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Na verdade, eu nem sei por que insisti tanto em fazer algo naquela aula idiota. A dura realidade era: não importava o quanto eu me concentrasse e fizesse o relatório perfeito, ele sempre me dava, no máximo, um terço da nota. Um terço da nota, você sabe quanto isso representa? Quase nada! E aquele cara nunca me deu mais do que um C nos meus relatórios! Você acredita que uma pessoa que tira A+ em biologia teórica tira C em biologia de laboratório? Meio estranho, não acha? Bem, a diretora não achava. Na verdade, ela discordava tanto que continuava ligando para minha mãe na escola porque eu não conseguia tirar uma nota igualmente boa no laboratório o ano todo e sugeria que minha mãe me ajudasse e me incentivasse a estudar mais. Eu vou incentivar essa diretoria a enfiar isso no rabo, com certeza.
De qualquer forma, logo a aula acabou, a tortura semanal chegou ao fim, e eu felizmente (por dentro, porque por fora eu ainda parecia desgostosa) entreguei mais um dos meus relatórios perfeitos. Enquanto guardava minhas canetas no estojo, notei um movimento estranho atrás de mim e pulei de susto quando ouvi alguém falando comigo de tão perto.
"Aprenda a fazer as coisas só quando mandarem, Lillie." O Sr. Cassano sussurrou, atrás de mim, com sua voz maníaca de sempre. Recuperando-me do susto, olhei para ele com um olhar de nojo e respondi, em um tom rude:
"Primeiro, nem você nem ninguém me diz o que fazer. E segundo, eu não te dei a liberdade de me chamar pelo nome, e não pretendo dar isso a você algum dia."
Voltei minha atenção para o zíper do meu estojo, que tinha emperrado naquele momento tão agradável, e só então percebi que o laboratório estava vazio, exceto por nós dois. Fiquei mais alerta do que antes, pronta para enfiar uma caneta no olho dele se me sentisse ameaçada ou algo assim, mas tudo o que ele disse, com uma risada pervertida enquanto me olhava de cima a baixo, foi:
"Um dia você ainda vai me dar muito mais do que a liberdade de te chamar pelo nome... Lil."
Fiquei paralisada ao ouvir aquela frase, ainda mais pronunciando meu apelido de forma tão suja. Incapaz de conter meu impulso, dei um tapa forte no rosto dele. Pego não tanto de surpresa, já que ele devia estar acostumado a apanhar de alguns dos alunos mais resistentes, ele colocou uma mão no lado afetado do rosto e olhou de volta para mim, com uma risada debochada no rosto.
"Eu não sabia que você era do tipo agressiva, Velarde," ele sorriu, me deixando ainda mais irritada. "Vai ser ainda mais prazeroso quando você vier para a recuperação depois do almoço. Sozinha, como sempre, já que você é a única que consegue fazer a recuperação no laboratório."
Eu quase voei no pescoço daquele pedófilo nojento. Recuperação de novo? Pelo amor de Deus, por que ele não podia simplesmente me dar uma nota justa? Só porque eu não queria dar para ele? Que inferno, é tão difícil entender que ele consegue me deixar mais irritada a cada dia só pelo fato de existir?
"Por que você não procura uma namorada, senhor?" perguntei, no tom mais educadamente irritado que consegui, "Não sei, talvez essa sua obsessão por colegiais não seja uma falta de mulheres da sua idade que possam te suportar sem ganhar uma recompensa por isso."
Olhei bem para a expressão no rosto dele e saí do laboratório, com um sorriso triunfante no rosto. Ele pode ser fedido e ter olhos bonitos, mas ele não é e nunca será metade do homem perfeito que o Professor Suan é.
Falando nele, olha como ele é fofo saindo da sala do primeiro ano, todo cercado por alunos de shorts minúsculos e maquiagem pesada. Aspirantes a Kelly Smithers? Isso mesmo.
Passei por ele, virando logo em seguida para descer as escadas, e assim que ele me viu, abriu um sorriso de orelha a orelha. Era só impressão minha, ou ele de repente esquentou depois daquela bela demonstração de alegria?
