




O parceiro do projeto
VIOLETA
A viagem de carro para casa com Ryan foi, como sempre, estranha. O trajeto até a escola e a volta eram sempre marcados por esse silêncio fantasmagórico. Os únicos sons eram o zumbido ocasional do motor e o farfalhar do vento pela janela entreaberta.
A bateria descarregada do meu celular só piorava a situação. Eu teria me imerso nele para escapar do desconforto, mas, em vez disso, me forcei a continuar olhando pela janela, tentando ignorar o nó desconfortável na minha garganta.
"Você sabe, deveria tentar respirar perto de mim. Eu não mordo," Ryan finalmente quebrou o silêncio. "Eu estava começando a pensar que estou dirigindo sozinho. Nenhuma palavra." Seus olhos se voltaram para mim por um momento antes de voltar para a estrada.
Eu pisquei. Não é novidade que sempre acho difícil respirar ao lado dele. "Não me ocorreu que você estivesse tão ansioso para conversar comigo," respondi, tentando manter o tom leve.
Ele riu, um som baixo que fez meu coração pular uma batida. "Bem..." ele disse, passando a mão sobre o lábio inferior e depois girando o volante com um movimento suave e deliberado, e devo admitir, foi sexy pra caramba.
"Você deve pensar muito bem de si mesma se acha que é isso, meia-irmã," ele arrastou, enfatizando "meia-irmã" com um sorriso.
Revirei os olhos. "Conseguimos nos evitar muito bem por três dias. Tenho certeza de que podemos continuar assim."
O sorriso de Ryan se alargou. "Vejo que você não está ciente de certas coisas."
"Como o quê?" perguntei, curiosa.
"Nada," ele disse, a voz pingando de satisfação.
Dei de ombros para o comentário enigmático dele. O resto da viagem foi silencioso, sem mais palavras trocadas.
Quando Ryan finalmente entrou na garagem, não esperei ele desligar o motor. Desabotoei rapidamente o cinto de segurança e saí correndo do carro. Cada segundo passado com ele parecia um teste da minha determinação em manter distância.
Entrei apressada na casa, notando o silêncio que me recebeu. Estava claro que o "casal" não estava em casa. Eles frequentemente saíam para encontros, o que eu achava estranhamente fofo.
Corri para o meu quarto, batendo a porta atrás de mim antes de me jogar na cama. Depois de alguns momentos, tirei o uniforme e fui arrastando os pés até o banheiro.
Liguei o chuveiro, deixando a água fria penetrar no meu corpo tenso. Hoje tinha sido um dia sem grandes acontecimentos—apenas aulas, as perguntas incessantes de Ashley sobre minhas interações com Ryan, e a presença familiar e reconfortante de Luke. Estávamos saindo juntos há dias, e ele se mostrou um bom amigo.
Meus pensamentos voltaram para Ryan, e me perguntei o que ele poderia estar fazendo naquele exato momento. Nunca me ocorreu como ele passava o tempo em casa. Nossas interações se limitavam aos cafés da manhã, jantares e nossas viagens de carro para a escola e de volta.
Será que ele convidava garotas para casa? Nunca vi nenhuma por lá. Me repreendi mentalmente. Por que eu estava preocupada com o que ele fazia?
Desliguei o chuveiro e saí, me enrolando em uma toalha azul simples. Uma batida na porta me assustou.
Não podia ser minha mãe—ela não se importaria tanto. Se tivesse algo a dizer, gritaria pela porta. Esforcei meus ouvidos para ouvir outra batida, mas não ouvi nada. Dei de ombros, pensando que poderia ter imaginado.
Vesti um moletom azul grande e procurei pela minha faixa de cabelo. Precisava prender meu cabelo. Meu cabelo úmido estava pesado e desconfortável contra meu pescoço.
De repente, a porta se abriu. Virei-me ao som da porta.
Fui pega no meio de um pensamento, segurando meu cabelo com as duas mãos em um rabo de cavalo improvisado, e de repente, ciente do fato de que não estava usando nenhuma roupa íntima.
Ryan estava ali, segurando uma pilha de livros. Ele me olhou fixamente, sem piscar. Seu olhar viajou do meu rosto, descendo pelo meu pescoço, até meus braços, e finalmente parou na minha cintura. Segui seus olhos e percebi que, na pressa, levantei minha camisa, expondo meu estômago. Entendi agora por que ele estava olhando.
Ohh
Minhas bochechas coraram de calor enquanto instintivamente deixei minhas mãos caírem, deixando meu cabelo cair em ondas sobre meus ombros.
"Você poderia ter batido!!" gritei.
"Estive do lado de fora da sua porta por um bom tempo, batendo incessantemente. Precisava ter certeza de que você ainda não estava morta," ele murmurou, seu olhar ainda fixo em mim.
