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Capítulo 1

Sentei-me sob os galhos do antigo carvalho, meus olhos fixos no vazio à minha frente. Este sempre foi meu refúgio, um lugar onde eu podia escapar das memórias avassaladoras que me assombravam em cada canto da fazenda. Meu longo cabelo branco como a neve esvoaçava na brisa suave, um contraste marcante com o verde do campo ao meu redor.

Eu frequentemente pensava em como Mônica, minha mãe adotiva, me encontrou. Era uma história que ela me contava inúmeras vezes, mas eu nunca me cansava de ouvi-la. Vinte anos atrás, Mônica estava caminhando pela floresta atrás da fazenda quando ouviu um choro fraco e lastimoso. Seguindo o som, ela tropeçou em um cesto parcialmente escondido entre a vegetação. Dentro havia uma menina com cabelos tão brancos quanto a neve mais pura e olhos que pareciam conter a profundidade do céu.

Não havia bilhete, nenhuma indicação de onde eu tinha vindo ou quem poderiam ser meus pais. Mônica, com seu coração bondoso e espírito acolhedor, imediatamente me levou ao hospital para garantir que eu estava saudável. Apesar de inúmeras tentativas dos assistentes sociais de encontrar meus pais biológicos, ninguém apareceu. Mônica, incapaz de suportar a ideia de eu ser colocada em um sistema superlotado, decidiu se tornar minha guardiã legal.

Ao longo dos anos, eu aceitei meu passado. Nunca me senti indesejada ou sem amor porque Mônica encheu minha vida com mais calor e carinho do que eu poderia ter desejado. Ela era minha mãe em todos os sentidos da palavra, e eu a amava profundamente.

Mas agora Mônica se foi, e a fazenda, que antes era um lugar de amor e risos, se tornou uma prisão de tristeza. Eu não conseguia escapar das memórias dela que estavam em cada canto da casa. Para piorar, comecei a ouvir sussurros estranhos, vozes que pareciam vir de lugar nenhum e de todos os lugares ao mesmo tempo. Eram fracas, mas persistentes. Às vezes soavam como minha mãe, às vezes como estranhos. Era o suficiente para me fazer questionar minha sanidade.

Sentada sob o carvalho, fechei os olhos e respirei fundo, tentando acalmar a turbulência dentro de mim. Mônica passou incontáveis horas comigo aqui, compartilhando histórias sobre a sabedoria antiga da árvore que fluía pela terra. Mônica acreditava em coisas que outros descartavam como contos de fadas, e embora eu sempre fosse cética, havia algo reconfortante nessas velhas lendas.

"Meara!"

Os sussurros começaram novamente, suaves mas notáveis. Tensei, meus olhos se abriram de repente. Examinei o campo, mas não havia ninguém à vista. O som parecia vir da própria árvore, do farfalhar de suas folhas. Pressionei minhas palmas contra a casca áspera e fechei os olhos, focando nos sussurros.

"Venha... me encontre..."

As palavras eram fracas, mas distintas. Meu coração disparou. Eu estava perdendo a cabeça ou havia algo mais nesses sussurros? Levantei-me, limpando a sujeira das minhas calças jeans, e dei alguns passos para trás. Os sussurros ficaram mais altos, mais insistentes.

"Eu... vim... por você..."

Respirei fundo, tentando acalmar meus nervos. Mônica sempre me ensinou a confiar nos meus instintos, e agora, meus instintos estavam me dizendo para ouvir. Enquanto olhava ao redor do campo, notei um movimento ao longe, vindo do dossel de árvores na borda da floresta. Era uma raposa tão branca quanto a neve, quase se misturando à luz do sol que filtrava pelas árvores.

A curiosidade me dominou, então me aproximei cautelosamente. A raposa ficou parada enquanto eu me aproximava, seus olhos brilhantes me observando atentamente, como se estivesse esperando por mim. Havia algo quase mágico nela, algo que me atraía.

"É hora," os sussurros na minha cabeça declararam.

Parei, meu coração batendo forte. A raposa se virou e começou a caminhar para dentro da floresta, olhando para trás como se esperasse que eu a seguisse. Sem entender completamente o porquê, senti-me compelida a segui-la. Movi-me através da vegetação densa, meus olhos fixos na raposa enquanto ela caminhava graciosamente entre as árvores.

Quando me aproximei, a raposa parou e se virou para me encarar.

"Eu sou Merilla, seu animal espiritual," disse ela, sua voz suave mas autoritária. "Vim para levá-la para casa, para Valtor."

Hesitante, dei um passo para trás. "Espere, se você é meu animal espiritual, onde esteve todos esses anos? Por que está aparecendo só agora?"

