Capítulo 5: Lavinia passa a noite
Lavinia estava deitada na cama de Isaac. Seu espartilho estava desabotoado e jogado sobre sua camisola ligeiramente rasgada. Ela respirava lentamente, tomando consciência das sensações que percorriam seu corpo. Havia marcas de hematomas avermelhados e arroxeados ao redor de pares de picadas. A dor de cada uma se misturava a uma estranha sensação de alívio total e euforia.
Lavinia se sentia fraca e exausta. Sabia que, mesmo que quisesse, não conseguiria se levantar ou sequer sentar. Seu corpo parecia leve e um tanto dormente, mas não de uma maneira desagradável.
Seus olhos se abriram lentamente. O quarto estava mais escuro do que antes, pois o fogo havia diminuído para um leve crepitar. De seu ponto de vista, ela podia ver algum movimento indistinto perto da porta. Virando a cabeça, viu Isaac parado na porta entreaberta. Ele estava de costas, falando suavemente com alguém além da porta. Em resposta, vinha uma voz aguda, quase musical.
Em seu delírio, Lavinia só conseguia registrar o mínimo da conversa deles. Parecia uma discussão, mas amigável. A voz do lado de fora soava vaga, como se estivesse falando através de risos, enquanto as respostas de Isaac pareciam tingidas de irritação e um leve toque de raiva.
Ele havia trocado de roupa, agora vestindo algo escuro que se abotoava até o pescoço. Seu robe estava pendurado nas costas da cadeira vazia.
Depois de alguns momentos, Isaac disse algo em voz alta que foi recebido com uma nova gargalhada. Ele se afastou da porta e a fechou com força. Isaac caminhou até a lareira aberta e ficou olhando para as chamas. Seu perfil se destacava nitidamente, iluminado pelo fogo.
Lavinia podia ver algo novo nele enquanto ele estava ali. Sem olhos sobre ele, a postura de Isaac caiu. Seu rosto estava relaxado e calmo. Em vez de seu habitual olhar carrancudo, ele tinha um sorriso quase contente. Na noite anterior, havia algo por trás de seus olhos, algo voraz e assombrado. Isso havia desaparecido agora. Como se estivesse em seu robe, Isaac se reduzia a apenas um belo jovem sem nenhuma da agressividade monstruosa. Seu cabelo caía sobre os olhos, livre de seu estilo cuidadoso.
Olhando para ele, Lavinia quase podia esquecer que estava deitada na cama dele, à beira da morte. Havia um senso de alívio por ainda estar respirando. Talvez ela fosse devolvida ao quarto como a garota morena e enfrentasse seu fim em outra noite. Não que houvesse muito que ela pudesse fazer agora. Isaac parecia ter terminado, mas não havia nada que Lavinia pudesse fazer se ele se virasse e decidisse terminar o trabalho.
Experimentalmente, ela tentou se virar de lado, soltando um gemido suave enquanto o movimento fazia sua cabeça girar. Ela fechou os olhos com força, tentando não deixar a tontura chegar ao estômago. Ao ouvir seu som, Isaac virou a cabeça rapidamente para ela, a expressão arrogante retornando ao seu rosto. Ele se aproximou dela, movendo-se lentamente e empurrando o cabelo de volta ao lugar.
"Como estamos nos sentindo?" o tom de desprezo estava de volta em sua voz, assim como o olhar arrogante em seu rosto. Seus olhos percorreram o corpo de Lavinia, notando os hematomas e marcas de mordida. Seu olhar se demorou na garganta exposta de Lavinia e no espartilho aberto. Sentando-se na beira da cama, Isaac afastou o cabelo escuro de Lavinia de seu rosto.
"Você certamente parece confortável," Isaac fez uma pausa, esperando uma resposta. Quando ela não deu nenhuma, uma expressão de preocupação franziu sua testa. "Lavinia?"
"Quase acredito que você está preocupado," sussurrou Lavinia. Ela abriu os olhos lentamente. O rosto gélido de Isaac era um choque no quarto quente e escuro. Ele parecia fora de lugar ali, assim como um sentimento genuíno parecia deslocado em seu rosto.
"Eu-" Isaac se interrompeu, fechando a boca. "Eu tenho que cuidar do bem-estar dos meus sacos de sangue."
"Isso não é o que os outros me disseram."
"Bem, eu só não quero quebrar um brinquedo tão empolgante tão cedo. Você tem muito potencial e eu gostaria de prolongar meu entretenimento. É tão raro que eu consiga uma garota que responda."
"Isso é algo que você procura? Na fábrica, você parecia bastante focado na obediência."
Isaac riu suavemente. "Ah, eu gosto de obediência. Mas acho que essa obediência é muito mais satisfatória quando é conquistada."
Lavinia podia sentir seu rosto corar. Isaac pressionou o dedo em sua bochecha, sentindo o calor de seu rubor.
"Talvez eu não tenha drenado você o suficiente se ainda tem sangue para esse nível de constrangimento."
"Como v-"
"Ah ah," Isaac começou. "Eu evitaria dizer qualquer coisa de que você se arrependerá. Você ganhou um pouco do meu favor e recomendo não jogá-lo fora de forma imprudente."
Enquanto Isaac falava, uma batida veio à porta. Isaac levantou um dedo, dizendo para ela esperar. Ele se levantou e caminhou até a porta, abrindo-a de modo que Lavinia ficasse visível para os dois guardas parados na entrada.
"Prontos para devolvê-la, senhor?" perguntou o guarda mais baixo.
"Não," disse Isaac. "Vou mantê-la comigo esta noite."
A isso, Lavinia congelou. Ele não havia dito que ia mantê-la viva? Seria isso?
"Voltaremos então pela manhã. Para o corpo."
"Não, não," Isaac respondeu. "Eu a devolverei ao quarto pela manhã. Acho que consigo encontrar o caminho sozinho."
Os guardas hesitaram.
"Há algo errado?"
"Não, senhor," disse o guarda mais alto. "Muito bem. Vamos deixá-lo em paz."
A dupla se virou e caminhou de volta pelo corredor, as botas ecoando até a porta se fechar atrás deles. Isaac se virou para a cama.
"O que você está fazendo?" Lavinia reuniu todas as suas forças e se empurrou para uma posição sentada. "Por que está me mantendo aqui?"
"Você vai passar a noite," disse Isaac simplesmente, desabotoando a camisa. "Eu a devolverei aos outros pela manhã, não se preocupe."
Isaac jogou a camisa na mesma cadeira onde estava seu robe e deitou-se ao lado de Lavinia, virando-a de bruços e colocando-a parcialmente sobre seu próprio peito. Em outra circunstância, Lavinia teria interpretado a pose como afetuosa, mas dada a postura rígida de Isaac e seu rosto sem emoção, ela não pôde deixar de sentir a ameaça velada por trás disso. Ainda assim, ela não conseguia se afastar. Tentou dizer a si mesma que permanecia imóvel por exaustão física, mas havia uma parte dela que acolhia estar pressionada contra o jovem vampiro, a definição de seu corpo magro enviando um arrepio estático através de suas feridas ainda abertas.
Isaac estava de olhos fechados, mas Lavinia não tinha ideia se uma criatura como ele podia dormir. Fechando os próprios olhos, ela achou muito mais fácil relaxar ali do que no quarto abaixo com as garotas em pânico. Lavinia suspirou uma vez e se acomodou para passar a noite com Isaac, perguntando-se se seu conforto permaneceria pela manhã.