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Capítulo 6: Em que ela caminha pela estrada da memória

Samuel McKenna. Meu irmão gêmeo mais velho.

Faz tanto tempo desde a última vez que o vi, mas parecia que nunca tínhamos nos separado.

Entre nós dois, eu herdei o cabelo castanho mel da nossa mãe, enquanto Samuel ficou com o loiro do nosso pai. Mas ambos temos os olhos castanhos dele. É uma cor incomum, na verdade, não exatamente castanho, mas com um toque de dourado... talvez avelã... não! É uma cor estranha demais pra ter um nome. Enquanto meus olhos têm só alguns pontinhos dourados, Sam foi agraciado com um anel dourado claro nas bordas.

Eu queria muito ir até ele e dar um abraço bem apertado, porque era a primeira vez que o via em quatro anos, mas não podia. Nossas circunstâncias nunca foram gentis conosco.

"Ei, tá tudo bem?" A mão de Nathan balançando na frente do meu rosto me tirou do transe.

"Hã? Ah! Tô super bem... perfeito. Por que tá perguntando?" respondi, nervoso.

"Bom, pra começar, você tinha aquele olhar distante que as pessoas têm quando estão pensando demais, e nosso jantar já foi servido, mas você nem percebeu", ele apontou pra mesa com um leve inclinar de cabeça.

Foi só então que notei que o jantar realmente tinha sido servido. Meu frango à parmegiana com legumes estava impecável na apresentação, e meu vinho estava gelado, esperando por mim. Nathan, por outro lado, parecia estar esperando pacientemente que eu me recompusesse pra poder atacar seu bife malpassado.

"Vamos comer!" falei, esfregando as mãos com animação, e peguei os talheres enquanto Nathan mergulhava na comida dele.

O jantar foi agradável, e a comida estava perfeita. Nathan me contou sobre a vida dele depois da escola, quando foi aceito em Harvard com uma bolsa de estudos, enquanto comíamos. Caramba, esse nerd sortudo, mas tenho que admitir que ele teve muita sorte com os genes. Mas mesmo no meio da conversa, eu não parava de olhar pra mesa onde Samuel e a acompanhante dele estavam sentados... bom, ela parecia mais uma patricinha do que uma acompanhante de verdade. Estava ali com o Sam, mas descaradamente ficava encarando qualquer cara que passava por ela. Ou será que era meu ciúme falando mais alto, e eu estava julgando uma garota legal só por estar sentada de frente pro Sam enquanto eu nem podia ir falar com meu próprio irmão?

Eles estavam sentados três mesas à nossa frente, com Samuel de costas pra mim, então eu não conseguia nem mandar mensagens em "código Morse" pra ele. E como a "acompanhante" dele nem olhou na minha direção, era seguro presumir que ela também não me conhecia. Eu queria falar com ele, mas não podia fazer isso diretamente. Droga! Por que tudo tinha que ser tão complicado?

O resto do meu jantar passou com eu dando umas olhadas furtivas pro meu irmão de vez em quando, pensando no que fazer a seguir. Só quando vi ele pedindo a conta foi que percebi que precisava agir rápido, senão perderia a chance de falar com ele de uma vez por todas.

— Com licença, vou ao banheiro rapidinho — levantei da cadeira enquanto o próprio Nathan pedia a conta. Nathan acenou com a cabeça enquanto pegava o celular, e eu entendi isso como o meu sinal pra agir.

Ainda bem que o Samuel estava de frente pro banheiro, então caminhei naquela direção e parei na entrada do corredor. Olhei pro Sam e tentei acenar pra ele sem chamar muita atenção. Deu certo.

Samuel virou pra me olhar com uma cara de irritação, mas assim que percebeu quem era, seus olhos se arregalaram de surpresa. Esperei por ele fora do campo de visão, dentro do corredor que separava o banheiro masculino do feminino, enquanto ele também se desculpava e vinha na minha direção.

Sem pensar duas vezes, corri pros braços abertos dele e o abracei com força. — Sam!

— Sav! Meu Deus, quanto tempo — a voz dele estava embargada, como se estivesse segurando o choro. Bom, dane-se, eu já estava chorando mesmo.

Ele se afastou um pouco e limpou as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. — Tá tudo bem, Sav. Vai ficar tudo bem logo, eu prometo. — Ele segurou meu rosto entre as mãos e olhou nos meus olhos enquanto dizia isso, e eu acreditei. Porque eu confiava no Sam completamente.

— Enfim, como você tá? Faz quatro anos que não te vejo. Senti saudade — falei pra ele.

— Também senti saudade. Tô bem... acho. E você? — Ele perguntou, me puxando pra outro abraço e beijando meu cabelo.

— Melhor, agora que te vi. — Ele deu uma risadinha enquanto apertava meu ombro de leve. — Aliás, quem é aquela garota com você? Sua namorada? Parece mais interessada no garçom do que em você, hein — ri, mas a risada morreu assim que senti ele ficar tenso. — Sam?

Ele se afastou e me olhou nos olhos com seriedade. — Sav, a gente vai pegar esse cara, tá bom? Não vou deixar ele escapar com tudo que fez. Você sabe disso, né?

Tá, agora ele estava me assustando. — Samuel, eu sei disso, mas não foi isso que eu perguntei. O que tá acontecendo? — De alguma forma, senti um aperto no estômago, como se soubesse que não ia gostar da resposta pra essa pergunta.

Samuel me soltou e passou a mão pelos cabelos loiros. Parecia estar decidindo se me contava a verdade ou não. Finalmente, ele suspirou, fechou os olhos e beliscou a ponte do nariz, todos aqueles sinais de nervosismo que ele tem desde criança. Fiquei ali, inquieta, pensando se realmente queria saber o que estava deixando o Samuel tão tenso ou se era melhor deixar pra lá.

Por fim, ele abriu os olhos e me encarou diretamente, dizendo a única coisa que eu nunca esperava ouvir dele.

— Savannah, ela é nossa meia-irmã.

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