




Capítulo 2: Carne fresca
Lavinia foi levada para fora junto com as outras garotas. Não a deixaram pegar seu casaco antes que os guardas de Isaac a empurrassem, e o frio do inverno mordia sua pele. Ela se encolheu perto das outras garotas, mantendo os braços em volta do peito.
Enquanto estavam cercadas pelos guardas, duas carruagens se aproximaram. Isaac subiu na primeira sem olhar para o grupo de garotas tremendo. Um dos guardas abriu a porta da segunda carruagem e começou a empurrar as garotas para dentro de forma brusca.
As seis mal conseguiram se acomodar nos assentos estreitos. Pressionada contra o lado direito de Lavinia estava uma garota mais baixa que ela reconheceu. Ela havia sido contratada para trabalhar em reparos devido à sua pequena estatura. Ela chorava baixinho. Lavinia soltou um dos braços e o envolveu em torno da garota, segurando seu corpo trêmulo perto de si.
"Você está bem," Lavinia acariciou o cabelo da garota, afastando-o do rosto molhado de lágrimas. "Qual é o seu nome?"
"Rosie," ela respondeu suavemente.
"Você vai ficar bem, Rosie." Lavinia olhou para as outras garotas na carruagem em busca de apoio, mas nenhuma delas encontrou seu olhar. Acomodando-se de volta no assento, ela se resignou a esperar.
A carruagem sacolejava, pulando entre os paralelepípedos espalhados. Nenhuma das outras garotas falava, fixando o olhar nos sapatos ou mexendo nas mãos. O tempo passava de maneira cruel, cada momento parecendo tanto uma eternidade quanto um instante. Após um período insuportável, a garota de cabelo cacheado puxou a cortina da janela para o lado. Ela ofegou.
Do lado de fora não estavam as ruas estreitas e sujas às quais as seis garotas estavam acostumadas. Em vez disso, a estrada caía sob a carruagem, revelando um precipício. O céu estava anormalmente escuro, quase artificial em sua tonalidade. Não havia lua visível e a temperatura dentro da carruagem parecia cair alguns graus só por deixar a janela descoberta.
Elas estavam se movendo rapidamente, muito mais rápido do que um cavalo deveria ser capaz de puxá-las. Enquanto observavam, a estrada atrás delas se curvava e dobrava. Lavinia percebeu com um susto que estavam em uma inclinação. A carruagem subia constantemente curvas fechadas.
Fazia anos desde que Lavinia havia deixado o coração da cidade, mas ela sabia que deviam estar bem longe a essa altura. Através da escuridão, ela conseguia distinguir a vegetação preenchendo as bordas da estrada. Ela olhava abertamente. As outras garotas também. O verde era completamente esquecido para ela.
De repente, algo grande e escuro passou perto da carruagem e a garota na janela soltou a cortina com um pequeno grito.
"O que foi isso?" Rosie perguntou.
"Não sei," disse Lavinia. "Talvez um animal ou algo assim."
"Não acho que precisamos nos preocupar com isso," disse uma garota de cabelo curto. "Duvido que aquele garoto Astor perderia seus brinquedos para um animal. Ou qualquer outra coisa, aliás. Se formos mortas, ele vai querer fazer isso ele mesmo."
Rosie choramingou e se encolheu ainda mais perto de Lavinia. Ela pressionou o rosto no ombro de Lavinia e agarrou a frente do vestido dela.
"Está tudo bem," disse Lavinia, apenas parcialmente para o benefício de Rosie.
Depois de alguns momentos, a carruagem parou e as garotas dentro esperaram que algo acontecesse. Finalmente, uma das portas foi aberta e as seis saíram cambaleando.
Diante delas erguia-se uma estrutura enorme. Chamar aquilo de mansão seria um eufemismo severo. O edifício era amorfo e desequilibrado, com janelas enormes e pedras escuras. Crescia de forma irregular, como se não tivesse sido planejado, apenas encontrado e habitado.
