




Capítulo 4
Na manhã seguinte, acordei com uma sensação inquieta, como se algo estivesse prestes a acontecer, mas eu não sabia o quê. Era uma coceira que eu não conseguia coçar, uma tensão que não ia embora. Tentei me livrar dela, mas ela se agarrava a mim, me deixando desconfortável. Precisando clarear a mente, decidi levar Luka para um passeio.
Luka, meu animal espiritual, era um leão negro enorme, maior do que qualquer urso humano. Sua presença sempre me confortava, especialmente quando meus pensamentos estavam tão confusos como hoje. Nos dirigimos à floresta mística do Reino da Terra, esperando que os caminhos familiares e o silêncio me trouxessem alguma paz.
Enquanto cavalgávamos pela floresta, uma estranha atração começou a me guiar, como uma mão invisível puxando meu próprio ser. Ela nos levou em direção à grande muralha de pedra que marcava a fronteira do Reino da Terra. Eu não tinha planejado ir até lá, mas não conseguia resistir à sensação.
Quando chegamos à muralha, me aproximei dos guardas. "Aconteceu algo incomum hoje?" perguntei a eles, ainda sentindo a inquietação me corroer.
Um dos guardas trocou um olhar com o outro antes de responder. "Vimos Merilla passar com uma jovem. Ela tinha cabelos brancos como a neve e olhos azuis como o céu."
A descrição fez meu coração pular uma batida. Quem era essa garota? Por que Merilla, a companheira de Luka, a trouxe do reino humano? Como ela conseguiu passar pela barreira que separa nossos mundos? As perguntas zumbiam na minha mente como abelhas furiosas.
Agradeci aos guardas e rapidamente instiguei Luka de volta ao castelo. A atração que eu sentira antes não havia desaparecido; só tinha ficado mais forte, como se algo estivesse me puxando cada vez mais perto a cada passo.
Quando chegamos ao castelo, desmontei e senti aquela mesma estranha atração, agora me direcionando para o jardim. Estava mais forte do que antes, quase como uma compulsão. Sem pensar, segui-a.
O jardim estava tranquilo, banhado pela luz suave da manhã. As flores estavam em plena floração, e o ar estava cheio de seu doce perfume. Enquanto caminhava mais fundo no jardim, a atração se tornou irresistível, me guiando para um canto isolado perto de uma pequena fonte. E lá estava ela.
Ela estava deitada em um banco, profundamente adormecida. Seus cabelos brancos como a neve caíam sobre os ombros, brilhando suavemente na luz da manhã, e sua pele era impecável, como a mais fina porcelana. Ela era linda, mais linda do que qualquer pessoa que eu já tinha visto. Senti minha respiração prender na garganta enquanto a observava, incapaz de desviar o olhar.
Era como se eu estivesse sob um feitiço. Sem perceber o que estava fazendo, me vi me aproximando dela, meus pés me levando silenciosamente pela grama. Ajoelhei-me ao lado dela; a atração agora tão forte que eu não poderia resistir mesmo se quisesse. Meu coração batia forte no peito, mas minha mente estava estranhamente calma, focada apenas nela.
Antes que eu percebesse, estava abaixando a cabeça, inclinando-me até que meus lábios roçassem os dela. Seus lábios eram macios, quentes, e a coisa mais deliciosa que eu já tinha provado. Nem mesmo as frutas mais raras poderiam se comparar à doçura de seu beijo. A sensação era intoxicante, enviando um arrepio pela minha espinha.
Mas então, seus olhos se abriram, e me vi encarando os olhos azuis mais bonitos que eu já tinha visto. Eles estavam arregalados de choque, e antes que eu pudesse reagir, sua mão subiu, me dando um tapa forte no rosto.
A força do tapa me tirou do transe em que eu estava. Cambaleei para trás, choque e vergonha inundando-me enquanto percebia o que acabara de fazer. Eu a tinha beijado—essa estranha, essa garota que Merilla trouxera do reino humano—sem nem saber por quê.
Seus olhos estavam ardendo e seu rosto corado de raiva enquanto ela me encarava. Sua voz era uma tempestade de fúria, cada palavra afiada e mordaz enquanto ela exigia saber o que me dava o direito de beijá-la enquanto dormia. Fiquei ali, cativado, incapaz de focar em suas palavras. Sua raiva era hipnotizante, o fogo em seus olhos azuis a tornava ainda mais bonita.
Enquanto ela continuava a me repreender, eu não conseguia ouvir uma única palavra do que ela dizia. Estava muito absorto nela. Seus lábios, embora soltando maldições, eram a coisa mais deliciosa que eu já tinha provado. Coloquei casualmente as mãos atrás das costas, tentando manter uma aparência composta, mas por dentro, estava completamente absorvido por sua presença.
