




Capítulo 1 - Em busca de um companheiro
Os primeiros raios de sol tingiam o horizonte com tons suaves, banhando a paisagem com uma luz serena da manhã. O ar fresco da manhã trazia consigo o cheiro terroso da floresta, misturado com a doçura das flores silvestres.
Eu tentava evitar os transeuntes enquanto passavam por mim, seus olhares desviando dos meus. Movia-me com cuidado, deslizando pelos corredores da alcateia. Não queria confrontos tão cedo.
Meus pais eram desertores, desafiando a vontade do rei. Ignoraram as consequências que recairiam sobre mim, sua filha, e meu futuro. Fui criada por aqueles que tiveram pena da minha situação, até que eu pudesse trilhar meu próprio caminho.
Na minha infância, enfrentei dificuldades inimagináveis. Fui alvo de abusos físicos e psicológicos por aqueles que acreditavam que eu deveria pagar pelos pecados dos meus pais. À medida que crescia, a hostilidade ao meu redor se intensificava. A coroa não estendia mais sua proteção sobre mim, e os lobos, temendo qualquer retaliação, mantinham distância.
Fiquei com o refúgio das sombras, subsistindo com as migalhas que a vida me proporcionava. Tornei-me uma caçadora com habilidades limitadas, lutando para sobreviver nas margens da sociedade.
Aos 20 anos, o peso das expectativas repousava sobre meus ombros. Esperavam que eu possuísse as qualidades indispensáveis para um casamento que trouxesse orgulho ao meu companheiro. No entanto, tal destino nunca se concretizaria.
Eu me via desnutrida; minha pelagem nunca recebeu o cuidado necessário para parecer bonita aos outros, e nenhum lobo mostrava interesse duradouro em mim. Recebia inúmeras propostas passageiras, uma noite de prazer, mas uma proposta de casamento era um sonho inalcançável.
"E se eu fosse embora?" pensei, sentada à beira do riacho, longe da alcateia. "Não seria uma mudança radical na minha solidão, mas talvez eu pudesse encontrar outra alcateia que não conhecesse as marcas do meu passado." Deitei-me sobre minhas patas, permitindo que minha mente vagasse, acreditando que em algum lugar, alguém seria capaz de ver além das cicatrizes que marcavam minha essência.
"Aí está você!" ouvi o rosnado atrás de mim, e já sabia quem era. "Esqueceu sua responsabilidade de cuidar das carcaças que se acumularam na alcateia após a última caçada?" O olhar penetrante de Sebastian instilava medo em meu ser. Ele era o Beta do reino, mantendo sua posição com autoridade e rudeza.
"Eu estava esperando todos terminarem." Levantei-me, mantendo a cabeça baixa, como me ensinaram desde os primeiros dias da minha existência.
"Você não precisa esperar; precisa acordar mais cedo se não quiser ser vista." Ele se aproximou, fazendo-me tremer involuntariamente. "Você está ficando muito confortável, Rachel Evergreen."
Meu sobrenome era uma maldição, e só sua menção parecia um golpe perfurante no meu coração.
"Vou fazer o que você pediu, Darkwood. Vou limpar as carcaças imediatamente." Tentei me afastar, mas ele bloqueou meu caminho e me olhou de forma diferente.
"Este é um lugar isolado, não acha?" Minha respiração parou. Não era a primeira vez que ele me encurralava assim. "O que estava fazendo em um lugar tão remoto como este?" Um sibilo de satisfação escapou de seus lábios, e minhas pernas começaram a tremer.
"Apenas esperando, senhor, esperando até que todos terminem suas tarefas para que eu possa fazer a minha."
"Que tal me dar o que eu quero agora? Posso aliviar seu fardo e pedir aos novatos que façam o trabalho por você." Ele se aproximou, roçando o focinho contra minha orelha. "Posso tornar sua vida muito mais fácil aqui."
Afastei-me e corri desesperadamente, deixando-o rindo atrás de mim. Eu não queria me submeter a ninguém; só queria pertencer a alguém, ser cuidada e amada. Queria ser protegida, nunca mais sentir medo do mundo ao meu redor.
Dirigi-me à pilha de lixo ao lado da alcateia e comecei a arrastar carcaça após carcaça para o buraco que havia cavado no dia anterior para enterrá-las. Limpar os detritos e restos de comida era sempre minha tarefa. Era o único trabalho que Sebastian me atribuía, pois eu não queria me envolver em nenhum favor com ele.
Passei a manhã e a maior parte da tarde limpando, sob o olhar malicioso de Sebastian.
Ele me observava de perto, esperando o momento em que eu desistisse, mas isso nunca aconteceria. Eu nunca cederia a ele dessa forma.
Rastejei de volta para meu canto, com o corpo dolorido e a mandíbula fraca. O esforço do dia cobrou seu preço, e não havia mais nada a fazer além de aceitar meu destino.
"Luna, minha poderosa mãe, ouça meu clamor..." Chorei por tudo que não havia chorado nas últimas semanas. "Se é sua vontade que eu sofra assim, entenderei, mas se não for, me dê uma saída, me dê um companheiro. Alguém que veja além do meu passado, que me aceite como sou." Soluços ecoaram ao meu redor, misturando-se com os sons da floresta. "Não posso ser apenas isso, apenas um resquício de uma linhagem." Enterrei meu rosto nas patas. "Por favor, minha amada Luna, diga-me o que fazer. Não consigo mais sozinha!"
Levantei-me e voltei para a beira do riacho, escondendo-me entre os arbustos para evitar ser surpreendida por Sebastian novamente.
Olhei para a lua se aproximando do riacho, olhando diretamente para mim, transmitindo todo o desespero que residia em meu peito. Meus olhos se fecharam gradualmente, esperando por redenção por tudo que havia passado naquele dia.
"Filha, amada e querida. Estou aqui! Ouvi seu clamor e tive pena do seu sofrimento. Vou designar um macho forte e corajoso para cuidar de você e afastar todo o seu medo."
Essa voz ecoou em meu coração, e um sopro de vida percorreu minhas veias.
"Quem é ele, minha Luna? Quem é?" Levantei-me, feliz por saber que não estaria mais sozinha naquela alcateia.
"No coração da alcateia, o destino conspira para um encontro fatídico. Um macho forte cruzará seu caminho, e você o reconhecerá instantaneamente. No fundo, sentirá a conexão que revela que você pertence a ele."
Pensei em quem poderia ser, e tinha certeza de que uma promessa da Lua não seria feita em vão e que tudo ao meu redor mudaria assim que eu pusesse os olhos no meu companheiro.
Voltei para a alcateia, reunindo todas as últimas reservas de força que restavam em meu corpo. Apesar dos grandes esforços do dia, eu precisava descobrir quem era o lobo destinado a mim.