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Capítulo 3

Ru entrou na sala de descanso e se aproximou cautelosamente da geladeira. Lembrou-se do incidente do ano passado, quando acidentalmente queimou um fusível que deixou a sala às escuras e fez os eletrodomésticos pararem de funcionar temporariamente. Olhou ao redor procurando algo para usar para abrir a porta. Não vendo nada, decidiu que a barra de sua camisa azul e esvoaçante teria que servir. Reuniu o tecido na mão e usou-o para abrir a porta, empurrando sua lancheira para um espaço vazio antes de soltar rapidamente a porta e usar o pé para fechá-la novamente.

Indo em direção à sala de cópias mais próxima de sua sala de aula, Ru olhou pelo corredor e notou que a luz estava acesa na sala em frente à dela. Provavelmente seria a sala do novo professor, já que sua ex-colega de equipe, Melinda Blank, havia desocupado a sala durante o verão. Esperando distraidamente que o novo professor fosse simpático, Ru entrou na sala de cópias.

A máquina não estava ligada, o que era um grande problema. Embora pudesse ver que estava conectada, nas últimas três vezes que tentou ligá-la, a máquina havia dado curto-circuito. Ela poderia atravessar o prédio até a copiadora na outra ala, mas sabia que os professores do ensino fundamental odiavam quando os professores do ensino intermediário usavam "a máquina deles". Ficou contemplando o que fazer por alguns segundos e então decidiu arriscar. Afinal, estava tendo um bom dia até agora, e fazia meses desde que realmente havia estragado algum dispositivo elétrico—exceto pelo seu último celular. Ele morreu algumas semanas atrás quando ela achou que seria uma boa ideia tirar a capa protetora e limpá-la por algum motivo. Aprendeu a lição e fez o atendente da loja da AT&T colocar uma capa Otterbox no novo celular antes mesmo de sair do balcão.

Com um suspiro profundo, Ru estendeu a mão e rapidamente ligou o botão de energia da copiadora. Suspirou de alívio quando a máquina ganhou vida. "Sim!" disse ela, baixinho, pensando que talvez fosse ser um ótimo ano.

Depois que a máquina aqueceu, ela colocou sua pilha de papéis na bandeja de alimentação automática e configurou para fazer três cópias de cada um dos cerca de vinte documentos. Eram quatro na equipe, então isso faria uma cópia para cada um dos outros professores. Sabia que Jane provavelmente jogaria seu conjunto no lixo assim que Ru os entregasse, mas isso não a impedia de tentar.

Digitou seu código, apertou o botão de início, e os papéis começaram a passar rapidamente pela bandeja. Pensando que sua sorte estava prestes a mudar, Ru não pôde deixar de sorrir. Começou a sonhar acordada sobre como seriam seus novos alunos. Tinha certeza de que seriam os alunos de quarta série mais brilhantes que já passaram pelos corredores da Escola Thomas.

Sem prestar atenção no que estava fazendo, Ru colocou as mãos na copiadora. Houve um som de estalo, como se a tomada tivesse deixado passar um surto de eletricidade, e a máquina começou a soltar fumaça, interrompendo o som metódico dos papéis passando.

"Ah, não!" Ru disse em voz alta. Ainda faltavam cerca de três páginas para passar, mas, mais importante, os outros professores precisariam dessa máquina. Era a semana antes do início das aulas. Desesperada, ela ligou e desligou o interruptor de energia, mas nenhuma luz no painel acendeu, e o cheiro de fumaça elétrica pairava pesado no ar.

"O que eu vou fazer?" Ru perguntou, recolhendo os papéis que estavam prontos na bandeja e pegando os originais que haviam sido copiados no topo da máquina. Considerou desconectar e reconectar a máquina, mas como isso já havia acontecido antes, sabia que não funcionaria. Teriam que chamar alguém da empresa da copiadora para vir e provavelmente substituir muitos dos componentes elétricos.

"A máquina não está funcionando?"

Ru nem tinha ouvido a porta abrir. Ela se virou e congelou. Estava olhando para o par de olhos azuis elétricos mais brilhantes que já tinha visto. Engolindo em seco, lutou para se recompor. "Ah... Eu acho... Eu quebrei."

O homem à sua frente soltou uma risada suave e melódica. "Aposto que posso consertar," ele disse.

Apesar do choque de estar na presença de um estranho extremamente atraente, Ru conseguiu dizer, "Duvido."

"Deixe-me dar uma olhada."

Ela deu um passo para trás, saindo do caminho enquanto ele se aproximava da copiadora. Tentando não encarar, Ru não pôde deixar de notar que ele tinha o físico de um atleta, talvez um corredor. Seu cabelo loiro era um pouco mais escuro que o dela, embora ainda claro em comparação com a maioria dos loiros, e ele devia ter pelo menos um metro e noventa. Enquanto ele examinava a máquina, ele apertou o maxilar, e Ru teve que olhar para seus sapatos. Ele tinha o rosto de um deus grego.

"Vamos tentar isso," ele disse, o som de sua voz de alguma forma parecia acalmar o estômago ansioso de Ru, embora ela tivesse certeza de que qualquer que fosse "isso", não iria funcionar.

Ele desligou o interruptor de energia e depois ligou novamente. Ru já estava balançando a cabeça, pensando que precisaria dizer a esse novo cara que sabia que isso não iria funcionar, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, percebeu que a copiadora estava funcionando novamente. "Meu Deus! Como você fez isso?" ela perguntou, dando um passo em direção à máquina, mas tomando cuidado para não tocá-la.

"Eu tenho meus truques," ele disse, seu sorriso encantador fazendo a ansiedade dela se transformar em borboletas no estômago. "Você tem mais cópias para fazer?"

