Capítulo 6-Uma memória dolorosa
2 anos atrás
"Vamos descer até o lago," sugere Enyo. "Esse treino acabou com a gente."
"Papai! Vamos descer até o lago para nadar. Te vejo mais tarde!" grito para meu pai, que está treinando alguns filhotes.
"Ok, querida, te vejo na corrida da tarde," ele grita de volta.
Corro para a linha das árvores e tiro a roupa, colocando-as no pequeno galpão que usamos para guardar nossas coisas quando nos transformamos, para não rasgar nossas roupas.
Nos transformamos rapidamente, e deixo Enyo assumir o controle. Ela é tão graciosa, considerando seu tamanho. Corremos pela floresta a toda velocidade com pouco esforço. Em pouco tempo, estamos pulando na água fresca do lago.
Enyo nada até a beira do lago, e nos transformamos de volta. Mergulho novamente na água e flutuo de costas, aproveitando a frescura da água e o sol brilhando sobre nós.
"Você acha que o treino está indo bem com os filhotes?" pergunta Enyo.
"Se papai precisasse de nós, ele teria dito."
"Eu sei, mas ele parece estar desacelerando um pouco."
"Tenho certeza de que ele está bem. Além disso, é só o treino dos filhotes. Eles só fazem coisas de autodefesa. E pense, em mais dois anos, seremos Gamma," digo animada.
Fecho os olhos, aproveitando a tranquilidade da floresta, quando de repente ouço gritos vindo da direção dos prédios da alcateia.
"O que foi isso?" pergunta Enyo.
De repente, a voz do meu pai está na minha cabeça. "Athena! Estamos sendo atacados! Precisamos de você!"
"Oh, minha Deusa," digo baixinho, incapaz de me mover.
"ATHENA! MEXA-SE!" grita Enyo.
Saio do transe e nado rapidamente até a margem do rio, então nos transformamos e corremos em direção aos gritos. Enyo está em alerta máximo, escaneando a floresta e tentando focar sua audição na luta. A adrenalina nos empurra mais rápido e mais forte do que nunca. Finalmente, chegamos à clareira perto do campo de treinamento, e há lycans por toda parte. Vejo o lycan do meu pai, Constantine, tentando manter alguns lobos afastados dos filhotes que ele estava treinando quando saímos. Enyo corre em sua direção e se lança contra o lado de um dos lobos atacantes. Ela morde o lado do pescoço do macho enquanto rolamos, e caímos em cima dele, ganhando vantagem. Ela levanta a pata e golpeia forte o rosto do lobo, cortando-o profundamente com suas garras.
"Enyo! Leve esses filhotes para o ginásio e tranque-os lá onde estarão seguros!" Constantine nos ordena. Enyo acena com a cabeça e vai até as crianças que parecem aterrorizadas e estão chorando.
"Venham comigo, pessoal. Vamos entrar onde é seguro," ela se comunica mentalmente com eles.
Eles acenam com a cabeça, e corremos para dentro do ginásio. Eu me transformo de volta e levo as crianças para a sala de armazenamento nos fundos do ginásio. Ajoelho-me na frente delas e tento acalmá-las. "Está tudo bem, pessoal. Vocês estarão seguros aqui. Todos os nossos guerreiros vão proteger vocês. Eu prometo." Bagunço o cabelo de um dos meninos, então me levanto. "Alguém virá buscar vocês em breve, ok? Fiquem juntos, sejam o mais silenciosos possível e mantenham a calma. Conseguem fazer isso?" pergunto a eles.
Eles acenam com a cabeça, e eu lhes dou um sorriso, então saio e tranco a porta. Corro até as portas principais do ginásio e as tranco também. Depois nos transformamos de volta e voltamos para a luta.
Congelo quando saímos. A cena diante de nós é puro caos. Os gritos e ganidos de humanos e lobos feridos enchem o ar, e sangue e corpos cobrem nosso campo que antes era verde. Os sons primitivos de lobos lutando arrepiam os pelos da minha nuca, e começo a entrar em pânico.
