Capítulo 9
Laynie
Eu demoro no banho, hesitante sobre a conversa que terei com meu marido. Jared me assustou mais cedo a ponto de eu ir para o meu espaço seguro. Sempre que Jared ficava bêbado e queria brigar comigo, era para lá que eu ia. A primeira vez foi um acidente. Ele me empurrou na cozinha quando eu me recusei a refazer um prato que estava completamente bom. Eu caí no pequeno espaço entre a geladeira e as portas da despensa. O espaço não tinha mais de um pé de largura, mas quando Jared viu que eu estava presa ali, ele me deixou em paz. A partir daquele momento, sempre que ele ficava violento em estado de embriaguez, eu me escondia ali. Isso acabava com minhas costas todas as vezes e eu geralmente me arranhava ao tentar sair, mas era melhor do que a alternativa. Bem melhor.
Quando a água fica fria demais para o meu corpo, saio do banheiro e volto para o quarto. Coloco meu pijama confortável, uma calça de moletom cinza e uma regata preta. Parei de usar camisolas quando Jared disse que eu estava ficando gorda. Ao entrar na sala, noto que há apenas uma luz acesa. O abajur na mesa lateral. O mesmo que o homem responsável acendeu para falar comigo. Ainda não vimos o relatório da polícia para saber os nomes deles, mas nunca esquecerei seus rostos.
Jared está deitado de costas no sofá com as pernas dobradas. Seu braço direito está sobre o peito e os olhos fechados. Sua respiração está estável e posso dizer que ele adormeceu. Suspiro aliviada. Acho que ainda não estou pronta para conversar. Caminho até o abajur, que está perto da cabeça dele, para desligá-lo. Quando me aproximo, noto que seu corpo muda instantaneamente. Seus olhos estão se mexendo e seu corpo está ficando tenso e rígido. Ele está tendo um pesadelo. Eu e Jared nunca moramos juntos até Nova York e, assim que nos mudamos, percebi que ele tinha esses pesadelos recorrentes. Às vezes, eles ficavam tão ruins que ele acordava gritando o nome da mãe. Nunca perguntei sobre o que eram, e ele nunca mencionou. Sempre achei que ele tinha vergonha de me contar, mas agora acho que ele não se lembra deles quando acorda.
Olho para o quarto, de volta para ele, e para o quarto novamente. Quero apenas voltar para o quarto e dormir, deixando-o passar por isso sozinho, mas não consigo. Não consigo dormir enquanto ele se debate no sofá. Coloco minha mão em seu bíceps e sacudo gentilmente, sem querer assustá-lo. Da última vez que fiz isso, ele acordou muito bravo, pensando que eu estava tentando machucá-lo. Ele me empurrou da cama e minha cabeça bateu na mesa de cabeceira. Depois ele foi trabalhar.
"Jared, acorda." Eu sussurro baixinho.
Ele permanece naquela posição rígida e noto que seus nós dos dedos estão ficando brancos e seus dentes estão mordendo forte o lábio. Seu pesadelo está piorando e quero acordá-lo antes que fique violento. Sacudo-o um pouco mais forte e chamo seu nome um pouco mais alto. De repente, estou caindo de costas no chão, gritando de dor. Jared está em cima de mim, mas apenas a queda inicial está me machucando. Ele pisca algumas vezes, acordando, e olha para mim. Seu rosto está vermelho, provavelmente pela dor de pular e me derrubar no chão.
"Merda, Laynie, você está bem?" ele pergunta enquanto se levanta devagar, depois me ajuda a levantar.
"Sim, estou bem" eu minto. Meu coração está batendo tão rápido que parece que estou tendo um ataque cardíaco.
"Desculpa, Lane, devo ter tido um pesadelo. Nem percebi que tinha adormecido." Ele diz rapidamente, verificando se eu estou sentindo algum desconforto que ele possa ter causado.
"Está tudo bem. Podemos conversar amanhã. Já está tarde mesmo." Eu digo, olhando para o relógio. São apenas 21h34, mas minha mente e corpo já estão exaustos.
"Sim, amanhã é bom. Acho que aquela última pílula está fazendo efeito." Ele diz com um pequeno sorriso.
