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Um

O homem estava lá de terno, com sua pasta nas mãos e outra bolsa aos seus pés, encolhido em meio a gatos sibilantes, cães uivantes e até um papagaio gritando. Nia tinha certeza de que ele se sentia como um peixe fora d'água, e pela expressão irritada em seu rosto, ele não gostava de animais. Mas segundas e terças-feiras eram os dias mais movimentados, já que seguiam o fim de semana, e hoje não era exceção.

"Boa tarde," ela disse meia hora depois. Ele pegou seus pertences com um pouco de desajeito do chão e se dirigiu a ela. "Posso ajudá-lo, senhor?" Ela olhou do rosto dele para a pasta com um olhar inquisitivo. Ele não estava ali para uma consulta de animal de estimação, nem parecia ser um fornecedor médico.

"Sim, por favor, estou aqui para ver a Sra. Melina Karagianis."

"Você quer dizer Melina Calimeris. A doutora está em cirurgia agora. Ela não estará disponível na próxima hora, mas a Dra. Gabriella está. Onde está seu animal de estimação?" Ela lançou um olhar apreensivo para ele.

Ele pegou um grande envelope, e com uma expressão sombria, verificou-o duas vezes, e como mágica, seu rosto suavizou um pouco e ele soltou a respiração.

"Desculpe, eu preciso vê-la, é um assunto crítico."

"Posso anotar a mensagem?" Ela olhou para o envelope e depois para o homem.

"Não, nesse tipo de negócio, a própria pessoa tem que assinar. Eu sou do Tribunal de Atenas..." Ele quase pulou de susto quando um rosnado furioso veio da porta da frente, enquanto um cara arrastava um cachorro enorme para dentro. Ele lançou um olhar fulminante na direção do par e voltou-se para a garota. "Eu preciso entregar este envelope pessoalmente e pegar o próximo voo de volta ao continente, então, por favor, você pode verificar com ela?"

"Tribunal? Para quê?" Ela arregalou os olhos e inclinou a cabeça, como os cães na clínica.

"Olha, mocinha, eu tenho uma longa lista de pessoas que preciso ver até amanhã à noite, e não posso perder o voo de Santorini. Então, por favor, me ajude aqui."

Ela assentiu para ele, e o olhar angustiado que ele lhe deu a fez levantar-se como um robô. "Me dê um minuto." Depois disso, ela desapareceu dentro da clínica, voltando logo depois. "A Dra. Calimeris pediu se você pode dar a ela quinze minutos, e ela sairá, para que sua assistente possa assumir e terminar por ela."

"Obrigado!" E com consternação ele voltou ao seu assento entre dois gatos e seus donos, parecendo desconfiado daqueles alienígenas malvados que cuspiam e sibilavam. Ele não era um amante de animais, estava escrito em todo o seu rosto, e os animais estavam mexendo com seus nervos.

Cerca de vinte minutos depois, uma mulher pequena em um uniforme verde claro, cheio de estampas de pegadas, apareceu na recepção. Nia pôde ver seus olhos se iluminarem de esperança.

"Nia? Onde ele está?" Mas antes que a garota pudesse responder, ela o encontrou, olhando para ela como se fosse um oásis no deserto e se contorcendo em seu assento. Ele era um homem de meia-idade, magro demais e agitado para o gosto dela, e algo lhe dizia que ele não trazia boas notícias. "Você pode trazê-lo para o meu escritório, por favor?"

"Claro, Srta. Calimeris." Ele veio rapidamente assim que Nia sinalizou para ele. "Por favor, a doutora vai falar com você no escritório dela. Siga-me!" Ela abriu uma porta e mostrou o caminho, depois se desculpou e saiu.

"Sra. Karagianis." Ele não pôde deixar de notar sua surpresa ao mencionar seu sobrenome. Parecia que ela raramente o usava. "Eu só preciso que você assine aqui e eu estarei a caminho. Eu sou do Tribunal de Família, e você foi notificada," ele disse, entregando-lhe o envelope e apontando onde ela deveria colocar seu nome.

