




Seis
As últimas duas semanas tinham sido as mais excruciantes de sua vida. Cada novo dia significava que estava mais perto de seu destino. Ela acordou cedo e seguiu sua rotina matinal com Eve. Como qualquer outro dia. A garotinha já havia percebido a tensão na casa nos últimos dias. Estava irritadiça, fazendo birra e se comportando mal. Melina preferia deixá-la pensar que era um dia como os outros, e antes de sair, a abraçou, reunindo toda sua força para não chorar na frente da pequena. Eve já estava desconfiada o suficiente de que algo estava acontecendo.
Agora, ela estava em frente ao Tribunal, em pânico. Não conseguia se mover, como se o gigantesco prédio quisesse devorá-la. Fechou os olhos e tentou respirar. Suor brotava em suas têmporas e Melina se sentia horrivelmente enjoada.
"Eu não posso entrar lá, Xan... Eu não posso, por favor, vamos voltar para casa." Ela implorou, hiperventilando.
"Eu queria que fosse tão simples, Mel. Vamos, vamos acabar com isso de uma vez." Ele a segurou pelo cotovelo, conduzindo-a para dentro do prédio, e após uma pequena caminhada, chegaram a uma sala de espera. "Olhe para mim, Mel. Você vai ficar bem. Eu conheço esse juiz, ele é muito justo em suas decisões, ele é avô também. Por favor, eu não aguento mais ver o terror nos seus olhos."
"Eu não quero ver o Henry agora, só na frente do juiz." O olhar ansioso que ela lançou para ele foi como um soco no estômago.
"Pelo que eu sei, ele ainda não está aqui. Mel, esta é apenas uma audiência de conciliação, o juiz não vai decidir nada aqui, ele só quer entender o que está acontecendo, depois ele marcará outra data para decisões futuras."
A porta oposta se abriu e um jovem apareceu enquanto Melina escondia o rosto no peito de Xanthos. O que ela não daria pela chance de desaparecer dali. Ela não sabia o que era pior, perder sua filha ou ficar cara a cara com ele novamente. "Senhora Melina Karagianis e Xanthos Halkias. O juiz Bakirtzis solicitou a presença de vocês na sala de audiências."
Se Melina pudesse ficar mais pálida, ela conseguiu. Perto dela, um fantasma pareceria bronzeado. Ela deu o primeiro passo, mas seus joelhos fraquejaram e Xanthos teve que segurá-la pela cintura, fazendo-a se apoiar nele para que pudesse alcançar a outra sala. Uma vez dentro, um rosto acolhedor cumprimentou Melina, ajudando-a a relaxar um pouco.
"Bom dia, meritíssimo," ela disse e seguiu Xanthos até a grande mesa no centro. Ele puxou uma cadeira para ela. O assento do juiz estava em frente a eles, de onde ele tinha uma visão de toda a sala ou das cenas que se desenrolavam entre aquelas paredes todos os dias.
De repente, a porta à sua frente se abriu e Melina prendeu a respiração enquanto seu mundo parava. Um belo rosto lupino com cabelos loiro-arenosos desgrenhados e barba curta caminhou até eles, confiante como um tigre. Seu coração batia forte no peito, e a cada passo dele em sua direção, o som aumentava de seu peito para seus ouvidos. Melina temia que todos na sala pudessem ouvir a batida errática dentro dela. Ele estava do jeito que ela se lembrava, apenas um pouco mais velho, com algumas linhas de tensão no rosto, o que aumentava sua beleza.
Os olhos redondos e melados brilharam calorosamente por alguns segundos quando encontraram os dela, cor de chocolate. Então voltaram a ser de aço. Ele se aproximou da mesa como um gato, e não tirou os olhos dela nem por um momento. Ele era em forma, mas não um homem musculoso e um bom pé mais alto que ela. Atrás dele veio um advogado. Melina se acomodou na cadeira e escondeu a mão no colo. Elas tremiam tanto que ela não conseguia nem movê-las, e ele não precisava saber o quanto tudo aquilo a afetava.
"Você está atrasado, Sr. Campbell." O juiz o repreendeu.
"Desculpe, meritíssimo, problemas com o voo." O advogado explicou.
"Podemos começar então?" O juiz leu os documentos, abrindo a audiência. Ele se virou para eles e disse: "Decidi por uma audiência de conciliação primeiro, porque acredito que sempre podemos encontrar um ponto comum para tudo. Estamos lidando com outro ser humano, que será grandemente afetado pela decisão tomada aqui." Ouvindo as palavras do juiz, o coração de Melina se encheu de esperança, Xanthos estava certo sobre ele. Ela tinha uma chance. "Estamos aqui em nome de Evangeline Karagianis, certo?" Ambos concordaram e lançaram olhares furiosos um para o outro.
Quando ele pisou na sala, não podia acreditar nos seus olhos ao vê-la ali na mesa depois de tantos anos. Hank pensou que já havia superado sua fixação por ela. Mas, rapaz, como estava errado? Aqueles olhos achocolatados cheios de terror o atingiram em cheio no coração e por um minuto ele estremeceu. Houve apenas uma vez em que ele viu esse tipo de emoção passar por ela, e ele não gostava de lembrar disso. Mas quando ele fixou os olhos no falso Deus Grego sentado ao lado dela, a raiva encheu sua alma, lembrando-o do motivo pelo qual estava ali, e os sentimentos desapareceram.
"Senhorita Karagianis, Evangeline é filha do Sr. Campbell?"
Melina olhou do juiz para Henry com olhos cautelosos, e uma ideia passou por sua mente. Talvez ela pudesse dizer não a princípio, atrasando seus planos, mas então se perguntou, para quê? Ele pediria um teste de paternidade, e seria pior para Eve. Ela não colocaria sua garotinha em mais estresse para se vingar dele.
"Senhorita..."
"Sim, ela é," ela disse com um grunhido, e notou quando o rosto de Henry se iluminou e ele suspirou de alívio. Ela nunca quis separar pai e filha. Se pudesse escolher, Eve estaria na vida dele se ele fosse um homem diferente. Que tipo de vida sua garotinha teria com ele?
"Sr. Campbell, por que só agora você entrou com o pedido de custódia de sua filha?"
"Eu não sabia da existência dela até alguns meses atrás, meritíssimo, a mãe dela escondeu essa informação de mim," ele respondeu em um tom amargo e fixou os olhos nos dela. Ela estava sentada bem na frente dele. Ele notou a subida e descida de seu peito. Ela estava tentando ao máximo se controlar, mas a turbulência de emoções naqueles olhos a denunciava.
"E por que não buscar uma custódia compartilhada da menor? Qual é o motivo para você buscar a guarda total da criança?" Para puni-la por mantê-lo afastado, para fazê-la ter tanto medo dele a ponto de colocar um oceano entre eles, para negar-lhe a companhia de sua filha? Todas essas respostas passaram por sua mente, mas ele manteve a calma, recostando-se com o cotovelo no braço da cadeira e o queixo apoiado entre o polegar e o dedo indicador, fervendo de raiva para Melina.
"Aqui, meritíssimo." O advogado pegou alguns documentos, virando-se para o juiz. "Meu cliente está buscando a guarda total, pois a mãe não é apta para cuidar da criança." Hank notou quando ela estremeceu em seu assento e ficou visivelmente pálida. "Ela falhou em verificar a saúde do bebê quando ele nasceu, causando sérios problemas de saúde para a criança."