Os olhos de Merilla suavizaram. "Fomos separadas quando éramos muito jovens. Nosso vínculo nunca teve a chance de se desenvolver completamente, e por causa disso, eu não conseguia sentir sua presença até agora. Seu anseio, sua tristeza e sua necessidade de conforto após a morte de Mônica despertaram nosso vínculo. Finalmente consegui sentir sua presença e segui-la de volta ao mundo humano."

Franzi a testa, tentando processar suas palavras. "Então, você está dizendo que minha dor trouxe você aqui?"

"Sim," disse Merilla. "Suas emoções foram poderosas o suficiente para criar uma ponte entre nossos mundos. Agora, é hora de você descobrir de onde veio e quem são seus pais biológicos."

Hesitei, ainda incerta. "Por que eu deveria confiar em você? Como sei que você não é apenas uma invenção da minha imaginação?"

O olhar de Merilla era firme e inabalável. "Confie em seus instintos, Meara. Você sabe no fundo do seu coração que o que estou dizendo é verdade." Eu sabia que o que ela estava dizendo devia ser verdade. Como ninguém conseguiu encontrar meus pais ao longo dos anos?

Respirando fundo, senti uma estranha sensação de paz me invadir. Mônica sempre me disse para confiar nos meus instintos, e agora, meus instintos estavam me dizendo para seguir Merilla.

"Certo," disse finalmente. "Eu vou te seguir."

Merilla se virou e liderou o caminho para dentro da floresta. Caminhamos a noite inteira, a floresta ficando mais escura e misteriosa a cada hora que passava. Minhas pernas doíam, e meus olhos pesavam, mas os sussurros me instigavam a continuar.

Quando o amanhecer estava surgindo, eu estava à beira do colapso de exaustão. Justo quando pensei que não poderia dar mais um passo, chegamos a uma cachoeira. A visão dela tirou meu fôlego. A água em cascata brilhava na luz da manhã, criando arco-íris na névoa. Era como algo saído de um sonho, um paraíso escondido dentro da floresta.

Merilla me levou para trás da cortina de água, onde descobrimos uma caverna cheia de símbolos antigos que eu não conseguia decifrar. O ar dentro era fresco e tinha o cheiro de terra úmida.

"Onde estamos?" perguntei ansiosa.

"Este é o portal para o reino mágico, para Valtor."

Merilla foi se sentar em frente à parede, e para minha surpresa, todos os símbolos começaram a brilhar como seus olhos. A terra começou a tremer, e a parede de pedra começou a se abrir, revelando uma luz brilhante.

Merilla entrou na luz. "Meara, você vem?" Sua voz ecoou na minha mente.

Eu queria me mover, mas estava paralisada no lugar. O brilho era avassalador, me fazendo hesitar.

"Meara, rápido, antes que o portal se feche," Merilla gritou na ligação mental que compartilhávamos.

Reunindo toda a coragem, levantei meu pé e entrei na luz, depois o outro. A luz era tão intensa que tive que cobrir meus olhos. Ao atravessar, uma sensação quente me envolveu, e senti uma estranha sensação de paz e antecipação.

Quando a luz finalmente diminuiu, me vi em uma terra linda e vibrante, diferente de tudo que eu já tinha visto. O céu era de um azul sobrenatural, e o ar estava cheio do perfume de flores desabrochando. Olhei ao redor maravilhada, meu cansaço esquecido. Este era Valtor.

Merilla me conduziu por outra floresta densa, esta diferente de qualquer outra que eu já tinha visto. As árvores aqui tinham folhas com um tom roxo, suas cores vibrantes e hipnotizantes. O musgo que cobria o chão da floresta era de um azul vivo e suave, criando um tapete exuberante e convidativo. Cogumelos pontilhavam o chão, brilhando com uma luz rosa bioluminescente que lançava um brilho sobrenatural sobre tudo.

Apesar do meu cansaço, a beleza deste lugar me cativou. Meus olhos absorviam cada detalhe, como esponjas absorvendo água.

Enquanto caminhávamos pela floresta mágica, não pude deixar de notar os pássaros voando no dossel acima. Esses pássaros eram diferentes de qualquer outro que eu já tinha visto. Suas penas cintilavam com tons iridescentes, refletindo nuances de azul, roxo e verde a cada movimento. Alguns tinham longas caudas elegantes que se arrastavam atrás deles como fitas delicadas.

Um pássaro, em particular, chamou minha atenção. Tinha um corpo esguio coberto de penas azul-meia-noite que brilhavam suavemente na luz tênue. Suas asas eram pontilhadas de prata, e seus olhos eram grandes e expressivos, como gêmeos safiras.

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