(Meara)
Meus olhos se abriram de repente, e me vi encarando um par de olhos estranhos e desconhecidos. Por um segundo, pensei que estava sonhando. Mas então senti seus lábios nos meus, e a realidade me atingiu com força. Sem pensar, levantei a mão e dei um tapa nele com toda a força que pude.
"Quem te deu o direito de me beijar?" gritei, minha voz tremendo de raiva. Mas ele apenas ficou ali, calmo e casual, com as mãos atrás das costas. Ele não parecia incomodado, e isso só me deixou mais irritada.
Por um momento, fui distraída por seu físico incomum e como ele era incrivelmente bonito. Sua mandíbula forte, aqueles olhos penetrantes e a forma como seu cabelo negro como a noite caía logo abaixo dos ombros eram quase suficientes para me fazer esquecer por que eu estava com raiva. Ele usava calças pretas, uma camisa preta ligeiramente aberta no peito, revelando alguns pelos, e botas de couro que o faziam parecer ainda mais imponente. Mas rapidamente sacudi a cabeça, não querendo me distrair com sua aparência. Eu estava muito zangada para deixar sua aparência me desviar.
"Eu tinha todo o direito. Esses lábios me pertencem," ele disse com uma voz profunda e suave que me causou arrepios.
Arrepios cobriram minha pele. Quem esse cara pensa que é?
Para piorar, ele sorriu—um sorriso lento e confiante que me deixou ainda mais furiosa. Então, sem dizer mais nada, ele se virou e foi embora como se nada tivesse acontecido.
Eu estava fervendo de raiva. Não podia acreditar na audácia dele! Não ia deixar que ele me tratasse assim. Sem esperar por Merilla ou qualquer outra pessoa, entrei no castelo furiosa, meu coração batendo forte de raiva. Precisava descobrir o que estava acontecendo, e precisava descobrir agora.
Ao entrar no palácio, fui imediatamente arrebatada pela grandiosidade do lugar. O interior de mármore branco brilhava com detalhes dourados por toda parte, parecendo algo saído de um sonho. O palácio era enorme, com grandes janelas arqueadas de vidro que iam até o teto, permitindo que a luz brilhante entrasse e fizesse o ouro nas colunas e escadarias brilhar ainda mais. Quem quer que fosse esse rei, ele certamente amava ouro.
Não pude deixar de ficar cativada pelos intrincados padrões dourados gravados nas colunas. Eram tão bonitos, quase hipnotizantes. Sem pensar, estendi a mão para tocar uma, querendo sentir a superfície fria e lisa sob meus dedos.
Mas assim que minha mão fez contato, alguém gritou,
"Ladra!"
Antes que eu pudesse reagir, uma mão forte puxou meu braço com tanta força que parecia que meu ombro ia sair do lugar.
"Eu... não sou... uma ladra," gaguejei, tentando explicar ao guarda, mas ele não estava ouvindo. Seu aperto no meu braço era como ferro, e ele começou a me arrastar para fora do castelo sem pensar duas vezes.
"Merilla!" chamei, esperando que meu animal espiritual viesse me resgatar. Mas não havia sinal dela. O guarda continuou me arrastando para longe do palácio, em direção a um velho prédio de pedra com pequenas janelas de barras de metal que não pareciam nada convidativas.
"Você ficará na masmorra até que o rei decida o que fazer com você," ele disse, sua voz fria e inflexível. Ele me empurrou para dentro de uma cela pequena e escura com tanta força que caí no chão, arranhando meus joelhos através do jeans.
Eu gemi de dor enquanto me sentava, olhando ao redor do espaço escuro e apertado. As paredes estavam úmidas, o ar era espesso, e a única luz vinha de uma pequena janela gradeada bem acima. Meu coração batia forte no peito enquanto a realidade da minha situação se instalava. Eu estava trancada em uma masmorra, acusada de ser uma ladra, e não tinha ideia do que ia acontecer a seguir.
Mordi o lábio inferior, tentando desesperadamente segurar as lágrimas que ameaçavam cair. Mas por mais que eu tentasse, elas escorriam pelo meu rosto. Chorei até não ter mais lágrimas para derramar, meus olhos inchados e doloridos pelo choro incessante. Minha situação parecia inacreditável. Eu nunca deveria ter seguido Merilla na floresta. Se eu tivesse ficado na fazenda, nada disso teria acontecido.
Agora, aqui estava eu, trancada em uma masmorra escura, em um mundo desconhecido, sentindo-me completamente sozinha e derrotada. As frias paredes de pedra pareciam se fechar sobre mim, tornando o desespero ainda mais avassalador. Envolvi meus braços ao redor dos joelhos, sentindo o frio penetrar através do jeans. Cada soluço parecia ecoar nas paredes, tornando o som ainda mais alto.