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Quatro

Então...

O último ano do ensino médio foi mais difícil do que os outros, pelo menos para ela. Muitos testes, muitas cartas de aceitação para faculdades, trabalho voluntário no abrigo local e manter os estudos em dia. Sim, Melina não sabia se era um ano difícil ou se era a ansiedade de ir para Cornell falando mais alto. Ela ficou eufórica quando a carta de aceitação chegou pelo correio. Ela iria estudar Medicina Veterinária em uma das melhores universidades. Eles até tinham um Centro de Saúde Felina lá. Gatos eram os melhores, e trabalhando nos abrigos, ela aprendeu a amar esses pequenos alienígenas que um dia foram adorados como deuses e nunca esqueceram disso.

Dois meses antes, entre as aulas, seu Messenger apitou. Ela olhou para a tela ‘Charming solicita enviar uma mensagem para você.’ Com perplexidade, ela aceitou e enviou um olá. E a partir daquele dia, começaram a escrever um para o outro. Ela não fazia parte do grupo dos populares, era do tipo quieta e tinha poucos amigos. Bem, para dizer a verdade, nenhum amigo. Ela era do tipo nerd, sempre focada nos estudos e tirando notas máximas. Às vezes, sentia-se sozinha e precisava de atenção.

Ela ficou um pouco desconfiada e perguntou se ele era da escola. ‘Talvez’. E essa foi a resposta que ela recebeu dele. Se ele queria falar com ela, ela não via problema em dar atenção e receber um pouco em troca. Ela estava morrendo de curiosidade para saber quem era seu admirador secreto, seu príncipe Encantado. Observava todos na escola, mas não notava nenhum olhar diferente de ninguém. Melina descartou a ideia de que ele fosse um de seus colegas de classe. Os abrigos, talvez? Ela não sabia, mas o que sabia era que toda vez que seu telefone apitava, seu coração disparava e ela sentia como se centenas de borboletas voassem em seu estômago.

Eles conversavam muito o tempo todo. Ela contou a ele sobre seus pais. Como chegaram ao país e o amor que tinham um pelo outro. Suas esperanças de um dia ter esse tipo de amor, todos os seus sonhos de se tornar veterinária e ter sua própria clínica ou hospital. Sobre seu trabalho nos abrigos e o quanto amava os animais e, na maioria das vezes, preferia a companhia deles. Também, seus medos para o futuro, deixar sua amada casa, seus pais e seu desejo de ter amigos de verdade, ela esperava que sua nova vida os trouxesse para ela.

Encantado ouvia tudo o que ela contava e também compartilhava um pouco de sua vida. Ele era um adolescente comum, com suas obrigações e tarefas, também se preparando para a faculdade e mal podia esperar. Tinha um irmão que amava muito e uma mãe. Ele não estava feliz com sua vida e precisava de um amigo, e desde que começaram a conversar, seus fardos ficaram mais leves, porque ele tinha algo em que se apoiar quando a vida o atingia com força. O coração de Melina batia mais forte de felicidade ao saber que ela tornava a vida de alguém melhor.

Ele adorava dançar e viajar e esperava um dia explorar o mundo. Encantado ficou irritado com ela quando contou que gostava de dança de salão e ela riu dele.

Encantado: Por que você está rindo? Não é engraçado! (emoji zangado)

Mel: Não me leve a mal, é um hobby diferente para um adolescente, é só que...

Encantado: É só que...

Mel: Parece coisa de velho, pessoas mais velhas fazem isso. (emoji de risada)

Encantado: Ei! Você está dizendo que eu sou velho?

Mel: Não, não é isso, e eu acho que é um hobby lindo. Espero que um dia possamos dançar juntos, assim você pode me ensinar. (emoji de piscadela)

Silêncio. Será que ela disse algo errado? Encantado desapareceu por alguns minutos e ela sentiu um aperto no estômago. Talvez ela tenha magoado seus sentimentos, mas não era sua intenção.

Mel: Você está aí? Desculpa se...

Encantado: Você quer se encontrar?

Então foi a vez dela ficar sem palavras. Depois de alguns minutos intermináveis, ela respondeu.

Mel: Onde?

Eles marcaram um dia e combinaram de se encontrar no Parque Central, perto do zoológico, já que ela amava animais. Melina não via a hora de conhecer seu encantado. Ela nunca contou aos pais sobre ele. Eles eram muito rígidos com ela sobre conhecer pessoas nas redes sociais e os perigos disso; conversavam muito com ela sobre por que era arriscado, já que seu pai tinha um negócio importante na cidade. Melina tinha que ser cuidadosa. Ela confiava em Encantado, e já estavam conversando há cerca de dois meses. Mas esse foi seu erro, confiar nele cegamente.

Era de manhã, e ela tinha faltado à escola, chegando ao local combinado, mas ninguém estava lá esperando por ela. Ela se sentou no banco e esperou, mandou mensagens para ele e nada. Ela ficou preocupada se algo tinha acontecido com ele, ou por que ele desistiria de encontrá-la, quando alguém veio por trás do banco e falou apenas para seus ouvidos.

"Não faça movimentos bruscos. Levante-se e me siga até a saída do parque. Não tente nada, tenho pessoas por toda parte." Um arrepio percorreu sua espinha, e ela sentiu seu coração despencar. Ela definitivamente ia passar mal, mas fez o que lhe foi dito. Ela o seguiu e, uma vez na 5ª avenida, ele disse para ela entrar no carro preto com a porta escancarada para seu destino. Seu corpo tremia a ponto de seus dentes baterem.

Melina olhou para o carro e para o homem ao seu lado. E uma vez dentro, alguém a agarrou e colocou um saco escuro sobre sua cabeça. Ela abafou um grito, e seu único pensamento foi sobre seus pais. Eles ficariam furiosos com ela por conhecer pessoas em chats e ficariam doentes de preocupação com seu desaparecimento. Ela os decepcionou, e era um sentimento horrível.

"Por que você está fazendo isso comigo?" Um soluço escapou dela.

"Olha, se você cooperar, prometo que estará de volta em casa em pouco tempo." Uma voz amigável e suave lhe disse, e era interessante a maneira como ele falava com ela. Ele não parecia uma pessoa má, alguém que estava prestes a sequestrar outra.

"Mas por quê, o que eu fiz de errado?" ela perguntou com uma voz pequena, quase um sussurro.

"Você não fez nada de errado. Só precisamos do acordo do seu pai em alguns negócios, e tudo voltará ao normal. Por favor, sem mais perguntas."

Ela gostou da voz dele. Era reconfortante, e dava a impressão de que ele não queria fazer mal, mas ela sabia melhor. Melina assentiu, abaixando a cabeça. Ele estava errado. Sua vida nunca voltaria ao normal depois disso. Seu pai ficaria magoado com seu ato descuidado, se ao menos ela tivesse ouvido eles, se tivesse obedecido. Quantas vezes eles lhe disseram sobre os perigos de falar com pessoas em chats? Ela fez de qualquer maneira, e agora eles pagariam o preço por sua desobediência. Sua vida nunca voltaria ao normal, a culpa ficaria presa à sua alma para sempre.

"Nada vai voltar a ser como era, nada..." Ela chorou em silêncio, e o único sinal era o líquido escorrendo pelo seu pescoço debaixo do tecido. Melina não podia ver, mas sentia o olhar ardente do homem sentado ao seu lado.

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