




Capítulo 5
Não havia nada como aqueles primeiros momentos ao pisar no gelo.
O ar fresco e seco revestindo seus pulmões, o leve formigamento quando o frio atingia suas bochechas. O cheiro—parte suor, parte resquícios de fumaça de gasolina do Zamboni, parte o aroma fresco e limpo que estava presente em todas as pistas de patinação que Brit já havia estado.
Ela inclinou a cabeça em direção ao peito, deslizando o capacete da linha do cabelo até cobrir o rosto sem usar as mãos. Ainda não tinha sido repintado e ainda exibia chamas vermelhas e douradas intercaladas com o logo dos Kansas City Panthers—o time da AHL, ou liga menor, com o qual ela havia jogado apenas quatro dias antes.
Seu contrato havia sido recentemente modificado para permitir que ela jogasse com o Gold, mas possuía uma cláusula que permitia à administração rebaixá-la de volta aos Panthers se ela não tivesse um desempenho bom o suficiente. A cláusula era péssima, mas sua posição como novata significava que não tinham conseguido negociar muito melhor do que um contrato padrão de entrada na NHL.
No entanto, se ela tivesse um desempenho bom o suficiente durante o campo de treinamento e os jogos da pré-temporada, seu agente havia conseguido uma seção que permitiria a ela garantir um contrato unilateral—o que significava que ela não poderia ser rebaixada de volta para a AHL sem ser paga na taxa da NHL.
O aumento no pagamento era tanto um benefício para ela quanto um impedimento para a administração se livrar dela. Não garantiria a posição de Brit no Gold, mas era o melhor que ela ou qualquer outro jogador novo poderia esperar conseguir.
Por enquanto, o objetivo de Brit era provar que era boa o suficiente para permanecer na liga principal.
Ela esperava—
Não, droga. Ela iria conseguir.
Encolhendo os ombros, ela puxou a camisa. Era preta, suas proteções brancas... e nada disso importava porque...
Ela estava adiando.
Já chega. Um toque de seu taco contra as proteções das pernas, um contra o lado direito da porta aberta—ela não era nada se não supersticiosa, como todo goleiro que ela já conhecera—e então saiu para o gelo.
Pessoas normais tinham pesadelos de chegar atrasadas ou de fazer um discurso nuas.
Brit não era normal, nem de longe.
Seu pior pesadelo era cair de cara naquele primeiro passo. Mas hoje, assim como em 99,99% dos outros dias, ela estava bem.
Ainda assim, patinar em uma nova pista, para um novo time, em uma nova cidade significava que Brit estava desprotegida e vulnerável.
O que realmente, realmente era péssimo.
Ela desprezava a vulnerabilidade. Odiava a fraqueza—
Um disco bateu no vidro a menos de quinze centímetros de sua cabeça.
Pode ter sido um acidente, mas ela duvidava. Esses caras tinham muito controle para errar a rede por uns bons três metros.
Sem dúvida, o tiro havia vindo da seção irritada do vestiário.
Ótimo. Ela sufocou um palavrão e continuou se aquecendo.
Brit havia passado tempo demais tendo discos disparados contra ela para se assustar. Na verdade, ela estava muito dessensibilizada ao som agudo para reagir de maneira perceptível. Mas por dentro, ela notou a ação pelo que era.
Um aviso.