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Conhecendo a tripulação

Seus olhos frios e implacáveis se fixaram nos meus. O aperto do Capitão Blackthorn em meu pulso se intensificou, forçando-me a segui-lo enquanto ele me arrastava para fora da pequena cabine mal iluminada. O corredor do lado de fora era estreito, saturado com o cheiro de sal e madeira envelhecida. O navio rangia e gemia, balançando suavemente com as ondas. Eu tropeçava para acompanhar os passos largos do Capitão Blackthorn, meus pés descalços escorregando nas tábuas de madeira desgastadas sob mim.

Emergimos no convés. O sol da manhã começava a perfurar o espesso manto de névoa que envolvia o navio. A tripulação, uma coleção heterogênea de homens e mulheres endurecidos, pausou suas tarefas para observar nossa chegada. Seus olhos eram curiosos, alguns brilhando com malícia, outros exibindo mera indiferença.

O Capitão Blackthorn me puxou para o centro do convés, sob o mastro imponente que se erguia acima de nós. Ele soltou meu pulso com um empurrão que quase me fez cair de joelhos. Eu me segurei, ficando de pé com a maior dignidade que consegui reunir, levantando o queixo desafiadoramente.

"Ouçam todos vocês!"

A voz do Capitão Blackthorn ecoou, comandando atenção imediata.

"Esta aqui é Isabella, minha nova esposa."

Ele se virou para mim, um sorriso sarcástico cruzando seus lábios.

"Ela vai se juntar à nossa humilde tripulação."

"É melhor tratá-la com o mesmo respeito que me dão," ele continuou, seu tom escurecendo.

"Qualquer homem ou mulher que sequer olhe para ela de maneira errada vai se ver comigo."

Um murmúrio percorreu a tripulação. Eu examinei seus rostos, tentando avaliar suas reações. Um homem alto, com cicatrizes e um olho faltando, sorriu para mim, enquanto uma jovem de cabelos ruivos ofereceu um aceno simpático.

"Este é o Serpente Negra, garota," disse o Capitão Blackthorn, voltando seu olhar para mim.

"Estes são seus novos companheiros de tripulação."

"Você vai trabalhar, ganhar seu sustento, e talvez, só talvez, você viva para ver outro dia."

"Entendeu?"

Eu assenti; minha garganta estava apertada demais para formar palavras. Minha mente corria para processar tudo o que havia acontecido. Apenas dias atrás, eu era uma princesa, vivendo uma vida de conforto e segurança. Agora, eu era uma cativa em um navio pirata, à mercê de um homem que parecia se deleitar com sua crueldade. Os olhos do Capitão Blackthorn se estreitaram enquanto ele me estudava, e por um momento, temi que ele pudesse me bater. Em vez disso, ele se virou para a tripulação mais uma vez.

"Voltem ao trabalho!"

A tripulação se dispersou, alguns lançando olhares demorados na minha direção. Uma mulher robusta, com o rosto marcado pelo sol, se aproximou, sua expressão severa, mas não hostil.

"Vamos lá, então," ela disse rudemente.

"Vamos te ajeitar."

"Meu nome é Maeve, a propósito."

"É melhor você ficar perto de mim até encontrar seu caminho."

"Obrigada, Maeve," respondi baixinho.

"Você é boa com um esfregão e um balde?" ela perguntou, levantando uma sobrancelha.

"Suponho que terei que ser," respondi, forçando um pequeno sorriso.

"Esse é o espírito," Maeve riu.

"Vamos lá, então."

"Vou te mostrar o que precisa ser feito."

"Lembre-se, mantenha a cabeça baixa e fique esperta."

"O Capitão Blackthorn pode ser duro, mas é a tripulação que você precisa observar."

Eu assenti, seguindo-a pelo convés. O sol subia mais alto, dissipando os últimos vestígios de névoa. O navio fervilhava de atividade, a tripulação se preparando para a jornada do dia. Respirei fundo, me preparando para o que quer que estivesse por vir. Minha vida antiga havia acabado, mas para sobreviver a esta nova, eu precisava aprender rapidamente e me adaptar ainda mais rápido.

Peguei um esfregão e um balde, lançando um olhar para o Capitão Blackthorn. Seus olhos estavam fixos em mim, uma intensidade sombria girando em seu olhar. Desviei o olhar, focando na minha tarefa. Maeve forneceu algumas instruções rápidas sobre como limpar o convés, sua voz baixa e firme, oferecendo uma sensação de calma em meio ao caos. Eu assenti, tentando absorver tudo o que ela dizia.

A tripulação se movia ao nosso redor, cada pessoa envolvida em suas tarefas. O homem alto e cicatrizado de antes enrolava cordas, seu único olho bom me observando com curiosidade e diversão. A mulher de cabelos ruivos remendava uma vela, seus dedos ágeis trabalhando rapidamente. Todos tinham um propósito, um papel na dança intricada da vida a bordo do Serpente Negra.

Mergulhei o esfregão no balde, torcendo o excesso de água antes de começar a esfregar as tábuas de madeira sob meus pés. O movimento repetitivo era quase reconfortante, permitindo-me observar meu entorno. O navio era velho, mas bem cuidado, cada centímetro marcado por inúmeras viagens através de mares traiçoeiros. Maeve ficou por perto, oferecendo ocasionalmente uma palavra de encorajamento.

