Capítulo 3: Encontros estranhos
Depois de uma noite tranquila, Caliope decidiu ir para a cama e descansar bem. Pela manhã, ela sentiu uma sensação estranha, como se estivesse sendo observada, mesmo estando meio adormecida e acordando lentamente, esses sentimentos foram se infiltrando em sua mente até que ela olhou ao redor do quarto e viu que tudo estava em ordem. Ela rolou na cama algumas vezes, então decidiu tomar um longo banho antes de se preparar para ir ao trabalho.
Assim que terminou de pegar sua bolsa, lembrou-se de imprimir o relatório do dia anterior. Quando estava indo em direção à porta, a campainha tocou, anunciando um visitante.
Ela sentiu um pouco de constrangimento ao ver o motorista da Senhora Clark esperando por ela novamente. Era um gesto muito gentil enviá-lo para buscá-la todas as manhãs, mas ela achava que era um pouco demais para o seu papel na vida da Senhora Clark.
Durante a viagem para a Residência Clark, o trânsito ficou incomumente movimentado para aquele horário da manhã. Enquanto esperavam os carros se moverem, Caliope notou um grupo de gatos no parque brigando. Embora soubesse que gatos de rua brigam por território ou comida, achou incomum ver vários brigando. Os carros começaram a se mover, e assim que continuaram a rota, ela já havia esquecido dos gatos.
A Senhora Clark estava esperando na entrada, visivelmente chateada. Quando Caliope desceu do carro, estava nervosa para confrontá-la.
"Desculpe-me, Senhora Clark, o trânsito estava pesado, eu deveria ter saído mais cedo."
"Caliope, estou com pressa, você tem o relatório sobre as propriedades?"
"Aqui estão, espero que tenha um bom dia hoje, Senhora."
Caliope entregou à Senhora Clark a pasta, que ela rapidamente deu uma olhada e depois fechou. Um pequeno sorriso cansado em seus lábios ajudou Caliope a se sentir melhor. Na porta do carro, a Senhora Clark se virou para Caliope novamente.
"Caliope, eu sei que você não tem controle sobre o trânsito, então não se culpe por isso. Deixei mais papelada no meu escritório. Vejo você à tarde."
E com essas palavras, a porta do carro se fechou e partiu. Caliope se sentiu aliviada e entrou no prédio com mais confiança.
Ao chegar à sala de estar principal, encontrou vários papéis espalhados pela mesa principal. Ela pensou que a Senhora Clark não seria o tipo de mulher que deixaria as coisas bagunçadas. Então lembrou que Magna não estava com ela naquela manhã, o que poderia explicar o que estava vendo. Se Magna era responsável por fazer a papelada da Senhora Clark à noite, e ela não estava por perto, tentar encontrar algo poderia resultar em frustração. Em meia hora, ela colocou os papéis em ordem na mesa da Senhora Clark. Uma pasta especial com seu nome na frente chamou sua atenção. Eram listas de diferentes clínicas de pesquisa patrocinadas pela empresa da Senhora Clark. Um pequeno bilhete dizia: "Encontre aquela que investiu mais tempo sem bons resultados".
Por volta do meio-dia, Caliope se viu fazendo escolhas difíceis entre estudos de pesquisa de DNA que pareciam ter se mantido no básico por anos e uma cura para comportamento agressivo com apenas resultados inconclusivos. Ela fez uma pausa e foi preparar algo para o almoço. Enquanto comia um sanduíche de peito de frango com legumes, começou a se perguntar por que estava encarregada de tomar decisões sobre novas aquisições de terras e possibilidades de investimento quando era apenas uma assistente. A Senhora Clark não tinha uma equipe que gerenciava questões tão importantes? Ela não iria reclamar, pois se sentia muito sortuda por estar adquirindo experiências de trabalho tão maravilhosas para construir seu currículo futuro.
Os próximos dias passaram sem nenhum outro evento notável. A Senhora Clark lhe atribuía algumas tarefas simples em um dia, e mais difíceis no outro, sempre incluindo algumas escolhas a serem feitas.
Sexta-feira chegou e a Senhora Clark tirou o dia de folga e revisou cada relatório com ela, dispensando-a mais cedo. Caliope encontrou um envelope na recepção do prédio com o pagamento da semana e um pouco mais para recompensar seu bom trabalho.
Na manhã de sábado, aquela sensação estranha de estar sendo observada ficou mais forte, o suficiente para tirá-la dos sonhos. Ela poderia jurar que havia sombras perto da janela, mas estava trancada, e não havia plataformas do lado de fora, tornando impossível que alguém estivesse ali.
Por volta do meio-dia, Caliope saiu para encontrar uma velha amiga para almoçar. O restaurante estava muito lotado e ela não conseguiu encontrar sua amiga. Sentou-se em uma mesa no terraço para aproveitar a vista e deixou uma mensagem para sua amiga informando onde estava sentada. Enquanto bebia um pouco de água, observava alguns prédios distantes e o lindo parque próximo a ela. Uma pequena aglomeração de pessoas chamou sua atenção e ela notou alguns animais brigando novamente. 'Duas vezes em uma semana?' ela achou mais do que estranho, as pessoas perto dos gatos estavam tanto assustadas quanto curiosas. Uma criança pequena tentou puxar o rabo de um dos gatos e sua mãe rapidamente o afastou. Um homem mais velho jogou algumas pedras para interromper a briga, fazendo os gatos se dispersarem furiosamente. Um dos gatos arranhou o braço do homem enquanto fugia.
