




Capítulo 2
Mas graças à sua maldita mãe, Leah, tudo estava arruinado. Assim como ela arruinou o baile de Natal, aparecendo bêbada. Assim como ela arruinou a formatura da escola, aparecendo como acompanhante de um dos alunos.
"Eu a odeio!" Evie resmungou, enquanto Felippa acariciava seu cabelo cacheado. "O que eu fiz para merecer uma mãe como ela?"
"Nada, Evie. Você não tem culpa de ela ser uma mãe de merda."
Soluçando, Evangeline se afastou da amiga e a encarou.
"O que eu vou fazer, Felps? Era o meu sonho naquela caixa. Não tem como eu conseguir aquele dinheiro a tempo."
A garota de cabelo tingido de vermelho, precisando desesperadamente de um retoque na raiz, levantou-se e começou a andar de um lado para o outro.
"Bem, tem uma coisa, mas você não vai gostar."
"O quê?"
"Você se lembra do JJ?"
Evie não precisou fazer nenhum esforço. Ela estava se referindo ao garoto negro, magro e de olhos claros com quem Felippa teve um tórrido caso de amor por um ano. Ninguém sabia o nome dele; simplesmente o chamavam de JJ. Nem mesmo Felippa sabia.
"O que tem ele?" Evangeline deu de ombros.
Ela não pensou por um momento que esse garoto poderia ajudá-la.
"Ele entrou para a gangue da rua de baixo há algum tempo."
"Sério?" Felippa assentiu. "A gente se fala todo dia, e você nunca me contou."
"Não era relevante, de qualquer forma. Ele conhece alguém que empresta dinheiro. Bem, com juros, mas empresta."
"Um agiota?"
"Sim, mas não exatamente. Eu não sei quem é a pessoa que empresta. Só sei que existe."
Evangeline começou a pesar os prós e contras dessa ideia. Os prós eram perfeitos. Ela se apresentaria no recital, alguém se apaixonaria por ela e a levaria em turnê. O contra era só um. Ela seria morta se não pagasse o cara.
"De jeito nenhum," ela disse, tentando afastar aquele desejo tentador de aceitar. "Eu quero estar viva para ser famosa."
"Ah, minha amiga, eu..."
A porta do trailer foi aberta abruptamente, fazendo as duas amigas pararem de falar. Leah, a mãe de Evangeline, entrou no pequeno espaço, cambaleando e segurando um saco de papel nas mãos.
"Filha!" Leah sorriu amplamente e tentou abraçar a garota, que se afastou. "O que é isso? O que aconteceu?"
Evangeline olhou para Felippa, que entendeu imediatamente. A garota sorriu timidamente para a mulher mais velha e se levantou, indo em direção à porta.
"Se você mudar de ideia, me avisa."
Evie balançou a cabeça, mas não tinha intenção de pegar dinheiro emprestado de ninguém. Ela tinha seu próprio dinheiro. Sua mãe teria que devolvê-lo.
"O que deu nessa garota?"
"O que deu em você!" Evangeline se encostou na parede fina do trailer e confrontou sua mãe, que estava sentada em uma cadeira. "Onde diabos está o meu dinheiro?"
"O seu o quê?"
Leah semicerrava os olhos e encarava a filha. Ela estava bêbada, mas ainda lúcida o suficiente para falar algumas verdades para sua herdeira.
"Meu dinheiro!"
"Menina, você come e dorme aqui de graça. Não existe esse negócio de seu dinheiro. Eu precisei, então peguei."
Evangeline sentiu seu sangue ferver e explodir em sua cabeça. Ela soltou um grito alto que Felippa pôde ouvir de seu próprio trailer.
"O QUE HÁ DE ERRADO COM VOCÊ?" ela continuou gritando. "O DINHEIRO ERA MEU! MEU!"
"Ah, Evangeline! Me poupe." Leah se levantou e abriu a geladeira, procurando algo para comer. "Olha isso. Sem comida. E você guardando dinheiro para nada."
"Nada? Leah, aquele dinheiro era para o recital! Droga!"
"Que se dane essa bobagem de recital. Em vez de procurar algo melhor para ganhar dinheiro, você perde tempo tocando essa porcaria."
Enquanto caminhava em direção ao seu quarto, Leah chutou o estojo do instrumento de Evangeline, deixando-a ainda mais furiosa.
"PARE DE CHUTAR!" Evie se agachou e segurou seu instrumento, abraçando-o, tentando protegê-lo de mais agressões. "Só porque sua vida é uma bagunça não significa que eu tenha que aceitar que a minha seja."
"Blá, blá, blá. Chega de falar. Eu preciso tomar um banho e ir para a cama. Tenho trabalho cedo amanhã."
"Por favor, mãe." Os olhos de Evie ardiam tanto que ela não conseguiu segurar mais as lágrimas. "É meu sonho. Eu estava guardando aquele dinheiro há tanto tempo."
Leah não se comoveu com as lágrimas da filha. Para ela, as únicas coisas que importavam eram suas bebidas e os vários homens com quem ela transava. Seu maior sonho era que sua filha usasse sua beleza para fisgar um homem rico e tirá-las daquela miséria.
Mas, ao contrário dos desejos de sua mãe, Evie tinha planos completamente diferentes.
"Eu já gastei." Foi a única coisa que Leah disse antes de se trancar no banheiro.
Sabendo que sua mãe se esconderia no banheiro até adormecer, Evangeline rastejou até a cama e se deitou, chorando copiosamente enquanto ainda segurava seu instrumento musical. Faminta e triste por ter que desistir de algo que amava tanto, Evangeline adormeceu, tentando sonhar com uma vida onde sua mãe não fosse uma pária.
[...]
No dia seguinte, a garota passou o dia inteiro deitada, lamentando a vida que levava. Felippa bateu na porta algumas vezes, mas como Evie não fez nenhum barulho, ela assumiu que sua amiga estava fora.
À noite, quando Leah voltou do trabalho como faxineira, trouxe sobras do almoço servido em seu local de trabalho. Ao ver sua filha ainda deitada na cama, vestindo as mesmas roupas do dia anterior, um vislumbre da mãe que ela era apareceu.
"Vai ter uma festa amanhã na mansão onde eu trabalho," ela disse, aproximando-se da cama onde Evangeline estava deitada. "Eles precisam de pessoas para servir os convidados, e eu pensei em você. Está a fim?"
Evangeline nem pensou duas vezes. Ela rapidamente se sentou na cama e encarou sua mãe. Pela primeira vez em anos, sentiu que a mulher à sua frente estava sendo sincera.
"O que você quer dizer?" ela perguntou.