"Por quem? Do que se trata?" Ele sentiu pena dela, e então viu as linhas de tensão em seu rosto. Ele podia ver que ela estava cansada, e ele estava ali para aumentar seu fardo. Não que fosse culpa dele, não. Esse era o trabalho dele, e às vezes ele tinha que entregar más notícias a boas pessoas.

Ele também notou, pelo jeito que ela mordia o lábio inferior, que ela ficou nervosa com a notícia. Mas, quem não ficaria? Ela parecia uma pessoa agradável, daquelas que trazem paz. Você se sente bem só de estar na companhia delas. Uma mulher tão bonita com aqueles olhos quentes, cor de chocolate. Então, seja o que for, ele esperava que ela ficasse bem.

"Desculpe, eu não tenho essa informação, mas tudo o que você precisa está dentro do envelope." Ela o pegou dele e assinou com as mãos trêmulas. "É só isso, senhora, obrigado pelo seu tempo." Antes que ela dissesse qualquer coisa, ele saiu apressado, deixando a mulher ansiosa e aqueles animais irritantes para trás.

Melina se recostou na cadeira, olhando para o envelope como se dentro dele estivesse seu passaporte para o inferno. De todos os cenários que ela poderia imaginar, havia apenas um que vinha à sua mente, e seria desastroso. Sua vida estava prestes a dar uma guinada desagradável, e ela não sabia se estava pronta para enfrentar todas as mudanças que viriam.

Ela havia construído uma vida para si na ilha, e não queria desistir ou deixar tudo para trás. Ela fez um lar ali, tinha seu negócio, fazia trabalho voluntário e ajudava no abrigo de animais local. Agora, tudo pelo que ela lutou tanto para conseguir poderia desmoronar em um segundo.

Com um suspiro alto e temendo até tocar na maldita coisa, ela estendeu a mão para pegá-la. Seu tremor piorou, e ela deixou cair o envelope duas vezes na mesa, incapaz de segurá-lo firme, então o deixou ali e pegou um pequeno abridor de cartas, rasgando o papel marrom e puxando o conteúdo para fora. O documento tinha algumas páginas anexadas, e ela não fixou os olhos em nenhum lugar daqueles papéis de propósito. Ela tinha medo de ver o inevitável, como se isso fosse lhe fazer algum bem.

Melina reuniu coragem e folheou o documento. Ela não precisava ler tudo para encontrar o que procurava. Por mais que quisesse manter a calma, seu almoço de mais cedo revirava como ondas em seu estômago, e ela tinha certeza de que ficaria enjoada. Dois advogados assinaram os papéis, e seus nomes eram familiares para ela, mas ela não conseguia lembrar no momento. O nome e o carimbo no papel eram do Tribunal de Atenas, seção de assuntos familiares, e outro do Tribunal de Família de Nova York anexado, solicitando sua presença em Atenas em duas semanas.

A Terra congelou no espaço e o ar ao redor parou enquanto o coração de Melina afundava em seu estômago. Assim que seus olhos se fixaram no nome de quem entrou com a petição para guarda exclusiva e custódia da menor, Evangeline Karagianis, sua filha. Isso não era justo. Eve era sua força e felicidade. Por que essa merda agora? Dava a impressão de que a vida a odiava por algum motivo cruel.

Ela sentiu sua cabeça girar, e tudo rodava como um carrossel. Em um movimento rápido, ela colocou a cabeça entre os joelhos, e sem nem perceber, gotas de lágrimas se acumularam no chão. Mas ela não desmaiaria. Não era uma opção; ela tinha que estar alerta e pensar no que precisava fazer.

"Mel? O que houve, você está branca como uma folha de papel!" Ela pulou na cadeira quando ouviu a voz preocupada de Gabriella na porta.

"Ele me encontrou, Gabs! Ele me encontrou!"

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