Capítulo 3
Rowan
É difícil me afastar da garota de olhos escuros, mas ainda tenho um trabalho a fazer e não confio no Detetive Ashton para cuidar das coisas sozinho. Então, dou a volta no prédio e um dos policiais uniformizados levanta a fita amarela para que eu possa passar por baixo. A primeira coisa que noto sobre o corpo é que parece encenado.
“Aí está você, novato! Dê uma olhada nisso. Ele morreu gritando.” Ashton diz com uma risada. “Já vi muitos corpos, mas esse é o mais impressionante.”
Ele está errado. Para mim, não parece que o homem está gritando. Parece que ele ficou chocado ao ver o assassino e estava no meio de dizer algo. Deveria ser impossível alguém parecer assim quando é morto. É como se o corpo dele tivesse entrado em rigor segundos após a morte.
“Encontraram a arma?” pergunto antes de me agachar e examinar o corpo mais de perto.
“Não. Quem o matou levou a arma. Embora seja bem óbvio se você tiver olhos. Ele foi esfaqueado.” Ashton soa irritado e pronto para ir embora, mas este caso parece diferente.
Isso não parece um simples caso de morte por esfaqueamento. Especialmente com as outras marcas nele. Por exemplo, há uma marca de beijo no pescoço que parece ter sido queimada na pele. Parece recente também.
“O que você acha disso?” pergunto, apontando para a marca.
“As pessoas fazem tatuagens estranhas no corpo o tempo todo. Qual é o problema?” Quando viro a cabeça para olhá-lo, vejo que ele está no celular.
“Isso não é uma tatuagem, é uma queimadura.” Aponto, mas ele me ignora.
“Você está certo.” Uma mulher vem caminhando em minha direção do fundo do beco.
Ela está vestida com um terno e carregando o que parece ser uma bolsa de médico. “Stacy Steal, do escritório do legista.” Ela diz com um aceno de cabeça.
“Prazer em conhecê-la, senhora. Sou o detetive King.”
“Prazer em conhecê-lo, detetive. Então temos um caso estranho aqui. Posso ver claramente uma ferida de faca e, no entanto, a quantidade de sangue não corresponde ao ferimento.” Ela explica, apontando para a poça de sangue debaixo do corpo.
“Como assim?” pergunto a ela.
“Bem, a arma parece ser bastante grande e, no entanto, este é todo o sangue que saiu do corpo. Mesmo a marca de entrada deveria ter produzido mais sangue e, no entanto, não produziu. É como se, como você disse, o rigor tivesse começado rápido demais.” Ela continua.
“Como isso seria possível?” pergunto a ela e ela suspira.
“Não sei. Deveria ter levado horas. No momento, seu palpite é tão bom quanto o meu.”
Isso não soa promissor.
“Se você terminou com o corpo, gostaria de levá-lo de volta ao necrotério e obter mais respostas.” Ela diz.
“Claro.” Não me incomodo em perguntar a Ashton se ele gostaria de examinar o corpo mais detalhadamente.
Ele já está desligado.
Olho ao redor e vejo a equipe da perícia esperando e aceno para que comecem a coletar evidências.
“Verifiquem todas as portas em busca de impressões digitais. Sei que é uma chance remota, mas talvez tenhamos sorte.” Digo a eles. Eles me garantem que vão coletar todas as impressões digitais disponíveis, então os deixo trabalhar.
Meu telefone toca e vejo um e-mail do meu amigo hacker. Está intitulado: UM OLHAR NO PAÍS DAS MARAVILHAS.
Reviro os olhos com o quanto ele parece estar envolvido nisso e abro o e-mail.
**DE:
Weaver
PARA: Detetive Rowan King
E aí, cara, não há muito sobre esse lugar, mas aqui estão algumas menções nas redes sociais.
*@conspiracybuff231 É REAL! Os rumores sobre um clube ilusório foram comprovados, pessoal! Olhem este vídeo. (Vídeo)
@letsbefriend67 MENTIRA! Este vídeo está borrado e não mostra o suficiente para afirmar que é verdade.
.... anexo.*
Como eu disse, não há muito para seguir e há muito debate sobre a legitimidade das chamadas evidências. Mas se você acha que o fato de estar sendo mencionado já é suficiente, então sim, as pessoas estão falando sobre isso. Isso é tudo, mas vou continuar procurando.
Weaver desligando!**
Ótimo. Um monte de nada. Envio uma resposta rápida, agradecendo pelo esforço e pedindo para me manter informado sobre qualquer outra informação que ele encontrar. Não há muito que possamos fazer aqui, então acho que teremos mais sorte encontrando testemunhas.
