Adric
Acordei com o som do meu telefone tocando, gemi e estendi a mão para pegá-lo. Nem me dei ao trabalho de ver quem estava ligando antes de atender.
“Onde diabos você está?” Ela grita alto pra caramba.
Abri os olhos quando percebi por que ela estava brava, eu não voltei, era para eu ter voltado na noite passada, mas acabei dormindo. Fomos quatro rodadas e, quando ele terminou, eu estava tão cansada que esqueci de mandar uma mensagem dizendo que não voltaria.
“Desculpa pra caramba,” eu disse, olhando para o homem ao meu lado.
“É melhor você voltar agora.” Ela disse antes de desligar. Vesti minhas roupas rapidamente, olhei para o homem uma última vez, Adric foi uma boa transa.
Olhei para o meu telefone, nunca pretendi ter uma senha porque tinha medo de um dia não lembrar dela. Meu papel de parede era o endereço da minha casa, só estou tentando ser cuidadosa, meus médicos disseram que minha memória ficaria pior do que já está e tenho certeza de que estou preparada para quando isso acontecer. Chamei um táxi e fui para casa.
“Você é burra?” Chanel gritou assim que cheguei em casa. “Eu estava tão preocupada, tentei te rastrear com o colar, mas não te encontrei.” Minha mão foi imediatamente para o meu pescoço. Não estava lá, será que deixei cair em algum lugar, será que deixei cair enquanto dançava na boate?
“Desculpa, Chanel, eu deveria ter sido mais cuidadosa,” eu disse.
“Tudo bem, eu estava muito preocupada.”
Eu a deixei preocupada, droga, essa não era minha intenção, como pude esquecer de mandar uma mensagem dizendo que não voltaria, como pude ser irresponsável com meu colar. Gostaria de saber em que estágio estou porque eles se sobrepõem.
“Desculpa mesmo, Chanel, de verdade.” Eu me sentia mal.
“Ei, tudo bem, está tudo bem, podemos conseguir um novo colar.” Ela sorriu, ela sempre tenta me fazer sentir melhor.
Peguei sua mão e a guiei até o sofá.
“Vamos, me conta sobre ele.”
“Quem é ele?” perguntei.
“O cara com quem você estava ontem à noite.”
“O nome dele é Adric, estou surpresa de ainda lembrar o nome dele. Foi incrível.” Eu disse a ela.
Alguns podem achar estranho falar sobre sexo com a irmã, mas sou muito próxima de Chanel, somos praticamente dois corpos e uma alma, e sempre me senti confortável falando com ela sobre sexo.
“Você pegou o número dele?” Ela perguntou quando terminei de contar tudo.
“Não, e nem pergunte por quê.” Ela levantou a mão como se estivesse se rendendo.
Ela pode tentar o quanto quiser, mas não estou pronta para ter qualquer tipo de compromisso com ninguém, ela uma vez tentou me convencer a ter um amigo com benefícios, mas eu não concordei. Sei que ela quer minha felicidade e estou bem do jeito que estou.
Voltei para o meu quarto e tomei um banho rápido, estava prestes a sair do banheiro quando vi um bilhete adesivo.
Escove os dentes.
Voltei e escovei os dentes, quando terminei, vesti minhas roupas e voltei para a sala.
“Comprei pizza,” Chanel disse, sentei ao lado dela e dei uma mordida.
“Aqui.” Ela disse me entregando meu remédio. “Você tem que ver o médico amanhã.” Ela me lembrou. Ela escreveu isso em um bilhete adesivo e colou na porta da geladeira e na porta principal.
Ela não deveria se preocupar, eu não vou esquecer, mesmo que eu esqueça, o médico faz questão de ligar pessoalmente só para me lembrar.
Comemos pizza e assistimos a uma sitcom, uma das favoritas dela. Chanel e eu passamos o dia juntas antes de ela decidir ir ver o namorado.
“Eu volto logo.” Ela diz, o que significa que voltará em um ou dois dias. Ela faz questão de me ligar todos os dias quando está na casa do namorado, às vezes me sinto um fardo para ela, e eu odeio isso. Gostaria de poder cuidar dela do jeito que ela cuida de mim; sempre que tento, ela não deixa.
Quando ela saiu, voltei para a cama e comecei a assistir Netflix, adormeci enquanto assistia a um filme.
No dia seguinte, quando acordei, recebi uma mensagem de Chanel me lembrando da minha consulta com o médico. Tomei um banho rápido e vesti minhas roupas. Caminhei até a cozinha quando vi outro bilhete adesivo.
“Vá à cafeteria.” Tirei o bilhete.
Droga, onde deixei minhas chaves do carro? Não pretendia procurá-las, fui até a porta e vi outro bilhete adesivo.
“Veja o médico, chave no balcão da cozinha.”
Chanel é uma salvadora.
Peguei minhas chaves e saí. Quando cheguei ao carro, tirei o bilhete adesivo e coloquei no volante, não quero esquecer de ir à cafeteria.
Cheguei ao consultório do médico.
Estava quieto como de costume, o ambiente era amigável, e minha médica estava sentada em uma cadeira de couro e sorriu para mim.
“Sente-se, Maya.” Ela diz. Sento-me em uma cadeira bem na frente dela.
“Bom dia, doutora.” Sorri, e ela balançou a cabeça. Sei que o nome dela começava com a letra S, mas não consigo lembrar qual era.
“Sabrina.” Ela diz.
“Desculpa.”
Conversamos bastante, o que consistiu em ela fazer perguntas, algumas eu conseguia lembrar e outras não. Ela insistiu que eu continuasse tomando meus remédios, era mais como perguntas de teste para ver se a demência estava piorando, pelo olhar no rosto dela, eu sabia que estava.
“Você vai melhorar.” Ela sorriu; ela sabia o que dizer para me fazer sorrir, eu queria que fosse verdade.
“A demência está piorando?” Perguntei, quando ela não disse nada, eu soube a resposta.
“Vai acontecer mais cedo do que o esperado?” Perguntei novamente.
“Desculpa por isso, Maya, sinto muito que você tenha que viver com isso.” Ela diz. “Você só tem que aproveitar sua vida, faça isso.”
“Como posso saber disso sabendo que um dia não vou lembrar de nada disso?”
“Eu sei que é difícil, você tem apenas 21 anos, Maya, você tem muito para viver.” Ela diz.
Minha demência está piorando, vou esquecer muitas coisas mais cedo do que o esperado, vou esquecer Chanel.
Saí do hospital e entrei no meu carro, não percebi quando as lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos, eu queria que não fosse assim. Chorei por horas até meus olhos ficarem doloridos.
Vi o bilhete e enxuguei minhas lágrimas. Talvez minha médica esteja certa, eu tenho muito para viver. Está na hora de cuidar daquela lista de desejos.