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Capítulo 1

O que você faz quando seu Alfa quase foi assassinado e agora está fora de combate; você matou um membro da matilha; sua companheira está morrendo e fora do seu alcance; e a casa em que você está pegou fogo – tudo nas últimas duas horas?

É, Decebel pensou. Inferno, se eu souber também.

Enquanto a mansão queimava e a fumaça preenchia os espaços que as chamas ainda não haviam alcançado, Decebel e os outros machos de sua matilha continuavam a vasculhar o local, certificando-se de que ninguém havia ficado para trás.

Decebel e Fane finalmente chegaram à suíte onde tinham visto Vasile e Alina pela última vez. Para seu alívio, o Alfa e sua companheira não estavam mais lá. Esperançosamente, isso significava que eles haviam conseguido se salvar. Decebel olhou para o quarto adjacente. A mesa de jantar ainda estava lá, perfeitamente posta, comida pela metade, copos meio cheios. Apenas os dois copos derramados no chão estavam fora do lugar – os de Vasile e Alina – cercados pelo veneno que quase os matou.

Só mostra que nunca há um momento de tédio na vida de um Canis lupus.

"Não consigo sentir o cheiro de ninguém, mas isso não significa nada. O fogo e a fumaça cobririam qualquer cheiro," Decebel disse a Fane.

"Precisamos sair. Agora." Fane instou seu Beta.

"Sua companheira está segura?" Decebel respondeu.

Fane assentiu. "Ela disse que Vasile e Alina também estão seguros. Parece que toda a nossa matilha conseguiu sair, assim como o pai de Jacque. E ela disse para te avisar que, se não tirarmos nossos traseiros peludos daqui agora, ela pessoalmente...," Fane fez uma pausa e, estremecendo, balançou a cabeça, "é melhor você não saber. Eu digo que devemos apenas seguir o aviso dela e sair."

Fane e Decebel começaram a correr em direção à porta da frente da mansão, que rapidamente se tornava uma armadilha mortal. As chamas queimavam cada vez mais intensamente, derretendo o gesso, queimando vigas e consumindo tudo em seu caminho. Várias vezes os dois tiveram que pular sobre as chamas e se abaixar sob tábuas caindo.

Finalmente, eles empurraram a porta da frente, ainda cercados por ar cheio de fumaça. Continuaram correndo. Seus pulmões clamavam por oxigênio fresco, ardendo a cada respiração. Fane voou direto para os braços de Jacque, que o esperava. Decebel não pôde deixar de notar com uma pontada de ciúmes, lembrando-se de que sua própria companheira estava fria, perdida e machucada. Ele queria uivar pela injustiça disso. Ele finalmente tinha ouvido a voz em sua cabeça que tanto ansiava – a voz de Jennifer. Mal tinha ouvido seu chamado de angústia e ela já havia sido tirada dele. Ele rangeu os dentes e usou sua raiva de forma positiva, verificando o resto da matilha.

Ele viu Vasile e Alina sentados em frente a uma árvore, encostados no grande tronco áspero. O chão ao redor deles havia sido varrido para remover a neve, numa tentativa de manter os Alfas o mais secos possível. Ele foi direto para eles, pausando no caminho para tocar seus companheiros de matilha, enviando segurança através de um simples ato.

"Como está se sentindo, Alfa?" Decebel perguntou enquanto se agachava na frente de Vasile e Alina, que finalmente estava acordada. Decebel tentou manter uma postura submissa, pois sabia que era difícil para seu Alfa estar sentado no chão enquanto todos os outros estavam de pé.

"Ficando mais forte, graças à Sally." Os olhos de Vasile brilharam brevemente com umidade enquanto ele olhava para a morena coberta de fuligem que – para a surpresa de todos – havia sido revelada como uma curandeira cigana.

"Você também está recuperando suas forças, Luna?" Decebel se dirigiu à sua Alfa feminina em uma rara demonstração de formalidade.

Alina assentiu e lhe deu um pequeno sorriso tranquilizador. "Vou viver mais um dia, enquanto Vasile precisar de alguém para mantê-lo na linha."

Decebel riu. "Graças a Deus por isso." Seu sorriso desapareceu rapidamente quando seu lobo se agitou, lembrando-o de que ele precisava procurar Jennifer. Ele balançou a cabeça, tentando clarear a mente. Ele realmente precisava procurar Jennifer, mas havia prometido a ela que levaria seus amigos para um lugar seguro primeiro. Isso significava levá-los o mais longe possível da magia que alimentava aquele fogo sobrenatural.