Eu me levanto e olho ao redor da área. Este lugar parece ser um ponto onde pessoas em situação de rua acampam, mas não há nada. Não há sinal de vida, exceto pelo corpo e quem está dentro do clube. Este caso não está indo a lugar nenhum e acabamos de começar.
“Acho que não há muito mais que possamos fazer aqui.” Digo ao Detetive Ashton.
Ele finalmente olha para cima do celular e dá uma risada sarcástica. “Eu poderia ter te dito isso, novato. Não é a primeira vez que um caso esfria por causa deste lugar.”
“Você tem alguma informação sobre esses outros casos?” pergunto a ele.
“Acho que a VICE teve um caso relacionado a este lugar.” Ele diz como se isso não fosse ajudar em nada, mas é claro que ele não quer fazer o esforço. “Vamos passar isso para outra pessoa e encontrar algo melhor para fazer.”
Ele cospe um pedaço de chiclete no chão que eu não tinha visto ele mastigando e vai em direção ao carro. Vejo o cara da perícia fazendo uma careta de nojo pelo que Ashton acabou de fazer, então dou a ele um olhar de desculpas antes de seguir meu parceiro.
“Não acho que a VICE terá muito a acrescentar a um caso de assassinato.” Comento quando ambos entramos de volta no carro.
Ele suspira como se já estivesse cansado de mim. “Olha, garoto, há milhares de assassinatos nesta cidade. Este caso é uma perda de tempo. Não vou desperdiçar meu tempo com isso.”
Assim como fez na delegacia, ele acelera o carro e sai do estacionamento para a rua sem um pingo de preocupação. Ele pode acabar matando alguém. Me pergunto quantos acidentes ele causou e varreu para debaixo do tapete. Deve haver muito mais reclamações sobre ele do que eu encontrei, caso contrário, por que me mandariam para cá? Talvez ele esteja certo sobre este caso, mas resolver assassinatos não é a verdadeira razão pela qual estou aqui. Ele é, e para aprender mais sobre ele, preciso seguir sua liderança como um bom novato.
Ainda assim, há algo sobre este lugar que me faz querer descobrir mais. Deve haver mais sobre este lugar. Talvez eu precise começar do zero. A cidade tem todos os planos de construção abertos ao público. Eles vendem álcool, obviamente, então precisariam de licenças para isso.
“Gostaria de reunir mais informações sobre o clube. Você pode me deixar na prefeitura.” Digo a Ashton.
“Claro, garoto.” Ele ri como se achasse que eu sou ridículo, mas não me importo.
Ficamos quietos pelo resto do caminho até chegarmos à prefeitura e Ashton para bruscamente na frente, jogando meu corpo para frente. Quero soltar alguns palavrões coloridos para ele, mas mordo a língua. Na verdade, a ação me permite plantar o dispositivo que estava queimando um buraco no meu bolso. É um simples grampo, mas terá que servir até eu poder plantar algo mais avançado depois.
“Vou pegar um táxi de volta.” Digo a ele e ele me dispensa com um aceno.
Não demoro e ele sai com um rangido, quase colidindo com uma minivan cheia de crianças. Como se sentisse minha irritação, uma mensagem chega.
**334-624-7823: status
Eu: grampo colocado
334-624-7823: confirmado. Localização?
Eu: prefeitura
334-624-7823: por que você não está com o alvo?
Eu: porque tenho que dar a ilusão de que estou aqui para trabalhar, e pegamos um caso.
334-624-7823: não é da sua conta
Eu: ainda sou um policial
334-624-7823: com a missão de vigiar Ashton. Nada mais**.
Não me dou ao trabalho de responder depois disso. Eles não dão a mínima para o fato de que alguém está morto em circunstâncias suspeitas, mas eu sim. Nunca abandonei um caso antes de me puxarem e não vou começar agora. O grampo está no lugar, e sempre posso alcançar Ashton mais tarde. Não há muito que eu possa fazer agora além de esperar até que ele faça algo que valha meu tempo. Até lá, vou trabalhar neste caso.
A prefeitura é organizada como um grande círculo com três camadas. Nas áreas internas, há mesas montadas com seções para privacidade e lâmpadas em cada espaço para leitura, embora haja uma boa quantidade de luz natural vindo da grande janela no topo do prédio. Há fileiras e fileiras de livros por toda parte. Vou ter um trabalho e tanto para encontrar o que preciso.