




Capítulo 4 - Títulos revelados
Eu estava tensa, meu coração disparava enquanto pensava em como ele tinha escondido algo tão importante de mim. Ele deveria ter me contado quem era; eu merecia saber. A floresta ao nosso redor estava envolta em sombras, com raios de sol timidamente atravessando as folhas das árvores, criando um jogo de luz e sombras em nosso caminho. As árvores altas pareciam murmurar segredos antigos enquanto continuávamos nossa jornada.
"Por que você está tão devagar?" Ele parou abruptamente e me encarou.
"Por que você não me contou?" Eu parei e me sentei, esperando sua resposta.
"Você não queria voltar, e eu não podia fugir das minhas responsabilidades. Eu teria te contado no momento certo." Seus olhos me avaliaram, e ele se aproximou.
"Eu não entendo." Levantei-me para me afastar de sua aproximação. "Qual é o propósito de tudo isso? É um jogo? Minha família era rival do Reino; eles nos odiavam. Como eu sou a escolhida agora? Não faz sentido."
"Já te disse que não vou contra o que a Mãe Lua ordena. Você acha que será tão ruim ficar ao meu lado?" Sua expressão ficou mais severa, e percebi que ele estava tão irritado quanto eu.
"Não é isso, mas eu não entendo, Eldric." Suspirei, e ele se transformou de volta em homem. Seus traços à luz do dia eram ainda mais bonitos do que na noite anterior. Com olhos humanos, eu não conseguia captar todas as nuances de seu corpo e detalhes. Eldric parecia ter sido esculpido pelos Deuses.
"Você não vai se transformar?" Ele me questionou.
"Eu não posso." Falei envergonhada. "Nunca fui treinada para realizar o básico da nossa espécie. Eu só me transformo em humana uma vez por mês, durante a lua cheia." Ele voltou à sua forma lupina, contrariado.
"Não sei como meu pai deixou o reino chegar a essa situação, mas te garanto que isso acaba agora." Ele se aproximou para examinar meus ferimentos e me deu pequenas lambidas no rosto, tentando transmitir segurança.
"Falhei na minha primeira missão de te proteger," seu rosnado baixo era seco, "Vamos para o castelo. Vou pedir ao curandeiro para cuidar de você e contratar um tutor para te ensinar tudo o que te foi negado na infância." Concordei sem saber exatamente se gostaria disso ou não.
Caminhamos sem dizer mais nada um ao outro, apenas apreciando o silêncio da floresta que cercava a entrada do castelo.
Em nossa alcateia, os lobos habitavam a floresta, dominando-a com seu espírito. Tudo ali era nosso território. Podíamos vagar livremente, exceto nas proximidades da morada oculta.
A casa do Rei Alfa era separada, não apenas por razões de segurança, mas também para garantir privacidade.
O pai de Eldric sempre teve suas reservas, e eu aprendi a não questionar sua vontade, embora isso não significasse que ele fugisse de suas responsabilidades. A alcateia nunca ficava sem, sempre tinha acesso às melhores caçadas e nunca era pega de surpresa por ataques. Estávamos sempre preparados. Sempre alertas.
De longe, parecia um monte de pedras esculpidas, abraçadas pela exuberância da floresta. No entanto, à medida que me aproximava, podia ver que as paredes tinham sido construídas com engenhosidade, cuidado e detalhes impressionantes.
Cada elemento foi meticulosamente colocado, harmonizando perfeitamente com a paisagem natural ao redor. O edifício se fundia perfeitamente com a floresta circundante, como se fossem uma única entidade.
Ao cruzarmos a entrada, fomos recebidos por dois lobos que nos observavam intrigados. "Sua Majestade," nos saudaram em uníssono.
"Vou te acompanhar até seu quarto e falar com meus conselheiros sobre os próximos passos," ele disse, e eu assenti.
"Vou te ver de novo?" Ele sorriu e se aproximou.
"Claro que vai. Vou estar com você em breve." Ele me encarou por alguns segundos e depois se retirou, deixando-me em um quarto enorme, maior do que qualquer casa na aldeia.
Fiquei ali por alguns minutos e me senti presa. Aquele ambiente, cercado por paredes imponentes, era estranho para alguém como eu, acostumada à liberdade dos campos abertos. A cada passo que eu dava, olhares curiosos e suspeitos me seguiam, como se eu fosse uma intrusa entre a realeza lupina, e não a companheira do Rei Alfa.
Vaguei sem rumo por algum tempo até que os rumores do castelo começaram a chegar até mim.
Os funcionários já estavam falando sobre minha presença, dizendo que o Rei me destruiria assim que descobrisse quem seu filho havia escolhido. Tentei não pensar em tudo o que estava ouvindo, mas era impossível. Eu estava ficando assustada com a quantidade de barulho ecoando pelas paredes do castelo.
"Eldric, quem é a garota com você?" Ouvi uma voz profunda e poderosa falar através de uma das paredes. Lentamente, me aproximei e me agachei para ouvir sem ser notada.
"Ela é minha companheira, pai. A companheira que a Lua destinou para mim." Sua postura era firme, e ele não parecia ter medo de nada.
"O que você sabe sobre ela?" A voz do Rei parecia ainda mais intimidadora, e senti meu pelo se arrepiar.
"Sei que o nome dela é Rachel, por que tantas perguntas?" A voz de Eldric agora soava impaciente.
"Você mal chegou e já causou mais danos do que toda a alcateia no ano passado." Minha respiração ficou presa, sabendo que agora o Rei revelaria quem eu era.
Eu não queria ouvir isso; precisava escapar imediatamente. Eldric era o melhor presente que a Lua poderia ter me dado, mas eu era o presente errado para ele.
Levantei-me e comecei a correr com toda a força do meu pequeno corpo. Cruzei o portão principal e deixei os dois guardas para trás. Com lágrimas escorrendo pelos meus olhos, corri até o topo da colina, que escondia o castelo, e tirei um minuto para observar o que poderia ter sido um sonho para mim.
Quando me virei, vi ele parado na entrada do castelo, me observando. Suas presas estavam à mostra, e seu corpo parecia ainda maior.
Fui tola em pensar que isso daria certo de alguma forma. Deveria ter percebido que ele não sabia exatamente quem eu era e que ir ao castelo representaria ainda mais perigo para mim.
"EU VOU TE ENCONTRAR, EVERGREEN!" Seu grito enfurecido ecoou por toda a clareira, fazendo um bando de pássaros voar para o céu. Corri novamente, agradecendo à Lua por me mostrar, mesmo que por apenas um dia, como era ser protegida por alguém tão poderoso.