CAPÍTULO 2
"Touché, Kyría." - Yuri Daniel inclinou a cabeça. Seu tom permaneceu respeitoso, mas firme, seu rosto inexpressivo.
Kristina se recusava a se sentir derrotada. O homem que ela havia escolhido poderia parecer jovem demais para a tarefa assustadora que ela tinha para ele, mas ela sabia com todo o seu coração que ele era o único em quem podia confiar. Apostaria todos os seus dias restantes na Terra nisso.
"O que está te impedindo de dizer sim?" - Kristina exigiu.
Um momento de hesitação antes que o homem respondesse lentamente.
"Posso ser frio demais para ela. Isso é a única coisa que te preocupa?" - Yuri Daniel
A risada de Kristina não chegou aos olhos.
"Deixe-me deixar claro para você então. Eu te escolhi precisamente por isso. Essa frieza de que você fala não é nada além de um escudo. Eu sei porque uso a mesma coisa para proteger o que mais valorizo. Para mim, isso é minha neta. Para você, isso é sua meia-irmã." - Kristina
O homem enrijeceu.
"Sim..." - Kristina reconheceu sem vergonha.
"Eu sei sobre ela. Sei que você sacrificou seu relacionamento com seu pai por ela, e é esse tipo de altruísmo... Não, essa frieza... que eu quero de você." A voz de Kristina ficou dura.
"Vamos parar de jogar. Nós dois sabemos que você não tem mais ninguém. Ninguém além de mim. Não há mais ninguém neste mundo que tenha a riqueza, o poder e a motivação necessários para enfrentar seu pai. Eu sou sua única chance, Yuri Daniel Athanas. Então sugiro que você seja tão frio quanto diz ser e diga sim." - Kristina
Dez minutos depois, Kristina estava conduzindo o jovem herdeiro grego para fora de seu escritório e descendo as escadas, onde Kathy estava. Yuri ficou intrigado quando percebeu para onde estavam indo.
"Ela está na cozinha?" - Yuri, com exceção de sua própria meia-irmã, a maioria das herdeiras que ele conhecia nem sabia onde ficava a cozinha.
"É o lugar favorito dela na casa." - Kristina respondeu brevemente.
Abrindo a porta para Kristina, Yuri seguiu a mulher mais velha para dentro. Ele parou quando viu a única ocupante na cozinha, seu olhar imediatamente preso na garota de 14 anos atrás da ilha, com a cabeça inclinada enquanto picava cebolinha com habilidade na tábua de corte. A luz do sol filtrando pelas amplas janelas às suas costas dava à garota um halo dourado. Seu cabelo, caindo em uma cascata sedosa de marrom, escondia a maior parte de seu rosto, mas o pouco que ele viu disse a Yuri que a garota era extremamente bonita e seria ainda mais quando amadurecesse.
Mesmo assim, Yuri não sentiu nada. Quando a matriarca dos Rewis acenou com a cabeça para ele, ele caminhou em direção à garota. Eles haviam concordado que ele falaria com a neta dela primeiro e tomaria sua decisão a partir daí. Kathryn Ice Rewis não levantou a cabeça quando a sombra de Yuri caiu sobre sua tábua de corte. Seus dedos pararam, no entanto, a faca parando no ar. Um segundo passou, e Yuri sentiu que ela estava esperando que ele falasse. Quando ele não falou, outro segundo passou antes que seus dedos esguios e elegantes começassem a se mover novamente.
"Olá." - Yuri finalmente falou.
A garota ficou imóvel, e ela estava tão perfeitamente parada que, com sua pele de marfim, alguém poderia ser perdoado por pensar que ela era uma estátua de mármore. Lentamente, ela levantou a cabeça, e olhos violetas encontraram olhos azuis brilhantes. Yuri pensou, agora ele sabia por que o primeiro e único dia dela na academia de garotas em que Kristina a matriculou tinha sido desastroso. Aqueles olhos de cigana eram inocentes e oniscientes como os de uma criança, não escondendo nada, mas vendo tudo. A maioria das pessoas se sentiria condenada apenas olhando para aqueles olhos, Yuri sabia. Ele estava prestes a falar novamente quando viu seus lábios se abrirem, e Yuri parou.
"Olá." - A voz de Kathy era leve e grave, bonita e fria. Mas seus olhos violetas tinham um toque de cautela, e quando Kristina veio se juntar a eles, Yuri percebeu que a garota já havia sido informada sobre ele. O que ela pensava sobre isso, no entanto, era impossível dizer. Seus olhos eram muito parecidos com os dele nesse sentido. Perfeitamente vítreos, refletindo tudo, exceto seus próprios pensamentos.
"Querida." - Kristina disse suavemente. Ela esperou que o olhar de sua neta encontrasse o dela antes de continuar.
"Este é o homem de quem eu estava falando, o nome dele é Yuri Daniel. Chame-o de Yuri. E ele cuidará de você, ele te ama, como eu amo." - Kristina acrescentou.
As sobrancelhas de Kathy se franziram.
"Você não está mentindo?" - Kathy
"Eu te amo. Não amo? Eu mentiria para você?" - Kristina engoliu em seco.
Os olhos violetas se voltaram para Yuri. Em seu olhar, ele viu tanto sua prisão quanto seu futuro.
"Você vai me amar?" - Kathy
E para essa garota, Yuri percebeu sombriamente, era tão simples assim. A desonestidade havia sido eliminada de seu sistema e o amor superprotetor de Kristina não lhe havia dado nenhuma chance de descobrir que a vida nunca seria tão preto no branco. Encontrando seu olhar.
"Sim." - Yuri ouviu-se mentir.
Depois, Kristina e Yuri ficaram em silêncio enquanto passavam pelas majestosas portas da frente da Mansão Rewis. Quando o manobrista trouxe o carro para a entrada, Kristina quebrou o silêncio.
"Eu não voltarei atrás na minha palavra." - Kristina
"Eu nunca pensei que você voltaria." - Yuri murmurou.
A mulher mais velha hesitou, e naquele momento ele percebeu o quão assustadoramente frágil ela parecia. Em suas frequentes fotos nas páginas da sociedade, a matriarca sempre tinha uma aura intocável, mas agora não havia nenhum de seu glamour usual.
"Você está bem?" - Yuri
"Claro." - A voz de Kristina era insípida enquanto ela conscientemente acrescentava aos seus pecados. 'Perdoe-me, Yuri Daniel Athanas.'
Kristina havia deliberadamente ocultado a verdade sobre sua condição médica do homem mais jovem, temendo sua recusa se ele percebesse que poderia ter apenas meses antes que o destino exigisse que ele se amarrasse irrevogavelmente a uma estranha. Depois de aceitar as chaves do manobrista, Yuri enfrentou Kristina novamente.
"Há mais alguma coisa que você gostaria de discutir?" - Yuri
'Muita coisa.' - Kristina pensou dolorosamente. 'Você acha que algum dia se apaixonará por alguém como minha neta? Você pode prometer nunca fazê-la chorar? Você percebe o quão apavorada estou, sabendo que não tenho escolha a não ser confiar em você?'
Mas no final, ela sabia que não poderia dizer nada disso. Em vez disso, teve que se contentar com uma promessa.
"Eu farei tudo ao meu alcance para ajudar você a salvar sua irmã, mas você deve me prometer que fará o mesmo pela minha neta. Salve-a quando chegar o momento em que eu não estiver mais ao lado dela." - Kristina