




Capítulo 4
Leah havia deixado um papel preso na geladeira, com o endereço e quais trajetos Evangeline precisaria pegar. Ela já tinha dado instruções sobre como queria que sua filha deixasse o cabelo vermelho e cacheado. Evie precisaria prendê-lo em um coque arrumado e nenhum fio poderia estar fora do lugar.
"O que eu disse sobre o seu cabelo?" Leah pergunta, assim que vê sua filha no portão da mansão.
"Você sabe que meu cabelo não fica no lugar. Especialmente depois de dois ônibus e o metrô."
O segurança deixa Leah decidir o que fazer lá dentro. Ela então agarra o braço da filha e a puxa, enquanto a garota admira a imensidão da casa à sua frente.
Elas entram pelos fundos, que levam diretamente à cozinha gigantesca. Várias pessoas iam e vinham, apressadas e esbarrando umas nas outras, ocupadas enchendo bandejas. Os convidados começariam a chegar a qualquer momento.
"Carol?" Leah chama a mulher mais velha que estava gritando com outra pessoa. Carol era a chefe daquela cozinha e organizava qualquer festa ali. "Esta é Evangeline. Minha filha."
Carol nem olhou na direção de Evie. Pegou um plástico filme e jogou na mão de Leah.
"Você sabe onde é o banheiro... NÃO USE ESSE VINHO!"
A velha deixa mãe e filha para trás e vai atrás da pessoa que tinha pegado um dos vinhos mais caros que aquela família guardava.
"Vamos, Evie."
Leah agarra o braço da filha e a leva para o minúsculo banheiro dos funcionários. Não havia nada além de um vaso sanitário, uma pia e um espelho. Ninguém tinha permissão para tomar banho ali. Nem mesmo Carol, que trabalhava para aquela família há mais de vinte anos.
"Vista isso."
Evangeline tira o tecido preto da sacola e quase ri. Parecia uma fantasia sexual, tão curto.
"Isso é uma piada?" ela pergunta, olhando para a mãe. "Não tem nada mais comprido?"
"Evangeline, você quer ou não o dinheiro que esse trabalho vai trazer?"
"Quero, mas..."
"Então cale a boca e se vista."
Leah não tinha paciência para nada e isso incluía sua filha. Ela não a odiava, mas também não conseguia sentir amor de mãe pela garota. O pai de Evangeline as abandonou naquele parque de trailers quando a vida começou a ficar complicada. E embora soubesse que sua filha não tinha nada a ver com a partida do marido, Leah achava mais fácil culpá-la do que ter qualquer outro motivo.
Evangeline não pôde evitar a cara de nojo quando terminou de vestir o pequeno uniforme. Ela abotoou a blusa até o pescoço, o que fez Leah revirar os olhos enquanto prendia o avental branco.
"Isso é tão..." ela diz, abrindo os primeiros botões, o que deixou os seios de Evangeline à mostra. "Agora sim! Haverá homens ricos nesta festa. Talvez você ganhe uma gorjeta..."
"Mãe! Droga..."
Antes que as duas pudessem começar uma DR familiar, Carol bate na porta do banheiro e as apressa para sair.
Mãe e filha são colocadas em uma fila única, onde bandejas de champanhe são entregues a elas, enquanto a chefe da cozinha começa a listar o que elas não poderiam fazer. Em resumo, tudo o que deveriam dizer era: boa noite, está servido? e sem muito contato visual.
Quando começaram a entrar no ambiente da festa, Evie não conseguiu conter a curiosidade de observar tudo. As pinturas, os vasos caros, o tapete persa em que estava pisando. E enquanto repetia a frase que Carol havia ensinado, Evangeline continuava olhando para a escada que levava ao segundo andar.
Um dos seus maiores defeitos era ser curiosa. Desde que sua mãe mencionou sobre o segundo andar e proibiu-a de ir lá, isso era a única coisa que passava pela mente de Evie.
"Isso é champanhe?" Uma voz alta e rouca soprou na nuca de Evangeline enquanto ela olhava para a escada.
Quase derrubando a bandeja e as três taças restantes, ela se vira e encara o homem sedento. Ela tenta não se intimidar pelo olhar forte e penetrante que ele tinha. Ou como ele parecia extremamente atraente naquele terno, que parecia mais caro do que o trailer em que Evie morava.
"Sim." Ela finalmente responde, dando uma leve tosse. "Está servido, senhor?"
"Por favor. Sem essa de senhor. Eu sou Alec. E você?"
Evangeline teria respondido, mas o olhar assustador de Carol do outro lado da sala a fez sorrir e se afastar silenciosamente.
Enquanto ela se virava, Alec a seguiu com o olhar. Seus olhos primeiro focaram no seu traseiro ligeiramente empinado, por causa daquela saia rodada, mas o que mais chamou sua atenção foi o cabelo vermelho e desgrenhado.
Ele fez isso por uma hora inteira. Enquanto ela caminhava entre os convidados, ele a seguia furtivamente. E sendo a garota esperta que sempre foi, Evangeline percebeu. Então, da mesma forma que ele a observava, ela começou a fazer o mesmo.
Evangeline estava parada com uma bandeja de canapés quando viu um homem se aproximando de Alec. Eles trocaram algumas palavras e então subiram a enorme escada. Não demorou muito para que mais alguns homens grandes de terno fizessem o mesmo.
Ela olha para outras pessoas, tentando encontrar um sinal de curiosidade nos rostos dos outros convidados, mas nenhum deles se importava ou olhava para a escada. Afinal, Evangeline era a única pessoa naquela casa que não sabia de quem era a festa, o que estavam celebrando ou o que aqueles homens estavam fazendo no andar de cima. Mas ela estava prestes a descobrir.
Evie pegou uma bandeja de taças de champanhe e tinha a desculpa perfeita para bisbilhotar. Ela sobe as escadas calmamente, tentando não chamar atenção ou derrubar o que estava em suas mãos.
Assim que chegou ao topo da escada, Evangeline sentiu que a fina faixa que segurava seu cabelo poderia quebrar a qualquer momento.
Ela caminhou até a famosa porta proibida e não pensou duas vezes antes de empurrá-la. As duas imensas portas de madeira se abriram para os lados e fizeram todos os olhos ao redor da mesa se voltarem para ela.