




4
Parei em frente à porta do laboratório de biologia, recuperando o fôlego depois de subir seis lances de escada em trinta segundos. E também respirando fundo para aguentar alguns minutos com aquele ignorante do Cassano.
"O que você está enrolando, Velarde?", ouvi aquela voz irritantemente arrogante perguntar, justo quando soltei meu último suspiro derrotado. "Não sei você, mas eu não tenho o dia todo."
Nem vou mencionar quantas maneiras e palavras diferentes eu o xinguei mentalmente antes de girar a maçaneta de forma rude e entrar na sala. Sentei-me no banco mais distante dele e coloquei meu kit no balcão, sem nem olhar para o verme esparramado na cadeira. Ao me inclinar para pegar a caneta dentro do estojo, só para não ter que encará-lo, não pude deixar de notar um sorrisinho ridículo no rosto dele.
"Você estudou?" aquela voz nojenta perguntou, achando que era o dono do mundo, como sempre. Como se eu precisasse, e como se eu tivesse tempo para estudar em quarenta minutos.
"Não sei você, mas eu não tenho o dia todo," respondi, rude, ainda sem encará-lo.
Sem resposta, obviamente, e parecendo um macarrão sem molho, ele se levantou e veio em minha direção com a prova nas mãos. Parou bem atrás de mim e colocou os braços no balcão, um de cada lado do meu corpo.
"Você deve realmente achar que eu não gosto de você."
Ignorei aquela frase desnecessária, encolhendo-me para reduzir a proximidade entre nós, e puxei a prova debaixo da mão dele. Comecei a preencher o cabeçalho, e antes que pudesse fazer qualquer coisa, senti a respiração quente dele muito perto do meu ouvido.
"E isso me deixa cada vez mais fissurado em você."
Parei de escrever, e uma onda de medo tomou conta de mim. Abri a boca para dizer algumas boas para ele, mas fui interrompida pelo braço dele, que imediatamente envolveu minha cintura com força, aumentando meu pânico.
"Me solta!" exclamei, e sem pensar, enfiei minha caneta de ponta fina no braço dele. Nesse momento, ele soltou um suspiro pesado, tentando não gritar de dor, e se afastou. Peguei meu kit em desespero, e a última coisa que vi antes de sair do laboratório, minhas pernas tremendo de pavor, foi ele puxando a caneta que estava cravada no braço.
"Bom dia, turma," disse a professora Keaton ao entrar na sala, e ao passar pela porta, ela deu uma boa olhada no grupo de atletas da classe, que retribuíram o olhar da mesma forma. A Sra. Keaton era nossa professora de inglês, bem conhecida na escola por seu ótimo método de ensino e por suas atividades extracurriculares de sucesso. Atividades que incluíam, claro, flertar com os alunos. Não devia ser fácil aguentar toda aquela testosterona fresca provocando-a aos 25 anos. Loira, alta e invejada da cabeça aos pés, ela parecia uma modelo, e segundo os boatos, um certo professor estava apaixonado por ela.
É ele. Steve Suan. Nem sinto vontade de voar nela quando vejo os dois conversando nos corredores, sabe.
Voltando aos fatos, a Sra. Keaton logo começou a escrever o assunto, e como eu estava um pouco lenta para copiar, comecei a escrever. Depois de quinze minutos e um quadro cheio de material, a professora sentou-se em sua cadeira e de lá observou os idiotas musculosos que se sentavam no fundo e riam de alguma besteira que um deles havia dito. Sobre futebol, claro, porque era o único assunto que eles entendiam a ponto de rir de alguma piada sobre isso.
Particularmente, eu não via nada de especial na Srta. Keaton. Por mais que ela fosse bonita e aparentemente simpática, algo nela me incomodava. Além do fato de que ela poderia ter o Sr. Suan ajoelhado aos seus pés sempre que quisesse. Não sei, meu santo não batia com o dela, acho que era isso.
"Com licença, Keaton," ouvi uma voz familiar falar da porta, e quando levantei o olhar da folha, me deparei com o último professor que eu queria ver.
"Entre, Cassano," ela sorriu, toda gentil, e ele rapidamente se aproximou dela, encarando a turma.
"Tenho um recado. Os alunos que estão recuperando biologia de laboratório farão a prova na última aula de hoje. Procurem o Professor Turner e façam a prova na aula dele."
Quando olhei para o quadro, tentando continuar copiando sem prestar atenção em ninguém ao meu redor, percebi que todos estavam olhando para mim. Lancei olhares irritados para o lado e encarei o Professor Cassano, que retribuiu meu olhar de forma raivosa. Sua camisa branca, meio justa ao corpo, me distraiu por alguns milissegundos, até que meus olhos se fixaram em seu antebraço. Havia um curativo ali, bem onde eu o havia machucado com a caneta ontem. Fiz aquela cara legítima de 'vai se ferrar' e comecei a balançar uma caneta entre os dedos, em um claro sinal de que, se ele estivesse tramando algo, eu ainda tinha várias canetas de ponta fina para enfiar onde eu quisesse.
Entendendo a mensagem, ele rapidamente saiu da sala, agradecendo à Sra. Keaton. Segurei uma risada gostosa e continuei copiando, com um sorriso malicioso no rosto. Canetas de ponta fina eram grandes aliadas na luta contra professores desagradáveis, fica a dica.
Naquele dia, fiz a prova de recuperação na aula do Turner, nosso professor de história, sem problemas. Como a aula dele era no quinto andar, decidi chamar o elevador para descer e ir embora. Pode me chamar de sedentária, eu deixo. Assim que o elevador chegou e a porta se abriu, me deparei com a cena mais confusa do meu dia. O Sr. Suan estava conversando e rindo animadamente com o Professor Cassano dentro do elevador, e assim que me viram, pararam de falar. Cada um teve uma reação diferente: o Sr. Suan sorriu, parecendo feliz em me ver; Cassano abaixou o olhar raivoso para o chão e depois ficou olhando para o relógio, fingindo estar interessado nele.
"Bom dia, Velarde," cumprimentou o Professor Suan, e se não fosse por aquele sorriso dele, eu não teria entrado naquele elevador. É meio perigoso entrar em um cubículo com um professor que te ama e outro que te odeia, ainda mais quando não há uma câmera filmando tudo.
"Bom dia, professor," sorri, um pouco nervosa, parando entre eles e notando que havia dois botões iluminados no painel, um indicando o sétimo andar e o outro indicando o primeiro andar. Acho que nunca torci tanto para ficar sozinha com o Sr. Suan, e não acredito que superei todas as vezes que desejei isso. Agora que eu já estava dentro, tinha que esperar para ver quem me acompanharia até o primeiro andar. E talvez aguentar alguns segundos estando a menos de um metro de distância de um certo professor idiota durante a descida.
O elevador subiu, e quando as portas se abriram no sétimo andar, quase agarrei o braço dele quando o Sr. Suan deu um passo em direção à porta. E só para piorar, não havia ninguém esperando para entrar e me salvar desse martírio.