




CAPÍTULO 1
DOIS ANOS DEPOIS...
A rotina diária de Kristina não havia mudado, apesar de ter descoberto que estava com câncer em estágio 4. Ela ainda acordava cedo, trabalhava seis dias por semana e viajava pelo mundo todo para participar de reuniões de negócios. Seus médicos, claro, não aprovavam.
"Seus dias já limitados na Terra serão ainda mais limitados se você continuar fazendo o que está fazendo", alertou a Dra. Fiona.
Idiotas. Kristina pensou, furiosa. Nenhum deles havia percebido que ela não tinha escolha. Ela precisava manter uma fachada forte enquanto sua neta precisasse dela.
Uma batida soou na porta do quarto justo quando Kristina terminava seu banho, algo que costumava levar minutos, mas agora levava quase uma hora e causava uma dor imensurável.
"Entre", disse Kristina, cansada.
Para sua surpresa, era sua neta, e ela se sentou abruptamente.
"O que foi, Kathryn Ice?" - Kristina
Seis meses atrás, Kristina finalmente havia conseguido manipular a criança para aceitar seu nome ou apelido, no caso. Vendo como a menina detestava causar dor a qualquer pessoa, Kristina recorreu à chantagem emocional, chorando copiosamente enquanto dizia à criança que morreria de solidão se Kathryn Ice não parasse de se considerar um "isso".
"E você promete não morrer de solidão se eu fizer o que você quer, vovó?" - Kathryn Ice
"Sim." - Kristina, fungou para dar efeito.
Sua neta de 14 anos a olhou por um longo tempo, seus olhos violetas incomuns tão brilhantes que era quase como se uma luz estivesse iluminando sua alma. Mas Kristina se recusou a sentir culpa, dizendo a si mesma que não estava mentindo.
"Tudo bem." - Kathryn Ice
A cabeça de Kristina se ergueu rapidamente.
"O que você quer dizer com 'tudo bem'?" - Kristina, sussurrou.
"Eu não sou mais um 'isso'." - Kathryn Ice
Um sorriso timidamente encantador surgiu nos lábios de sua neta, e sua voz era grave quando disse.
"Se você acha que eu mereço ter um nome..." - Kathryn Ice, pausou como se estivesse esperando que Kristina mudasse de ideia.
"Significaria muito," - Kristina, não mudou de ideia, claro (em sua mente). Ela disse tremendo.
"Se você me deixar chamá-la pelo seu nome." - Kristina, acrescentou.
Outra eternidade passou antes que sua neta finalmente assentisse.
"Então, a partir de hoje, eu sou Kathryn Ice Rewis." - Kathryn Ice
E essa foi a última vez que conversaram, pensou Kristina dolorosamente. Kathryn Ice voltou a ser distante e vigilante depois disso, e Kristina estava perdida sobre como se aproximar de sua neta novamente. Ela até começou a se sentir melancólica, imaginando se havia imaginado tudo até agora. Na sua frente, Kathryn Ice permaneceu junto à porta, seu rosto serenamente bonito não revelando nada.
"O que foi, Kathryn Ice?" - Kristina, perguntou gentilmente.
"Você não tomou café da manhã." - Kathryn Ice. Era uma afirmação, não uma pergunta, dita em um tom igualmente monótono. Sem saber o que fazer com isso.
"Não, eu não tomei." - Kristina, disse lentamente.
Outro olhar vigilante e calculista, e então Kathryn Ice disse quase desafiadoramente.
"Eu preparei o café da manhã para você." - Kathryn Ice
"V-você preparou?" - O coração de Kristina disparou com as palavras.
Kathryn Ice assentiu.
"P-para mim?" - Kristina perguntou pela segunda vez.
Kathryn Ice assentiu novamente.
"Eu a-adoraria comer." - Kristina engoliu em um esforço para controlar suas emoções.
Kristina começou a se levantar, apenas para sua neta balançar a cabeça para ela.
"Fique aí." - Kathryn Ice
Kristina começou a sorrir com o tom autoritário na voz de Kathryn Ice quando a porta se abriu e sua neta empurrou um carrinho, com uma bandeja coberta em cima. A vontade de sorrir desapareceu, substituída por um intenso desejo de chorar.
'Oh! Kathryn' - Kristina, disse em sua mente.
A menina partia seu coração todos os dias, com sua força e bondade, e Kristina nunca poderia agradecer a Deus o suficiente por isso.
'Senhor, não me leve até eu saber que Kathryn Ice é forte o suficiente para sobreviver sem mim. Eu imploro, Senhor.' - Kristina orou em sua mente. Na sua frente, Kathryn Ice levantou a bandeja, e a respiração de Kristina ficou presa.