"Você ia passar sem me cumprimentar, hein, Velarde?" O Sr. Suan brincou, descendo rapidamente as escadas e se livrando dos pirralhos com suas passadas longas. Soltei uma risada envergonhada, tentando não estragar tudo de novo.
"Imagina, professor," respondi, me perguntando se olhava para os degraus para não cair, ou para ele e ter uma arritmia. "Eu estava distraída pensando em outras coisas, nem te vi ali."
"Acho que sei qual é o seu defeito," ele disse, torcendo a boca e apertando os olhos, "Você pensa demais o tempo todo."
"Como assim, professor?", perguntei, com o coração batendo forte no peito, Deus sabe por quê. Ok, eu sei por quê.
"Talvez você devesse pensar menos e se arriscar mais," o Sr. Suan disse com um sorriso esperto enquanto saíamos do prédio.
Oi, foi só impressão minha ou ele acabou de me dar uma cantada? Meu Deus, isso sim é um homem! Sorri para ele, envergonhada, e sem dizer mais nada, ele apenas continuou andando em direção à saída lotada da escola. Observei sua cabecinha desaparecer na multidão de alunos, meu coração acelerado, até ouvir uma voz falando comigo.
"Minha melhor amiga e a única aluna decente dessa escola, Anne," ela reclamou, parando bem na minha frente e me impedindo de ver o Sr. Suan entrando no carro.
"Desculpa, Anne," gaguejei, esticando o pescoço para tentar vê-lo, mas o carro dele rapidamente acelerou e desapareceu na rua cheia de veículos dos pais.
"O que, o que você está olhando?" ela perguntou, olhando por cima do ombro, e eu apenas balancei a cabeça negativamente.
"Eu estava procurando minha mãe," menti, o que agora não seria uma mentira tão grande já que realmente comecei a procurá-la, "Preciso sair o mais rápido possível hoje ou vou ter que fazer a prova de recuperação sem almoçar."
"Cassano te ferrou de novo?" ela adivinhou, revirando os olhos, e eu assenti, parecendo muito surpresa "Lillie, você já pensou em reclamar com a diretora?"
"A cada dois meses minha mãe é obrigada a vir aqui graças àquele pedaço de merda para ver o que há de errado comigo, mas tudo o que a diretora faz é me dizer para estudar mais!"
Anne não sabia o que dizer. Eu tinha tentado de tudo, até mostrar meus relatórios para o Sr. Suan, mas tudo o que ele dizia era que os professores não podiam influenciar as notas das outras matérias, por mais absurdo que isso fosse. Vamos encarar, biologia, seja teórica ou de laboratório, era a mesma maldita matéria! Em resumo, o Sr. Cassano podia mentir, enrolar e ferrar com minha nota e ninguém podia fazer nada contra ele. Por que eu ainda estudo nessa escola, afinal?
"Se ao menos houvesse uma maneira de fazer essa cisma que ele tem com você desaparecer..." ouvi Anne murmurar, olhando para mim vagamente como se estivesse pensando alto.
"Há uma maneira," eu disse, irritada por ter que admitir, "Você sabe que o Cassano está sempre dando em cima de mim."
"Mas você não considera isso uma opção... Considera?" ela sussurrou, assustada, como se ninguém naquela escola tivesse pegado um professor pelo menos uma vez na vida "Quer dizer, você o odeia."
"Eu nunca poderia me imaginar em um diálogo amigável com aquele idiota," respondi, sendo muito sincera "Mas nunca é demais considerar isso como uma opção de emergência."
Vi o carro da minha mãe chegando e logo me despedi de Anne com um beijo na bochecha. Enquanto caminhava até o carro, pude ouvir a voz dela falando em um tom preocupado:
"Olha o que você vai fazer, hein!"
Revirei os olhos e entrei no carro, ignorando o que ela tinha dito. O que ela estava pensando? Que eu realmente me submeteria a qualquer tipo de relacionamento com o Cassano por causa de uma nota? Eu nunca faria uma coisa dessas, mesmo que significasse tirar A+ em todas as matérias sem nem pisar naquela escola. Um idiota embrulhado em um corpo bem definido e perfumado não vale o sacrifício, pode apostar.