Capítulo 1
Início do Fim
Clarissa
“Então é hoje à noite, a noite que você esperou por toda a sua vida,” Noelle me provocou enquanto trançava lírios no meu cabelo. Eu estava sentada na única cadeira do meu quarto, incapaz de ficar parada. A excitação tomava conta de todo o meu corpo e minhas bochechas ardiam de tanto sorrir.
“Não toda a minha vida,” respondi alegremente, fazendo-a perder a trança que estava segurando. Ela suspirou de forma significativa e eu tentei ficar quieta para que ela pudesse terminar de arrumar meu cabelo. Os fios ruivos eram cortesia da minha mãe, que tinha sido uma beleza lendária em sua época. Infelizmente, ela morreu durante o parto de um bebê que seria meu irmãozinho.
Meu pai a seguiu alguns anos depois, sofrendo de depressão severa após perder sua companheira de repente. Minha mãe era o centro da existência dele e, uma vez que ela morreu, ele não conseguia mais ver o céu azul. Ele ficava sentado sozinho por horas, olhando para o nada em particular. Ele me deixou finalmente quando eu tinha oito anos, uma mera criança.
Noelle tinha sido minha melhor amiga desde sempre, mas depois que meus pais morreram, nossa amizade não foi suficiente para convencer os pais dela a me acolherem como filha adotiva. Foi então que a alcateia como um todo decidiu me adotar.
“É, claro. Todo mundo sabe que você tem uma queda pelo Clyde desde o ensino médio. Você não foi muito sutil com seus olhares constantes para o novo Alfa. Finalmente, você vai conseguir o que sempre quis.” Ela levantou as sobrancelhas para mim de forma cômica através do espelho e eu pressionei minha mão contra a boca aberta.
Todo mundo sabia? Eu era tão óbvia assim?
Crescer na mesma casa que Clyde Drelock tinha sido enlouquecedor. No começo, eu era apenas uma filhote assustada, grata por ser adotada pelo então Alfa, o pai de Clyde, Alfa Terry. Apaixonar-me não estava nos meus planos naquela época; encontrar um lar era minha prioridade. Eles foram gentis comigo e me trataram de forma justa.
Os problemas começaram quando Clyde se tornou um sênior e começou a preencher suas roupas com mais músculos e volume que eu nunca tinha visto antes. Ele se tornou um homem mais rápido do que eu conseguia acompanhar e eu estava determinada a ser útil para a alcateia de alguma forma. Para uma fêmea, eu era forte e determinada a fazer a diferença, tanto que o Alfa Terry me fez Delta de Clyde.
Os amigos dele zombavam dele por ter uma Delta feminina em vez do convencional masculino. Eu redobrei meus esforços para garantir a Clyde que ele podia contar comigo para protegê-lo. Infelizmente, ele me fazia encobrir suas saídas tardias ou quando não queria cumprir suas obrigações. Com estrelas nos olhos, eu fazia tudo o que o agradava, esperando que um dia ele me visse de uma forma diferente.
No entanto, foi preciso a morte do Alfa Terry para que Clyde se transformasse em um homem completo. Eu ainda me lembrava daquela noite como se fosse ontem. Eu tinha saído na chuva para encontrar Clyde depois que ele fugiu, destruído pela dor. Ele e seu pai eram muito próximos e foi um grande golpe para ele. Eu o encontrei em um campo aberto, curvado no chão e chorando copiosamente.
Incapaz de ficar longe, fui até ele e o abracei apertado, apesar de estar todo molhado. Segurei firme até que suas mãos me envolveram de volta. Ficamos assim por meia hora, confortando um ao outro e nos encharcando ainda mais. Seu riso quebrou o gelo e corremos juntos para fora da chuva. Desde então, éramos inseparáveis.
“Esperei tempo suficiente para tê-lo,” murmurei para ninguém em particular, alisando meu cabelo para ver se Noelle tinha terminado. Quando ela bateu na minha mão, entendi o recado. Estava demorando demais. Clyde pensaria que eu tinha mudado de ideia e ficaria preocupado.
“Noivas devem deixar seus noivos ansiosos, chegando atrasadas de propósito e parecendo maravilhosas,” insistiu Noelle, tentando decidir se as contas no meu cabelo eram suficientes. Eu me sentia como um pavão exótico, mas mantive a boca fechada. Ela estava me ajudando a me preparar para a noite mais importante da minha vida e a Deusa sabia que eu não conseguiria fazer isso sozinha. Passar tanto tempo com Clyde me transformou em um moleque.
“E pronto!” ela anunciou, como um mágico profissional terminando seu truque final. Noelle era morena e sua beleza clássica —olhos negros como a noite, busto cheio e altura mediana— deixava os homens loucos. Nós duas tínhamos vinte e cinco anos, embora ela fosse dois meses mais velha, mas Noelle estava longe de estar pronta para se estabelecer. Ela ainda não tinha levado metade dos homens da nossa alcateia à loucura.
“Nem todo mundo está destinado a ser companheiro de um Alfa bonito,” ela me provocava sempre que eu mencionava sua vida amorosa. Desisti dela e a deixei ser.
Quando ela se afastou do espelho, vi meu reflexo e não pude acreditar que era eu. Eu estava... linda e as flores no meu cabelo me faziam parecer uma fada da floresta. Meu cabelo, geralmente rebelde, estava domado em lindas tranças e entrelaçado com hastes de flores. Lobisomens têm uma afinidade com a natureza e, embora comamos principalmente carne, sabemos mais sobre plantas do que qualquer outra espécie sobrenatural, exceto as bruxas, é claro.
“Clyde vai ficar impressionado quando te vir. Estou tão feliz por você, Clarissa!” Noelle exclamou, me envolvendo em um abraço cuidadoso. Ela tomou cuidado para não estragar todo o seu trabalho árduo e eu olhei para o espelho mais uma vez para ter certeza de que era realmente eu. Era, e eu estava deslumbrante de felicidade. Eu era a fêmea mais sortuda da Alcateia Wardwick e sabia disso.
De repente, uma batida rude soou na porta do meu quarto. Nos separamos do abraço, ficando de pé enquanto olhávamos para a porta. Quem quer que estivesse do outro lado estava claramente com pressa para entrar. Imediatamente assumi uma posição de batalha, pronta para enfrentar qualquer intruso. Noelle, ao meu sinal, abriu a porta e se afastou. Meus defesas relaxaram quando vi quem era, até ouvir suas próximas palavras:
“Essa é a traidora! Guardas, prendam-na e levem-na ao pátio público!” Meu Alfa e futuro companheiro, Clyde Drelock, comandou em voz alta e meu mundo desabou.