando uma camada de desgosto e apreensão.

Esse homem, esse monstro, havia trazido meia dúzia de garotas para uma casa de morte. Ele confessava abertamente que gostava do medo e desconforto que causava. As garotas no quarto podiam atestar que ele usava o pavor delas para seu próprio prazer.

Com toda a disponibilidade de trocar para o plasma fabricado que sua família produzia, ele ainda escolhia selecionar vítimas da população que não tinham como se defender. As garotas na fábrica não podiam dizer não. Lavinia ainda podia lembrar do som pesado de um corpo batendo no chão quando Isaac lidou com a única garota que lutou.

Isaac Astor era um demônio vestido em uma mentira opulenta. Ele era dourado, seu exterior prateado cobria apenas podridão. E ali estava Lavinia, deitada em seus braços como se fossem amantes. Apesar de sua repulsa e ódio, ela não conseguia bloquear como Isaac a fazia sentir em seus momentos de franqueza desguardada. Quando ele se sentia não observado, a suavidade em seu rosto quase podia ser confundida com bondade. E embora a violência da alimentação não passasse despercebida por ela, Lavinia não podia negar o arrepio que sentia com isso. A eletricidade da fome de Isaac a havia infectado.

Enquanto Lavinia permanecia imóvel, podia sentir a respiração suave de Isaac em seu pescoço, constante e rítmica. Havia um desejo silencioso, com a boca dele tão próxima, para que ele mordesse novamente, para drená-la, para repetir o ciclo. Com esse pensamento, ela se encolheu, afastando-se de Isaac e se virando de lado. Os olhos de Isaac se abriram de repente.

“Onde você vai?”

“Eu não deveria estar aqui,” começou Lavinia.

“Eu pedi para você estar aqui.”

“Deixe-me voltar para o quarto. Com as outras,” Lavinia sentou-se, virando-se para encarar Isaac. Ele a olhou de forma inquisitiva.

“Por que você quer estar com as outras? Elas são todas temporárias.”

“E eu não sou?”

Isaac hesitou. Sua expressão anteriormente derretida rapidamente se congelou em um olhar severo. “Suponho que você também seja. Eu esperava mantê-la por mais tempo.”

Zombando, Lavinia começou a amarrar seu espartilho. “Eu não serei um brinquedo.”

Isaac a observou se vestir, olhando a delicadeza de seus dedos enquanto o espartilho apertava em torno das feridas frescas. Seus olhos brilharam enquanto ela evitava olhar para cima. “Indulge-me por um momento.”

“Tudo o que faço é te satisfazer.”

“Por favor,” Isaac pegou as mãos de Lavinia nas suas. Ela tentou se afastar, mas Isaac a segurou firme. Seu rosto se contorceu, algo fervendo por trás de sua expressão mascarada. Com um esforço concentrado, ele falou novamente. “Diga-me que você não sente nada.”

“O quê?”

“Quando eu te toco. Quando me alimento de você. Diga-me que você não sentiu nada.”

Lavinia o encarou, de olhos arregalados. Ela não conseguia responder. Queria desesperadamente dizer que não, não sentiu nada. Queria se afastar dele e jogar um insulto em seu rosto. Apagar a suavidade de seus lábios. Mas não conseguia.

“Você se alimenta por recreação. Tenho certeza de que uma vítima reagindo positivamente não é incomum.”

"Não especialmente, não," disse Isaac. "Embora qualquer uma que tenha tentado me tentar tenha sido tratada rapidamente. A afeição não tem lugar no meu quarto."

"Então por que perguntar?"

Isaac não respondeu. Uma sombra caiu sobre seus olhos e ele se virou. "Você deveria voltar para o quarto."

"Isaac-"

Ele caminhou até a porta e a abriu. Lavinia o encarou por um segundo e depois passou por ele, tentando se mover o mais rápido possível pelo corredor. Isaac segurou seu pulso.

"Apenas ande. Não estamos sozinhos nesta casa."

Eles se aproximaram da tapeçaria lentamente. Isaac a puxou para trás com uma mão sem soltar Lavinia.

"Com quem você estava falando ontem à noite?"

"O quê?" Isaac abriu a porta e seguiu Lavinia.

"Eu ouvi você falando com alguém ontem à noite."

"Devem ter sido os guardas."

"Não," disse Lavinia. "Era a voz de uma garota."

"Por quê," Isaac sorriu. "Está com ciúmes?"

"Claro que não."

"Claro."

"E então?" perguntou Lavinia.

"Eu estava falando com minha irmã mais nova, Arabella."

"Você parecia irritado."

"De novo, era minha irmã. Irritação é implícita."

"Não, parecia que ela estava te provocando."

"Eu-" Isaac virou a cabeça, levantando o queixo para que Lavinia só pudesse supor que ele estava corando.

"Sobre o que ela estava te provocando?"

"Não é exatamente, bem," começou Isaac. "Não é exatamente costume deixar uma refeição passar a noite."

"Entendo..."

"Vamos te levar de volta para aquele quarto, certo?"

Isaac começou a descer os degraus muito mais rápido, quase puxando Lavinia atrás dele. No final, ele abriu a porta e a conduziu pelo corredor, quase arrombando a porta para descartar Lavinia lá dentro. As garotas se aglomeraram na entrada, Rosie segurando Lavinia enquanto ela caía. A porta se fechou com força atrás dela e os passos de Isaac desapareceram pelo corredor.

Rosie jogou os braços ao redor de Lavinia. "Achamos que você estava morta. Eu pensei- nós pensamos que ele tinha te matado."

"Estou bem, Rosie."

Helen e a outra mulher olharam Lavinia com desconfiança. Seus olhos se moviam entre as marcas em seu pescoço e a cor em sua pele. Helen falou primeiro.

"Você passou a noite no quarto dele?"

Lavinia assentiu. "Eu mal conseguia ficar de pé depois que ele se alimentou de mim."

Um murmúrio percorreu a pequena multidão. "Lavinia," disse Helen. "As garotas não voltam. Se você não é trazida de volta depois de uma noite, você não volta de jeito nenhum."

A garota de cabelos cacheados revirou os olhos. "Tenho certeza de que tudo o que ele fez foi se alimentar."

"Com licença?" protestou Lavinia.

"Você parece muito mais animada comparada a Annette," ela gesticulou para a garota que havia sido levada anteriormente. "Quando ela voltou, estava exausta. E ela não tinha tantas marcas." Ela estendeu a mão para tocar os hematomas espalhados pelo colarinho de Lavinia.

Lavinia a encarou, atônita. Ela afastou a mão dela. "Ele é um monstro, mas não desceria tão baixo. Se ele tem necessidades, tenho certeza de que tem sua escolha."

"Descer baixo não é a questão. Estou perguntando o que você deixou ele ter. O que você ofereceu a ele."

"Não vou discutir isso. Nada do tipo aconteceu." Lavinia voltou para sua cama, enrolando-se nos lençóis finos, tentando abafar os sussurros maldosos e suspeitos ao seu redor. Colocando os dedos no pescoço, ela podia sentir as perfurações que Isaac havia deixado, e se pegou desejando estar de volta com ele no calor silencioso de seu quarto.

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