"Ah, sim. Você se importaria? Eu não quero tocar na máquina de novo."

"Sem problema," ele disse, pegando as três folhas dela. "Quantas você precisa?"

"Apenas três de cada. São para minha equipe."

Ele assentiu e digitou o número correto antes de colocar os papéis no alimentador. "De que equipe você faz parte?"

"Ah, me desculpe. Nem me apresentei."

"Está tudo bem," ele respondeu, pegando os papéis dela da bandeja e pegando os originais. "Eu também não me apresentei. Sou Cutter. Cutter Michaels."

Ele estendeu a mão, e mesmo com medo de que pudesse causar algum tipo de descarga elétrica, Ru colocou sua mão na dele. Houve definitivamente algum tipo de transferência de energia no segundo em que sua palma tocou a dele, mas parecia mais uma vibração quente do que um choque elétrico. Ela se perguntou se ele também podia sentir isso. Talvez fosse apenas sua imaginação; afinal, ele provavelmente era o homem mais atraente que ela já tinha visto. Talvez essa fosse a sensação que todos aqueles escritores de romance tentavam capturar quando falavam de arrepios subindo pelos braços das heroínas.

"Eu sou Ru Roberts," ela disse. "Prazer em conhecê-lo. Eu ensino a quarta série."

"Roo?" ele começou a perguntar no meio da apresentação dela, e ela nem tinha certeza se ele ouviu o resto da frase. Ele tinha uma expressão um pouco confusa no rosto, mas isso era comum quando ela se apresentava.

"Sim," ela respondeu, retirando a mão e tentando não fazer uma careta. Se fizesse, ele poderia fazer perguntas de acompanhamento. Se ela conseguisse convencê-lo de que Ru era um nome típico e perfeitamente aceitável, talvez ele não perguntasse mais nada. "O que você ensina?"

Antes que ele pudesse responder, a porta se abriu. "Ah, que bom, a copiadora já está ligada." Jane entrou apressada com uma pilha de papéis. "Vamos precisar dessas cópias para nossa reunião." Ela colocou a pilha em uma mesa próxima. "Oi, Cutter. Você já se mudou completamente?"

"Quase," ele respondeu. "A copiadora está livre." Ele entregou a Ru as cópias que havia feito para ela.

"Você não tinha cópias para fazer?" Ru perguntou, se perguntando por que ele tinha entrado, embora percebesse que ele não tinha nenhum papel com ele no momento em que fez a pergunta.

"Não, na verdade eu estava apenas dando uma olhada."

"Ah..." Ru achou isso um pouco estranho, mas então, se ele era novo, talvez só quisesse ver a sala de cópias e outros lugares comuns.

"Como foi seu verão, Sra. Roberts?" Jane tinha um sorriso falso estampado no rosto, e Ru percebeu que ela estava apenas tentando ser simpática na frente do Sr. Michaels.

"Maravilhoso, obrigada. E o seu? Você se divertiu no cruzeiro?" Dois podiam jogar esse jogo.

"Foi encantador." Jane balançou a cabeça e começou a passar a primeira pilha pela copiadora.

"Ah, Sra. Roberts, espero que você esteja planejando levar esse exemplo de fluxograma para a reunião. Está ótimo. Usei um semelhante quando ensinei a quinta série no ano passado." Cutter estava gesticulando para o papel no topo da pequena pilha que Ru ainda segurava.

Ela percebeu que Cutter era o novo membro da equipe alguns segundos atrás, quando Jane o chamou pelo nome. Ainda não estava claro como ela se sentia sobre isso. "Estou," ela disse. "Achei que o resto da equipe poderia querer usar também."

"Você sabe que não precisa trazer nada," Jane a lembrou. "Tenho muitas ideias frescas para toda a minha equipe."

Jane adorava lembrar a todos que ela era a líder da equipe, apesar de a Sra. Long ser a primeira a apontar que todos os professores do prédio eram líderes. Antes que Ru pudesse dizer qualquer coisa em resposta, Cutter disse, "Ah, eu tinha algumas ideias que queria apresentar à equipe também. Sei que nunca ensinei a quarta série antes, mas acho que algumas das ferramentas que coletei ao longo dos anos podem ser úteis. Nós não colaboramos?"

"Não, claro que colaboramos," Jane disse, virando-se para ele e dando um passo mais perto do que o necessário. "É só que... alguns dos membros da nossa equipe têm a tendência de trazer ideias que não são realmente viáveis." Ela olhou para Ru como se ela fosse um inseto.

"Bem, essa aqui é ótima. Na verdade, as outras duas que eu estava olhando antes de você entrar também são. Mal posso esperar para ouvir sobre elas."

Ru podia sentir a gratidão irradiando de seus olhos, e esperava que Cutter pudesse perceber isso também. Talvez ele não tivesse escolhido um lado, por assim dizer, mas por enquanto, ela tomaria isso como um sinal de vitória. "Obrigada," ela disse.

Ele se virou de costas para Jane e piscou para ela. "De nada."

Suas pernas de repente pareciam gelatina, e mesmo sabendo que estava agindo de forma ridícula, Ru teve que desviar o olhar. Ela pegou o resto de seus papéis da mesa e se dirigiu para a porta. Cutter chegou primeiro e a segurou aberta para ela. "Obrigada," ela disse, sorrindo para ele. "Até daqui a pouco, Jane." Ela se virou e sorriu para a líder da equipe, que apenas lançou um olhar em sua direção até perceber que Cutter estava olhando para ela, e então seu rosto se transformou em um sorriso forçado e estranho.

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