"Podemos fazer isso, Athena. É para isso que treinamos a vida toda. Precisamos proteger nossa alcateia!" A voz de Enyo me desperta do transe, e pulamos para a ação.
Entrego o controle a Enyo, que corre em direção a um grupo de nossos membros que estão cercados por quatro lobos. Ela se livra de um com facilidade, agarrando-o pela nuca e arremessando-o contra uma árvore próxima, o estalo alto de sua coluna fazendo-o ganir. Os outros três lobos voltam sua atenção para Enyo, que solta um rosnado ameaçador enquanto espera que um deles faça um movimento. Eles tentam cercá-la, mas ela ataca o maior deles e o derruba antes que possam. Ela crava suas mandíbulas na garganta do macho e olha para os outros dois lobos. Ela rosna como um aviso e depois quebra o pescoço do macho com força dominante. Os outros dois lobos ganem e fogem para a floresta.
"Estão descendo da montanha! Precisamos de mais guerreiros aqui!" O segundo em comando do meu pai, Alex, se comunica mentalmente.
"Enyo! Leve seu esquadrão e vá ajudá-los!" Constantine ordena.
Enyo uiva alto para convocar seu esquadrão de guerreiros, então corre em direção a Alex na base da Montanha do Pequeno Lobo. Enquanto ela avança pela floresta densa, os guerreiros sob o comando de Enyo nos alcançam. Enyo olha para a esquerda e vê Ryna, nosso melhor amigo. Seu lobo, Alaster, é de um lindo tom de cinza, e só de vê-lo me sinto melhor.
"O que diabos está acontecendo, Athena?" pergunta Ryna.
"Não sei, Ry. Mas precisamos chegar até o Tio Alex," digo. Alaster acena com a cabeça, e continuamos correndo.
Chegamos à localização de Alex 15 minutos depois, e há corpos por toda parte. Enyo entra direto na luta e derruba um lobo maltrapilho que está atacando um de nossos jovens guerreiros. Ela o joga no chão, e ele bate a cabeça em uma pedra, morrendo instantaneamente.
"Enyo! Ajax está em apuros!" Alaster grita através do elo mental.
Ela vira a cabeça procurando o lobo arenoso de Alex, Ajax, e o vê preso por um grande guerreiro.
"Oh, Deusa! Ajax!" grito, e Enyo corre em direção a eles. Ajax ganhe enquanto o guerreiro o golpeia no rosto. Enyo o agarra pela garganta e o puxa violentamente de cima de Ajax, justo quando o guerreiro está prestes a atacar novamente. Ela então o prende no chão e rasga sua garganta antes que ele possa fazer outro movimento.
Ouço Ajax gemer no chão, mas suas feridas estão lentamente se curando. Enyo se aproxima e lambe seu rosto. "Vocês estão bem?" Enyo pergunta.
"Você acabou de salvar nossas vidas. Estamos mais do que bem," Ajax diz e lambe nosso rosto de volta.
Olhamos ao redor enquanto os últimos lobos são eliminados, sem mais nenhum descendo da montanha.
"Sou só eu, ou alguns desses lobos eram pequenos demais para serem guerreiros?" Enyo pergunta a Ajax.
"Definitivamente não eram todos guerreiros. Eles eram pequenos e pareciam desleixados," Ajax responde.
"Podem ser de uma alcateia de baixo escalão. Mas há muitos deles, e estão organizados. Precisamos voltar para a alcateia," digo a eles.
Enquanto estamos rapidamente organizando para que dois dos jovens guerreiros levem nossos feridos ao hospital da alcateia, todos de repente caímos de joelhos, e meu coração parece estar sendo arrancado do peito quando um uivo penetrante enche o ar, vindo da direção de casa. Tento recuperar o fôlego enquanto Enyo anda de um lado para o outro na minha mente, e olho ao redor para os outros guerreiros que seguram seus peitos com pânico nos olhos. Quando mais uivos enchem o ar, percebo que o Alpha Niko foi morto.