"Você está indo bem, Isabella."

"Continue assim."

"Ainda faremos de você uma marinheira."

"Obrigada, Maeve," respondi, grata por sua orientação.

A manhã avançava. O sol subia mais alto, seus raios batendo no convés. O suor escorria pelas minhas costas, e eu parei para enxugar a testa com o dorso da mão. A energia da tripulação era contagiante, e me vi envolvida no ritmo de seus movimentos, o zumbido constante da atividade. De repente, um grito ecoou do ninho da gávea.

"Navio no horizonte!"

Toda atividade cessou enquanto todos se viravam para olhar. Um murmúrio de excitação e apreensão percorreu a tripulação. O Capitão Blackthorn caminhou até a borda do convés, estreitando os olhos enquanto examinava o horizonte distante.

"Preparem-se para a ação!" ele latiu.

"Todos no convés!"

"Homens aos canhões!"

A tripulação entrou em ação, suas tarefas anteriores esquecidas diante do perigo potencial. Meu coração disparou enquanto eu os observava, sem saber o que fazer. Maeve agarrou meu braço, puxando-me para o lado.

"Fique perto, Isabella."

"Isso pode ficar feio."

Eu assenti, meus olhos arregalados de medo. O navio no horizonte crescia, suas velas inflando ao vento. Era um navio mercante, menor que o Serpente Negra, mas ainda assim uma ameaça potencial. O rosto do Capitão Blackthorn endureceu enquanto ele dava ordens, sua voz cortando o caos com eficiência implacável.

"Carreguem os canhões!"

"Preparem a equipe de abordagem!"

A tripulação se movia com precisão prática, suas ações rápidas e coordenadas. Eu assistia horrorizada enquanto os canhões eram carregados, pólvora e balas cuidadosamente medidas e colocadas. Os dois navios se aproximavam. Eu conseguia distinguir as figuras no convés do navio mercante, seus rostos pálidos e ansiosos. Eles não eram páreo para os piratas experientes do Serpente Negra. Essas pessoas eram inocentes, pegas na mira das ambições do Capitão Blackthorn.

"Calma, agora!" ele gritou.

"Esperem pelo meu sinal!"

Os navios estavam quase lado a lado, a distância entre eles diminuindo rapidamente. A tripulação prendeu a respiração, seus olhos fixos no capitão. Eu segurei o cabo do esfregão com força, os nós dos dedos brancos de esforço.

"Fogo!"

Os canhões rugiram, o som ensurdecedor. O recuo sacudiu o convés sob meus pés, e eu cambaleei, agarrando o corrimão para me apoiar. Fumaça e o cheiro acre de pólvora encheram o ar, misturando-se aos gritos dos feridos e ao choque de aço.

A tripulação do Serpente Negra entrou em ação, ganchos de abordagem e pranchas de embarque prontos. Com um grito de batalha feroz, eles invadiram o navio mercante, espadas brilhando à luz do sol. Maeve agarrou meu braço novamente, puxando-me de volta para o mastro principal.

"Fique aqui e mantenha a cabeça baixa," ela ordenou.

"Vai ficar feio."

Eu assenti, com medo demais para discutir. Me agachei atrás do mastro, o coração batendo forte no peito. Os sons da batalha enchiam o ar: o choque de aço, gritos de homens, gritos dos feridos. Espiei ao redor do mastro, observando enquanto a tripulação do Serpente Negra dominava os defensores do navio mercante.

O Capitão Blackthorn estava no meio da confusão, sua espada um borrão enquanto ele derrubava qualquer um que se colocasse em seu caminho. Seus movimentos eram fluidos, quase graciosos, e uma intensidade feroz brilhava em seus olhos, enviando um calafrio pela minha espinha. Ele era uma força da natureza, imparável e impiedoso.

A batalha terminou rapidamente. A tripulação mercante não era páreo para os piratas experientes, e logo se renderam, suas armas caindo no convés em derrota. O Capitão Blackthorn estava em meio à carnificina, peito arfando de esforço, olhos examinando a cena com satisfação.

"Prendam os prisioneiros e saquem a carga!" ele comandou.

"Alguém chame o médico para os feridos!"

A tripulação entrou em ação, amarrando as mãos dos marinheiros mercantes sobreviventes e começando a transferir a carga do porão do navio capturado. Maeve veio me encontrar, seu rosto sombrio, mas aliviado.

"Acabou, por enquanto," ela disse, ajudando-me a levantar.

"Vamos ver se podemos ajudar em algo."

Eu assenti. Segui Maeve até o navio mercante, a realidade da minha nova vida se assentando. Este era o mundo em que eu havia sido lançada. Um mundo de violência e sobrevivência. Se eu quisesse sobreviver, precisaria ser forte, engenhosa e inflexível.

Nos movemos entre os feridos, oferecendo a ajuda que podíamos. Encontrei o olhar do Capitão Blackthorn. Por um momento, nossos olhares se cruzaram, e fiquei surpresa com o que vi. Vi um lampejo de aprovação, talvez até respeito. Desapareceu em um instante, substituído por seu habitual comportamento frio e calculista.

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