Capítulo 5
Vendo claramente os olhos azuis de Ru focados em algo, ou alguém, atrás dela, Candice se virou para olhar. O som que ela fez era algo que Ru não saberia como escrever, caso fosse obrigada a anotá-lo.
"Oi, você deve ser a outra professora do quarto ano," Cutter disse, avançando. "Eu estava esperando ter a chance de conhecê-la em breve." Ele estendeu a mão. "Sou Cutter Michaels."
Candice ficou paralisada, como se olhar nos olhos azuis de Cutter tivesse o mesmo efeito sobre ela que o olhar de Medusa. Tentando não rir, Ru avançou e colocou gentilmente a mão no ombro de Candice. "Candice?" ela disse, baixinho, no ouvido da amiga.
A menção de seu nome a trouxe de volta à realidade. "Oi. Eu sou... Candice Stein," ela disse, finalmente apertando a mão dele. "É conhecer um prazer você." Ela balançou a cabeça e tentou de novo. "É um prazer conhecer você."
Se Cutter achou engraçada a incapacidade dela de falar, ele não demonstrou. "É maravilhoso conhecer você também."
"Onde você ensinava antes?" Ru perguntou, percebendo que não tinha perguntado antes.
"Em Nova York," ele respondeu, acenando com a cabeça de modo que sua gravata azul balançou um pouco na frente de sua camisa branca de botões. Ru notou que a gravata era de um tom semelhante ao dos olhos dele, embora ela não achasse que aquela cor pudesse ser replicada por um simples corante de roupa. "Foi intenso. Estou feliz por ter a oportunidade de me juntar à equipe da Thomas. Acho que será... recompensador."
"Você ia dizer fácil?" Ru riu. "Porque, comparado a Nova York, eu acho que será, embora tenhamos nossos próprios desafios." Pensamentos sobre pais superprotetores e a pressão para manter as altas notas nos testes vieram à mente.
"Eu não ia dizer isso," Cutter respondeu, sorrindo para ela. "Tenho certeza de que toda escola tem seus pontos positivos e negativos. E o ensino fundamental na cidade não é tão difícil quanto o ensino médio. Mas esta é uma cidadezinha agradável, e estou feliz por ter a oportunidade de voltar a uma comunidade pequena."
"Ah, então você não é originalmente da cidade?" Ru ficou feliz que Candice tivesse encontrado sua voz novamente.
"Não, sou de uma cidade bem pequena, bem longe," Cutter disse, virando-se como se não quisesse dizer mais. "Acho que devo voltar para minha sala de aula."
Candice deve ter entendido a dica para não fazer uma pergunta de acompanhamento. "Bem, estamos muito felizes por tê-lo aqui na Thomas."
"Obrigado. Estou muito feliz por estar aqui." Ele sorriu para ambas, mas por algum motivo, Ru sentiu que os olhos dele estavam demorando um pouco mais nela. Ela sentiu um leve rubor e desviou o olhar. "Vejo vocês em breve."
Assim que ele se foi, de volta para sua sala com a porta fechada, Candice se virou para Ru, e dobrando-se, disse, "Oh. Meu. Deus!"
Tentando manter o riso o mais silencioso possível, Ru cobriu a boca com ambas as mãos, temendo que ele colocasse a cabeça para fora e elas fossem pegas. Eventualmente, ela conseguiu se controlar, e a porta de Cutter permaneceu fechada. "Eu sei, né?" ela conseguiu dizer.
"Quero dizer... se Deus enviasse um anjo do céu para ocupar aquela sala de aula, ele não poderia ser um espécime mais perfeito de perfeição masculina."
Ru levantou as sobrancelhas. "Você acha?" ela perguntou. "Não me entenda mal. Ele é bonito. Mas... você não acha que Deus poderia fazer melhor? De jeito nenhum?"
"De jeito nenhum," Candice disse, balançando a cabeça. "Aquele homem é um semideus. Um Adônis."
"Bem, ele também é seu colega de equipe, então acho que você deveria descobrir como falar quando ele estiver por perto."
"Eu consegui." Candice cruzou os braços. "Eventualmente."
Ru riu novamente. "Verdade. Quem sabe? Talvez vocês dois acabem juntos." Ela levantou e abaixou as sobrancelhas rapidamente.
Foi a vez de Candice rir. "Sim, claro. Eu posso ser bonita, mas não há como um cara como aquele se interessar por mim." Ela olhou por cima do ombro como se pudesse de alguma forma conjurar a imagem dele diante delas. "Você talvez."
Ru esperou até que sua amiga estivesse olhando para ela novamente antes de balançar a cabeça e dizer, "Tanto faz." Ela não tinha ideia de por que Candice sempre dizia o quanto ela era linda. Literalmente ninguém mais no mundo jamais havia mencionado a Ru que ela era bonita, mas Candice insistia que ela poderia ser modelo.
"Estou falando sério. Não machuca que vocês tenham a mesma cor de olhos. Suas peles são semelhantes, vocês duas são loiras..."
"Nossos olhos não são da mesma cor," Ru interrompeu. "Quero dizer, ambos são azuis, mas os olhos dele são..." Ela lutou para encontrar a palavra certa, não querendo revelar o quanto havia notado sobre o novo professor. Deslumbrantes? Brilhantes? "Elétricos."
"Os seus também são." Candice deu alguns passos para mais perto. "Ok, talvez não tão... cintilantes quanto os dele, mas vocês têm muitas qualidades semelhantes. Hmmm, talvez vocês sejam parentes."
"Ha," Ru riu, embora a sugestão tenha feito seu estômago revirar. Candice provavelmente não havia pensado no fato de que sua afirmação era realmente uma possibilidade. "Escuta, garota, eu tenho caixas para desencaixotar, e acho que você também. Vou te pegar no caminho para a reunião, ok?"
"É bom mesmo. Senão vou me atrasar."
"Você vai se atrasar de qualquer jeito," Ru provocou.
"Verdade." Candice parou na porta e sorriu por cima do ombro. "Tchauzinho."
"Tchau." Ru a observou ir embora e então tentou voltar sua atenção para o trabalho, o que foi mais difícil do que ela esperava. Não era Candice ou mesmo Cutter que a distraíam, no entanto. Era aquele comentário. Será que ela poderia realmente ser parente de Cutter? Não havia como saber.