Todos soltamos um uivo de partir o coração, nos transformamos e corremos de volta para casa. A perda do nosso Alpha é excruciante. Tudo o que quero fazer é deitar e desistir, mas de alguma forma, conseguimos seguir em frente e, quando voltamos ao campo de treinamento, entro em pânico. É um banho de sangue. Há membros da alcateia mortos por todo o campo, e procuro por Constantine, mas não consigo encontrá-lo em lugar nenhum.
"Você vê meu pai, Ajax?" pergunto enquanto escaneio os campos de treinamento. Posso ouvir meu coração batendo nos meus ouvidos enquanto tento encontrar meu pai no meio da carnificina, mas não consigo ver seu lobo, nem ele, em lugar nenhum.
"Lá!" Ajax grita, apontando com a pata.
Vejo Constantine derrubando um lobo pequeno do outro lado do campo, e suspiro de alívio por ele estar bem. Mas isso dura pouco quando ouço um estrondo alto, como um trovão, e vejo Constantine cair no chão, se transformando enquanto cai.
"NÃO!!" Enyo e eu gritamos ao mesmo tempo e corremos para meu pai. Quando nos aproximamos dele, me transformo e me ajoelho ao seu lado. Rapidamente olho para ele para ver onde está ferido, e vejo que ele está sangrando no peito, aparentemente de um ferimento de bala.
"Papai! Papai, o que aconteceu?" pergunto, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto enquanto aplico pressão no ferimento. "POR QUE ELE NÃO ESTÁ SE CURANDO?!" grito para Alex, que se transformou e se ajoelhou ao meu lado.
"Acho que fui baleado. Por que usariam armas?" Meu pai diz com dor na voz.
Alex se inclina e cheira o ferimento, depois franze o nariz. "É acônito," ele diz.
Meu pai começa a tossir sangue. "Está me impedindo de me transformar... Não consigo me curar," ele diz enquanto tenta respirar.
Começo a chorar descontroladamente, "Papai, não! ONDE ESTÃO OS MÉDICOS DA ALCATEIA?!" grito, olhando ao redor em busca de ajuda.
"É tarde demais, Athena. O coração dele está desacelerando," Alex diz tristemente enquanto coloca a mão no meu ombro.
"NÃO! ISSO NÃO PODE ESTAR ACONTECENDO! FAÇA ALGUMA COISA!" grito para Alex.
Papai levanta a mão e acaricia minha bochecha, "Está tudo bem, Athena. Shhhh, querida, não chore."
Coloco minha cabeça em seu peito e soluço. "Você não pode me deixar, papai. Eu não estou pronta."
"Você pode se orgulhar dela, meu velho amigo. Ela salvou minha vida," Alex diz a ele.
Levanto minha cabeça novamente para olhar para meu pai, e ele me olha com orgulho. "Você consegue, Athena. Você tem sangue de guerreira. Estou tão orgulhoso de você, minha doce menina."
Ele tosse e engasga, sufocando com seu próprio sangue, e eu soluço enquanto o vejo lutar para respirar, até que de repente ele fica imóvel, e seu rosto relaxa.
"PAPAI! NÃO! POR FAVOR!! NÃO ME DEIXE!" grito enquanto acordo.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto olho ao redor no escuro, confusa sobre onde estou. Finalmente percebo que estou no quarto onde o Beta Jason me trouxe. Choro, enterrando meu rosto no travesseiro. O pesadelo da morte do meu pai parecia muito real. Como se eu estivesse revivendo tudo. Procuro Enyo na minha mente, mas ela me bloqueou. Soluço no travesseiro até que a exaustão me leva de volta a um sono agitado.