"Bem, você está um arraso!"
"Longe disso! Você é quem está roubando a cena, como sempre!"
Caliope se levantou rapidamente, segurando sua amiga de infância em um abraço apertado. Ambas sorriram, aproveitando o reencontro após tanto tempo separadas.
"Faz tanto tempo, por favor, não vá embora tão cedo, me dê tempo para aproveitar mais você."
Vanessa riu. "Você sempre teve a chance de vir comigo, só foi teimosa demais para me acompanhar. E eu vou ficar mais uma semana, depois é Paris."
"Paris? Parece que o trabalho está te tratando bem!"
"É maravilhoso fazer essas viagens, posso viver meu sonho de novos mundos com cada novo destino, mas depois fica entediante tão rápido," suspirou.
"Sério? Achei que você estaria aproveitando mais..."
"As reuniões são longas, tenho que me encontrar com o autor ou artista de qualquer peça de arte que a galeria queira adquirir, depois discutir o preço e negociar... Não gosto nem um pouco dessa parte..."
"E o amor? Algum romance em algum dos seus destinos? Algum novo namorado rico?"
Vanessa riu. "Não tenho tempo para me apaixonar por ninguém, e o tempo é sempre muito curto..."
O telefone de Vanessa tocou e ela se desculpou, atendendo a ligação e falando com alguém em italiano, provavelmente um novo cliente. Caliope sorriu e olhou ao redor procurando o garçom para pedir algo para comer. De repente, um rosto familiar chamou sua atenção, dentro da sala principal, ela sabia que não era sua imaginação, mesmo tendo visto ele apenas uma vez, ela o reconheceu.
"Amra?"
Vanessa tinha acabado de terminar a ligação e ouviu, virando a cabeça para seguir Caliope, mas não viu ninguém que conhecesse.
"Quem é Amra?"
"Não pode ser ele, ele não deveria estar fora."
Caliope se levantou e olhou novamente para a sala principal, mas ele não estava mais lá. Ela rapidamente caminhou até a porta e, bem ali, o viu novamente descendo as escadas em direção à saída. Vanessa a seguiu e a puxou pelo braço.
"O que está acontecendo, Caly? Quem é esse Amra?"
"Amra é o filho da minha chefe, e ele não deveria estar fora, não é fácil de explicar, mas eu preciso ir buscá-lo... podemos nos encontrar mais tarde?"
"Claro, só não se esqueça de mim, ok?"
"Não vou, obrigada! Desculpe!"
Ela a beijou na bochecha e pegou sua bolsa, indo em direção à saída procurando por Amra. Ela caminhou alguns metros para um lado e depois olhou em todas as direções possíveis que ele poderia ter ido. Longe, no lado oposto, ele estava sentado em um banco, no parque, a poucos metros de onde os gatos estavam brigando mais cedo.
Caliope apressou-se para encontrá-lo, e a poucos metros dele, sentiu aquela sensação intensa novamente, a mesma que sentiu na primeira vez que se encontraram. Os pelos da nuca se arrepiaram, e ela teve arrepios nos braços.
"Amra, você está bem?"
"Espero que você esteja."
"O que você quer dizer? O que está fazendo aqui? Sua mãe sabe?"
"Ainda não é tarde demais."
Caliope não entendeu o que ele estava dizendo, mas também não tentou entender. Pegando o telefone da bolsa, discou o número privado da Senhora Clark, que atendeu no terceiro toque.
"Caliope? Achei que tinha te dado o fim de semana de folga."
"Senhora Clark, não há uma maneira fácil de dizer isso, mas encontrei seu filho... ele estava no restaurante onde eu estava, e eu o segui até um parque."
Houve um silêncio tenso antes de ela falar. "Ele está bem?"
"Sim, ele está."
"Estou a caminho, me mande o endereço, por favor."
"Sim, Senhora Clark, imediatamente."
Caliope desligou e enviou uma mensagem com a localização, depois caminhou alguns passos mais perto dele. Ele estava imóvel, olhando para a grama sem nem piscar. Ela estava nervosa perto dele, mas não queria tirar os olhos dele. Contra todos os sinais de alerta que sentia em seu corpo, a estranha eletricidade e a atmosfera pesada, ela cuidadosamente se sentou ao lado dele em silêncio.
Amra inclinou a cabeça ligeiramente, em sua direção.
"Não deve ser fácil, estar sempre trancado... você sentiu falta do ar fresco?"
Mais silêncio, Amra a ouviu, mas não respondeu. Ela também não insistiu. Então, de repente, Caliope ouviu os passos da Senhora Clark se aproximando rapidamente. Amra sorriu de canto. A Senhora Clark descansou a mão no ombro dele e respirou fundo, visivelmente preocupada.
"Não posso te agradecer o suficiente, Caliope, sinto muito... se ele fez você interromper algum dos seus planos para a noite."
"Está tudo bem, Senhora Clark, ele também está bem, nada aconteceu."
A Senhora Clark estava perturbada e chateada, mas não disse uma palavra a ele. Caliope, por outro lado, achou a chegada dela extremamente repentina, mas talvez ela estivesse apenas por perto.
"Estamos indo, novamente, obrigada Caliope, vejo você na segunda-feira."
A Senhora Clark acariciou o ombro de Amra e ele se levantou sem olhar para nada além da grama distante. Eles foram para o carro e o motorista desapareceu com eles rapidamente.