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Ainda frustrado comigo mesmo, rapidamente arrumei minhas coisas para ir à última aula, que era no laboratório. Na minha escola, tínhamos duas frentes para física, química e biologia: as aulas teóricas na sala de aula e as aulas práticas nos laboratórios. Como nas aulas práticas os alunos aplicam seus conhecimentos teóricos em experimentos, você provavelmente deduziu que sou tão inteligente em biologia de laboratório quanto nas outras matérias. E sou mesmo. Mas eu realmente gostaria que alguém me explicasse um dia por que eu sempre, sempre reprovava nessa matéria.
A explicação que eu via como a única possível era que o professor do laboratório não gostava de mim. Infelizmente, o Sr. Suan não dava aulas práticas para minha turma, apenas teóricas. Nosso professor de laboratório era a pessoa mais insuportável, ignorante, nojenta, arrogante e patética que um homem pode ser. Ele sempre mantinha aquele ar superior em relação aos alunos, exceto pela vadia da Smithers, porque provavelmente ele já tinha transado com ela. E com três quartos das meninas da escola. Dormir com professores era quase uma rotina na minha escola.
Juro que não sei como essas meninas conseguem ver alguma qualidade nesse cara. Seu risinho de desprezo me irritava, aquela voz de quem está sempre zombando da sua cara me deixava louco, e eu realmente abominava suas piadas sem graça com as pessoas idiotas da minha turma. Em resumo, meu professor de biologia de laboratório era provavelmente o professor mais ridículo que você poderia encontrar naquela escola.
"Bom dia, professor," ouvi Kelly repetir, da mesma maneira que 50 minutos atrás, quando ela se sentou de frente para a bancada. A única diferença era que agora ela estava mascando um chiclete de uva. Como alguém pode ser um déjà-vu ambulante sem querer estourar os próprios miolos?
"Bom dia, Smithers," aquela voz arrastada de pervertido respondeu, aproximando-se meio indecentemente da garota com uma expressão que era, no mínimo, repugnante, "Eu ia perguntar como você está, mas sua saia já me mostrou que você continua tão bem quanto sempre."
Francamente, se fosse comigo, eu enfiaria minha mão na cara daquele pedaço de merda. Mas graças a Deus não era, então apenas ignorei os preliminares dos dois seres sem cérebro presentes no laboratório e comecei a copiar o relatório que já estava escrito no quadro-negro. Pelo menos esse professor tinha uma caligrafia um pouco mais compreensível. Provavelmente a única qualidade que ele tinha.
"Professor, o senhor vai entregar os relatórios das aulas passadas hoje para que possamos estudar para a prova?", perguntou Amy Houston, parecendo sonolenta. Acho que a única razão pela qual ela não dormia durante as aulas práticas era que os bancos costumavam ser limpos com alguns produtos aos quais Amy era alérgica. Sei disso porque um dia ela cochilou no meio da explicação e seu rosto ficou todo inchado e entupido só do lado que estava em contato com o banco. Aquele dia foi bem nojento, mas pelo menos agora Amy descobriu que tem colegas de classe e pode socializar com eles quando não está tão sonolenta.
"Com pressa, Houston?", Nicholas Cassano, meu professor de biologia de laboratório, zombou, com aquela voz de tédio rotineiro. "Se quiser, pode ir embora... E leve o Velarde com você."
Levantei os olhos do meu caderno para ele, sentindo nojo só de vê-lo sorrindo zombeteiramente para mim. Sem me mover, apenas respirei fundo e perguntei, juntando toda a educação que meus pais me deram:
"O que eu fiz desta vez?"
O professor Cassano, parado ao lado da principal vadia, continuou me olhando, como se estivesse me devorando com os olhos. Que merda, por que ele tem que me encarar assim toda aula? Acho que ele deve ter algum tipo de fetiche por pessoas que o odeiam.
"Eu não disse a ninguém para copiar o relatório do quadro-negro," ele respondeu, calmamente, caminhando lentamente em minha direção com um sorriso maligno no rosto, e antes que eu pudesse ver o que tinha acontecido, a folha onde eu já tinha copiado metade do quadro cheio estava amassada em suas mãos.
Ele abaixou o rosto para ficar na mesma altura que o meu, e eu imediatamente me afastei, focando toda a minha repulsa por ele apenas no olhar. Deus, aquele cara era insuportável! No meu último dia naquela escola, jurei a mim mesmo que iria atirar na cabeça dele com um bazuca. E esse pensamento ficava mais forte a cada dia. Embora fosse uma pena estragar aqueles olhos intensamente castanhos que sabiam exatamente como chamar a atenção para aquele rosto. Mas quem se importa com isso, afinal? Ah, é, eu não.
A turma toda assistia ao momento tenso em silêncio, e eu pude ver de relance que Smithers estava adorando minha tortura. O Sr. Cassano jogou a bolinha de papel que costumava ser meu relatório por cima do ombro, fazendo-a voar sem muito esforço, e murmurou debochadamente a frase que sempre usava comigo antes de me deixar em paz, desde que não houvesse motivo para me ridicularizar:
"Tudo de novo, Velarde."
Toda semana era o mesmo sofrimento. Felizmente, só tínhamos uma aula de biologia de laboratório por semana, o que já era muito para mim. Aguentar o desprezível Cassano zombando da minha cara pelos motivos mais idiotas e, pior, fazendo todos rirem era extremamente irritante. Eu tinha que ser quase um santo para ignorar aquele retardado e terminar meus relatórios.