




Sombras da Misericórdia
O rescaldo da batalha deixou o convés do navio mercante em desordem. Corpos, tanto mortos quanto feridos, estavam espalhados, as tábuas de madeira escorregadias de sangue. O cheiro acre de pólvora pairava no ar, misturando-se com o sabor salgado do mar. Eu me preparei contra a visão e o cheiro, seguindo Maeve enquanto ela se movia entre os feridos, oferecendo a ajuda que podíamos com os suprimentos limitados que tínhamos.
Maeve era uma presença constante, suas mãos firmes e experientes enquanto enfaixava feridas e oferecia palavras de conforto aos feridos. Eu fazia o meu melhor para ajudá-la, segurando ataduras, buscando água e seguindo suas instruções. Minhas mãos tremiam enquanto trabalhava, mas me obriguei a me concentrar na tarefa. Não havia tempo para medo ou hesitação.
Os marinheiros mercantes capturados estavam amontoados, com as mãos amarradas, expressões variando de desafiadoras a aterrorizadas. Eles nos observavam com olhos cautelosos, incertos sobre seu destino. O Capitão Blackthorn havia ordenado que fossem presos, mas além disso, seu futuro permanecia incerto. Não pude deixar de sentir uma pontada de simpatia por eles; eram vítimas das circunstâncias, assim como eu.
Terminei de amarrar uma atadura no braço de um jovem marinheiro e olhei para cima para ver o Capitão Blackthorn caminhando em nossa direção. Sua presença era imponente, seus olhos escuros avaliando a cena com um olhar crítico. Ele acenou para Maeve, reconhecendo seus esforços.
"Como eles estão?" ele perguntou, sua voz rouca.
"Alguns vão sobreviver," Maeve respondeu sem levantar os olhos do trabalho.
"Outros nem tanto."
"Fizemos o que podíamos."
A mandíbula do Capitão Blackthorn se apertou, mas ele apenas acenou com a cabeça. Ele se virou para mim, seu olhar penetrante.
"Você fez um bom trabalho, Isabella."
"Obrigada, Capitão."
Ele deu um aceno curto, então voltou sua atenção para o capitão mercante, que estava sendo segurado por dois dos homens de Blackthorn. O capitão mercante era robusto, com uma barba grisalha, seu rosto marcado por preocupação e raiva.
"Capitão Blackthorn," ele disse, sua voz tremendo ligeiramente.
"Por favor, tenha misericórdia."
"Somos humildes comerciantes."
"Não queremos lhe fazer mal."
Blackthorn o olhou com um olhar frio e calculista.
"Misericórdia é uma mercadoria rara nestas águas."
"Não sou desprovido de razão."
"Vamos pegar o que precisamos da sua carga, e você e seus homens serão deixados à deriva."
"Você tem minha palavra."
Os ombros do capitão mercante cederam em alívio, embora a desconfiança ainda brilhasse em seus olhos.
"Obrigado."
Blackthorn acenou para seus homens, que começaram a organizar a transferência da carga. Observei enquanto barris de comida, caixas de mercadorias e outros suprimentos eram movidos do navio mercante para o Black Serpent. A tripulação trabalhava rápida e eficientemente, seus movimentos praticados e seguros.
O sol mergulhava mais baixo no céu, lançando um brilho dourado sobre a cena. A tarefa estava quase completa. Os marinheiros mercantes capturados receberam um pequeno barco abastecido com suprimentos suficientes para chegar ao porto mais próximo. O capitão mercante fez uma pausa antes de entrar no barco, virando-se para olhar para Blackthorn uma última vez.
"Você poupou nossas vidas hoje, Capitão Blackthorn."
"Por isso, sou grato."
"O karma tem uma maneira de equilibrar as coisas."
A expressão de Blackthorn permaneceu impassível.
"Veremos sobre isso."
"Boa viagem, Capitão."
Com isso, o barco foi baixado na água, e os marinheiros mercantes começaram a remar para longe do Black Serpent.
"Isabella," a voz de Maeve interrompeu meus pensamentos.
"Venha, precisamos voltar para o navio."
Eu assenti e a segui, meus passos pesados de exaustão. A tripulação já havia começado a preparar o Black Serpent para a partida, desenrolando as velas e segurando as cordas. Subi de volta ao convés. Olhei ao redor para a tripulação, tentando ler suas expressões. Alguns me olhavam com curiosidade, outros com indiferença, mas nenhum com hostilidade aberta. Era um pequeno conforto.
O Capitão Blackthorn estava conversando com seu imediato, James. Eles trocaram algumas palavras antes de Blackthorn se virar e se aproximar de mim mais uma vez.
"Isabella," ele disse, seu tom indecifrável.
"Uma palavra."
Eu o segui até a popa do navio, onde os sons da tripulação se desvaneceram ao fundo, substituídos pelo som rítmico das ondas contra o casco. Blackthorn se apoiou no corrimão, seu olhar fixo no horizonte.
"Você fez um bom trabalho hoje," ele disse, sem olhar para mim.
"Manteve a cabeça no lugar e seguiu as ordens."
"Isso é mais do que posso dizer de alguns dos meus tripulantes experientes."
Engoli em seco, sem saber como responder.
"Obrigada, Capitão."
Ele finalmente se virou para me olhar, seus olhos escuros buscando os meus.
"Você tem espírito, isso eu admito."
"Mas só espírito não vai te manter viva neste navio."
"Você precisa aprender a lutar e se defender."
