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O Ceifador - Parte II

Na chuva, há uma serenidade, uma sensação de paz que ressoa com os elementos pacíficos da alma. Correndo entre aquelas gotas, ela se sente presente no momento, ela se sente livre! Ela correu e correu, correr era viver para ela, era sentir o poder de partir sempre que precisasse, escapar dos limites das paredes e sentir a estrada aberta. Com o tempo, ela esperava correr não para fugir, mas para ir ao encontro, não de um assassinato que cometeu, mas para sua casa, pois então teria encontrado um santuário em si mesma e neste mundo, pensava ela. Ela queria correr para sentir, sentir o ar e a terra, sentir a chuva e absorver os tons da luz do dia e a brisa fresca e silenciosa da noite. Mas ela tinha que correr para escapar, para não ser pega, para correr pela sua vida. Em pouco tempo, ela estava fora das terras do Alfa e da Luna que acabara de assassinar. Ela parou em frente a uma enorme árvore fora das terras do bando. Subiu rapidamente na árvore e logo alcançou o galho mais alto. Sentou-se ali no galho frio e molhado. A chuva já havia parado há algum tempo e o céu estava limpo. O céu estava livre do manto de nuvens escuras. A lua iluminava o céu como se tivesse tido uma ideia brilhante, algo brilhante precisava iluminar a Terra.

Ela se encostou na árvore, uma perna sobre o galho e a outra balançando no ar. Tirou a gola preta do pescoço e o capuz. Seus olhos castanhos avelã brilhavam à luz da lua. Ela inclinou a cabeça para trás e sentiu a brisa fresca tocando seu rosto. Fechou os olhos e sentiu a brisa. A brisa vinha com aquela sensação de equilíbrio, a sabedoria de se mover, mas em um ritmo calmo e constante.

Ela estava cansada e exausta, estava correndo, matando, assassinando pessoas sem parar nos últimos 4 dias. Não dormiu nem um pouco. Com a brisa fresca e a bela lua brilhando acima dela, adormeceu. Logo foi acordada pelo som dos uivos dos lobos, que carregavam muita dor e raiva.

"Demoraram bastante." Pensou. Ela podia sentir os lobos correndo em direção aonde estava. Tinha certeza de que não poderiam rastreá-la, mas era sua deixa para partir.


"Ele está morto?" Disse uma voz fria e severa que exalava autoridade e... escuridão. Ele era como uma sombra maligna sempre pairando sobre ela, nunca a deixando sair de sua vista. Sentado em sua cadeira que parecia um trono, no escuro. O enorme quarto estava escuro, sua única fonte de luz era a luz da lua que entrava pelas cortinas bem fechadas que cobriam as enormes janelas. Já fazia algumas horas desde que ela matou o Alfa e sua Luna, agora era hora de relatar.

"Sim, mestre!" Ela disse em voz baixa. Estava sentada no chão frio de pedra com as mãos nos joelhos e a cabeça baixa em submissão.

"Ele sofreu?" Ele disse com um pequeno sorriso sinistro nos lábios. Ela não olhou para o rosto dele, mas conhecia aquele tom. Podia sentir o sorriso sinistro e maligno pintado no rosto dele.

"Não, mestre," ela disse em voz baixa, sem qualquer emoção. Seus olhos se acenderam em vermelho instantaneamente. Ela sabia o que estava por vir. Antes mesmo que pudesse piscar, um golpe muito doloroso de um chicote de prata atingiu suas costas, e depois outro. Um golpe após o outro continuava a atingi-la. Ela ficou ali, suportando cada golpe doloroso, tentando não se mover. Mas os golpes continuavam, ela tentou resistir, mas logo cedeu, caiu no chão e gemeu de dor. Um pequeno grito de agonia saiu de sua boca e os olhos dele brilharam de satisfação. Ele adorava esse jogo, ela tentava ao máximo não ceder e ele continuava a bater mais forte a cada vez. Esse é o jogo mais satisfatório que ele tem jogado nos últimos 400 anos.

"Eu deixei claro ou não que quero que ele sofra? Que implore pela morte?" Ele levantou o queixo dela e a forçou a olhar em seus olhos. Ele não viu nenhuma emoção nos olhos dela, eles olhavam para ele de forma vazia. Ele soltou o queixo dela e voltou para sua enorme cadeira que parecia um trono e se sentou. Ela se sentou novamente na posição anterior e manteve a cabeça baixa em submissão.

"Quando eu digo que você deve fazê-los sofrer, você faz! Faça-os implorar pela morte, faça-os implorar! Está claro, minha pequena cadela?!" Ele disse com uma voz fria, zangada e severa.

"Sim, mestre." Ela disse em voz baixa.

"Agora saia daqui, reporte-se a tempo para sua próxima missão!"

"Sim, mestre." Ela se levantou com a cabeça baixa em submissão, fez uma reverência na frente dele e saiu pelas enormes portas duplas escuras.

O homem sombrio sentado nas sombras era o exemplo da mão direita do diabo na face da terra. Ele não era o próprio diabo, mas ela sentia, sabia e acreditava de todo o coração que ele era o próprio diabo. Ele era o diabo pairando sobre seus ombros, fazendo-a fazer tudo o que ele queria e ela odiava. Ele era o diabo realizando tudo o que queria através dela. Ela não recebe recompensas nem elogios dele se faz algo certo, ele sempre encontra alguma falha e a pune brutalmente. Ela não espera nenhuma recompensa nem elogio. Ela acredita que não merece nada disso, nem mesmo merece estar viva. Ela matou brutalmente, torturou milhares de homens e mulheres em seus 421 anos de vida. Após uma década de tortura e treinamento do diabo, ela foi solta o suficiente para fazer suas ações para o diabo. E agora, após 400 anos de tortura e assassinatos, ela não sente mais nada, exceto a dor que o diabo lhe impõe. É essa dor que a lembra de que sente algo, que está viva, que tem uma existência que não é inteiramente de pedra. Não seria totalmente verdade dizer que ela não sente nada além da dor que o diabo a faz passar, ela sente vergonha de si mesma, odeia sua existência, odeia o monstro que é e odeia matar pessoas sem saber quais foram seus erros. Ela tentou centenas de vezes destruir o monstro dentro de si, passou muito tempo tentando matar o próprio diabo, mas sempre parecia falhar. No entanto, ela aceitou seu destino servindo ao diabo. Aceitou o nome pelo qual o mundo a chama. Ela é A Ceifadora! A assassina que eles consideram o exemplo da escuridão. Que vive nas sombras, se alimenta do medo e mata quem cruza seu caminho, exceto que eles não sabem que ela é apenas uma mulher que é a definição de beleza e dor. Que trabalha para o Diabo!

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