




Capítulo 05 Ariele
No terceiro dia, eu ainda não tinha conhecido Toni e vagava pela casa. Na manhã seguinte, quando acordei, não hesitei em descer. No convento, eu costumava acordar cedo, e velhos hábitos são difíceis de mudar.
Enquanto descia as escadas, tentei me preparar mentalmente para a interação. Já podia ouvir vozes vindas da sala de jantar. Eric insistia que eu fizesse as refeições com eles, embora eu pudesse ver o desagrado de sua cunhada.
Lembrei-me do jeito que ele me olhava, com seus olhos negros penetrantes e um sorriso torto que sempre parecia esconder algo. Lembrei-me do jeito que ele falava, com uma mão firme no meu ombro, como se ele fosse meu dono.
Eu estava cansada de tudo isso. Cansada de ser mantida cativa, mesmo que ele alegasse que eu era apenas a babá de sua sobrinha. Cansada de suas insinuações e olhares lascivos. Cansada de tudo!
Estava quase chegando à cozinha quando ouvi sua voz. Não iria me juntar a eles hoje; comeria com os outros funcionários.
"Olá, Ariele. Dormiu bem?"
Meu corpo inteiro estremeceu ao ouvir sua voz. Tentei manter uma expressão impassível, mas por dentro, eu estava surtando. Odiava o fato de que ele podia ter esse efeito sobre mim.
"Sim, obrigada." Respondi, tentando manter a voz firme.
Ele se aproximou de mim, e eu podia sentir o calor de seu corpo. Lutei contra a vontade de me afastar.
"Você sabe que é muito bonita, não sabe, Ariele?" ele disse, tocando meu braço. Ele era tão descarado e sem vergonha.
Engoli em seco e afastei meu braço.
"Não, Sr. Eric. Não quero falar sobre isso." Disse, minha voz tremendo ligeiramente.
Ele riu, como se achasse engraçado.
"Você é tão tímida, Ariele. Mas não se preocupe. Não farei nada que você não queira."
Eu sabia que ele estava mentindo. Sabia que ele faria qualquer coisa para me ter, e eu estava apavorada. Queria fugir, mas sabia que não podia. Estava presa, e não sabia se algum dia conseguiria escapar.
Respirei fundo e tentei manter a compostura; não podia deixá-lo me ver fraca.
"Vou tomar meu café da manhã agora." Disse, afastando-me dele.
Ele me observou por um momento, como se estudasse cada movimento que eu fazia.
"Claro, Ariele. Mas não se preocupe. Estarei sempre aqui quando você precisar de mim. Tenha um bom dia, minha Ariele." Ele disse, com um sorriso malicioso no rosto. Mas o que me assustava era a certeza em suas palavras, olhando nos meus olhos como se eu realmente pertencesse a ele.
Senti meu coração afundar ao sair da cozinha. Não suportava mais um dia naquela casa. Precisava sair dali.
Não saí do meu quarto pelo resto do dia. Confesso que à noite, a fome bateu, e surpreendentemente, uma das meninas que trabalhava na cozinha trouxe meu jantar e sobremesa. Não tinha certeza se foi a Sra. Cassandra ou Eric; poderia até ter sido um deles que sentiu minha falta. Mas agradeci e comi, adormecendo logo depois que tudo foi levado.
No dia seguinte, durante o café da manhã, Toni estava à mesa. Loira como a mãe, olhos azuis, uma boneca, mas não havia brilho infantil nela.
Quando estávamos terminando, decidi puxar conversa, já que Eric não estava lá, e Cassandra não parecia disposta a cooperar.
"Oi, meu nome é Ariele. Qual é o seu nome?" Perguntei educadamente.
"Meu nome é Antonieta. Você é a nova babá?" Antonieta respondeu com uma expressão pouco amigável.
"Sim, sou eu. Vou ficar feliz em cuidar de você." Respondi, sorrindo.
"E por que eu preciso de uma nova babá? Eu já tenho minha mãe." Toni questionou.
