Capítulo 6
Os meses passaram sem nós. Estávamos tão envolvidos em viver nossas vidas. Quando chegou a formatura do Kai, três anos depois, eu tinha a vida perfeita. Os amigos perfeitos e o namorado perfeito.
Eu tentava evitar o Killian. Ele sempre agia estranho perto de mim, especialmente nas noites em que o Kai saía com os amigos.
Agora estou sentada no meu quarto falando ao telefone com o Greyson. Outra noite normal.
"Você tem certeza que não quer vir hoje? Vai ser muito legal," ele diz do outro lado da linha.
"Não estou me sentindo bem," suspiro. "Deixa ele se divertir, não quero estragar a noite dele."
Ele suspira, mas sei que desiste de me convencer.
"Me avisa se mudar de ideia."
"Ok." Desligo a chamada e me levanto, caminhando para fora do meu quarto e indo para o banheiro.
Meus pais saíram com a Sara e o Brad. Eu olho para a caixa no balcão do banheiro.
Só faz isso, sua covarde.
Eu a rasgo e me sento no vaso sanitário. Minhas mãos tremem ridiculamente.
Flashes da noite do baile inundam minha cabeça. Uma noite fomos descuidados e agora podemos estar pagando o preço. Coloco o teste no balcão e decido tomar um banho.
Fico debaixo da água quente e deixo ela me lavar. Fico lá até a água esfriar. Saio e visto uma calça jeans e uma regata. Penteio meu cabelo e passo um pouco de maquiagem.
Então olho para o teste.
Faço as contas na minha cabeça. Me encosto no balcão sem fôlego.
17 anos. No último ano do ensino médio. E grávida. Aperto o teste na mão e vou para o meu quarto. Sei o que tenho que fazer. Hoje à noite. Agora. Antes que eu desista.
Pego minhas chaves e calço meus sapatos, indo para o carro.
É uma viagem de vinte minutos. Tenho vinte minutos antes de destruir a vida dele. Todo o futuro dele. Hoje à noite tudo vai mudar.
Para sempre.
Penso em voltar, mas já estou na metade do caminho. Aperto o volante. O teste está no bolso do meu moletom.
Talvez seja falso. Deus, espero que seja.
Estaciono na beira da estrada. Olhando para todas as pessoas na praia. Tenho que encontrá-lo.
Espero que ele ainda não esteja bêbado. Na verdade, meio que espero que esteja.
Sou uma covarde. Eu sei disso.
Saio do carro e chego à beira das árvores quando o vejo. Ele está com os amigos, rindo e conversando. Suspiro e dou mais um passo.
Congelo quando a Cara se aproxima e envolve a cintura dele com as mãos. Eu espero.
Vamos, Kai. Faça a coisa certa. Penso comigo mesma. Em vez disso, ele se inclina para ela e sorri mais.
Tento me mover, mas não consigo. O sangue corre para os meus ouvidos e noto o Killian parado perto da fogueira. Me observando. Ele está sempre me observando.
Mas seu rosto está inexpressivo.
Meu telefone vibra e eu o desbloqueio. Uma foto. Não vejo a imagem, apenas as palavras antes de meu estômago revirar.
'O que sua namorada diria, Casanova?'
Minha mão treme. Eu rolo a tela para baixo e vejo a Cara e o Kai se beijando no sofá.
Corro em direção à lixeira e vomito. Todo o meu jantar está sendo expelido. Meu coração está se partindo.
Então eu ouço. E quero desesperadamente desaparecer. Está mais perto agora.
"Cass, você veio!" Greyson diz, alcançando-me. "O que aconteceu?" Ele pergunta.
Antes que eu possa responder, os celulares ao redor começam a tocar. Ele olha. Olha de novo. Então ele cerra os punhos.
"Aquele filho da puta." Ele rosna.
"Não, Grey, por favor. Eu só quero ir para casa."
"Eu vou matá-lo!"
Respiro fundo antes de me endireitar.
"Greyson Evers, me escute. Eu vou para casa. Você vai curtir a festa e amanhã lidamos com tudo isso." Eu faço um gesto com a mão.
"Você está bêbada?" Ele pergunta. Eu entendo o porquê. Estou calma. Calma demais. A onda de calma.
"Eu queria." Eu rio amargamente.
"Vou pegar uma bebida para você."
"Não. Eu não posso."
Ele me encara por um segundo e vejo a ficha cair. Minhas mudanças de humor. Meu apetite. Tudo.
"Não. Cassie, não." Ele implora segurando meu rosto.
"Está tudo bem. Vai." Mas ele se tensa e isso me deixa tensa. "Vai." Eu sussurro novamente. Ele trava os olhos nos meus e acena lentamente.
"Isso não acabou. Vou checar você mais tarde. Ainda tenho a chave." Eu aceno e ele se afasta.
Eu me viro, pronta para encarar a situação.
"Cass, me deixa explicar. Ok?" Ele diz apressadamente. Eu quero rir. Quero gritar e berrar. Quero chorar. Mas só consigo olhar para ele.
"Estou tão cansada de ouvir você explicar. O tempo todo. Tudo. Não há explicação para isso. Nenhuma." Eu digo, me afastando dele. Seu rosto cai. "Você a ama?" Eu pergunto. Ele não responde. Ele está me olhando como se eu fosse a errada.
Eu me viro e dou dois passos e ele fala apressadamente.
"Eu me importo com ela. Mas eu amo você." Eu já estou balançando a cabeça. Não deveria ser assim. Não deveria ser tão difícil. Mas todos estão rindo de mim agora. Porque é assim que é agora.
Chego ao meu carro quando uma mão me agarra.
Eu me viro para gritar e paro.
"Killian. O que você quer?"
"Deixe-me te levar para casa."
"Estou bem, não bebi nada." Ele parece não acreditar em mim. "Killian. EU NÃO POSSO beber álcool."
"Merda." Ele respira, passando a mão pelo cabelo. "Você está chateada, deixe-me dirigir. Vou me sentir melhor."
"Estou bem. O Greyson vai vir mais tarde. Eu vou ficar bem." Ele parece querer discutir, mas eu já estou ligando o carro.
Meu corpo está tremendo e minha mente está uma bagunça enquanto me afasto dele pela última vez.
Está chovendo agora. Estou focando demais na estrada.
Pensando nos últimos anos. Pensando em todas as vezes que o Greyson foi estranho e o Killian foi cruel.
Eu perdi todos os sinais. A noite do baile inunda minha mente novamente. Junto com a noite em que dei minha virgindade a ele.
Ouço uma buzina e vejo faróis piscando.
É tarde demais.
Algo me atinge. Forte. E sou tomada pela escuridão.