Lavinia ficou de pé com a mão de Rosie apertada na sua. A casa fazia algum tipo de sentido irônico. Toda a riqueza da família Astor e sua miséria ainda se infiltravam em seu lar, exibindo-se completamente. Isaac Astor claramente cresceu ali, embora fosse o oposto. Seu rosto finamente esculpido e olhos brilhantes não traíam nada do mal que havia dentro dele.
O grupo teve apenas um momento para olhar para a propriedade antes de serem empurrados pelos guardas. Foram conduzidos por uma pequena porta lateral que os levou por um corredor de pedra mal iluminado. De cada lado, o trabalho de alvenaria era interrompido por pesadas portas de madeira. O corredor estava silencioso e imóvel.
À frente, duas velas tremulavam, iluminando um par de portas gêmeas. À esquerda, uma placa estava montada com o nome "Arabella". A porta à direita trazia o nome de Isaac. No final do corredor, Isaac estava encostado preguiçosamente na parede. Enquanto o grupo parava nesse ponto, Isaac inclinou a cabeça para frente, fazendo contato visual com Lavinia. Ele lambeu os lábios. Os guardas giraram uma chave de ferro grosso na fechadura.
Por trás da porta, veio o som repentino de movimentos apressados e sussurros. Quando a porta se abriu, uma fileira de beliches simples, mas limpos, apareceu. Sobre eles, três jovens estavam sentadas. Todas eram excepcionalmente magras, com cabelos longos e sem vida. Seus olhos pareciam ocos e se moviam pelo quarto, sem se fixar em nenhuma das novas garotas que foram jogadas para dentro. A porta se fechou com um clique alto. Assim que a porta se fechou e os guardas saíram de vista, as três mulheres pularam para cercar a "carne fresca".
"Quantas de vocês?" a primeira mulher estendeu a mão para agarrar a mão da garota de cabelo cacheado. "Seis. Seis novas," ela deu um tapinha na bochecha da garota e recuou para olhar o grupo como um todo. "Sinto muito, mas estou aliviada que vocês estão aqui."
Rosie espiou por trás de Lavinia, olhando para os hematomas e marcas de perfuração no corpo das mulheres. Lavinia seguiu seu olhar, franzindo ligeiramente a testa.
"Aliviada?" Ela perguntou.
O rosto da mulher se contorceu dolorosamente por um segundo. "Se vocês estão aqui, isso significa que ele terminou conosco. Não precisamos persistir. Podemos morrer."
Uma das outras duas mulheres estendeu a mão para descansar no ombro da primeira mulher. "Isaac Astor não é gentil com suas refeições. Os lotes raramente duram mais de alguns meses. Ele gosta de um banho de sangue. Mas nas últimas semanas... É quase como se ele estivesse brincando conosco." Ela tocou o lado do pescoço onde a pele estava roxa e machucada. "Com vocês aqui, ele pode nos dar uma folga."
"Ou um fim rápido," acrescentou a terceira mulher.
As garotas se mexeram nervosamente no lugar.
"Vocês todas deveriam descansar. Ele não dá muito tempo livre," disse a primeira mulher.
As novas garotas lentamente se espalharam, reivindicando beliches e começando a se deitar. Quando Lavinia se sentou na cama abaixo de Rosie, ela encontrou o olhar da segunda mulher.
"Como ele realmente é?"
"Astor?"
Lavinia assentiu.
"Ele é cruel e sádico. Ele tenta tornar o processo o mais doloroso possível. É difícil não sentir inveja das que duram apenas uma única sessão."
"Quantas sessões você já passou?"
A mulher sorriu tristemente. "Você não quer que eu te diga."
"Sinto muito..." Lavinia encontrou os olhos da mulher, olhando para os poços ocos e cansados. Ela estendeu a mão para segurar a dela, tentando compartilhar um pouco do peso.
"Helen. Meu nome é Helen."
"Sinto muito, Helen." Lavinia apertou sua mão uma vez. Embora pudesse sentir a dor através do olhar e do toque, Lavinia não pôde deixar de sentir uma espécie de terrível emoção ao pensar no que estava por vir com Isaac.