"Ariele vai te ajudar e cuidar de você quando a mamãe não estiver por perto." Cassandra respondeu sem entusiasmo.
Toni não parecia muito satisfeita com a minha presença e continuou fazendo perguntas desafiadoras. Cassandra apenas observava tudo em silêncio.
"Você sabe jogar xadrez? E qual é o seu jogo favorito?" Toni perguntou com um olhar desafiador.
"Sim, eu sei jogar xadrez. E meu jogo favorito é..." Fui interrompida por ela.
"Você não pode ser minha babá se não souber meu jogo favorito." Toni disse autoritariamente.
"Desculpe, Toni. Qual é o seu jogo favorito?" Perguntei com um sorriso.
"Meu jogo favorito é War." Ela respondeu, satisfeita.
"Ah, eu também adoro War! Podemos jogar juntas algum dia." Sugeri animada.
Finalmente, Toni pareceu interessada em mim e começou a perguntar mais sobre o que eu gostava de fazer e quais coisas legais eu sabia fazer.
No final, acho que ganhei um pouco da confiança de Toni, e ela baixou a guarda um pouco.
Percebi que ela era uma criança muito exigente. Seu dia estava cheio de atividades: balé, natação, aulas bilíngues e lições extras. Mal podia acreditar que ela tinha apenas seis anos. Mas Toni explicou que era importante para ela para que pudesse se destacar no futuro.
Achei assustador quantos pensamentos maduros ela tinha, e questionei que tipo de atenção sua mãe estava dando a ela. Tive que escolher entre várias roupas, garantir que seu cabelo estivesse bem arrumado e que ela estivesse usando as sapatilhas de balé certas. Depois de levá-la para a aula, esperei ansiosamente do lado de fora.
Quando a aula terminou, levei-a para a natação, onde tive que passar pela mesma rotina de escolher maiôs, ajudá-la a se trocar e esperar do lado de fora. Depois da natação, era hora das aulas bilíngues, onde fiquei impressionada com a habilidade de Toni em aprender línguas estrangeiras tão rapidamente.
Mas o que realmente me exauria eram as lições extras. Cassandra exigia que eu revisasse as lições de Toni com ela todas as noites para garantir que ela estivesse progredindo na escola. Toni tinha apenas seis anos, mas sua rotina parecia mais a de um adulto.
Eu sabia que Eric estava fazendo o melhor para dar a Toni uma educação de qualidade, mas não podia deixar de sentir pena da pequena menina que não tinha tempo para brincar ou se divertir como outras crianças da sua idade. Perguntava-me se Toni seria feliz no futuro se continuasse vivendo em uma rotina tão exaustiva.
Conversei sobre esses pensamentos com Cassandra, mas ela apenas sorriu cinicamente e disse que eu não precisava me preocupar com essas coisas. Eu sabia que eles estavam envolvidos em coisas perigosas, e suas vidas eram muito diferentes da minha. Mas ainda assim, não podia deixar de sentir pena da pequena menina que parecia tão solitária e infeliz em meio a tantas atividades e obrigações.
...
Hoje, jantei sozinha com Toni. Sua mãe não se juntou a nós, e nem o Sr. Greco, mas confesso que gostei de ter um jantar tranquilo com minha pequena amiga. Conversamos sobre nossas semanas e rimos bastante.
Depois do jantar, ajudei Toni a se preparar para dormir. Ela colocou o pijama e escovou os dentes, depois se aconchegou debaixo das cobertas. Sentei na beira da cama dela e perguntei:
"Toni, você gostaria de ouvir uma história para dormir?"
"Não sei, Ariele... Não estou com sono ainda." Ela respondeu, bocejando.
"Vamos lá, Toni! Eu prometo que vai ser uma história bem legal!" Insisti, animada; tínhamos desenvolvido uma conexão em tão pouco tempo.