Ele olha para o sofá, depois para o corredor e de volta para mim. Eu acompanho seus olhares, me perguntando o que ele está pensando.
"Posso dormir no sofá se você quiser. Só preciso de um cobertor." Ele diz com um tom preocupado.
Pela primeira vez em muito tempo, eu rio. Dou uma gargalhada no meio da minha sala com meu marido me olhando como se eu tivesse acabado de dizer que gosto de lamber cera de ouvido. Isso, por sua vez, me faz rir ainda mais. Quando olho para Jared, ele me presenteia com um sorriso que não vejo há mais de um ano. Finalmente me acalmo um pouco e limpo os olhos, o corpo ainda tremendo de risadas.
"O que foi isso?" Ele pergunta.
"Desculpa, eu só tentei imaginar você neste sofá. Você tem 1,90m e este sofá é pequeno até para mim. Você nunca caberia." Eu digo, meu rosto corando de vergonha.
Jared joga a cabeça para trás e ri. Algo que não ouço ele fazer há muito tempo.
"É, acho que você tem razão. Eu só não quero que você fique desconfortável se estivermos na mesma cama. A menos que tenhamos uma cama no quarto de hóspedes?" Ele pausa por um segundo, como se estivesse contemplando o que dizer a seguir.
"Escuta, Lane. Eu sei que você quer conversar amanhã, mas só queria te dizer novamente o quanto sinto muito por tudo. É estranho pedir desculpas por algo que não lembro de ter feito, mas posso ver que não fui um bom marido para você. Posso ver isso nos seus olhos. Não posso acreditar que algum dia te machuquei assim. Não posso acreditar que algum dia coloquei minhas mãos em você. Eu... eu sinto muito por tudo, Laynie." Ele diz.
Jared se abaixa para sentar no sofá, colocando a cabeça nas mãos. Posso ouvir seus soluços. Ver seus ombros tremendo. Sentir seu coração se partindo. Eu simplesmente não consigo perdoá-lo pelo que ele me fez passar. Então, faço a única coisa que posso. Coloco minha mão gentilmente em suas costas trêmulas e faço um carinho. Conforto-o com o último resquício de amor que ainda tenho por ele. Quando seus soluços diminuem, ele olha para mim, os olhos um pouco inchados e vermelhos de tanto chorar, e solta um longo suspiro.
"Eu ainda durmo no sofá se você quiser. Posso ser alto, mas não vou deixar você desconfortável." Ele diz com determinação.
Eu o olho por um tempo que parece horas e depois abaixo a cabeça. Ele segura meu queixo e me faz encontrar seus olhos. Não sei por que ele continua fazendo isso.
"O quarto de hóspedes não tem móveis e o outro quarto você transformou em escritório logo depois que nos mudamos. Tem certeza de que vai ficar bem no sofá?" Eu digo tão rápido, esperando que ele não perceba meu rubor de vergonha pela mentira.
"O sofá está bom, amor, de verdade, mas você acha que posso tomar um banho primeiro? Ainda estou cheirando a desinfetante de hospital." Ele diz com uma risadinha.
Ele espera meu aceno, e quando se levanta, eu caminho em direção ao corredor para mostrar onde fica o banheiro de hóspedes. Nós costumávamos falar sobre como nossa casa seria um dia, então quando nos mudamos para cá, fiquei mais do que um pouco surpresa por ele não ter feito como sempre sonhamos. Naquela época, ele já era uma pessoa tão diferente que talvez nem se lembrasse de como costumávamos falar sobre a casa dos nossos sonhos. Ele para na primeira porta e eu rapidamente bloqueio com meu corpo.
"Não é essa, é a próxima porta no corredor." Eu digo desesperadamente. Ninguém pode entrar nessa. Ninguém pode saber.
Ele apenas dá de ombros e começa a caminhar para a próxima porta. Eu dou um aceno de cabeça indicando que é o banheiro. Ele segue naquela direção enquanto eu me viro e volto para a sala. Ouço um suspiro e um palavrão e me viro para ver Jared me olhando com lágrimas nos olhos. Ele parece ter acabado de ver um fantasma. Eu me preparo para perguntar o que aconteceu quando ele me interrompe.
"Laynie, que diabos aconteceu com suas costas!"
Droga, esqueci que estava usando uma regata que mostra as marcas.