Ele olhou de volta para Vasile. "Aquele fogo... Ele se movia como se estivesse vivo, como se alguém estivesse controlando, manobrando."

Vasile assentiu. "Precisamos falar com Sally. Como curandeira, ela deve ser sensível à magia, especialmente à magia negra."

"Precisamos levar nossa matilha para um lugar seguro primeiro," Decebel disse cuidadosamente, certificando-se de que não soasse como uma ordem.

"Concordo, Beta. Confio em você para fazer isso acontecer."

Decebel chamou Sorin.

"Preciso que você faça a contagem de nossa matilha. Avise os outros Alfas para fazerem o mesmo," a voz de Decebel era autoritária. Era hora de colocar as coisas em ordem e sair do aberto, onde estavam mais vulneráveis.

Sorin assentiu e se moveu rapidamente pela multidão até uma área aberta. Ele fez os anúncios e então começou a chamar os nomes dos membros da matilha.

Skender, Boian, Fane, Jacque, Costin, Crina, Sally e Cynthia formaram um círculo ao redor de Decebel. Ele notou os humanos tremendo de frio, mas nenhum reclamava. Seus rostos estavam cobertos de fuligem, suas roupas chamuscadas, mas determinação preenchia seus olhos enquanto esperavam confiantes.

"Qual é o plano, Beta?" Skender perguntou.

Dillon se aproximou de sua própria matilha, parando ao lado de Jacque.

"Qualquer coisa que eu possa fazer para ajudar. Minha matilha está à sua disposição." Ele disse ao Beta romeno.

Decebel assentiu, mas não respondeu verbalmente.

Jacque deu um breve sorriso para seu pai e então voltou sua atenção para Decebel.

"Precisamos sair daqui," disse Decebel. "Há uma vila pela qual passamos a cerca de dez milhas descendo a montanha. Devemos ver se há um lugar onde possamos ficar lá. Precisamos verificar se algum dos veículos é recuperável." Decebel começou a dar ordens, precisando se manter ocupado, construindo um plano em sua mente para cumprir sua promessa a Jennifer. Quanto mais cedo ele fizesse isso, mais cedo poderia começar a procurá-la. "Machos, verifiquem os veículos. Fêmeas, organizem nossa matilha em grupos para viajar. Peçam às outras matilhas que façam o mesmo."

Sem uma palavra, todos os lobos se afastaram de Decebel para cumprir suas ordens.

"Posso ter sua atenção, por favor?" Sally tentou falar acima do murmúrio da matilha, dentes batendo. Ninguém ouviu ou se importou em prestar atenção. Cynthia e Crina sorriram para ela simpaticamente. Jacque sorriu. "Saia da frente, curandeira – como você consegue falar com seus dentes batendo assim? Deixe-me mostrar como se faz."

Sally fez a coisa madura e mostrou a língua para sua melhor amiga, o que foi ainda mais difícil com os dentes batendo.

Jacque colocou o polegar e o dedo médio na boca e soltou um assobio estridente – que foi ainda mais penetrante para os lobos, com seus ouvidos sensíveis. O silêncio caiu e tudo o que se podia ouvir era o crepitar do fogo que continuava a arder, fornecendo a única luz para a noite escura.

"Ouçam, por favor." Jacque falou alto para garantir que sua voz alcançasse os ouvidos daqueles que estavam mais atrás. "Alguns dos machos romenos estão verificando se algum dos veículos ainda está em condições de uso. Precisamos dividir todos em grupos para que possamos levar o máximo possível de uma vez para a vila. É uma viagem de cerca de dez milhas."

Jacque observou enquanto as outras matilhas começavam a se dividir em grupos. Ela olhou para Sally e piscou. "Isso, minha amiga cigana, é como se faz."

Sally revirou os olhos. "Que gentil da sua parte tirar um tempo para me ensinar, ó sábia princesa loba."

O sorriso de Jacque vacilou. "Isso soou como algo que Jen diria."

Sally a envolveu em um abraço firme. "Ele vai encontrá-la. Não há nada, nem ninguém, que ficará no caminho dele."

"Não duvido disso. Minha preocupação é o que ele encontrará quando o fizer." Jacque enxugou uma lágrima que escorreu por seu rosto.

Crina e Cynthia envolveram seus braços ao redor de Jacque e Sally, e Jacque pôde sentir o conforto fluindo de suas companheiras de matilha. Minhas companheiras de matilha, ela pensou, e pela primeira vez, ela realmente se sentiu como um membro da matilha de Lobos Cinzentos Romenos.

