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Capítulo 1

O CEO da Zenith Incorporated, Orian Moon, viu sua riqueza crescer cerca de 77% no mesmo trimestre de março a dezembro. Ele doou mais de 900 milhões de dólares para a Fundação Zenith e 300 milhões de dólares para um projeto de gentrificação na África do Sul.

A velocidade e a abrangência de suas doações são impressionantes. Como um filantropo publicamente ativo, ele doou mais do que cinco dos maiores doadores do país em toda a vida, calcula a Forbes.

A tela da TV fica preta.

Eu me viro rapidamente. Minha mãe está no arco da porta com o braço estendido e o controle remoto na mão. Ela abaixa o controle ao lado do corpo com um olhar incisivo no rosto.

"Hadie, querida." Ela cruza os braços e me encara com um olhar reprovador. "O que você está fazendo?"

"Bem, eu estava assistindo aquele programa," digo secamente.

"Não, o que você precisa fazer é comemorar." Suas mãos vão para a cintura, fixando-se nos quadris. Sua postura de reprovação. "Você acabou de resolver aquele grande caso, escrevendo aquele artigo sobre aqueles canalhas que escondem dinheiro. Os federais nem conseguiram resolver, mas minha filha conseguiu. E agora você está aqui." Ela aponta rapidamente para a TV. "Caçando a próxima grande notícia. Apenas tire um tempo para comemorar essa vitória."

Seus olhos são como poços profundos de avelã derretida, girando com uma preocupação incessante. Ela se move para colocar o controle remoto no móvel de madeira de acácia. A cabeça é forrada com suportes de artigos laminados que escrevi. E as prateleiras guardam uma coleção de prêmios que ganhei ao longo dos anos. Não por minha escolha.

Minha boca se abre para retrucar. Mas então fecho os lábios, silenciada por uma fragrância que invade a sala de estar.

"É isso? Esse cheiro... é o que eu acho que estou cheirando?"

Inspiro profundamente, captando o aroma de queijo irresistível da lasanha da mamãe.

"Se você está cheirando a melhor lasanha caseira do mundo..." Calum entra na sala, apoiando o ombro no batente da porta. "Você está certa, princesa."

Minha mãe solta uma risada alta e aguda, batendo no ar. "Ah, para de brincar, menino."

"Estou falando sério." Ele se aproxima dela, envolvendo-a em um abraço de um lado só. "O que deveríamos estar fazendo é celebrando como essa comida é deliciosa. Até parei de tomar meus antidepressivos, porque agora só como sua lasanha."

Ela ri de novo, sua pele marrom outonal brilhando. Nem uma única ruga para revelar sua verdadeira idade.

Reviro os olhos para Calum. "Enquanto você flerta com minha mãe." Caminho até eles, meus saltos batendo no chão de vinil. "Vou me trocar."

Sua risada morre na boca. "É melhor, você está ridícula nesse terninho." Sua mão bate no braço de Calum. "Você sabe que ela entrou direto aqui, sem um oi—nada, foi direto para a TV, assistindo as últimas notícias sobre seu próximo alvo."

Calum joga a cabeça para trás com uma risada, exibindo um sorriso deslumbrante. Duas fileiras de dentes brancos brilhantes. "Deixa eu adivinhar... algo sobre a Zenith?"

Meu ombro esbarra nele enquanto passo. "Tanto faz." Viro-me para olhar para minha mãe. "E a propósito, isso—" gesto para meu terno preto, justo, com um blazer cintado e uma gola de lapela, "—é moda."

"Assim como um vestido," ela diz para minhas costas.

Meu feminismo interior grita por dentro. Giro em torno, abrindo os lábios.

Calum me interrompe com um gesto exagerado da mão. "Você sabe que não deve responder para sua mãe." Ele me afasta. "Continue andando."

"Isso mesmo."

Os dois dão um high five.

Balanço a cabeça para os dois. "Fazendo complô contra mim no meu grande dia, isso é baixo," murmuro, subindo as escadas.

Entro no meu quarto, o segundo à esquerda, arrancando o elástico do cabelo—uma explosão de cachos até os ombros. Tiro os saltos, segurando-os pelas pontas dos dedos enquanto vou até a penteadeira. Largo os saltos. Meus olhos estão fixos na foto emoldurada de mim e meu pai quando eu era criança. Quando ele ainda estava vivo, e não apenas existindo. Mas vivo. Os anos foram duros para ele, sugando a vida de sua pele e a luta de seus ossos. Ele se colocou no túmulo tentando sustentar uma família quando nem podia sustentar a si mesmo. Ele se afogou só para nos manter à tona.

Agarro inconscientemente o crucifixo pendurado no meu pescoço. Deixo-o ir.

"Consegui mais uma, pai." Mal consigo me ouvir dizer. "Acho... acho que você teria orgulho."


Minha mãe, Calum e eu estamos sentados ao redor da mesa de jantar posta com uma cesta de pães, um prato de legumes e o convidado de honra. A lasanha. O prato está no centro, coberto com uma espessa camada de queijo gouda borbulhante, decorado com ervas verdes frescas. Depois que mamãe nos serve porções generosas, muito generosas—daquelas que garantem que eu vá malhar amanhã. Ela estende as mãos para nós dois. Todos seguramos as mãos. Calum entrelaça nossos dedos. E mamãe reza.