"Ah, sim..." murmurei entre dentes. "Provavelmente deveria secar meu cabelo." Disse para ninguém em particular, sem nem entender por que disse isso. Eu não queria secar meu cabelo. Só queria sair dali. Peguei um par de jeans e corri para o banheiro.
Minha respiração estava descompassada. O que diabos ele estava fazendo no meu quarto? Bati na testa em frustração, murmurando um "Droga!" frustrado.
Tapei a boca, percebendo que ele deve ter ouvido.
Depois de vestir os jeans, voltei para o quarto. Ryan ainda estava lá, sentado no canto do quarto, agora com os olhos fixos no celular como se não tivesse acabado de ver meu... um arrepio percorreu meu corpo ao lembrar.
"O que você quer?" perguntei, tentando soar o mais composta possível. Meus olhos se desviaram para os livros que ele estava segurando.
"Você lê muito," ele observou, seus olhos percorrendo minha estante de livros.
Eu realmente lia muito. Era meu refúgio, minha fuga de tudo.
A aparência de Ryan chamou minha atenção. Ele usava uma camisa preta de botões com as mangas arregaçadas, revelando antebraços tonificados. A camisa estava casualmente desabotoada, dando-lhe um visual relaxado, mas estiloso.
"Isso não respondeu minha pergunta. O que você quer?" repeti, engolindo em seco.
Ryan deu de ombros e afundou na cadeira no canto do quarto.
"Uhm... Não sei. Por que você não pergunta à Sra. James?" Um brilho travesso dançava em seus olhos.
Foi então que me dei conta. Meus olhos se arregalaram de choque enquanto eu corria para desconectar meu celular do carregador. Liguei-o e imediatamente vi uma notificação.
Cliquei nela, revelando detalhes sobre o projeto. Ao rolar a tela, meu coração afundou ao ver o nome do meu parceiro de projeto.
Ryan Jenkins.
"Não pode ser!" exclamei, lendo o nome novamente para ter certeza.
"Violet Blake emparelhada com Ryan Jenkins."
Meu sangue pulsava nos meus ouvidos. Não perdi a risada que escapou dos lábios de Ryan.
O universo tem um senso de humor distorcido. Primeiro, minha mãe se casou novamente e o filho do meu padrasto tinha que ser o cara mais bonito da Golden Elite. E justo quando pensei que estava fazendo um bom trabalho em evitá-lo, nos colocaram juntos para um projeto.
Que ironia.
Nunca me passou pela cabeça que isso poderia acontecer. Então por quê??
"Isso deve ser alguma piada de mau gosto," murmurei, meus olhos ainda grudados na tela, esperando um milagre que mudasse os nomes.
Ryan se recostou na cadeira, parecendo completamente satisfeito, como se tudo estivesse se desenrolando exatamente como ele queria.
"Parece que estamos presos um ao outro, afinal," ele arrastou, a voz carregada de satisfação.
Eu o fitei, minha frustração era palpável. "De todas as pessoas com quem poderiam me emparelhar—"
"Ei, eu não fiz as regras," Ryan interrompeu, levantando as mãos em falsa inocência. "Se dependesse de mim, provavelmente também evitaria você."
"Bem, não é exatamente meu cenário dos sonhos," retruquei. Respirei fundo, tentando me acalmar.
Sentei-me na beirada da cama, murmurei um 'droga' abafado antes de finalmente me virar para ele.
"Você tem algum plano para este projeto? Ou vamos improvisar?"
"Bem, considerando sua reação, eu diria que já estamos começando muito bem," Ryan disse, claramente aproveitando meu desconforto.
Eu queria dizer algo, mas as palavras ficaram presas na minha boca. Não pude deixar de notar o jeito que os olhos dele brilhavam quando falava. Ou o jeito que seu cabelo enrolava levemente na nuca. Senti um frio na barriga e rapidamente o sufoquei. Tentei ignorar, mas não consegui. Era como se meu corpo tivesse vontade própria, respondendo à presença de Ryan mesmo quando meu cérebro dizia para parar.
"Olha," disse, levantando-me abruptamente. "Por que você não me dá um pouco de espaço? Preciso verificar os detalhes do projeto."
O sorriso de Ryan se alargou enquanto ele se levantava. "Claro, claro. Não demore muito."
Assenti, tentando ignorar a sensação persistente do olhar dele. Quando ele saiu do quarto, fechei a porta atrás dele com um suspiro de alívio. Fui imediatamente para minha mesa, pegando meu celular e rolando pelos detalhes do projeto. Precisava me concentrar, resolver tudo e deixar meus sentimentos por Ryan de lado. Essa era a única maneira de manter minha sanidade intacta.
Mas o que foi aquela sensação que tive antes?