"Está lindo, Kathryn Ice." - Kristina
Ela nunca havia descrito comida como linda, mas não havia melhor palavra para isso agora. Na caixa retangular preta havia arroz branco com açafrão de um lado, e em cima dele claras de ovo tingidas de rosa e cortadas em forma de flores de cerejeira, com tiras de alga nori formando seus galhos finos e quase intrincadamente arranjados. Ao lado, havia uma mistura de brócolis fresco, cubos de carne teriyaki e cenouras em forma de corações. Engolindo um soluço, Kristina perguntou trêmula.
"Onde você aprendeu a fazer isso?" - Kristina
"Na internet." - Kathryn Ice
Os olhos da menina estavam brilhantes e intensos, seu olhar focado intensamente no rosto da avó.
"Você gostou?" - Kathryn Ice, a voz era afiada, quase abrupta.
"Sim." - Kristina, disse simplesmente.
"Você pode comer agora." - Kathryn Ice, um pouco da tensão deixou seu corpo.
Enquanto Kristina começava sua refeição, o olhar de Kathryn Ice nunca deixou o dela. Quando terminou e estava bebendo um copo de água com limão, Kathryn Ice de repente perguntou.
"Você me ama, vovó?" - Kathryn Ice
"Claro." - Kristina, seu coração se partiu pela segunda vez naquele dia. Ela colocou todo seu coração nessas duas palavras.
Não era a primeira vez que Kathryn Ice fazia essa pergunta. Na verdade, a menina gostava de perguntar nos momentos mais estranhos. Quando estavam no meio de um shopping, quando via Kristina cuidando de seu jardim particular no quarto. Não havia como prever quando Kathryn Ice perguntaria, e toda vez que o fazia, Kristina desejava com todo seu coração ter o poder de matar Madame Antonia repetidamente. Olhando para o rosto de Kathryn Ice.
"Eu sempre vou te amar." - Kathryn Ice, disse suavemente.
Nenhuma emoção cruzou o olhar inabalável da menina enquanto ela perguntava.
"Por quê?" - Kristina, disse simplesmente.
"Porque eu amo." - Kathryn Ice
"E você não precisa fazer ou dizer nada para merecer isso." - Kristina, piscou furiosamente para conter as lágrimas.
"Você não está... mentindo?" - Kathryn Ice, franziu a testa.
Kristina encontrou o olhar da neta diretamente, rezando a Deus para que Kathryn Ice visse a verdade pela qual ela vivia.
"Não." - Kristina
Kathryn Ice começou a caminhar em sua direção, e Kristina se viu tomada pela ansiedade. Ela havia dito algo errado? Kathy estava brava?
Kathy caiu de joelhos.
"Querida, o que foi?" - Kristina, soltou um grito de desespero.
"Se você não está mentindo para mim..." - Kathryn Ice, as palavras eram um sussurro frágil.
Kristina empalideceu. O corpo de Kathy tremia tanto que parecia que a neta de Kristina estava lutando contra os demônios mais vis dentro dela.
"Oh! Querida, o que foi? Me diga." - Kristina
"Se você n-não está mentindo, v-vovó, então eu... eu vou tentar te amar." - Kathryn Ice, levantou os olhos cheios de lágrimas para ela.
Um soluço escapou de Kristina enquanto ela puxava a neta para seus braços, e pela primeira vez, Kristina sentiu os braços de Kathy ao seu redor. Ela engasgou do outro lado.
"Oh! Criança, eu te amo. Eu sempre vou te amar." - Kristina, murmurou as palavras repetidamente, suas lágrimas eram agridoce porque ela sabia que Deus havia respondido suas orações.
Kathy estava forte agora...
Era hora de ela partir...
"Ela é diferente." - Kristina, explicou cuidadosamente.
"Mas ela não é louca." - Kristina, acrescentou.
O jovem sentado à sua frente apenas assentiu, seu rosto angelicalmente bonito perfeitamente inexpressivo. Lembrava tanto Kathryn Ice que era assustador, e Kristina teve que reprimir um arrepio. 'Isso é um bom ou mau presságio, Senhor?'
"Você leu os relatórios que enviei?" - Kristina
"Li, Kyría." - Yuri Daniel, ('Kyría em grego significa senhora ou dama)
"Então você sabe que estou dizendo a verdade." - A voz de Kristina tornou-se feroz.
"Eu nunca pensei que você mentiria para mim, Kyría." - Yuri Daniel
A voz do homem era cortês e agradável, algo que Kristina achava admirável nos jovens gregos. Mas agora, ela pagaria uma fortuna para ouvir qualquer emoção naquela voz. Kristina tomou uma decisão rápida de colocar todas as cartas na mesa.
"Eu poderia ter tido qualquer homem na Grécia, mas escolhi você porque sei que você é honrado e porque..." - Kristina deu de ombros delicadamente.
"Você precisa de mim, mais do que eu preciso de você." - Kristina, acrescentou.