"Eu diria para você não se preocupar, amor, mas sei que isso não seria justo com você. O que eu vou te dizer é que estou aqui para você." Fane alcançou-a através de seu vínculo, sem dúvida sentindo fortemente sua tristeza.

"Obrigada, homem-lobo. Haverá tempo para lágrimas depois. Temos que levar nossa matilha para um lugar seguro."

"Eu sabia que você seria uma Alfa incrível," ele disse enquanto Jacque sentia seus lábios em sua testa. O calor se infiltrou nela enquanto Fane usava seu vínculo para mais do que apenas palavras.

As garotas se afastaram do abraço e Sally pegou a mão de Jacque, olhando para Cynthia e Crina. "Vamos lá, vamos fazer isso. Jen nos daria uma bronca se pensasse que estávamos apenas paradas e não – como ela diria – colocando nossos traseiros em movimento."

"Ela realmente tem um jeito com as palavras." Jacque sorriu e elas começaram a separar sua matilha em grupos para viajar até a vila – e, com sorte, para a segurança.

"Rachel?" A voz de Jen estava fraca enquanto falava, e ficando mais fraca.

"Eu sei que você não sabe quem eu sou, mas pode confiar em mim. Estou do seu lado," Rachel tentou tranquilizar a garota no fundo da caverna. "Gavril, meu companheiro, vai pular e te pegar. Por favor, não tenha medo dele."

Jen riu fracamente. "Você deveria conhecer meu companheiro, então não se preocuparia com o fato de eu ter medo do seu." Suas palavras estavam tensas enquanto tentava falar apesar da dor que atormentava seu corpo quebrado.

Rachel se virou ao ver o céu se iluminar na direção da grande propriedade ao sul deles.

"Precisamos nos apressar. Não posso nos proteger por muito mais tempo," ela disse ao seu companheiro.

"Estou descendo," Jen ouviu uma voz rouca anunciar, seguida rapidamente por um som suave de impacto.

Jen tentou com todas as forças não ter medo, mas quando um lobo estranho pula em um buraco no qual você foi empurrada, você tende a ter medo de tudo.

"Não vou te machucar," a voz disse a ela.

"Não acho que você vai conseguir evitar me machucar se for me mover." Jen estremeceu ao pensar em ser movida ou até mesmo tocada, para falar a verdade.

Gavril se ajoelhou na frente dela. "Eu sei que você não pode me ver, mas eu posso te ver. Você está perdendo sangue desse ferimento na cabeça. Vou tirar minha camisa e colocá-la contra o ferimento. Veja se consegue aplicar pressão para ajudar a estancar o fluxo."

Jen assentiu, sabendo que ele veria sua resposta. Ela ouviu alguns ruídos e então sentiu um tecido macio contra sua cabeça. Ela levantou o braço bom e pressionou a camisa firmemente contra o couro cabeludo.

"Ok, bom. Agora, vou te levantar. Sei que vai doer e peço desculpas," Gavril disse gentilmente.

"Não é sua culpa." A voz de Jen saiu rouca e trêmula.

Ela sentiu o braço dele ao redor de suas costas e o outro braço deslizar sob seus joelhos. Quando ele a levantou do chão, Jen mordeu o lábio para não gritar de dor, tão forte que sangrou. A dor era tão intensa que, embora ela tentasse lutar contra isso, seu cérebro exausto desligou em uma tentativa de escapar do sofrimento que seu corpo estava suportando.

Gavril dobrou os joelhos e saltou da caverna com um empurrão poderoso, pousando suavemente na frente de sua companheira.

"Ela desmaiou," ele disse a Rachel.

"Estou surpresa que ela ainda esteja viva depois daquela queda." Rachel gentilmente afastou os cabelos loiros de Jen de seu rosto. "Ela é bonita." Ela respirou fundo o cheiro de Jen, "e ela é uma dormente."

"Vamos, Rachel," Gavril instou. "Não devemos demorar. A bruxa está perto e ela não pode te descobrir."

"Vai levar muito para curá-la," Rachel admitiu enquanto começavam a se dirigir para casa. "Ela disse que tem um companheiro. Ele vai querer saber onde ela está."

"Temos que ser cuidadosos ou ele vai trazer a bruxa de Thad direto para nossa porta," Gavril alertou sua companheira.