Depois de alguns segundos de hesitação, Toni finalmente concordou. Ela se acomodou na cama, se cobriu com o lençol e fechou os olhos. Comecei a contar a história, e a princípio, ela parecia bastante atenta. No entanto, à medida que eu descrevia os eventos do livro, ela caiu em um sono profundo. Observei seu pequeno corpo, já sentindo um forte apego.
Depois de deixar Toni em seu quarto, voltei para o meu. No caminho, esbarrei no mafioso. Ele tinha algumas manchas de sangue nas roupas, e seu rosto estava machucado, mas ele ainda parecia inabalável. Ele me cumprimentou com um sorriso sarcástico e começou a falar comigo.
"Olá, Ariele. Vejo que está saindo do quarto da minha sobrinha. Espero que vocês duas estejam se divertindo muito." Eric disse com um tom irônico.
"O que aconteceu com você? Está machucado." Eu disse, notando os hematomas em seu rosto e tentando ignorar seu sarcasmo.
"Não é nada. Apenas alguns negócios que precisavam ser resolvidos." Ele respondeu com um sorriso satisfeito.
Comecei a me afastar dele, mas Eric se aproximou, inclinando-se para sussurrar no meu ouvido.
"Você sabe, Ariele, há algo excitante no cheiro de sangue fresco. Sexo com sangue é uma experiência luxuosa que poucos têm a sorte de experimentar." Ele disse, sedutor.
Imediatamente me afastei, horrorizada com a ideia. Eu sabia que Eric era um homem perigoso, mas isso era demais até para mim.
"Eric, você é nojento." Eu disse, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. Sem me importar em usar seu primeiro nome, ele ainda exalava aquela aura poderosa e masculina, dominando todo o ambiente; esse homem me deixaria louca.
Corri, abalada por sua beleza e, ao mesmo tempo, horrorizada pela ideia de quem poderia ser o sangue em suas roupas. Não podia acreditar que acabara de ter uma conversa tão bizarra com um homem.
Corri para o meu quarto, com o coração acelerado e a respiração pesada. Mal podia acreditar no que acabara de vivenciar. O mafioso, com seu rosto cruel e palavras sujas, ainda estava gravado na minha memória. Sua presença me aterrorizava, e eu não conseguia afastar a sensação de que ele estava em todos os lugares.
As palavras que ele disse pareciam ter um poder mágico sobre mim. Não sabia o que havia acontecido, mas algo no tom de sua voz e nas palavras que usou fez meu corpo reagir de maneiras que eu não entendia. Sentia nojo e terror, tudo ao mesmo tempo.
Isso tinha sido uma montanha-russa emocional nos últimos dias.
Sentei na cama, tentando acalmar minha mente.
Sentia como se estivesse perdendo a sanidade, como se pudesse explodir em lágrimas ou raiva a qualquer momento.
Precisava voltar para o convento. Lá, eu tinha paz e tranquilidade, vivendo em harmonia comigo mesma e com Deus. Aqui, vivia em constante medo e angústia, sem saber o que poderia acontecer a seguir.
Em desespero, lembrei que Toni tinha me dado um celular; ela tinha tantos, era um luxo desnecessário. Eu não tinha contatos, mas ela me convenceu de que, quando eu estivesse longe, ela poderia falar comigo.
Tremendo, peguei o aparelho e disquei os números de emergência que ela havia deixado lá, rotulados como "Bombeiros, Polícia, Ambulância, Emergência."
Eu sabia que Eric era um mafioso, mas deixaria que ele lidasse com a polícia; eu só queria voltar para minha casa. Além disso, duvidava muito que as autoridades não soubessem quem ele era.
Quando alguém atendeu do outro lado da linha, eu disse em lágrimas e pânico:
"Por favor, imploro sinceramente, me ajudem a voltar para o convento. Aquele lugar é meu verdadeiro lar. Aqui, não tenho futuro nem esperança. Minha vida está em perigo a cada momento.
Sei que pode ser difícil entender minha situação, mas por favor, tentem. Não sei mais o que fazer; estou completamente perdida. Se não puder voltar para o convento, não sei o que será de mim. Por favor, me ajudem."