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5. Somente por enquanto

[AVA]

“Você não acha que estamos indo rápido demais?” perguntei com um tom seco, revirando os olhos levemente enquanto Sean corria para abrir a porta do carro pra mim.

Fazia só um dia desde que eu salvei a pele dele dos amigos idiotas que ele tem, torcendo secretamente pra não nos esbarrarmos tão cedo. A gente tinha feito um acordo pra guardar os segredos um do outro, uma situação em que os dois saíam ganhando. Mas agora, a primeira coisa que vejo da janela do meu quartinho minúsculo é o carro chamativo dele estacionando perto do meu apartamento horroroso.

Eu não fazia ideia do que ele estava tramando ou tentando provar, mas desci as escadas o mais rápido que pude antes que meus pais ou os vizinhos fofoqueiros vissem ele. Eu precisava descobrir que droga estava acontecendo. Ainda estava de pijama, com uma camiseta apertada que mal cobria o que precisava. Mas eu não tava nem aí, porque o Sean aparecer na hora errada e no lugar errado colocava meu futuro inteiro em risco.

Se o negócio da família não tivesse falido e a gente ainda estivesse morando na nossa mansão chique de quatorze quartos, as coisas seriam tão diferentes. Ninguém se importava com a minha vida ou com quem eu namorava naquela época. Mas tudo mudou quando a empresa do meu pai foi à falência. Agora, meu pai tá correndo atrás de algum milagre pra nos salvar, enquanto minha mãe tá louca pra me “vender”. Ela surtaria se o sobrenome do Sean chegasse perto dela. Parece até que eles poderiam me obrigar a casar com esse cara, dane-se as consequências. Tinha dois grandes motivos pra gente não poder ficar junto, e o fato de ele ser gay era só o começo.

“Não consegui dormir a noite inteira,” ele resmungou, fechando a porta rapidamente enquanto eu entrava no carro. Ele veio junto, sentou no banco do motorista e ligou o motor.

“Por quê, eu fui tão boa assim?” brinquei, querendo fazer graça. Mas, em vez de levar na leveza que eu pretendia, ele ficou com uma cara confusa.

Ótimo, a única pessoa do meu passado que não entende uma boa piada. Exatamente o que minha vida medíocre precisava.

Quando pegamos a estrada, finalmente me permiti relaxar um pouco.

Sean pareceu perceber e ficou meio envergonhado. “Ei, desculpa por te assustar desse jeito. Não quis causar problema.”

Bom, o pior já tinha passado, então não tinha por que pegar pesado com ele por causa do mini infarto que ele me causou. “Só fico feliz que ninguém nos viu juntos,” suspirei.

Mas isso não queria dizer que eu não estava irritada com a urgência. Lancei um olhar duro pra ele.

“O que foi tão urgente que você não pôde nem esperar eu chegar na faculdade?” Teria sido muito mais seguro lá. Nenhum dos meus colegas sabe do meu passado, de quem eu era antes da nossa vida mudar pra sempre. Pra eles, eu sou só uma aluna transferida, tentando descobrir como me encaixar e navegar de forma convincente nesse novo caminho da minha vida.

Sean ficou surpreso com meu tom. “Ei, eu já não pedi desculpas? E pra responder sua pergunta, tem a ver com… o que aconteceu na noite passada.”

Franzi as sobrancelhas. “Pensei que a gente tinha combinado de nunca mais tocar nesse assunto.”

“Tá bom,” ele disse, mordendo o lábio de nervoso. “Sobre isso.”

“Não me diz que você já abriu o bico. Pra quem você contou?” Por favor, que não seja pra Coraline. Qualquer pessoa, menos a Coraline. Se a irmã dele descobrisse o meu segredo, ia fazer um circo nas redes sociais. Ela ia adorar ter a chance de me humilhar.

Meu Deus, eu tava ferrado.

“Eu guardei segredo.” A voz dele soou na defensiva, como se eu tivesse tirado conclusões precipitadas e tudo isso fosse só coisa da minha cabeça. “O que você pensa de mim? Eu sou gay. Não sou babaca.”

Tá, talvez eu tenha exagerado. Será que agora era minha vez de pedir desculpas?

“Mas eu quero contar,” ele continuou, meio envergonhado, e o pedido de desculpas que tava na ponta da minha língua virou pó.

“Como é?” Eu não consegui esconder o choque na minha voz.

“Escuta, antes de você julgar sem pensar, deixa eu explicar. Que tal a gente tomar um café?” Ele ergueu uma sobrancelha, tentando prestar atenção na estrada enquanto implorava com o olhar. “Eu vou esclarecer tudo. Só me dá uma chance.”

Eu suspirei, o peito pesado de incerteza. Não fazia ideia de onde isso ia dar. Uma parte de mim queria sair do carro dele e nunca mais ver a cara dele. Mas tinha algo no jeito que ele parecia tão abatido e em pânico do lado de fora do meu prédio que me fez acreditar que havia mais na história do que ele tinha revelado.

Talvez tivesse um motivo válido.

Decidi encarar a situação com a mente aberta antes de chegar a um veredicto final sobre a confusão que ele estava prestes a revelar.

Uma coisa era certa: eu é que ia decidir se a explicação dele era suficiente.

Quando chegamos na cafeteria, Sean pediu um mocha pra mim e um cappuccino médio pra ele. Como minha última refeição tinha sido um macarrão malfeito que minha mãe preparou — ela, que não pisava na cozinha na época em que tínhamos dinheiro e empregados à vontade —, Sean não hesitou em comprar um sanduíche caprichado, que eu só pretendia dividir pela metade.

Agradeci a ele por isso. Ele disse que não era nada de mais.

“Beleza, manda ver,” eu disse, realmente curioso sobre o rolo em que ele tinha se metido dessa vez. Ontem, os amigos chatos dele eram o grande problema. Fiquei imaginando quem tinha conseguido irritar ele agora.

Soltando um suspiro barulhento pelos lábios macios, Sean se inclinou pra frente, apoiando os braços na mesa. “Ava… a gente se conhece há um tempão. Você e a Cora eram inseparáveis, tipo unha e carne. Lembra quando a gente te chamou pra ir lá em casa pra...”

“Sean,” eu interrompi, me sentindo confuso. “Você pode ir direto ao ponto? Não tenho o dia todo.” Ainda tinha aula pra ir e compras pra fazer no mercado, coisas que meu irmão convenientemente ignorava, já que tava muito ocupado com o treino de futebol que nem existia.

“Direto ao ponto, claro. Economiza tempo. Entendi,” ele respondeu, reconhecendo meu pedido.

“Sean!”

“Acho que tenho uma solução pros nossos dois problemas,” ele soltou de uma vez, e levei um instante pra entender de qual problema ele tava falando.

Antes que eu pudesse abrir a boca, Sean me cortou.

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