"Eu entendo isso, amor. Mas você sabe tão bem quanto eu que ele vai destruir essa montanha para encontrá-la."

Gavril não respondeu. Ele sabia o quão perigoso um macho acasalado podia ser quando sua companheira estava ferida. Sua prioridade era Rachel, manter sua existência em segredo. A única coisa que o Alfa sérvio, Thad, queria mais do que uma companheira era uma curandeira, e a companheira de Gavril era a curandeira mais poderosa na história de sua espécie. Ele tinha que protegê-la a todo custo, mesmo que isso significasse sacrificar a vida de uma dormente.

A cabeça de Jen girava enquanto a escuridão começava a recuar. Ela tentou abrir os olhos, mas eles não cooperavam. Sentia dor percorrendo seu corpo – alguém estava carregando-a.

"Decebel." Ela estendeu a mão instintivamente.

"Jennifer!" Jen sorriu para si mesma ao ouvir a preocupação na voz dele. Por que ele estava preocupado se a tinha encontrado?

"Você me encontrou." Jen fez uma afirmação em vez de uma pergunta.

"Não, querida. Eu não te encontrei. Por que você pensaria isso?"

"Mas você está me carregando. Eu posso sentir você."

"Jennifer, quem está com você?" A voz de Decebel estava cheia de medo e raiva.

Jen estava tentando desesperadamente lembrar o que havia acontecido, como ela tinha acabado sendo carregada... A garota, seu companheiro – ela começou a ter vislumbres em sua mente.

"O companheiro dela, ele pulou. Ele colocou a camisa dele na minha cabeça." A voz de Jen enfraqueceu enquanto tentava pensar.

"Ele?" Mesmo através de seu vínculo mental muito recente, Jen podia ouvir a raiva nas palavras dele. "Um macho está com você? Ele está sem camisa? Jennifer, pense! Quem são a fêmea e seu companheiro?"

"Pare de rosnar para mim, droga! Ai! Droga, isso dói." Jen estremeceu ao sentir seu corpo sendo sacudido.

"Querida, eu não estou rosnando para você. Só preciso que você tente lembrar. Eles querem te machucar?" Decebel tentou suavizar a voz.

"Não acho. Dói, Dec. Não consigo pensar. Só quero dormir um pouco." A voz de Jen começou a enfraquecer.

"Jennifer, fique comigo mais um minuto."

Jen adorava o som da voz dele, o timbre profundo. Ela quase gemeu quando sentiu os lábios dele nos seus e seus dedos acariciando seu rosto.

"Como você está fazendo isso?" ela perguntou, sua voz ofegante através do vínculo.

"É o vínculo. Eu apenas imagino te tocar e de alguma forma você sente."

"Oh, as possibilidades." Jen sorriu por dentro.

Decebel riu.

"Hmm, esse é o som que eu gosto de ouvir." Jen imaginou passar os dedos pelo cabelo macio e escuro de Decebel.

Ela ouviu ele rosnar em sua mente. "Eu tenho que te encontrar, amor. Tente pensar. Como eles te pegaram?"

"Você já se perguntou como seriam nossos bebês?" Jen perguntou distraidamente enquanto franzia a testa internamente, tentando imaginar o futuro que poderia ter tido com seu lobo.

"Querida, este não é realmente o momento para discutir nossos bebês. Vamos nos concentrar em quem está te carregando para que eu possa te trazer de volta. Depois podemos fazer bebês."

Jen gemeu e sentiu os braços ao seu redor apertarem, o que a fez ofegar. Decebel deve ter sentido sua dor porque ela sentiu sua preocupação.

"Estou bem. Só dói." Jen realmente sentiu um sorriso se espalhar pelo rosto. "Então, você quer fazer bebês comigo?"

Desta vez, quando Decebel riu, ela jurou que podia sentir as mãos dele deslizando por seus lados até seus quadris.

"Só você para querer discutir fazer bebês em um momento como este."

"Bem, você tem que admitir que é um tópico melhor do que eu quase ser morta e agora ser sequestrada. Sério, Dec, eu preferiria muito mais pensar em nós fazendo bebês."

Jen sentiu outra onda de dor atravessá-la – tirou seu fôlego. Ela sentiu sua consciência começar a desvanecer.

"Eu te amo, Decebel. Mesmo que nunca façamos bebês, eu te amo." A última coisa que ela ouviu antes do mundo desaparecer foi a voz profunda e determinada de Decebel.

"Eu também te amo, querida. Estou indo te buscar."

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