"Maeve vai te treinar."
"Você fará qualquer tarefa que for designada a você."
"Entendeu?"
"Sim, Capitão. Entendi."
"Você voltará aos aposentos do capitão."
"James vai te acompanhar."
Segui James pelo convés ondulante, cada passo sincronizado com o balanço rítmico do navio. Uma dança entre homem e mar. Tropecei ligeiramente, instintivamente estendendo a mão para agarrar o corrimão firme em busca de apoio. Uma risada escapou dos lábios de James.
"Você vai se acostumar com isso," ele me tranquilizou, sua voz carregando uma nota de camaradagem.
Com um aceno de gratidão, me endireitei, minha determinação renovada enquanto continuávamos nossa jornada pelo convés.
"Estamos quase lá," anunciou James, sua voz cortando o suave rugido das ondas.
"Vamos, vamos te levar aos aposentos do capitão."
Logo chegamos ao nosso destino. A imponente porta dos aposentos do capitão se erguia diante de nós como um sentinela guardando os segredos dentro. Com um movimento ágil, James empurrou a porta, revelando o interior fracamente iluminado além. Cruzei o limiar. A porta se fechou atrás de nós com um estrondo sólido.
"Sinto muito pelo comportamento atroz do meu irmão com você," começou James, sua voz tingida de arrependimento.
"Ele pode ser um homem cruel."
Balancei a cabeça suavemente, um pequeno sorriso brincando nos cantos dos meus lábios.
"Não é culpa sua."
"Não há pelo que se desculpar."
Antes que James pudesse responder, o Capitão Blackthorn apareceu na porta, sua presença comandando atenção e respeito em igual medida.
"Isso é tudo, James," declarou o capitão, sua voz não admitindo argumentos.
"Como desejar, capitão," respondeu James, me deixando sozinha mais uma vez com o Capitão Blackthorn.
"Você fez um bom trabalho hoje, Isabella," ele disse, se aproximando.
Tentei não me encolher quando seus braços me envolveram. O cheiro de sangue encheu meu nariz, minha mente instintivamente gritava que eu deveria fugir do perigo à minha frente. Um gemido escapou dos meus lábios quando ele me empurrou contra a parede. Minhas costas ainda estavam doloridas das chicotadas que recebi na noite anterior.
"Ver você entre minha tripulação hoje me fez desejar seu corpo."
"Você será recompensada pelo seu bom trabalho hoje."
"Isabella," ele murmurou, sua voz um baixo rugido.
"Tenho uma proposta para você."
Engoli em seco, minha garganta de repente seca enquanto me preparava para qualquer pedido distorcido que ele tivesse em mente.
"O que é, Mestre?"
Um sorriso lento e predatório curvou os lábios do capitão enquanto ele se aproximava de mim, seus movimentos deliberados e medidos. Ele estendeu a mão, seus dedos roçando o tecido delicado do meu vestido, traçando a curva da minha clavícula.
"Eu adquiri algo para você, Isabella," ele disse, sua voz baixa e rouca de antecipação.
"Algo que acredito que agradará a ambos."
Com um floreio, ele tirou um pacote de seda e renda de um baú próximo, desdobrando-o para revelar uma delicada camisola que brilhava como a luz da lua na água. Minha respiração ficou presa na garganta enquanto eu olhava para a peça, minha mente girando com descrença e horror diante da audácia do capitão.
"Espero que você use isso esta noite," ele disse, seu tom não admitindo discussão.
"Preparei um jantar especial para nós, e acredito que esta roupa seria a mais apropriada."
Meu coração afundou quando a realização me atingiu, o peso das expectativas do capitão pressionando como uma âncora me arrastando para o fundo do mar. Com mãos trêmulas, estendi a mão e peguei a lingerie de seu alcance, meus dedos se curvando ao redor do tecido delicado com uma determinação nascida do desespero.
"Como desejar, Mestre."
Caminhei até o banheiro, a lingerie, uma obra-prima delicada de renda e seda. O tecido brilhava como a luz da lua na água, etéreo e leve contra minha pele, como se fosse tecido dos próprios fios dos meus sonhos.
O corpete era adornado com padrões florais intrincados, delicados ramos de renda contornando minhas curvas com uma graça que parecia quase sobrenatural. Cada pétala e folha era renderizada em detalhes exquisitos, cada ponto um testemunho da habilidade do artesão que a havia confeccionado.
Alças finas cruzavam sobre meus ombros, emoldurando a curva suave das minhas clavículas com uma elegância sutil. O decote mergulhava em um ousado V, a renda mal roçando o inchaço dos meus seios antes de desaparecer nas profundezas do meu decote.
A cintura era ajustada com uma fita de cetim, o tecido macio caindo delicadamente ao redor das minhas pernas, sussurrando segredos a cada movimento. Não pude deixar de admirar a forma como se ajustava ao meu corpo, como se a peça tivesse sido feita para ninguém além de mim.
Com uma respiração profunda, me preparei e saí do banheiro, encontrando o Capitão Blackthorn esperando, a antecipação gravada em suas feições.
"Lindo," ele murmurou, sua voz baixa e cheia de uma intensidade que enviou arrepios pela minha espinha.
"Obrigada," respondi, meu coração acelerado enquanto me aproximava.
"Esta noite será memorável," ele prometeu, um sorriso malicioso brincando nos cantos de seus lábios.
Eu gemi quando ele me empurrou rudemente contra a parede.