Calum me lança um olhar furtivo, mexendo os lábios, feche os olhos.

Eu estreito os olhos para ele. Por que os seus estão abertos?

"E Pai Deus!" minha mãe exclama, a voz atingindo o volume máximo. "Embora venhamos à mesa do Senhor para festejar em paz. Outros escolhem a violência. Tenho que me arrepender, Pai Deus! Perdoe-me porque estou prestes a tirar o couro da minha filha. E dar uma surra no menino branco tão forte que ele vai falar em línguas se continuarem brincando como crianças."

Calum solta uma risada, abafando outras que tentam escapar. Eu fico boquiaberta olhando para minha mãe, ambos os olhos dela estão fechados, e ainda assim a mulher vê tudo. Bruxaria.

"Amém," ela diz. Ela solta nossas mãos, abrindo os olhos para me fitar. "Você tem sorte que hoje é seu dia." Ela lança um olhar para Calum. "E que temos companhia."

Um riso irônico escapa de mim. "Como se isso tivesse te parado no passado," murmuro.

"Menina, eu juro—"

"A lasanha está esfriando," Calum diz, tentando apaziguar. "Niente litigi a tavola. Vamos comer."

Todos nós começamos a comer. Eu coloco uma garfada na boca, gemendo a cada mordida. Lasanha ao estilo italiano. O equilíbrio entre as camadas de queijo e o molho bolonhesa caseiro é perfeito. Minhas papilas gustativas se deliciam com a linguiça fatiada e a carne moída, criando um sabor rico e complexo com o molho cremoso se espalhando pela minha língua.

Calum enxuga uma lágrima falsa do olho. "Eu deveria escrever essa receita nos livros de história, para que gerações após nós conheçam sua lenda."

Eu dou um sorriso para ele. As luzes acima iluminando seu cabelo dourado nórdico, estilizado com uma repartição ao meio. Muito parecido com um jovem Leonardo DiCaprio. Ele olha de volta para mim, hipnotizado por aquele azul celeste. Eu olho dentro deles, encantada pelo vasto reservatório de memórias felizes encapsuladas nas gemas oceânicas. Um remanescente vivo da minha infância, nossa história preservada naqueles olhos.

"Então, você vai me contar sobre os bandidos que você pegou?"

"Não eu—nós," eu corrijo. "Eu não conseguiria fazer o que faço sem o Cal, aqui." Eu franso o nariz para ele. "Não é verdade, nerd?"

"Verdade." Sua voz cheia de confiança. "Eu sou os olhos e ouvidos dela, seu Gandalf, que a leva a lugares onde a maioria das pessoas não consegue. Eu ajudo. Mas a determinação dela, suas conquistas." Ele me oferece um olhar longo e afetuoso. "Isso é tudo você, princesa."

Eu sorrio para o meu prato. Desviando a atenção, eu digo, "A operação que fizemos foi um grande tráfico internacional de armas. Resultando na apreensão de quase cem mil armas de fogo e cento e sessenta e sete explosivos."

Calum engole, assentindo. "Operação sombra pálida. Traficantes ganhando milhões no mercado negro, fornecidos por gangues criminosas."

"Eles tinham rifles AR-15, granadas e armamento de nível militar," eu acrescento. "O suficiente para começar uma guerra."

A expressão da minha mãe muda de fascinação para preocupação. Uma linha de preocupação se forma em sua testa. "Com sua condição, eu realmente odeio você sabendo esse tipo de coisa."

"Condição?" Calum ri. "É mais como um superpoder. É por isso que ela é boa no que faz."

Ela acena com a mão, desprezando. "Você sabe o que quero dizer. Porque depois ela nunca pode deixar de ver essas coisas. Mas chega disso." Ela aponta o garfo para mim, depois para Calum. "Quando vocês dois vão me dar uns netos lindos e misturados?"

Eu engasgo—Calum tosse em seu punho, batendo no peito.

Depois do jantar, Calum me ajuda com a louça. E depois eu o acompanho até a saída como de costume, caminhando até a entrada de minha casa com piso de travertino, ancorada por tábuas horizontais sob medida que amplificam o comprimento do ambiente. O teto alto dá altura e drama, e uma série de formas quadradas—janelas, os vidros da porta da frente e a porta interna painéis—proporcionam um ritmo imponente. Calum para no meio da porta, e inclina-se para o lado para descansar o ombro contra a moldura. Seus olhos perfurando os meus como se eu fosse um livro que só ele pode entender.

"Não faça isso."

Eu dou de ombros inocentemente. "Não sei do que você está falando."

"Você vai atrás da Zenith," ele diz exasperado, "O que é estúpido porque nada leva até eles, nada que possa ser provado. Tentamos e falhamos. Várias vezes."

Eu o alcanço, puxando-o para um abraço, "Boa noite, nerd." Braços envoltos em seu pescoço.

Seu braço envolve minha cintura. "Sua mãe está certa sobre isso. Deixe pra lá."

Eu me afasto, sorrindo para ele. "Não é sobre se eu pego a Zenith. É quando. E se na primeira tentativa não conseguir..."

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